Capítulo 159: O Apocalipse desce ao Inferno
Lírica estava no meio de um ataque. Suas garras afiadas afundariam no meio do rosto de Clara, bem entre os olhos.
A súcubo bateu sua lâmina contra as garras da demi-humana, bloqueando o ataque.
Em seguida, as duas pararam. Se entreolharam por um momento, confusas.
— Por que a gente… ?
— Por causa dele — Clara olhou diretamente para Guerra.
O cavaleiro era imponente e aterrorizante. Emanava uma aura de violência pura que contaminava o ambiente em volta.
Sua armadura pesada fazia barulho quando ele pisava, e a espada que trazia nas mãos era afiadíssima e quase de seu próprio tamanho, e ostentava jóias preciosas na guarda , e o pomo era um grande rubi.
Satanakia e Phenex pousaram no chão e recolheram suas asas. Estavam em volta do cavaleiro, cercando-o. Nem um pouco contentes.
Satanakia tinha o rosto chamuscado de fogo; enquanto Phenex apresentava alguns ferimentos.
Irina, assim que voltou a si, agarrou-se em Renato, afundando o rosto naquele abraço quente e amoroso.
— Perdoa, Rê… perdoa… eu não queria… — A garota derramava lágrimas e soluçava, ainda transbordando de emoções confusas.
— Eu sei — respondeu ele. — Não é culpa sua.
Baalat olhou para sua irmã menor, e pela primeira vez viu algo diferente no olhar dela. Angélica parecia um pouco assustada. Seria a primeira vez em milênios de existência!
Baalat ficou profundamente irritada. Tudo bem que Guerra era um Cavaleiro do Apocalipse, mas aquilo era petulância demais!
Deu de ombros. Não era de sua natureza levar as coisas para o pessoal. Ela deveria ser prática e pragmática. Ainda tinha a taça de absinto presa entre os dedos, então sorveu um gole generoso.
— Peguem ele — ordenou.
Os demônios soldados, em formação de batalha, abriram as asas e avançaram em direção ao cavaleiro.
Guerra pulou de seu cavalo e, com um movimento rápido, puxou a espada das costas. A lâmina longa tiniu quando cortou o ar, num movimento horizontal.
E a onda de energia se desprendeu da lâmina e atingiu os soldados.
O aço da espada nem precisou tocá-los.
Foram cortados ao meio, e seus pedaços foram arremessados para longe.
A taça que Baalat segurava nos dedos trincou, e parte de seu absinto derramou.
Ela fez uma careta amarga.
— Agora eu fiquei com raiva.
Suas pupilas brilharam esverdeadas e mudaram de forma. Ficaram fendidas como os olhos de serpente.
Mas rápido como um piscar de olhos, Guerra se moveu. E num instante estava diante dela.
Guerra pôs a mão sobre os olhos de Baalat, cobrindo-os, e então empurrou a cabeça dela contra a parede de pedra maciça.
A rocha arrebentou e a cabeça dela afundou na parede.
— Ah! — Angélica gritou, indignada, e direcionou seus Fios de Escuridão para agarrar Guerra.
Sanatakia abriu as asas e voou para atacá-lo também, enquanto Phenex fez surgir uma pilastra de fogo e a jogou na direção dele.
No entanto, o cavaleiro se esquivou dos Fios de Escuridão, interceptou Satanakia no ar e afundou o joelho no estômago do demônio. Satanakia foi arremessado para o alto e arrebentou o teto ao colidir com ele, antes de bater no chão.
Em seguida, Guerra atravessou as chamas de Phenex com espada em punho, e golpeou, mirando o pescoço.
Mas antes que a lâmina pudesse atingi-lo, a Espada do Pecado de Clara Lilithu a interceptou, bloqueando o golpe. O ar vibrou com a onda de choque.
Uma pequena rachadura se abriu no chão, entre eles.
E Clara foi pressionada por aquela pressão, mas firmou bem os pés, ficando-os no chão. Manteve a guarda. Deslizou apenas alguns centímetros para trás.
— Súcubo…
Irritado, Guerra empreendeu um segundo ataque carregado de fúria e uma força esmagadora.
