Capítulo 132 - Treino com os manos
O céu ainda estava tingido de tons alaranjados quando Ryuji, Nathan, Matabi, Hajuki e Juan se encontraram na entrada da floresta. A brisa fria da manhã soprava entre as árvores, fazendo as folhas secas rodopiarem ao redor dos pés dos cinco amigos.
— Tem certeza que isso é uma boa ideia? — perguntou Juan, cruzando os braços. — Treinar no meio do nada não parece muito… seguro.
— É exatamente por isso que é uma boa ideia. — Ryuji sorriu, ajeitando a bandana vermelha na testa. — Se quisermos ficar mais fortes, temos que sair da nossa zona de conforto.
— Eu concordo — disse Nathan, ajustando as ataduras em seus pulsos. — Precisamos levar isso a sério… a escola 35 não vai facilitar pra gente.
— É… — murmurou Matabi, com um tom mais sério do que o normal.
Hajuki, que geralmente era o mais quieto do grupo, apenas sorriu de canto e deu um leve empurrão em Juan.
— Vamos logo, antes que você perca a coragem.
— Tsc… — Juan resmungou, mas seguiu junto com os outros.
Com mochilas nas costas e uma determinação silenciosa no olhar, o grupo avançou para dentro da floresta.
A floresta não demorou a mostrar seu lado cruel. O solo era irregular, repleto de raízes que pareciam querer agarrar seus pés. Mosquitos zumbiam ao redor, e o ar abafado fazia o suor escorrer mesmo sem esforço.
— Vamos dividir as tarefas. — Ryuji assumiu a liderança. — Nathan e Juan vão buscar lenha. Eu e Hajuki vamos procurar água. Matabi… você cuida da fogueira.
— Por que eu sempre fico com a parte chata? — Matabi bufou, mas não reclamou.
A tarde caiu enquanto eles organizavam o acampamento. Quando finalmente se reuniram em volta da fogueira, todos estavam exaustos.
— Achei que seria mais fácil… — murmurou Juan, esticando as pernas.
— Isso é só o começo. — Ryuji riu, mastigando um pedaço de carne seca. — Amanhã o verdadeiro inferno começa.
O plano era simples: enfrentar os animais da floresta para desenvolver reflexos, resistência e coragem.
O primeiro desafio veio quando encontraram um javali selvagem — uma fera robusta e raivosa.
— Isso é loucura! — gritou Juan.
— Ele é rápido, vamos cercá-lo! — Ryuji ordenou.
O grupo se espalhou, formando um semicírculo. O javali atacou com uma velocidade assustadora, investindo contra Nathan, que quase não conseguiu desviar.
— Droga! — Nathan tropeçou e caiu.
O javali avançou, mas antes que pudesse atingi-lo, Ryuji apareceu como um raio, acertando um chute firme no focinho do animal, desviando sua trajetória.
— Ele não para… — pensou Ryuji, ofegante.
Hajuki aproveitou a brecha e se lançou por trás, cravando um pedaço de madeira afiada na lateral do javali. A criatura se debateu, grunhindo furiosamente, até finalmente tombar no chão.
O grupo caiu no chão, exausto e ofegante.
— Isso… foi insano… — disse Matabi, o peito subindo e descendo.
— E amanhã vai ser pior. — Ryuji sorriu, mesmo com um corte sangrando em seu braço.
Mais tarde, ao redor da fogueira, o clima estava diferente. O fogo crepitava baixo, iluminando os rostos cansados e sujos de terra.
— Por que estamos fazendo isso mesmo? — Juan quebrou o silêncio.
— Pra ficarmos mais fortes — respondeu Hajuki, direto.
— Não só isso… — Ryuji olhou para as chamas. — É porque a gente não pode mais perder ninguém.
Os amigos ficaram em silêncio, sabendo que ele se referia aos companheiros que foram derrotados na luta contra a escola 35.
— Eu… — Nathan quebrou o silêncio. — Eu só quero me tornar alguém em quem vocês possam confiar…
— E você já é — disse Ryuji, batendo em seu ombro. — Só precisa perceber isso.
Matabi, que sempre parecia despreocupado, soltou uma risada baixa.
