Capítulo 3
Williams tomou finalmente a frente da conversação — agora somente ele e Koji estavam diante um do outro, já que o guarda-costas se escorou em uma parede atrás de Williams, apenas mantendo os olhos fixos em ambos.
Williams respirou fundo, tentando conter a tensão crescente.
— Então Williams, alguma ideia do porquê do nosso encontro? — Koji gesticulou o cigarro em sua mão com um breve gesto.
— Não faço ideia… — Williams começou hesitante, ajustando novamente a gravata em seu pescoço e limpando a garganta, enfim assumindo uma postura mais arrogante. — Mas tenho certeza de que você tem noção que meu tempo é precioso, então não vamos prolongar isso mais que o necessário.
Por um instante, houve um ligeiro tremor na pálpebra esquerda de Koji, porém o sorriso não deixou seus lábios.
— É claro, mas encontros são realizados porque algo importante aconteceu, não é? — Koji manteve o tom leve, deixando a fumaça escapar por sua boca. — Você acha que eu desperdiçaria meu tempo caso não fosse algo importante…
— Tenho certeza de que você não iria desperdiçar o meu! — Williams cortou a fala de Koji com arrogância. — Afinal, você não iria querer que eu reportasse atrasos nas transições do produto por sua causa.
Koji manteve seu sorriso, porém os cantos de seus lábios estremeceram — seus olhos se fecharam e ele abaixou a cabeça, os seus músculos começaram a se contrair de forma involuntária: então ele começou a rir.
Williams enrugou o nariz ao observar a cena, seus olhos se estreitaram. Então Koji passou a rir de maneira extravagante, levantando a cabeça enquanto sua risada ecoava pelo local.
— O que foi!? — Williams olhava ao seu derredor em busca de alguma resposta visual. — Qual é a graça!?
— Você! — Koji se exaltou; o sorriso em seu rosto desapareceu em um instante e ele tragou o cigarro com veracidade, quase o mordendo. — Eu honestamente tenho me perguntado: “O que será que se passa naquela cabecinha vazia desse desgraçado!?”
Williams levantou o queixo, mas desviou o olhar, a dualidade de seu comportamento estava cada vez mais clara: ele não se sentia em controle da situação.
— Olha como fala! — Willians engrossou a voz, apontando o indicador em direção de Koji. — Acho que por um momento você está esquecendo com quem está falando, não é!?
— Um retardado! — Koji respondeu de maneira ríspida, cortando a fala de Williams. — É com quem eu estou falando!
— Você está fodido, seu desgraçado! — Williams arqueou os lábios e apontou o indicador em direção ao chão; o suor já começava a escorrer por sua testa. — Eu vou reportar isso para seus superiores e você vai receber a maior comida de rabo da sua vida, seu filho da puta!
Os olhos de Koji se alegraram, e sua expressão mudou novamente — o sorriso retornou em um piscar de olhos, como se ele encontrasse um interesse que o fizesse ignorar sua raiva.
— Meus superiores… você não tem nem ideia da situação que está, não é? — Koji retirou do bolso de sua jaqueta duas luvas negras que estavam enroladas de forma bem-organizada, então as vestiu.
— Do que porra você está falando…? — Williams respondeu, se projetando levemente para trás, tentando firmar seus pés no chão.
Koji acionou botões que se encontravam nos pulsos de ambas as luvas. Desta forma, elas começaram a emitir vibrações levemente.
— Acredito que alguém com o mínimo senso do perigo saberia que nada de bom poderia acontecer em um local como esse. — a fala de Koji foi carregada com desdém. — Ainda mais quando esse alguém cometeu um erro…
— Erro…? Vai se ferrar! — Williams entortou os lábios, e suas sobrancelhas se inverteram. — Eu jamais cometeria algum erro! Todo o trabalho foi realizado com excelência!
— Excelência? Que piada. — Koji mordeu o cigarro para ele não cair da sua boca, seus dentes ficaram na estrutura frágil, atravessando-o facilmente. — É engraçado que seu nariz é tão empinado que você não consegue sentir o cheiro da merda que fez.
Williams se manteve parado com sua mandíbula contraída. O guarda-costas se afastou da parede, estalando o pescoço e ajustando sua postura.
— Nós dois sabemos que você só está falando merda! — Williams retrucou, franzindo os cenhos. — Já chega desse rodeio ridículo! Se quer dizer algo, diga logo!
— Claro, então vamos direto ao ponto: você conectou algo em nosso dispositivo cedido, não foi? — Koji descartou seu cigarro no chão.
Williams congelou, seus olhos trêmulos o remetiam a uma memória, mas ele chacoalhou rapidamente a cabeça e retomou seus sensos.