Novamente as lâminas se cruzaram. O aço tiniu, como se chorasse… uma, duas, três vezes cruzaram espadas naquela esgrima mortal.
Aquela força terrível estava pressionando Clara, mas algo aconteceu. Ela revelou sua verdadeira forma. Os chifres brotaram na cabeça e as asas apareceram nas costas. Seus olhos se tornaram como bolas de Fogo Eterno.
E, ao olhar no fundo de suas pupilas negras, Guerra pôde ver o reflexo da lua, e se lembrou de uma antiga conhecida.
— Filha de Lilith!
— Não me chame assim!
E a súcubo contra atacou com ainda mais fúria.
Seu poder aumentou. Foi multiplicado muitas vezes! E conseguiu desferir vários golpes contra o cavaleiro.
Ele, no entanto, os bloqueava e se esquivava sem muita dificuldade.
Uma bola de fogo negro cruzou a câmara.
Antes de ser atingido, Guerra moveu sua mão e segurou aquela chama. Com um salto para trás, se afastou de Clara. Fumaça saía da palma de sua mão.
Seus olhos encontraram os de Renato.
Guerra esmagou a bola de fogo entre os dedos.
Na palma da mão tinha queimaduras, e a fumaça se desprendia.
— Isso doeu. Só um pouco.
Clara abriu as asas e avançou, golpeando com a espada.
E Renato finalmente os alcançou, e pulou com sua espada diante do cavaleiro, e se juntou àquela dança de lâminas.
Sua espada negra, cheia de espinhos, era manuseada com muita habilidade e poder.
A névoa fria é escura se dissipava, como uma manifestação de seu próprio ódio materializado, e tomava o ambiente em volta.
Com movimentos ágeis e rápidos, Guerra cruzava lâminas com Renato e Clara ao mesmo tempo. Um golpe à direita, outro à esquerda… sucessivamente. Nem mesmo sua armadura pesada limitava seus movimentos.
Irina se adiantou para ajudar o irmão, mas Angélica a deteve, segurando-a pela mão.
— Se você for, vai morrer!
Logo em seguida, a princesa abriu as asas e voou direto para o epicentro do confronto.
Irina, vendo aquela batalha de monstros, soube que Angélica estava certa. Mas não podia ficar sem fazer nada. Precisava ajudar de alguma maneira. É claro que ela não ficaria escondida, em segurança, enquanto seu irmão lutava arriscando a vida.
Sentiu falta de suas armas.
Ela pegou uma estalactite de pedra, longa e pontiaguda, que estava caída no chão, e atirou-a feito uma lança.
Guerra percebeu o objeto deslizando no ar, deslocando as moléculas voláteis, indo diretamente para sua nuca. Virou-se, numa fração de segundos, segurou a estalactite com uma mão, olhou diretamente para Irina, sorriu e atirou aquela lança de pedra de volta.
Irina sempre foi uma garota ágil, do tipo que poderia desviar dos socos de um boxeador experiente, mas aquilo estava se aproximando dela numa velocidade próxima a de uma bala de revólver. Seria impossível. Aquela coisa afundaria em sua testa e sairia na nuca.
Porém, antes que fosse atingida, as garras de Lírica colidiram contra a estalactite em pleno ar, pela lateral. E tudo o que atingiu Irina foi a poeira e os pedacinhos de pedra, com velocidade reduzida, devido ao impacto.
Os Fios de Escuridão de Angélica deslizavam feito serpentes, tentando segurar Guerra, mas o cavaleiro os evitava, movendo-se tão rapidamente que se tornou um borrão para a vista, enquanto colidia lâminas com Renato e Clara, e também usava a lâmina para bloquear as garras de Lírica, que tinha se juntado à batalha.
O orc Hazur atacou com sua clava. Era uma montanha de carne e armadura, caindo sobre o cavaleiro.
Mas, ao ser bloqueada pela espada, a clava arrebentou em inúmeros pedaços.
E com um movimento rápido da lâmina de Guerra, a cabeça de Hazur girou no ar, separada do pescoço. Aquela massa gigante de corpo de monstro apenas caiu imóvel, feito estátua.
