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    No meio de uma cidade movimentada, com carroças rodando pelas ruas de pedra e pessoas caminhando na calçada, Sylvana se destaca. O homem de cabelo e barbicha loiros veste um robe longo de mangas largas, na cor roxa. 

    Pelas ruas ao redor estão casas e pequenos prédios de pedra escura, e nas calçadas, além das pessoas, também há algumas barracas com produtos à venda. O som das rodas das carroças ecoa pelas ruas, misturado aos gritos dos vendedores anunciando seus produtos. 

    O cheiro de massa fresca e especiarias exóticas flutua no ar. Enquanto Sylvana caminha com tranquilidade, calmo e sorrindo, passando entre os transeuntes, na mão, carrega uma cesta com pães e uma garrafa roxa. 

    Em uma esquina agitada, Sylvana para de andar enquanto aguarda algumas carroças cruzarem a rua. Nesse momento, seu sorriso largo subitamente some, trocado por um olhar de estranheza e desconfiança.

    Ele olha para os lados repetidas vezes, procurando por alguma coisa. Uma inusitada inquietação lhe atormenta, porém, por mais que ele vasculhe, nada em seu campo de visão parece diferente do usual. 

    Apesar de não encontrar nada estranho nos arredores, Sylvana ainda segue desconfiado. Sylvana levanta um dos pés do chão e o move alguns centímetros para o lado, tateando o piso com a ponta do sapato.

    “Humm”, ele murmura, agora intrigado.

    Ele abaixa o pé erguido e repete o processo com o outro. Ao tatear mais um pouco, o homem então leva a mão ao queixo e acena levemente, como se tivesse confirmado algo.

    De repente, Sylvana suspira profundamente, gira os olhos e uma expressão de exaustão toma conta de seu rosto. Em vez de cruzar a rua, ele faz uma curva decisiva e muda seu rumo. 

    Com um olhar fechado e sério, Sylvana atravessa a cidade, passando por várias quadras e quarteirões. Ele deixa a região comercial para trás e adentra uma área residencial de aspecto caro.

    As casas do lugar variam entre casarões espaçosos e mansões luxuosas. O aroma de flores frescas flutua no ar, enquanto jardineiros cuidam dos quintais e guardas armados circulam pelas ruas, seus passos ecoando no silêncio da área nobre.

    Sylvana para diante de um portão de acesso com muros de grades negras, saca uma chave e o abre. A residência atrás é alta, não tanto quanto algumas das outras mansões na região, mas com dois andares e uma pintura branca impecável.

    Ele adentra e chega a uma sala digna de um nobre, com móveis de madeira refinada, poltronas bordadas novas, cortinas longas tapando as janelas e vários quadros pendurados nas paredes.

    Sylvana deixa a cesta em uma mesa ao lado da entrada e tranca a porta. Ele então fixa o olhar em sua própria sombra, imóvel. O lugar fica quieto e sombrio, o silêncio pesando no ar enquanto ele aguarda algo acontecer.

    “Peço que quem estiver escondido aí, apareça logo”, ele diz, a voz firme e carregada de impaciência.

    Durante alguns segundos, nada acontece, e Sylvana fica visivelmente irritado.

    “É o Romón? Veio a mando de alguém?”, ele demanda, a voz agora carrega severidade. “Seja quem for, se veio me atacar, faça logo. Não gosto desse jogo de ficar enrolando.”

    De repente, a sombra que ele encara começa a tremular como uma poça de água negra. Um montante escuro emerge e, em instantes, uma figura humanoide com chifres pontiagudos se forma.

    Um diabo da altura de Sylvana emerge da sombra. Esguio e com a sobrancelha curvada em um olhar sério. Sua pele cinza escuro brilha sob a luz fraca da sala, contrastando com os olhos laranjas que cintilam como brasas. De suas têmporas, saem chifres negros, curtos e pouco curvados. Ele veste um sobretudo escuro que cobre todo o tronco, calças de couro marrom, e botas e luvas da mesma cor completam sua aparência sinistra.

    Sylvana esboça uma expressão de surpresa e confusão ao vê-lo, os olhos se estreitando enquanto processa a presença inesperada. “Azazel?!”, ele questiona, como se desconfiasse dos próprios olhos. 

    “Fico impressionado com sua capacidade de detecção”, o demônio comenta, a voz clara e um tanto irônica, enquanto cruza os braços. “E por que esse alarde, Sylvanus? Tenho certeza de que não sou o ser mais aterrorizante que você encontrou por aí.”

    “É que eu não esperava te ver por aqui, ainda mais depois daquele acidente.”

    “Deixemos aquilo de lado. Não há mais débitos entre nós. Agora as coisas estão diferentes.”

    “O que você faz aqui?”

    “Vim atrás de você”, Azazel responde, começando a caminhar pela casa, com o dedo deslizando sobre os móveis e verificando a poeira. “E vejo que anda vivendo bem. Para um humano.”

    Sylvana se senta em uma poltrona, enquanto acompanha o momento do diabo pelo cômodo. “Eu não posso reclamar”, diz ele, com um meio sorriso nos lábios. “Só nunca imaginei que você viria do leste para dar um fim ao velho Sylvana.”

    “Não se faça de tolo”, Azazel adverte, os olhos laranjas brilhando intensamente enquanto fixa Sylvana com um olhar ameaçador. “Se eu quisesse atacá-lo, você já teria a cabeça cortada no meio da rua.”

    “É você quem não vai direto ao ponto”, Sylvana ironiza, com um sorriso confiante no canto da boca. “Eu já disse que não gosto de ficar enrolando.”

    Azazel acena a cabeça em negação, soltando um suspiro ao final. “Eu já havia esquecido o serzinho irritante que você é. Mas indo direto ao assunto, eu estou atrás da Lorde da Ganância”, ele diz, com a voz baixa e carregada de intenção.

    “Hum”, murmura Sylvana, os olhos se estreitando. “Chegou um pouco atrasado.” Ela já foi embora há semanas.”

    “Isso eu sei. Mas eu imagino que você saiba o paradeiro dela.”

    Sylvana ergue uma sobrancelha, com os olhos fixos em Azazel. “E por que você supõe que eu saberia dessa informação?”, ele pergunta, cauteloso.

    “Você não é do tipo que simplesmente perde o rastro daqueles com quem negocia.”

    “Há muitas suposições aí”, Sylvana pontua, afiado como uma espada. “E posso saber porque você precisa dessa informação? Pretende se juntar à corte dela?”

    “Há gente grande procurando por ela”, Azazel responde firmemente. “E quero estar a frente disso.”

    “Imagino. Eu não esperaria menos ao ver o Assessor da Fronteira me abordando…”

    “Não. Já não sou mais um assessor. Agora, sou baronete”, o diabo corrige. 

    Sylvana arregala os olhos, a postura relaxada na poltrona se tensiona levemente. “Realmente, as coisas estão diferentes”, ele murmura, mais para si mesmo do que para Azazel, sentindo um calafrio correndo na espinha.

    “Há muitas coisas em jogo aqui”, Azazel insinua, os olhos laranjas fixos em Sylvana, como se tentasse ler seus pensamentos. “E há um pagamento enorme pela informação que eu estou procurando. Você deve saber como posso encontrá-la.”

    O homem fica pensativo, os dedos cruzados e os cotovelos apoiados nos braços da poltrona. O silêncio na sala parece pesar mais a cada segundo enquanto ele reflete.

    Sylvana inclina a cabeça levemente, os olhos fixos em Azazel. “Uma grande recompensa, não é?”, ele questiona.

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