Enquanto caminhava para seguir a mulher de vestido branco, Demian aproximou novamente o fone da boca, sussurrando enquanto espiava a escada que levava ao andar superior e encarava a escuridão: — Estou me aproximando do refém e há dois divergentes aqui; um está vestido diferente dos outros; ele está de terno e a outra de vestido branco…

    Black ouvia aquele zunido novamente, mas desta vez era diferente: parecia contido e constante, seguindo as batidas de seu coração como um plano de fundo. Ele se afastou rapidamente para desviar de um gancho executado pelo punho direito do Esmagador; o suor escorria enquanto ele cerrava os dentes ao notar que o Esmagador firmou os pés no chão e preparou um soco direto em sua direção.

    “Ele é rápido…”

    Black juntou os braços em frente ao rosto; o golpe atingiu seu peito. O alto som do impacto reverberou pelo local enquanto Black capotou pelo chão por alguns metros.

    ‘Conto com vocês para me ajudarem a escapar quando eu assegurar o refém; acredito que estou seguindo a especialista deles — ela não parece ser forte, então vou lidar com ela…’

    Black estava ofegante no chão e retirou o fone do ouvido, arremessando-o para longe. Sentou-se no chão e olhou para o Esmagador que gesticulou com o queixo para que ele se levantasse.

    “Eu não vou conseguir focar com essa merda no meu ouvido…”

    Ele colocou a mão no chão para se levantar; suas mãos tremiam e seus músculos se contraíam. Seu coração palpitava rapidamente e em seu rosto surgia um leve sorriso torto.

    “E eu não quero perder…”

    Estufando o peito, ele se pôs de pé; as pupilas dilatadas quase ocultavam o amarelo de seus olhos.

    “Mas por que estou me sentindo tão bem? Fazia tempo que não me sentia assim…”

    Seus dedos se abriam e fechavam enquanto sua respiração permanecia acelerada.

    O Esmagador começou a se mover ao redor de Black, saltitando em passos rápidos e coordenados que pareciam uma dança; sua postura de combate mantinha-se em ritmo constante.

    — E então Black, como é o gosto da terra? — o Esmagador sorriu, respirando apenas pelas narinas. — Eu sei que você consegue fazer melhor que isso; vamos!

    — Sabe, se isso tivesse acontecido algum tempo atrás eu estaria preocupado… — Black respondeu ao encarar sua própria mão.

    — O que quer dizer? — o Esmagador perguntou ao diminuir o ritmo.

    — Esse sentimento… eu costumava ter medo de perder o controle. — Black disse com um leve sorriso torto, agora abrindo um sorriso aberto. — Agora me sinto diferente…

    — Se sente no controle? — o Esmagador deixou escapar um ar de satisfação, agora apenas movendo lentamente os punhos.

    — Não… eu sei que não estou no controle. — respondeu Black com um sorriso confiante. — Mas agora estou aprendendo a lidar com isso.

    O Esmagador riu, perdendo a postura por um momento. Black cuspiu no chão enquanto levantava novamente os punhos, flexionando os joelhos e tentando imitar os movimentos realizados pelo Esmagador.

    — Isso! Você deve fazer assim: meio passo para frente e meio passo para trás. — o Esmagador demonstrou a movimentação ao avançar para frente e para trás com os pés. — Esse é o básico do boxe: um oponente em movimento é mais difícil de prever do que um parado.

    “Certo…”

    Os movimentos de Black ainda eram travados; porém, aos poucos ele conseguia se mover mais suavemente.

    — Isso! Bom! É desse jeito mesmo; agora isso aqui é essencial: se chama defesa pêndulo. — o Esmagador disse movendo o tronco e mexendo a cabeça em formato de meio círculo enquanto flexionava os joelhos.

    Black tentou realizar o movimento, movimentando apenas a cabeça e se abaixando levemente.

    — Não, Tá errado! — o Esmagador exclamou ao realizar novamente o movimento. — Tem que abaixar o tronco, flexionar levemente os joelhos; sua cabeça tem que ser como um pêndulo.

    Black acenou positivamente com a cabeça, abaixando mais o tronco enquanto flexionava os joelhos e baixava a cabeça seguindo o movimento como demonstrado.

    — Boa moleque! É isso aí! — o Esmagador aplaudiu antes de fechar os punhos e avançar em movimento pêndulo para atacar. — Agora vamos ver o que você aprendeu!

    “Aprender, adaptar e superar!”

    Black se movimentava como ensinado, agora com um sorriso no rosto e os olhos focados em seu adversário que avançava em sua direção.

