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    “Estamos saindo do Matadouro. Onde nos encontramos?”

    A voz de Pandora ecoou nítida em minha mente, trazendo-me de volta à realidade. Era hora de agir. 

    Fui até a janela, movendo-me com cuidado para não alertar o lich. A cidade ao redor parecia um campo de morte, tomada por uma quietude sombria, interrompida apenas pelo murmúrio baixo dos ventos que atravessavam as ruas abandonadas.

    A área da cidade que a névoa tinha reclamado ainda surgia em minha mente, um lembrete de que o número de mortos e o desrespeito à vida ali, tinham sido enormes.

    Meus olhos percorreram a área, analisando o terreno. Precisávamos escolher um ponto de encontro seguro, algo que nos desse vantagem. 

    “Quantos estão com você?” perguntei mentalmente. 

    “Contando comigo e Rosa, estamos em cinquenta e cinco.” A resposta de Pandora veio firme. “Entre os gladiadores, tem o pessoal da gangue da Rosa Escarlate.”

    Cerrei os dentes. Mais combatentes do que eu esperava, mas a maioria eram lutadores de arena, especialistas em duelos, não guerreiros treinados para batalhas em grande escala. Se quiséssemos sobreviver, precisaríamos de coordenação. 

    Desviei o olhar para a estrutura ao redor. A torre onde estávamos possuía uma grande área murada, com um portão de folhas duplas. Seria um bom ponto de abrigo, o suficiente para acomodar os gladiadores. Era um bom lugar para usarmos como base.

    Enviei uma uma última mensagem a ela. “Tem uma torre de observação na passagem para o castelo. Estamos vigiando a horda daqui. As ruas estão seguras por enquanto, parece que os mortos estão reunindo todos os remanescentes em um grande exército. Vindo da cidade baixa, vocês não serão vistos.”

    “Entendido. Estamos a caminho.” A voz dela soou pela última vez.

    Virei-me para Nix e a chamei com um gesto. Quando ela se aproximou, indiquei a janela e apontei para a horda de mortos abaixo. Nosso inimigo.

    Ela observou em silêncio por um instante, os olhos estreitando conforme avaliava a situação. Em seguida, soltou um suspiro pesado e apertou os lábios. 

    — Será uma luta difícil. 

    Ela não estava errada.

    Mas antes que eu pudesse responder, ela virou o rosto para mim e seus olhos se suavizaram. 

    — Você sabe que estarei do seu lado, não é? 

    Senti um aperto no peito. Nix sempre esteve comigo, mas ouvir aquilo ali, naquele momento, trouxe uma sensação estranha. Um nó de alívio e receio. 

    Sem pensar, passei os braços ao redor dela e a puxei para perto, afundando o rosto em seus cabelos. O perfume familiar me envolveu, trazendo memórias de tempos mais simples. 

    — Saudades — murmurei contra sua pele. Eu sentia seu coração batendo, seu calor. Aquilo me dava forças.

    Ela sorriu contra meu peito antes de sussurrar de volta: 

    — Também senti sua falta. 

    Nix se ergueu na ponta dos pés e capturou meus lábios em um beijo. O contato foi breve, mas cheio de significado. 

    O som de uma garganta sendo limpa nos interrompeu. 

    Alana estava parada ali, braços cruzados, um sorriso travesso no rosto. 

    — Essa é a mamãe, papai? 

    Fiquei sem palavras. Aquilo foi tão direto que me pegou completamente desprevenido. 

    Nix riu e tentou se afastar, envergonhada, mas não deixei. Ainda a segurava firme.

    — Sim — respondi, sem hesitar. — Pode chamá-la de mamãe agora. 

    — Ei! — Nix protestou, tentando parecer indignada. — Não tenho idade pra ter uma filha desse tamanho! 

    — Nem eu — retruquei, arqueando uma sobrancelha. 

    Alana mostrou a língua para nós dois antes de soltar uma risada. Desde que nos conhecemos, ela estava sempre tensa, cheia de segredos… Agora, finalmente, começava a se permitir brincar. Eu gostava desse lado dela. 

    Mas o momento durou pouco. 

    Niana, que até então observava o movimento lá fora, se virou bruscamente, os olhos alertas. 

    — Tem alguém chegando. Vindo rápido. 

    Me aproximei da janela. 

    — Quem? 

    — Um homem sozinho. Ele está contornando o exército inimigo à distância. Vem direto para cá.

    Apertei os olhos, tentando identificar a figura em meio as sombras e a fumaça da cidade. Hass. 