— Sabe… é engraçado. A gente se conheceu só porque estávamos tentando sobreviver na escola. E agora… estamos aqui. Lutando lado a lado.
— Acho que isso significa que a gente virou uma família — comentou Hajuki.
— Uma família meio disfuncional… — Juan riu, fazendo todos gargalharem.
Por aquela noite, o peso da batalha desapareceu. Eles eram apenas cinco amigos, dividindo risos sob as estrelas.
No último dia de treino, eles decidiram caçar uma alcateia de lobos selvagens que havia rondado o acampamento.
— Se errarmos aqui, vai ser o fim… — disse Ryuji, com uma expressão sombria.
O plano era simples: afastar os lobos do território deles e evitar confrontos diretos.
Porém, a alcateia não demorou a perceber a presença deles. Um uivo ecoou pela floresta, e antes que pudessem reagir, cinco lobos surgiram entre as árvores.
— Cuidado! — gritou Nathan.
Um dos lobos saltou em direção a Juan, que desviou por um triz. Outro investiu contra Matabi, que conseguiu afastá-lo com um chute no focinho.
Ryuji se viu cercado por dois deles. Seu coração martelava forte.
— Eu não posso cair aqui… — pensou.
Os lobos saltaram ao mesmo tempo. Ryuji girou o corpo e acertou um chute giratório certeiro no primeiro, derrubando-o. O segundo tentou morder seu braço, mas Ryuji aproveitou a força do impacto para girar o lobo e jogá-lo contra uma árvore.
No fim, a alcateia recuou, e os cinco amigos permaneceram de pé — feridos, mas vitoriosos.
De volta à cidade, o grupo se despediu na estação de trem.
— Foi um inferno… — disse Juan.
— Foi mesmo… — Nathan concordou, rindo.
— Mas conseguimos — completou Ryuji, cruzando os braços. — E agora… estamos prontos.
— Não importa o que venha — disse Matabi, sorrindo. — A gente vai encarar juntos.
— Como uma família. — Hajuki completou.
Eles se olharam por um instante, e então riram. Aquela viagem não havia apenas os fortalecido fisicamente — ela havia transformado cada um deles.
Agora, eles eram mais que amigos. Eles eram irmãos.
E, no fundo, todos sabiam que nenhum inimigo — por mais forte que fosse — seria capaz de destruir aquilo.
Os cinco amigos finalmente haviam voltado para casa após o árduo treino na floresta. As feridas ainda estavam frescas, e seus corpos pareciam carregados de chumbo.
O ar quente da cidade os envolveu assim que saíram da estação. O barulho dos carros, as buzinas e o burburinho das pessoas eram um contraste direto com o silêncio selvagem da floresta. Apesar disso, nenhum deles sentia alívio.
— Bom… acho que agora começa a parte difícil — comentou Nathan, puxando a alça da mochila para ajustar no ombro.
— Parte difícil? — Ryuji riu com cansaço. — A gente quase morreu na floresta, lembra?
— E vamos quase morrer de novo, se não continuarmos treinando — acrescentou Hajuki, com um sorriso discreto.
— Tsc… eu não quero nem ver uma árvore por um bom tempo — resmungou Juan, esfregando a nuca dolorida.
— Vou pra casa descansar… amanhã a gente se vê. — Matabi acenou e saiu andando lentamente pela rua.
— Descansar? — Ryuji gritou atrás dele. — Amanhã vamos voltar a treinar!
— Tô nem aí! — Matabi respondeu de longe, rindo.
Os outros quatro se olharam e riram juntos. Mesmo após tanto sofrimento, a sensação de estarem juntos fazia tudo parecer suportável.
Na manhã seguinte, Ryuji convocou todos para um novo ponto de encontro: uma academia simples e desgastada, situada em uma rua quase esquecida da cidade.
— Isso parece… velho. — Juan olhou para a fachada com desconfiança.
— É porque é. — Ryuji empurrou a porta de metal enferrujada e entrou.
O cheiro de suor e poeira os envolveu assim que cruzaram a entrada. O local era pequeno, com poucos aparelhos de musculação e sacos de areia pendurados no teto. O ar abafado tornava o ambiente ainda mais pesado.
