— Sim, esta será a última vez.

    Tyx respondeu, ele estava escorado na parede de vidro de um elevador descendente, falando ao seu EPIC. Detrás dele, a imensa Acrópole se desvendava — as luzes à distância serpenteavam o vazio da escuridão, iluminando aquele espaço que parecia infinito, mas, na verdade, era um enorme fosso.

    — Cinco minutos? — Tyx perguntou enquanto balançava um cigarro em meio aos seus dedos. — Você consegue melhor que isso, afinal é seu casamento que está em jogo…

    ‘Você sabe que eu posso perder meu emprego por causa disso, ou pior, até ser preso!’

    — Se não fizer, você vai perder seu emprego, sua família e ainda vai ser preso, afinal, você já violou as regras antes — Tyx disse com um sorriso. — Então, o que vai ser?

    Houve um silêncio antes da resposta.

    ‘Seu merda… porra… o máximo que consigo é dez minutos, se passar disso vai chamar muita atenção.’

    — Se é o melhor que consegue, então faça. — respondeu Tyx ao ajustar um cronômetro em um relógio em seu pulso.

    ‘Vai se ferrar Tyx, se eu me foder eu vou ferrar você também seu creti…’ a voz masculina e zangada respondeu através do EPIC, mas Tyx desligou antes do homem concluir a sentença.

    — Não vai precisar, eu mesmo vou fazer isso…

    Com um sorriso, Tyx abaixou o aparelho; o resto de cigarro que ele segurava com a outra mão já estava apagado, mas mesmo assim ele tentou tragá-lo. 

    O ar puxado por seus pulmões não veio com aquela sensação prazerosa da nicotina, mas também não houve frustração; ele apenas encarou o cigarro apagado, com um sorriso natural estampado em seu rosto.

    O elevador por fim parou e abriu sua porta e no exato momento, um bipe foi realizado pelo relógio — Tyx respirou fundo, e seguiu por mais um corredor metálico e frio de uma instalação do submundo.

    — Então vamos lá.

    Quando adentrou o corredor, não havia hologramas de anúncios e nem telas com avisos, na verdade o local parecia sem vida; havia apenas câmeras de segurança espalhadas pelo local, assim como armas automatizadas que continham um selo da Divisão Zero gravado em seu material. 

    Tyx encarou as câmeras, que eram de formato oval e tinha uma luz que piscava constantemente em vermelho, mas após alguns segundos, ela passou a ficar com um brilho alaranjado constante.

    Tyx então caminhou apressadamente por corredores onde todos pareciam idênticos, tudo era muito claro, as únicas cores que pareciam variar eram os sinais de situação das celas, cujo eram apenas verdes e vermelhas.

    Mais um bipe, e ele continuou percorrendo o local até que viu o Criador Noturno de braços cruzados e escorado na parede de frente para uma cela com o display de situação em vermelho.

    O homem de sobretudo caminhou até encontrar com o Criador Noturno, este apenas abriu um olho para observar quem estava se aproximando.

    — Josias!

    — Tyx — disse o Criador Noturno encarando a cela a sua frente. — Pensei que você estaria com seu amigo ao invés daqui.

    — Eu estava lá; ele está sendo tratado, então decidi resolver logo minhas pendências por aqui.

    — Entendo, sinto muito pelo seu amigo — Josias respondeu encarando Tyx com a cabeça torta e levantando um braço na altura do peito dele. — Mas, você não pode entrar.

    Tyx deu de ombros com um sorriso torto.

    — O quê? Isso agora é uma cela de segurança máxima?

    — Se chama contenção e não quarto de hóspedes por um motivo. — disse Josias também com um sorriso torto.

    Tyx concordou inicialmente com a cabeça, cerrando os dentes de forma sínica.

    — Você sabe que eu sou um Defensor, não é? 

    — Você sabe que eu não ligo, não é? — Josias demonstrou uma expressão semelhante a de Tyx, mas com seu rosto cansado. — As ordens vieram diretamente do Conrad.

    Tyx semicerrou seu olho, contorcendo levemente a boca.

    — Escuta, eu tenho autoridade…

    — Essa sua carteirada não funciona comigo, quer uma permissão, fale com o Conrad. — respondeu Josias, escorando a cabeça na parede.

    Tyx assentiu com a cabeça, comprimindo os lábios e os contorcendo, a frustração estava aparente em seu olhar. Ele fechou involuntariamente os punhos; o homem escorado notou isso.

    — Triste por ter que seguir as normas como todo mundo?

    — Josias, eu sei que você adora ser o certinho — Tyx abriu ambas as mãos e sorriu. — Mas…

    — Na verdade eu só não sou um canalha que gosta de burlar as regras. — Josias respondeu ao cortar a fala de Tyx.

    — Não tem nada que eu possa fazer para você mudar de ideia?

    — Mas é claro que tem.

    — Então me diga. — Tyx respondeu impaciente.

    — Consiga a permissão de Conrad e eu te deixo entrar.

    Tyx suspirou, encarando as armas automatizadas nas esquinas e as câmeras com aquelas luzes alaranjadas; mais um bipe ecoou de seu relógio.

