Capítulo 115 - Indignação
A luz fraca invadia a sala do karaokê pela fresta das cortinas. O cheiro ácido de álcool impregnava o ar, misturado ao som baixo de um microfone chiando em um canto. Garrafas viradas, cinzas espalhadas pela mesa de vidro, um copo quebrado no chão. A noite anterior havia sido uma tempestade de caos e frustração.
No centro daquele cénario devastado, Hiroshi despertava.
Seus olhos abertos, mas sem foco, fitavam o teto escuro. Sua cabeça latejava como se houvesse um martelo batendo dentro de seu crânio. A boca seca, um gosto amargo de ressaca misturado com derrota.
Derrota.
A palavra pulsou em sua mente como uma maldição.
Ele piscou algumas vezes, tentando entender por que seu corpo estava pesado. Seus punhos doíam. Seu peito ardia. E então, uma voz puxou ele de volta à realidade.
— Boss… você acordou.
A voz pertencia a um de seus homens de confiança, Kojiro. Um rapaz de cabelos raspados e olhar sempre atento, mas agora, carregado de tensão.
Hiroshi virou a cabeça lentamente, encarando o sujeito.
— O que aconteceu…?
Kojiro hesitou. Limpou a garganta antes de falar.
— O Yoru… ele te derrotou.
Silêncio.
O corpo de Hiroshi congelou. O ar ficou denso, sufocante. A palavra girava em sua mente como uma lâmina afiada.
“Derrotado?”
“Por Yoru?”
Aos poucos, as memórias vieram como flashes. O embate. Os golpes. A dor. O olhar de superioridade de Yoru. E então, o vazio. Seu corpo desabando. Tudo escurecendo.
A derrota.
Hiroshi se ergueu tão rápido que a cadeira tombou para trás. Seu olhar ardia em ódio puro.
— YORU…
Ele grunhiu entre os dentes cerrados, o maxilar tencionado de raiva. O corpo tremia, os punhos cerrados com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.
Em um acesso de fúria, ele puxou a mesa de vidro e a arremessou contra a parede, onde ela explodiu em pedaços. Pegou uma das garrafas vazias e esmagou contra a própria cabeça, deixando cacos caírem sobre seus ombros.
Os capangas assistiam em silêncio absoluto, sem coragem de intervir.
— ISSO NÃO FICA ASSIM! ORGANIZEM A LINHA DE FRENTE! HOJE MESMO! VAMOS INICIAR UM ATAQUE!
Seus olhos estavam vermelhos de fúria. Seu corpo emanava uma presença avassaladora. Ele queria sangue. Ele queria vingança.
E ele teria.
Do outro lado da cidade, na área dominada pela Escola 35, o clima era completamente diferente.
O sol queimava no horizonte, tingindo os edifícios de dourado e laranja. A brisa carregava o cheiro de asfalto e fumaça. E no topo de um prédio abandonado, um homem alto estava parado, observando o céu.
Ele não dizia nada. Apenas olhava. Os olhos semicerrados, os braços cruzados. Como se estivesse ouvindo algo que ninguém mais podia ouvir.
Abaixo, no terraço, Danilo, o número 2 da Escola 35, subiu os degraus lentamentes, parando ao lado dele.
— Hiroshi perdeu para o Yoru.
— Já era esperado.
O homem não respondeu imediatamente. Seus olhos ainda fitavam o sol. Danilo não tinha certeza se ele sequer estava ouvindo.
Mas então, ele falou. Sua voz era profunda e calma. Quase filosófica.
— O resultado dessa batalha não importa.
Danilo arqueou uma sobrancelha.
— Como assim?
O homem virou o rosto levemente, encarando seu subordinado com olhos penetrantes.
— Não importa quem ganha ou quem perde no meio da guerra.
— O que importa é quem fica de pé no final.
Danilo absorveu aquelas palavras em silêncio. Ele sabia que seu líder sempre via o jogo de uma maneira diferente. Ele nunca se importava com pequenas derrotas. Apenas com o resultado final.
— Então você acha que Hiroshi está apenas desperdiçando tempo?
O líder voltou a olhar para o sol.
— Não.
— Hiroshi é um animal ferido. Ele precisa gritar, precisa bater em algo. Mas no fim, ele será apenas um peão movendo-se na direção que eu quiser.
Danilo sorriu de lado.
— Hah. Frio como sempre.
O homem continuou inexpressivo. Apenas o sol refletia em sua pele, dando um brilho dourado em seu semblante impenetrável.
— Apenas realista.
Danilo cruzou os braços e olhou para a cidade abaixo. A cidade era um tabuleiro. Cada escola, uma peça no jogo. Cada líder, um rei tentando reivindicar o trono.
Mas naquele momento, ele teve certeza de uma coisa:
Independente do que acontecesse nos próximos dias…
A Escola 35 seria a vencedora no final.
