Capítulo 154 - A vingança
[Escola 35 – Armazém do Sul, noite de lua cheia]
O ar estava carregado de tensão. Dentro do armazém, Uiji Koregan se erguia diante de um grande mapa tático da região central entre as escolas. Seus olhos marrons caramelados percorriam cada ponto, cada esquina, cada rota de fuga. Seus subordinados, Pedro e Paulo, estavam ao lado dele, atentos.
— Nós vamos atacar por três frentes — Uiji começou, apontando com firmeza para três pinos vermelhos no mapa. — A primeira será uma ofensiva direta, liderada por mim. Não quero que sobre nada. Vamos mirar no centro nervoso da escola 25.
Pedro deu um passo à frente, com os braços cruzados.
— E se eles estiverem preparados? O Yoru não é burro.
— Por isso teremos a segunda frente. Philips e sua equipe. Eles farão um desvio na retaguarda. Atravessarão o beco da zona norte e atacarão de surpresa.
Philips estalou a língua ao ser mencionado, encostado em uma pilha de caixas. O pirulito na boca girava com rapidez.
— Como sempre, mandando eu fazer o trabalho sujo. Mas beleza, vou mostrar quem merece de verdade o topo.
Uiji ignorou o tom e continuou:
— A terceira frente é a mais importante. Será uma distração completa, liderada por Pedro e Paulo. Fogo e caos na entrada da escola 25. Eles vão pensar que é o ataque principal.
Paulo sorriu, encarando o mapa.
— Essa é boa. Eles não vão saber por onde a porrada vem.
Uiji se afastou do mapa e ficou em silêncio. A lua iluminava parte do seu rosto pela janela quebrada. Seus olhos brilharam.
— Haruto quer medo. Então vamos entregar terror. Quero o Yoru de joelhos. Quero Hiroshi implorando. Quero o respeito de todos os executivos. Não é só uma guerra, é uma afirmação. Uma nova ordem.
…
[Escola 25 – Subsolo da Arena, duas horas depois]
O Hiroshi estava com os pés em cima da mesa, a sala de reuniões subterrânea estava repleta de papéis, quadros brancos e luzes fluorescentes. No centro, o mapa da cidade. Ao redor dele, estavam Ben, Nathan Rayna, Mia, Sora e Phantom. Todos com trajes escuros e máscaras escondendo seus rostos.
— A informação é clara. O Philips traiu nossa escola. E agora quer uma recompensa em cima disso. É hora da retribuição — disse Hiroshi, frio.
Ben, sempre sério, cruzou os braços.
— Qual é o plano?
Hiroshi sorriu de lado e apontou para um círculo vermelho no mapa.
— Philips não luta sozinho. Tem três aliados que ele ainda respeita, mesmo sem saber. Vamos usar isso. Primeiro passo: fazer parecer que estamos confiando nele. Segundo passo: atrair ele para o cerco.
Mia ajeitou sua máscara.
— E os aliados?
— Aí que entra a parte boa. Vou visitá-los pessoalmente. Não gosto de ser traído. Desde pequeno, eu aprendi que traição é o pior dos pecados. Philips vai pagar com tudo.
Phantom, de olhos escondidos, falou pela primeira vez:
— E se recusarem a ajudar?
Hiroshi se levantou, ajustando seu sobretudo preto.
— Não vão recusar. Eu tenho tudo o que preciso para convencê-los. Inclusive, o medo.
…
[Duas ruas acima da zona comercial, fim de tarde]
Hiroshi caminhava com passos calmos. Seu olhar era gélido. Parou em frente a uma casa simples. Bateu na porta. Um garoto de cabelo ruivo abriu.
— Hiroshi? O que faz aqui?
— Você é amigo do Philips, não é, Kyo?
— Sim… mas…
Hiroshi encostou um envelope contra o peito do garoto.
— Isso é uma chance de você fazer a escolha certa. Se ficar do nosso lado, nada acontece com você. Agora, se tentar avisar ele… a escola 35 vai parecer brincadeira perto do que eu posso fazer com sua vida.
O garoto empalideceu.
— Tudo bem. Eu… eu faço parte.
Hiroshi virou as costas sem dizer mais nada. Nos próximos três dias, ele visitou outros dois amigos do Philips, sempre da mesma forma: aparição silenciosa, ameaça clara, e uma proposta de sobrevivência.
…
[Base secreta da Escola 25 – Noite antes da batalha]
Ben, Mia, Sora, Nathan e Phantom estavam reunidos. As máscaras agora tinham codinomes desenhados.
Hiroshi entrou.
— Tudo pronto. Os amigos do Philips vão trair ele no momento certo. Quando o cerco fechar, o Philips vai estar sozinho. E aí, vamos mostrar o que acontece com traidores.
Nathan cerrou o punho.
— Ele não vai escapar.
Mia se levantou.
— Estamos mesmo prontos para isso? Para manipular, ameaçar, destruir?
Hiroshi olhou para todos eles.
— Não estamos fazendo isso por vingança. Estamos fazendo isso para proteger a escola 25. Esse é o preço da lealdade. E todos vocês concordaram com isso quando colocaram essas máscaras.
Phantom deu um passo à frente.
— Quando começa?
Hiroshi sorriu sombriamente.
— Ao amanhecer. Philips vai cair.
…
O céu mal havia clareado quando o silêncio pesado da madrugada foi rasgado por passos apressados, vozes abafadas e o som distante de metais sendo arrastados. A guerra estava prestes a começar. E ela se iniciaria com um estrondo.