    — O mundo seria melhor se todos fossem como você…

    — O quê?

    Antes de terminar sua sentença, Josias viu Tyx avançar em sua direção; não apenas sua pupila cintilou, mas seu olho tomou uma tonalidade vermelha brilhante; 

    — Tyx…! — Josias se expressou tentando se desvencilhar, mas sem sucesso.

    O homem de sobretudo segurou o braço de Josias e o contorceu, passando para trás dele.

    Este cerrou os dentes por conta da dor, ao tentar puxar o braço, notou que a força aplicada era sobre-humana.

    — O que está fazendo…!? — ele gritou de forma contida ao sentir o braço de Tyx agora ao redor de seu pescoço, exercendo pressão rapidamente. — O Ápice… Como!?

    O Criador olhou rapidamente em direção das câmeras e arregalou os olhos ao notar que a luz emitida era alaranjada e não vermelha.

    Quando suas pupilas começaram a cintilar, seus olhos perdiam o foco e seu corpo não respondia mais; aos poucos o brilho em suas pupilas desaparecia e ele perdia a consciência.

    — Tyx… seu mal… dito… — murmurou Josias antes de ficar sem oxigênio, tentando se debater, mas sem sucesso.

    Tyx se abaixou lentamente, conforme o homem que ele enforcava perdia o fôlego; ele terminou deitando-o no chão com cuidado quando este desmaiou.

    — Foi mal cara, mas você não me deixou escolha.

    Tyx se escorou na parede; conforme seu olho perdia a coloração avermelhada, ele parecia ficar claramente estafado.

    — Como aquele idoso consegue fazer isso… o dia todo… — disse Tyx para si, com uma mão no peito ao sentir seu coração palpitar rapidamente.

    Ele olhou para o corpo caído de Josias e logo se aproximou dele, colocando o dedo na veia do pescoço para checar os batimentos cardíacos — estavam presentes, mas fracos.

    Tyx então prosseguiu para verificar suas vestimentas, procurando por entre seus bolsos — conseguindo tirar uma carteira, um EPIC, outro aparelho celular e um smartwatch.

    Ele olhou para tudo com um olhar confuso, encarando o leitor da porta e olhando para Josias.

    Mais um bipe de seu relógio pôde ser ouvido.

    — Eu acabei de te elogiar, não me diga que você guarda o cartão na carteira. — Tyx pegou a carteira, abrindo-a e retirando todo o seu conteúdo.

    Nela havia cartões de bancos, cédulas de dinheiro, fotos em 3×4 dele e de sua família. Ele encarou tudo com certa frustração, voltando novamente a procurar pela roupa do Criador Noturno, apalpando cada parte à procura de algo sólido.

    A cada tentativa, Tyx estalava a língua, claramente ficando cada vez mais irritado.

    — Onde você guardou esse maldito cartão? — Tyx disse olhando para o homem desmaiado e para o leitor na porta.

    O brilho novamente apareceu, mas agora cintilando apenas em sua pupila. Ele encarou a porta, em seguida o Criador Noturno, e por fim o seu EPIC.

    O brilho sumiu; suor já escorria por sua testa quando ele olhou para o EPIC.

    — Eles mudaram o método? Não… não!

    Ele tentou ligar o EPIC, mas a tela estava bloqueada, ele pegou o dedo de Josias e o colocou no leitor de digital ao lado do aparelho — a tela indicou que o desbloqueio por digital estava desabilitado.

    Tyx grunhiu com frustração e aproximou a câmera frontal do EPIC próximo ao rosto do homem no chão, mas nada aconteceu. Ele então rangeu os dentes, arremessando o aparelho na parede ao lado. 

    — Merda! 

    O homem de sobretudo gritou indignado; o EPIC bateu na parede, mas no fim, o som de três objetos caindo no chão puderam ser ouvidos.

    Mais um bipe do relógio ecoou.

    Ele então olhou lentamente em direção ao EPIC e percebeu que a capa de trás estava solta, e o cartão de acesso estava no chão juntamente com o aparelho.

    Seu olhar frustrado rapidamente se transformou em um sorriso.

    — Filho da mãe…

    Tyx disse com a voz aliviada, se aproximando do cartão totalmente branco com uma faixa que parecia circuitos dourados que o rodeava por completo.

    — Agora você vai tirar uma sonequinha… 

    O homem de sobretudo disse abrindo outra cela com o cartão no leitor — esta estava vazia.

    Ele então arrastou o Criador Noturno para dentro dela e o deixou deitado no chão e aproximou um frasco próximo de seu nariz.

    O Criador Noturno abriu lentamente os olhos, a única coisa que viu foi a figura de Tyx de costas para ele com a porta da cela aberta.

    — Tyx…! — o Criador Noturno disse rangendo os dentes.

    Ele estava aos poucos recobrando a consciência, mas suas pupilas já brilhavam aos poucos.

    — Não leve para o pessoal, foi mal mesmo cara.

    — TYX!!!

    A porta então se fechou, com a figura de Tyx de costas para ele.

    E mais um bipe ecoou.

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