    Ótimo.
     
    Conectei minha mente à dele. 
     
    “Hass, é Lior. Estamos na torre de observação. Pandora está vindo para cá com o pessoal do Matadouro.” 
     
    A resposta veio quase de imediato. 

    “Entendido. Já estava indo pra aí mesmo.” 

    Deixei Alana na janela e desci para o térreo. Nix e Niana vieram comigo. Não demorou muito até Hass atravessar o portão, ofegante, o rosto coberto de suor. 

    — Qual é a situação? — perguntei assim que ele entrou. — E os homens do exército imperial?

    Ele tirou um charuto do casaco, mordeu a ponta e o acendeu, soltando a primeira tragada antes de falar. 

    — Tenho uma boa e uma má notícia. 

    — Certo — murmurei, esperando ele falar.

    Hass soltou a fumaça devagar, como se organizasse as palavras. 

    — Essa torre de vigia pertence ao exército imperial.

    Franzi a testa. Não sabia onde ele queria chegar. Mas ele continuou.

    — E quantos soldados você viu aqui dentro? 

    Houve um silêncio. 

    Então, respondi. 

    — Nenhum. 

    Hass acenou com a cabeça. 

    — E sangue? — ele questionou. — Sinais de luta? 

    Meu estômago afundou. 

    A resposta era óbvia.

    — Nada. — murmurei. 

    Aqui está o trecho revisado com melhorias na fluidez, diálogos e descrições: 

    A mesma coisa havia acontecido perto do bar. A torre de lá também estava vazia. Nenhum corpo, nenhum sinal de resistência. 

    Hass confirmou meus pensamentos. 

    — Os soldados foram retirados na tarde anterior à invasão. O general de patrulha os convocou para um exercício, reunindo todas as tropas de segurança. Conveniente, não acha? 

    A raiva cresceu dentro de mim. 

    — Sim. Conveniente demais, se o objetivo era deixar a cidade desprotegida. 

    Hass me lançou um olhar sério. 

    — Suas especulações tocam o campo da traição, Lior. Não repita isso para ninguém. Mas sim, penso o mesmo. 

    Ele jogou o charuto no chão e o esmagou com a bota. 

    — Muitos soldados têm familiares na cidade. Estão furiosos com os Necros. Mas não sabem o que sabemos sobre Annabela e Mahteal, e prefiro que continuem sem saber. Não quero uma insurreição dentro do exército. 

    Entendi o que ele queria dizer. Se espalhássemos que o próprio alto comando facilitou a invasão, isso poderia implodir tudo. Já tínhamos problemas demais para lidar. 

    — E os comandantes? 

    — Foram ordenados a permanecer no pátio do Palácio, reunindo as tropas. 

    — Para quê? 

    Hass cruzou os braços. 

    — Durante a invasão, muitos queriam lutar, mas a ordem foi clara: proteger o castelo. Então apareceram alguns jovens nobres, trazendo decretos que lhes davam autoridade. Diziam ter a solução para a invasão. 

    Olhei para ele. Algo nisso me incomodava profundamente. 

    — Que solução? 

    — Estão preparando um ritual. Dizem que será o suficiente para enfraquecer a horda. Quando os Necros estiverem debilitados, o exército atacará e os esmagará de uma vez. 

    Fiz uma careta. 

    — Isso soa absurdo. 

    — Parece orquestrado demais. 

    — Concordo. 

    — A má notícia — continuou ele — é que, com esses planos, ninguém virá nos ajudar. Eles têm ordens e intenções próprias. 

    Cruzei os braços, esperando pela parte boa. 

    — Mas eles vão avançar direto contra a horda. Liderados pelos jovens nobres do Palácio. 

    Ergui uma sobrancelha. 

    — Quem são eles? 

    — Participantes do torneio. Valis Nonnar e Elizabeth Elden estão no comando. 

    Meus olhos se estreitaram. 

    Era óbvio. Uma encenação para catapultar os nomes de Valis e Elizabeth. Uma jogada de Naksa e Annabela. 

    As vidas perdidas não significavam nada para gente como eles. E, para mim, era impossível que o Imperador não soubesse. O prejuízo em vidas, tanto de plebeus quanto de famílias nobres, era um preço que estavam dispostos a pagar. Algumas casas jamais se recuperariam depois desse ataque, perdendo herdeiros, futuros líderes. 

    Era implacável. 

    Mas eu pretendia estragar essa farsa. Se queriam brilhar na batalha, eu faria questão de brilhar ainda mais.

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