O líder desviou os olhos do horizonte e fixou seu olhar afiado em Danilo. Um olhar que parecia atravessar a carne e atingir a alma.
— Em uma luta direta, Hiroshi tem mais inteligência. Ele sabe como manipular as peças do tabuleiro. Mas força bruta e estratégia não são tudo… Há algo em Yoru que é imprevisível.
Danilo soltou uma risada lembrando da sua pequena batalha contra o Yoru e seus companheiros da escola 25
— Então você acredita que Yoru pode superar Hiroshi?
O líder balançou a cabeça lentamente.
— Não importa o resultado dessa batalha. No final, eu vencerei tudo.
Danilo sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele conhecia o poder de seu líder. Sabia que, quando ele fazia uma afirmação dessas, não era um devaneio… Era uma certeza absoluta.
No Karaokê da Escola 27
A sala privada do karaokê estava em ruínas. Garrafas quebradas, mesas viradas e cacos de vidro cobriam o chão. Hiroshi respirava pesadamente, suas mãos tremendo de pura raiva. Seu olhar era um misto de ódio e humilhação.
Kaito, seu braço direito, encostado na parede, observava a cena com cautela. Outros rankeados da escola 27 estavam ali, em silêncio absoluto, sentindo o peso da fúria de Hiroshi.
— EU NÃO ACEITO! — Hiroshi rugiu, arremessando uma cadeira contra a parede, que se despedaçou com o impacto. — Aquele maldito… AQUELE MALDITO ME DERROTOU COMO SE EU FOSSE UM QUALQUER!
Kaito manteve-se calmo, mas sabia que precisava agir com cautela.
— Hiroshi… — ele começou, escolhendo suas palavras com precisão. — Yoru pode ter vencido, mas isso não significa que ele seja mais forte. Você sabe disso.
Hiroshi respirou fundo, passando a mão pelos cabelos desgrenhados.
— Eu sei que sou mais forte que ele. Sei que posso esmagá-lo. Mas… — Ele cerrou os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. — Ele me derrotou… e todos viram. Isso não pode ficar assim.
Ele virou-se para seus rankeados, seus olhos faiscando com uma determinação insana.
— Não vamos esperar mais. Não vamos dar tempo para ele respirar. Kaito, reúna todos os rankeados. Quero cada delinquente da escola 27 em movimento. Se eles são fortes, nós seremos mais brutais. Se eles lutam, nós esmagamos!
Os delinquentes ali presentes assentiram, um por um. Kaito sorriu levemente, cruzando os braços.
— Então, é guerra?
Hiroshi sorriu, um sorriso frio e sanguinário.
— Sim… É guerra.
Dentro de um dos corredores da escola 25, em uma sala trancada, Sophie e Yoru estavam reunidos. A sala era pequena, com uma mesa de madeira no centro e um quadro negro ao fundo. A luz fraca do teto lançava sombras sobre os rostos dos dois.
Sophie, com os braços cruzados e olhar afiado, encarava Yoru. Ele estava sentado, pensativo, com os dedos batendo ritmadamente sobre a mesa.
— Meu infiltrado confirmou. Hiroshi não está apenas com raiva. Ele está insano. Vai atacar com tudo. — Sophie quebrou o silêncio.
Yoru soltou um suspiro pesado. Ele já esperava algo assim, mas ouvir isso de Sophie tornava tudo mais real.
— Não esperava menos dele… — Ele passou a mão pelo rosto, pensativo. — Mas isso significa que temos uma chance.
Sophie ergueu uma sobrancelha.
— Uma chance?
Yoru inclinou-se para frente, seus olhos brilhando com algo que beirava a empolgação.
— Se ele está vindo com tudo, significa que está agindo por impulso. Se soubermos exatamente quando e onde ele vai atacar, podemos usar isso contra ele.
Sophie sorriu levemente. Gostava desse lado de Yoru. Quando ele entrava nesse modo estratégico, era como se um predador estivesse preparando uma armadilha para sua presa.
— Você tem um plano, não tem? — ela perguntou, apoiando-se na mesa.
Yoru assentiu lentamente.
— Tenho algumas ideias… Mas vou precisar da sua ajuda para organizá-las. Vamos precisar de toda a força que tivermos. Não podemos deixar Hiroshi nos esmagar.
Sophie bateu na mesa com a palma da mão.
— Então vamos planejar direito. Se ele quer guerra… Vamos dar guerra.
Os dois começaram a discutir táticas, mapas e possíveis emboscadas. A noite se aprofundava lá fora, e a tensão na cidade só aumentava.
O confronto entre a escola 25 e a escola 27 estava prestes a atingir um novo nível.
E no meio de tudo isso, o líder da escola 35 apenas observava, esperando o momento certo para agir.
A guerra estava apenas começando.
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