Capítulo 56

— Então, o que exatamente você descobriu? — o Clone perguntou se colocando em frente a Karoline novamente.

A jovem respirou fundo e em seguida expirou.

— Tyx pretende manipular alguém…

O Clone demonstrou desconfiança em seu olhar.

— O quê? — questionou ele ao cruzar os braços. — E quem seria, o Visionário? Te garanto que isso não vai acontecer.

— Eu não sei os detalhes, mas como você disse: ele está na corda bamba. — Karoline respondeu olhando para os dois lados do corredor.

— E o que exatamente você sabe?

Karoline comprimiu os lábios, tentando não desviar o olhar.

— Pelo que pude entender, ele pretende usar o Black para manter sua estabilidade como Defensor. — disse a jovem com ambas as mãos escondidas atrás de si; seus dedos tremiam levemente enquanto respondia.

— E como você sabe disso?

— Eu o ouvi falar no telefone, acho que ele conhece alguém na Divisão Zero.

— Então você é uma xereta e deu a sorte de ouvir isso?

— Você mesmo disse: as pessoas sempre têm algo a oferecer, mesmo que involuntariamente. — a jovem respondeu com um sorriso, ele agora demonstrava confiança.

O Clone parou por um momento, ele a encarou enquanto respondia, mas depois, um olhar de realização tomou conta de sua face lentamente.

— Não, isso é não possível — o tom de sua voz demonstrava claramente confusão. — Ele planejou tudo isso?

Karoline manteve o silêncio, mantendo seu olhar levemente nervoso no Clone.

— O que você acha? — a jovem perguntou, agora mantendo seu argumento mais firme. — Eu ouvi ele dizer que Black não consegue manter o controle; tem a ver com isso, não é?

— Se Black se tornar uma ameaça, a Divisão Zero pode intervir novamente…

Karoline não parecia mais nervosa, mas sim intrigada.

— A Divisão Zero? — a jovem perguntou com curiosidade. — Então eles têm algo a ver com isso?

— Não é nada, afinal princesa, isso já não é da sua conta.

— Eu cumpri minha parte do acordo… — Karoline disse franzindo o cenho.

— E eu vou cumprir a minha, quer saber do garoto? — o Clone virou-se de costas para Karoline. — Quando ele admitir que não tem controle de si, a guarda dele será incubada aos Defensores.

— O quê?

— Não importa qual seja o plano de Tyx, se ele quer usar a Divisão Zero, ele que tente. — disse o Clone caminhando em direção oposta a Karoline. 

— Usar a Divisão Zero? Como assim? — Karoline perguntou levantando levemente a voz. — Espera, o que vai acontecer com Black?

— Por que você se importa? — o Clone parou em meio ao corredor, olhando para trás apenas com um olho. 

Karoline engoliu em seco, não conseguindo mais esconder seu nervosismo, demonstrando sua insegurança em seu rosto. 

O Clone soltou um riso abafado, virando e se mantendo de lado para olhar para Karoline.

— Princesa, sei que você quer mudar o mundo com suas próprias mãos, todos os jovens querem — disse o Clone com um sorriso, não de felicidade, mas de contentamento. — Mas eventualmente você vai aprender que a vida não é assim.

Karoline se manteve em silêncio, encarando o chão com frustração ao ouvir a fala do homem.

— Você quer ajudar o garoto, eu entendo, mas nós vamos fazer isso.

— Nós? — Karoline levantou o olhar para encarar o Clone.

— Sim, faremos o correto a ser feito — ele sorriu e concordou com a cabeça. — Você mesma viu que o garoto não tem controle sobre si, ele feriu gravemente um membro instrutor.

— Então o que vão fazer? 

— O que já deveria ter sido feito, tomar as medidas necessárias.

— Acha que isso vai realmente ajudá-lo? — Karoline perguntou ao desviar o olhar.

— Princesa, você confia em seu pai?

— É claro que sim! — a jovem respondeu rapidamente, encarando novamente a frente com afinco.

— Então não tem com o que se preocupar.

Após sua última fala, o Clone se retirou, acenando uma mão enquanto partia. 

Karoline se manteve de pé, respirando fundo e novamente encarando seu EPIC e observando o contato de Tyx.

Ela contorcia o lábio, hesitando em apertar o botão de ligar novamente; então suspirava novamente.

— O que eu faço? 

Ela murmurava consigo mesma, colocando o seu EPIC em frente ao peito e fechando os olhos. 

— Eu devo perguntar para ele?

Ela olhou novamente para seu EPIC, agora acessando o perfil que estava escrito como ‘Conrad, Papai’. Ela não hesitou e ligou, mas claramente ela parecia nervosa.

A ligação chamou por alguns segundos, até que finalmente foi atendida.

‘Karoline? O que foi?’

A jovem limpou a garganta e tentou sorrir ao responder o aparelho, sua câmera estava ligada, mas a de Conrad apenas mostrava um ícone diacônico.

— Pai, tudo bem? Como o senhor está?

Houve um breve silêncio, a jovem tentou esconder, mas mordeu o lábio inferior e inverteu as sobrancelhas suavemente.

— Aconteceu alguma coisa? — disse Conrad com uma voz levemente cansada

— Ah…, sim, eu queria saber se… — a jovem gaguejava levemente ao tentar formular uma palavra, sorrindo e mexendo o pé direito em um movimento circular.

— Karoline, você sabe que eu estou ocupado, se não for algo urgente, deixe para me contar na próxima vez que jantarmos.