A primeira linha da escola 35 foi liberada. Pedro e Paulo estavam à frente, liderando os primeiros ataques contra a escola 25. O portão lateral da escola estremeceu quando a dupla surgiu, vestindo jaquetas pretas com o símbolo da escola 35 nas costas. Eles vinham com seus homens, olhos cerrados de fúria e mãos firmes em barras de ferro, prontos para destruir.
Área Lateral da Escola 25 – 06:14 AM
— Kaito, Leonard! Eles estão vindo pela esquerda! — gritou um dos sentinelas da escola 25.
Kaito e Leonard se entreolharam. Não precisavam de palavras. Os dois marcharam até a entrada, o solo de concreto rangendo sob seus passos pesados.
Pedro sorriu de forma irônica ao ver Kaito.
— Vai me parar com esses punhos? Eu trouxe uma barra de ferro, querido.
Kaito estalou os dedos, sem perder a compostura:
— Isso aqui? Isso aqui é treino pra mim. Bora ver se sua cabecinha aguenta um gancho meu.
Pedro avançou primeiro, girando a barra de ferro com maestria. Mas Kaito desviava com movimentos precisos, os pés leves como de um lutador de boxe profissional. Quando viu a abertura, Kaito desferiu um cruzado brutal no estômago de Pedro, fazendo o outro cuspir saliva e cambalear para trás.
— Ah, não vai cair agora não, né? — disse Kaito, sorrindo.
Mas Pedro tentou mais uma vez com a barra. Só que dessa vez, Kaito girou o corpo, aplicou um suplex com uma força monstruosa e jogou o corpo do inimigo contra o chão com tanta brutalidade que rachou o cimento. Pedro não se moveu mais.
— Um a menos.
Leonard, por sua vez, estava diante de Paulo. O judoca da escola 25 não parecia impressionado com os gritos ou a pose do inimigo.
— Vamos acabar logo com isso — disse Leonard, flexionando os joelhos.
Paulo tentou se esquivar, mas Leonard o agarrou pelo braço com maestria, girou e o jogou de costas contra o chão com um ippon seoi nage perfeito. Paulo tentou se levantar, mas foi pego por outro golpe, desta vez um estrangulamento relâmpago.
— Dois a menos.
Com a primeira frente da escola 35 desfeita, os olhos se voltaram para o próximo movimento. E ele viria das sombras.
Região Norte – Área de Armazenamento – 06:40 AM
Era o momento de Hiroshi.
A névoa ainda dançava entre os galpões quando vinte delinquentes mascarados, liderados por Hiroshi, Ben, Nathan Rayna, Mia, Phantom e Sora, começaram a se infiltrar no território onde Philips estava instalado.
— Lembrem-se — disse Hiroshi, reunindo todos antes do ataque — a missão é clara. Philips precisa sentir o que é ser traído. Quero ele mentalmente destruído. Não é só uma questão de força… é sobre quebrar o ego dele.
— E se ele resistir? — perguntou Phantom, ajeitando sua máscara preta.
— Ele vai. Mas não importa. Temos 50 homens preparados pra isso. E temos aliados infiltrados ao lado dele. A primeira traição já vai acontecer hoje — disse Hiroshi, os olhos ardendo com uma raiva fria e meticulosa.
Área de Philips – 07:10 AM
Philips estava de pé, com dois capangas ao seu lado, observando a movimentação ao redor com desconfiança.
— Algo tá errado — disse ele, chupando o pirulito como sempre fazia.
Foi quando os primeiros delinquentes mascarados começaram a causar o caos. Eles invadiam, derrubavam grades, chutavam portas, explodiam bombas de fumaça artesanal. Philips correu para a frente, pronto para liderar a defesa. Mas então…
Um de seus próprios aliados o segurou por trás.
— Que porra é essa?! — gritou Philips, tentando se soltar.
Mas foi tarde demais. Uma barra de ferro acertou em cheio sua cabeça. Philips cambaleou.
— Filho da… vocês são meus aliados!
— Eram — respondeu o traidor, agora retirando a máscara e cuspindo no chão. — Você não sabe com quem mexeu.
Mais duas barras vieram. Uma no ombro. Outra na costela.
Philips caiu de joelhos, olhos arregalados.
— TRAIÇÃO! — gritou, cuspindo sangue no chão.
Hiroshi, que assistia tudo de cima de uma plataforma de contêineres, sorriu de leve.
— É assim que se paga por trair alguém como eu…
Dia Anterior – Ruas Escondidas da Zona Leste
Hiroshi estava de moletom, capuz cobrindo o rosto. Em sua frente, estavam três garotos do círculo íntimo de Philips.
— Sabem quem eu sou, né? — disse Hiroshi.
Eles assentiram em silêncio, suando frio.
— Sabem o que eu posso fazer com vocês e suas famílias se não cooperarem, certo?
— O que você quer? — disse um deles, tremendo.
— Quero que façam parte de algo grandioso. Vão trair Philips. Cada um de vocês terá um papel. Quem colaborar, vive. Quem não colaborar… bom, vocês conhecem minha reputação.
Os garotos se entreolharam. Um deles começou a chorar.
— Tudo bem. A gente faz. Mas não machuca minha irmã…
Hiroshi se virou.
— Inteligente decisão.
Volta ao Presente – Área de Caos Total – 07:30 AM
Philips estava no chão, cercado por traidores, todo ensanguentado, tentando se levantar. Mas as barras continuavam vindo. O plano de Hiroshi estava se desenrolando com perfeição. Ele não precisava nem lutar… apenas observar o colapso do orgulho de um traidor.
— Esse é só o começo… — murmurou Hiroshi, os olhos brilhando com um misto de vingança e alívio.
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