— É aqui que vamos treinar? — Nathan perguntou, franzindo a testa.
— Não só isso — respondeu Ryuji, com um leve sorriso. — Aqui é onde a gente vai se transformar.
O plano de treinamento foi brutal desde o início.
Ryuji dividiu o cronograma de forma rígida:
Manhã: Treino físico intenso — corrida, musculação e resistência.
Tarde: Treino de combate — técnica, postura e defesa.
Noite: Revisão das falhas e treinos psicológicos para fortalecer a mente.
Os dias começaram a se misturar conforme o cansaço se acumulava.
No primeiro dia, Nathan quase vomitou após correr 10 km sob o sol escaldante.
— Eu não… vou conseguir… — murmurou ele, apoiado contra uma parede.
— Vai sim — disse Hajuki, puxando-o pelo braço. — Ninguém vai ficar para trás.
No segundo dia, Juan teve uma crise de ansiedade após perder quatro vezes seguidas em uma luta contra Matabi.
— Eu sou um peso morto… — Juan resmungou, frustrado.
— Cala a boca — respondeu Matabi, dando um leve soco no ombro do amigo. — Você tá aqui comigo, cara. E é isso que importa.
No quinto dia, foi a vez de Ryuji quebrar.
Após treinar incessantemente durante horas, seu corpo finalmente cedeu. Ele caiu no tatame, suando e com a respiração descontrolada.
— Eu… não posso parar… — murmurou, tentando se levantar.
— Pode sim — disse Nathan, abaixando-se ao lado dele. — Você não tá sozinho nisso, lembra?
A amizade que haviam construído na floresta agora se tornava sua maior arma para não desistirem.
Nem tudo foi dor e exaustão.
Nos fins de semana, eles aproveitavam para se encontrar fora do treino, sempre na lanchonete onde costumavam ir.
— Então… qual de vocês quase chorou essa semana? — provocou Matabi, enquanto mordia um hambúrguer.
— Você, né? — Hajuki sorriu de canto.
— Eu só tava cansado, ok? — Matabi rebateu, fazendo todos rirem.
Aqueles momentos, por mais simples que fossem, reforçavam o vínculo que tinham. Eles não eram apenas amigos que lutavam juntos — eram irmãos que se apoiavam nos piores dias.
Em uma noite especialmente difícil, após um treino intenso, Nathan e Juan permaneceram na academia depois que os outros foram embora.
— Sabe… — começou Nathan, sentando-se no banco de musculação. — Às vezes eu penso que não sou forte o suficiente pra proteger vocês.
— Eu também sinto isso — confessou Juan. — Mas… acho que o que importa é que a gente tá tentando, né?
Nathan suspirou.
— Eu só… não quero perder ninguém.
— E não vai — respondeu Juan, colocando a mão firme no ombro do amigo. — Enquanto estivermos juntos, ninguém cai.
Após dias de treinamento exaustivo, o grupo decidiu encerrar aquela fase com um desafio final: uma luta todos contra todos.
— Sem piedade — disse Ryuji, amarrando a bandana na cabeça.
O ar estava pesado e tenso. Durante a luta, cada um deu tudo de si. Ryuji enfrentou Juan, enquanto Nathan encarou Hajuki. Matabi, por sua vez, se jogou contra quem estivesse na frente.
Os golpes ecoavam pela academia, os corpos colidiam e os gritos de esforço preenchiam o ambiente.
No fim, todos estavam no chão — cansados, machucados e com sorrisos no rosto.
— Foi… incrível — disse Juan, rindo enquanto limpava um filete de sangue no lábio.
— Nós estamos prontos — afirmou Ryuji, com confiança nos olhos.
— E, dessa vez… — Nathan apertou os punhos. — Ninguém mais vai nos parar.
A jornada deles estava longe de terminar, mas agora cada um deles sabia que não estava sozinho. Eles eram mais que apenas lutadores.
Eram uma família forjada na dor, no suor e na vontade de se tornarem mais fortes.
Por mais inimigos que viessem… por mais desafios que enfrentassem…
Eles sempre estariam juntos.
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