O sorriso desapareceu por um instante do rosto da jovem, mas ela o forçou novamente, fez menção de responder, mas se calou e assentiu de forma automática.

— Tudo bem, desculpe pai, tenha um bom trabalho… — ela respondeu fechando os olhos.

— Não esqueça de estudar mais, percebi uma perda de desempenho em seu boletim. Se esforce mais.

— Eu vou fazer o meu mel…

Antes de Karoline terminar sua frase, ela foi cortada.

— Tudo bem, até mais.

A ligação foi desligada.

A jovem se manteve encarando a tela do EPIC, sem demonstrar nenhuma emoção, então ela ergueu o olhar para o teto, apertando o EPIC entre os dedos, como se buscasse força nele.

— Você consegue…

Ela sussurrou para si.

— Eu vou ligar de novo e vou perguntar sobre o Black e sobre Tyx…

Karoline abriu os olhos, encarando novamente o EPIC, mas quando estava prestes a ligar novamente, uma ligação de Tyx apareceu na tela e o aparelho começou a vibrar; ela se assustou e por pouco não deixou o seu EPIC cair.

— Tyx… — ela disse para si mesma.

Inicialmente ela hesitou em atender, mas surgiu um leve sorriso em seu rosto, que rapidamente foi substituído por uma expressão forçada de raiva, inflando as bochechas e atendendo a ligação.

— Agora que você responde!? — a jovem levantou a voz até ver a face de Tyx, que estava sem a máscara.

Ela ficou a surpresa ao ver a cicatriz no rosto do homem, a encarando por um momento, mas logo retomando o foco.

— Me desculpe, eu só pude responder agora — Tyx respondeu encarando a câmera, seu olhar parecia levemente abatido. — O que aconteceu, está tudo bem?

A jovem desviou o olhar por um momento, mordiscando o interior de sua boca antes de responder.

— É que eu acho que descobri algo, mas o que aconteceu? Você parece meio para baixo…

— Não é nada, eu estou bem — Tyx respondeu limpando a garganta. — O que você descobriu?

— Primeiro: não fique bravo, eu tive que inventar algumas coisas sobre você para tentar conseguir a informações… sabe coisas ruins…

Tyx não parecia com raiva, mas ele fez menção com a cabeça para que a jovem prosseguisse.

— Ah, era isso? Não se preocupe, está tudo bem. — Tyx respondeu com um sorriso tímido. — Até que estou orgulhoso de você ter tentado ser versátil, sei que deve ser difícil para você fazer algo assim.

A jovem entrelaçou os dedos atrás de seu EPIC, um sorriso de canto de boca surgiu em seu rosto, mas ela parecia conflitante; suas coxas se uniram e ela retraiu os ombros, mantendo-os tensos.

— É foi realmente bem difícil… — Karoline disse com a voz fraca.

— Relaxe, espero que tenha sido um bom exercício, não da para conseguir tudo de primeira, mas com o tempo, você vai pegar o jeito.

— Eu consegui algo… — a jovem respondeu ao fechar os olhos e comprimir os lábios.

— Você… conseguiu? — disse Tyx com surpresa, olhando para o lado e caminhando um pouco antes de sorrir. — Boa garota! O que você descobriu!?

Karoline suspirou, relaxando os ombros com uma expressão com um leve misto de alívio, mas também alegria.

— Eu consegui fazer o Clone me dizer que eles pretendem tomar as medidas necessárias em relação a Black. — a jovem agora respondeu com mais seriedade.

— O Clone? — Tyx olhou para o lado, assimilando a informação dada. — Ele disse isso?

— Sim! Ele disse: “nós vamos ajudar o garoto” — a jovem imitou a forma de falar do Clone ao mencioná-lo, mas tornando seu tom serio em seguida. — Disse também que você está na corda bamba e mencionou a Divisão Zero…

Tyx manteve o silêncio, mas a expressão de realização estava escancarada em seu rosto. 

— Então é isso que eles querem fazer? — ele murmurou para si, não olhando para a câmera. 

— Fazer o quê? — Karoline questionou aproximando o EPIC de seu rosto.

— Karoline, escute, vou precisar que você faça algo.

— Então me diga o que está acontecendo! Você prometeu que não esconderia nada de mim!

— Eles pretendem manter Black sob regime fechado, o aprisionando na Acrópole — Tyx disse olhando para a imagem de Karoline na tela de seu EPIC. 

— Manter ele aqui? Como um aprimorado prisioneiro?

— Sim, assim eles vão poder usar ele de maneira mais controlada.

— Mas… Black não cometeu nenhum crime, não é? Por que estão fazendo isso? — a jovem perguntou levemente irritada.

— Não, Black é uma vítima. — Tyx respondeu diretamente. — Estão fazendo isso porque estão com medo.

— Meu pai não faria isso… 

Tyx demorou para responder, mas por fim continuou a falar.

— Preciso que você se afaste de mim, apague todos os registros de chamadas, mensagens e tudo que estiver relacionado a mim.

Ele ainda estava na ala médica, mas estava em um dos corredores vazios do local.

— O quê? Por que isso?

— Confie em mim. — Tyx disse ao firmar seu aperto em seu EPIC. — Eu também confio que você vai tomar a decisão correta quando a hora chegar.

— Do que você está falando?

— Eu tenho que ir garota, se cuida. — Tyx respondeu desligando a ligação

Ele olhou para o corredor, pegando a parte superior de sua máscara de seu sobretudo e a vestindo novamente. 

— Então agora estamos em um caminho sem volta, não é? — ele murmurou para si, caminhando em direção dos elevadores com uma expressão séria e determinada.