Capítulo 197: A eternidade em seus braços
A entrada foi servida em tigelas pequenas de porcelana branca, com delicados filetes dourados. O creme de cogumelos exalava um aroma terroso, envolvente, com o perfume sutil do azeite trufado pairando no ar como uma promessa. Claire levou a colher aos lábios com cuidado e, depois da primeira prova, fechou os olhos por um instante, saboreando.
— Eu me sentiria muito requintada se não estivesse morrendo de vontade de lamber a tigela — disse ela, sorrindo com os olhos.
— Fique à vontade, Lady Claire — respondi com um ar solene. — Aqui, ninguém ousaria julgar.
Ela soltou uma risada breve, e um pouco do nervosismo do início da noite pareceu se dissolver de vez.
A conversa deslizou fácil entre um assunto e outro. Falamos do casamento que se aproximava, das cores escolhidas por Nix, do vestido que ela ainda não tinha aprovado, e que dizia não estar à altura, e até das primeiras vezes que nos vimos no baile. Eu lembrava de cada uma, mas deixei que ela contasse como foram para ela.
O prato principal chegou pouco depois. Os medalhões estavam perfeitamente selados, cobertos por um molho escuro e espesso, com um perfume intenso de vinho e ervas. As batatas estavam douradas, com bordas crocantes e um interior macio como creme. Claire pegou o talher, mas demorou a provar. Olhava para mim por sobre a borda do prato.
— Por que está me olhando assim? — perguntei, tocando com o garfo uma batata.
— Não sei — disse ela, baixando os olhos. — Talvez porque ainda esteja tentando acreditar que isso está mesmo acontecendo. Que nós dois estamos aqui. E que você me olha como se eu importasse de verdade.
— Mas você importa. Sempre importou. Você só não percebia.
Ela desviou o olhar para o prato, mas seus olhos brilhavam. De emoção contida. De coisas que nunca foram ditas em voz alta.
A sobremesa veio quando as taças estavam pela metade. A torta quente de avelã vinha com uma camada fina de chocolate derretido por cima, que escorria lentamente pelas laterais. Um perfume doce, quase caseiro, pairava no ar. Claire mordeu a primeira garfada e soltou um som quase imperceptível, que me fez sorrir.
— Não sei se o beijo ou a torta me ganharam mais hoje — disse ela, provocando.
— Posso repetir o primeiro, se quiser comparar de novo.
Ela riu. O riso certo, no tom certo. E os olhos dela diziam que, embora brincasse, não era só brincadeira.
Terminamos a sobremesa devagar. Ninguém teve pressa para ir embora.
Lá fora, a noite estava fresca, com a brisa carregando o perfume das flores da praça imperial. A carruagem nos esperava, e o cocheiro abriu a porta com uma reverência discreta. Entrei primeiro e ajudei Claire a subir. Assim que a porta se fechou e o som dos cascos começou a marcar o ritmo da volta, ela se virou para mim.
— Obrigada por hoje — murmurou, os olhos presos aos meus. — Foi perfeito.
Toquei seu rosto, com os dedos pousando de leve na linha de sua mandíbula.
— Você merece mais noites assim.
Ela se aproximou. Devagar. E me beijou.
Foi um beijo quente, calmo, sem urgência. Um beijo cheio de intenção. Ela não se afastou logo. Ficou ali, com os rostos próximos, os lábios quase colados.
— Você vai sair em missão, não é? — sussurrou.
Assenti, ainda tocando sua pele.
— Vai ser perigoso?
— Um pouco. Mas eu tenho bons aliados. E voltarei em segurança.
Ela respirou fundo, como se quisesse guardar meu cheiro junto com minha resposta.
— Quero que você vá comigo para o meu quarto essa noite — disse.
Não era um pedido afoito. Não havia hesitação nem pressa em sua voz. Era apenas um convite. Simples. Cheio de significado.
A carruagem seguiu seu caminho, e nada mais foi dito até chegarmos. Mas as mãos seguiram entrelaçadas, e o calor entre nós só crescia, como se a noite ainda estivesse começando.
A carruagem parou suavemente diante da mansão. O cocheiro desceu, abriu a porta e manteve-se em silêncio enquanto Claire aceitava minha mão para descer. O ar noturno estava perfumado com jasmins, e mesmo na penumbra das lamparinas mágicas, seu rosto parecia irradiar luz própria.
Subimos os degraus da entrada lado a lado. Dentro, o silêncio da casa era acolhedor, íntimo. Não encontramos ninguém no caminho. Era como se o mundo tivesse recuado, respeitando o espaço que agora era só nosso.
— Venha comigo — disse ela, guiando-me pelos corredores até o andar de cima.
Paramos diante da porta do quarto dela. Claire a empurrou com delicadeza e me fez sinal para esperar.
— Só um instante… preciso me preparar.
Assenti. Ela desapareceu atrás da divisória, levando consigo o som suave de seus passos descalços sobre o assoalho. Fiquei no cômodo, observando os pequenos detalhes: o vaso com flores recém-trocadas, a escrivaninha com folhas e penas de escrita.
Retirei meu casaco e pendurei-o no encosto da poltrona. Sentei-me na beira da cama. As mãos entrelaçadas, tentando conter a mistura de ansiedade e cuidado que me atravessava. Eu não queria errar com ela. Queria que aquela noite fosse leve, serena, segura.
Minutos depois, ela reapareceu.
Tinha trocado o vestido por uma camisola clara, feita de um tecido leve que dançava com seus movimentos. O brilho tênue da luz mágica ressaltava seus traços com delicadeza, os ombros expostos, a curva do pescoço, os olhos que evitavam os meus por um momento, apenas para então, com coragem, encontrar o meu olhar.
— Claire… — murmurei. — Você está linda. Deslumbrante.
Ela corou, as mãos se juntando como se quisesse se esconder. Mas não se moveu. Apenas respirou fundo e se aproximou.
— Obrigada — disse, baixinho.
Fiquei de pé. Toquei seus cabelos, deslizei a mão por sua bochecha e a beijei. Com mais ternura do que desejo. Mas o desejo logo veio, no modo como ela me puxou pela gola da camisa. Nos aproximamos da cama, e sem romper o beijo, a acolhi em meus braços e a deitei com cuidado.
Claire reclinou-se sobre os travesseiros, e eu me debrucei sobre ela, apoiado com cuidado, atento aos seus sinais.
Os dedos dela tocavam meu rosto, os olhos me buscavam com uma confiança que me fez prender o fôlego por um segundo.
— Estou pronta — murmurou ela, quase sem voz.
Aquela frase ficou suspensa no ar entre nós.
Nos beijamos mais uma vez, agora com mais intensidade. O quarto ficou em silêncio, exceto pelos sussurros do tecido se movendo, da respiração entrecortada, dos corações acelerados. A noite seguiu, deixando-se envolver pelos dois, com carinho, respeito e entrega.
As velas continuaram a queimar baixinho, lançando sombras suaves sobre o quarto, enquanto o mundo lá fora desaparecia por completo.
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