Baalat se ergueu e direcionou mais uma vez seu Olhar da Serpente. E dessa vez, Guerra não teve tempo de evitá-lo.
E foram os olhos negros do cavaleiros que sangraram. Ele cobriu os olhos com as mãos, para evitar o Olhar da Serpente. O sangue escapava através dos dedos.
— É agora! — gritou Satanakia. E o demônio avançou, com sua espada em punho.
Mas o cavaleiro foi mais rápido. E quando as duas lâminas se chocaram, o aço da espada de Satanakia tiniu, como se gritasse de dor, e explodiu em estilhaços.
E Guerra golpeou com a intenção de atravessar o corpo do demônio.
Sem tempo de reação, Satanakia teria sido atingido, se Angélica não usasse seus Fios de Escuridão para puxá-lo bem a tempo.
Baalat passou voando. Um borrão de luz rápido como um raio.
Parou bem acima de Guerra e desceu, batendo seus pés na cabeça dele, afundando-o no chão. Pelo menos esse era seu plano. Guerra desviou do ataque dela, saltando para o lado, e moveu sua espada.
Cravaria a lâmina no peito da primeira princesa, e o Inferno finalmente sangraria.
Clara conseguiu ver, e tentou alcançá-los. Para qualquer demônio, permitir que a filha de Lúcifer seja ferida era uma coisa impensável! A pior blasfêmia de todas! Mas a súcubo estava longe demais e não conseguiria alcançá-los.
Angélica direcionou seus Fios de Escuridão, mas eles também não chegariam a tempo.
E quem chegou foi o Reitor Phenex, que sem alternativa melhor, apenas pulou na frente.
E a espada o atravessou pelo peito.
Sangue jorrou de sua boca e também escorreu do ferimento.
— Phenex! — Baalat não podia acreditar no que estava vendo.
— Morra, desgraçado! — E Phenex, numa última tentativa de luta, usou toda a energia que tinha para produzir a maior chama de todos os tempos. E o fogo jorrou como uma barragem rompida contra o rosto de Guerra.
Mas o cavaleiro apenas gargalhou.
— Isso nem chega perto de me queimar!
E moveu sua espada lateralmente, tirando a lâmina do peito do reitor pela costela, e isso abriu um corte horizontal em todo o tórax do demônio.
O Reitor Phenex foi arremessado, com o corpo mutilado, e caiu num canto da câmara de pedra.
Olhou para Renato, enquanto tossia sangue.
— Não envergonhe o melhor elemento, garoto! Proteja… o Inferno!
E seus olhos foram selados para sempre.
— Aaaaah! — O grito de Baalat foi feroz, de pura raiva, e o ambiente foi tomado por sua luz.
Mas Guerra se moveu na escuridão, com a furtividade de um assassino.
Ele agarrou Lírica e pôs a espada em seu pescoço.
— Solte ela, filho da puta! — rosnou Renato.
O Cavaleiro da Guerra sorriu.
— “Filho da puta”? Gostei disso. Filho da puta! Bem melhor que os antigos xingamentos.
— Tá tudo bem, Renato! — disse Lírica, com dificuldade, pois a lâmina pressionava sua traqueia. — Não se preocupe comigo. Acabe com ele!
— Oh, mas você é capaz disso, Renato? — perguntou Guerra. Em seu rosto, a marca do sangue que escorreu dos olhos. — Será mesmo?
— Solte ela!
— Estou curioso para saber porque lutou comigo. — Ele olhou para o súcubo. — Ah, você realmente se parece com ela! Lilith era linda, sabia?
— Mandei soltar!
— Certo, certo. Mas pense com cuidado na proposta que te fizemos. Você pode mesmo recuperar tudo o que perdeu, sabia? Você pode escolher ser o incendiário ou aquele que queima. Pense com cuidado! — Olhou para Lírica. — Agora, considere isso um sinal de boa fé.
Ele jogou Lírica para longe, e com um movimento tão rápido que sequer era possível acompanhar com os olhos, ele montou em seu cavalo e desapareceu.
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