    Demian subia a escada estreita lentamente, apoiando a mão esquerda na parede, respirando de forma contida e com os olhos fixos no caminho à frente. Ao chegar ao fim da escada, deparou-se com um corredor escuro, parcialmente iluminado pela luz branca que vinha da única porta à direita. Ele se aproximou da parede e se esgueirou lentamente, observando sutilmente o que havia dentro da sala.

    — Você também acha que ele gosta de mim, não é? 

    Demian ouviu a voz animada da mulher de vestido branco e deixou escapar uma expressão de estranheza. Notou que ela estava agachada, balançando levemente a cabeça de forma divertida e mexendo as mãos.

    Demian respirou fundo, focando seu olhar na grande sala vazia, que contava apenas com duas janelas nas laterais. Logo voltou sua atenção para a mulher, que começou a rir contidamente.

    — Como podem pedir para usar uma coisa fofa como você como refém? Eu quero te levar para minha casa! — a mulher abraçou um pequeno cachorro marrom com orelhas caídas, colocando-o em seu ombro esquerdo. 

    Demian arregalou os olhos e se retraiu, escorando-se na parede com o corpo inteiro, os olhos estreitos e os lábios levemente arqueados.

    — Nem ferrando… o cachorro não pode ser o refém, não é? — ele sussurrou para si mesmo, em seguida olhando novamente para a sala.

    Percebeu que a mulher estava esfregando o rosto no cachorro que a lambia. Desta vez notou que o animal usava um peitoral preto que cobria quase todo seu torso, e nele conseguiu perceber alguns fios coloridos e uma luz vermelha piscante.

    Então retirou novamente o fone e sussurrou próximo dele: — Eu encontrei o refém… mas é um cachorrinho e ele está com alguma coisa com fios no peito.

    Karoline caminhava em direção ao último Clone restante; porém, ao ouvir no fone a voz de Demian, parou e involuntariamente sussurrou: – Um cachorro?

    O Clone, que estava com uma postura ereta, levantou uma sobrancelha ao ouvir as palavras proferidas pela jovem.

    — Então, alguém já descobriu quem é nosso adorável refém… — ele disse passando uma mão sobre o cabelo com um leve sorriso no rosto. — É uma lástima, eu queria acabar com isso antes que vocês descobrissem.

    Karoline estalou a língua, fechando os punhos e apoiando o pé direito no chão ao abaixar sua postura, com o braço direito mais abaixo e o esquerdo mais acima.

    — Você parece muito confiante para alguém cujos planos não estão indo como esperado. — Karoline respondeu com as pupilas cintilando levemente. — Agora só falta uma cópia e você está fora.

    — É o que você acha? — ele questionou com um sorriso de deboche enquanto abria os braços e mais dois clones foram formados, o líquido se formava de seu corpo e tomava forma rapidamente. — As estatísticas não estão mais a seu favor…

    — Seu safado! — Karoline exclamou recuando com os dentes cerrados e encarando os três Clones. — Você disse que não iria mais se multiplicar!

    — Princesa, você é quem tem que seguir as regras aqui! Hoje eu sou um Divergente. — apenas o Clone central respondeu; os outros dois apenas se apoiaram em seus ombros com os cotovelos, um de cada lado. — Meu objetivo aqui é fazer você entender que lá fora não existem contratos ou regras; as palavras são jogadas ao vento…

    Karoline franzia os cenhos enquanto recuava, observando que os dois novos Clones começaram a andar lentamente em sua direção.

    — De qualquer forma, sua missão não é apenas resgatar o refém. — o clone central continuou a discursar. – Você também tem que desarmar a “bomba” que está presa nele; este é o elemento surpresa.

    Karoline arregalou os olhos brevemente e logo voltou a ranger os dentes.

    — E nós sabemos que a única capaz de desarmar a bomba está bem aqui. — o Clone principal se expressou com um sorriso e apontando para a garota. — Então, sim, estou confiante porque tudo está ocorrendo como planejado.

    — E agora? — o Clone à esquerda disse ao começar a rodeá-la pelo lado em que se encontrava.

    — Como vai lidar com a situação? — o da direita questionou, fazendo o mesmo pelo seu respectivo lado.

    — Vamos ver do que você é capaz! — o Clone do centro exclamou enquanto avançava em direção à jovem.

    Chamas novamente surgiram ao redor de Karoline; porém, desta vez era notável que o fogo estava em menor intensidade, apenas circulando próximo de seus punhos.

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