— Do que está falando!? Não…! — Williams estava com um olhar perdido. — É claro que não!
— Vamos Williams, não quer poupar o nosso tempo para seguirmos para o que realmente importa? — Koji cuspiu no chão para remover os restos do cigarro que ficaram em sua boca.
— Eu não fiz nada de errado! Eu conheço os protocolos de segurança e eu os segui à risca!
Koji respirou fundo ouvindo Williams, enchendo suas bochechas de ar e depois soprando — ele caminhou para a direita, se colocando mais próximo de um de uma fonte de luz. Agora Williams não conseguia mais ver as expressões dele, apenas sua silhueta.
— Pelo visto não, já que você conectou um dispositivo USB no notebook que cedemos. — Koji disse com voz calma, sem grandes movimentos, apenas se mantendo de pé. — Porém, todavia, entretanto: seja lá o que você conectou, desativou as proteções do sistema, o deixando vulnerável.
Ele levantava lentamente a mão direita enquanto respondia, apontando-a em direção a Williams. O guarda-costas encarava tudo com os cenhos franzidos, abrindo e fechando a mão enquanto ouvia cada palavra sair da boca de Koji.
— O dispositivo conectado instalou um malware, um cavalo de troia para ser mais exato. — Koji estendeu completamente o braço, sua mão caída se direcionava a Williams. — E por conta de seu descuido, dados foram vazados para sabe-se lá quem, e existem pessoas que não estão muito felizes com seu erro.
— Você está mentindo! Vo… Você que deve ter cometido algum erro e está tentando colocar a culpa em mim! — Williams negou com a cabeça, com os olhos semicerrados para tentar enxergar Koji e sua respiração se acelerava. — Eu também tenho coisas a perder, então acha mesmo que eu cometeria este erro!?
Koji abriu os dedos lentamente, esticando-os por completo, ele conseguia ver Williams entre seu dedo médio e o anelar, como uma miniatura em sua mão.
— Dia cinco de outubro, isso te refresca a memória? — ele disse com seus olhos negros fixos em Williams. — O dispositivo foi conectado exatamente às 23:52 segundo o nosso visualizador de eventos. Você estava trabalhando até tarde, ou talvez a sua secretária estivesse te distraindo naquele dia como de costume…
Williams congelou novamente, seu olhar lentamente baixou até ele encarar o chão.
— Isso é impossível… — Williams deu um passo para trás. — Isso deve ser um erro… cheque novamente, talvez você tenha se enganado…
— Na verdade, o erro foi seu, mas isso pouco importa agora. — Com os olhos afiados, Koji encarou o fundo dos olhos de Williams. — O que eu preciso saber agora é: de quem era o dispositivo que você conectou?
— Não faz sentido, ele só precisava alterar uma planilha de transações mensais dos produtos, ele até mesmo me mostrou… Eu estava com pressa e… e…
— Me dê o nome Williams. — Koji pediu pacientemente.
— Foi apenas uma coincidência! Escuta! Ele conectou no notebook porque meu computador deu problema naquele dia. — Williams tentava acalmar sua mão trêmula com a outra, forçando-a a ficar parada, porém, era impossível. — Não é minha culpa!
— O nome! Me dê a porra do nome! — Koji exigiu, fechando um punho com a mão que apontava para Williams.
— O nome dele é Kevin… Kevin Bright, mas não foi minha culpa, eu não sabia de nada! — Williams respondeu, levantando a voz com um nó na garganta.
— Kevin Bright… ótimo, agora podemos prosseguir. — Koji novamente abriu sua mão e um sorriso em seu rosto se formou.
Porém, ele abaixou lentamente o braço e suspirou, encarando o bolso de sua calça que vibrou por um momento.
— Escuta! Agora que sabemos quem foi o culpado, vamos fazer de tudo para encontrá-lo… — Williams forçou um sorriso, gesticulando com suas mãos trêmulas para Koji. — Eu mesmo posso fazer qualquer coisa para ajudar!
Koji rapidamente fez uma onomatopeia com a boca para Williams fazer silêncio.
— O… Quê? — Williams paralisou, encarando a figura de Koji.
Este retirou um celular do seu bolso, e com os olhos, encarou brevemente as escadas e em seguida guardou novamente o aparelho.
— Você retomou finalmente os sensos, não é? Então, vamos atrás do Kevin… — Williams parecia aliviado, agora ele conseguia respirar fundo. — Eu posso verificar os dados dele na empresa e…
— Williams, você realmente acha que vai sair ileso? — o questionamento de Koji foi áspero e direto, ele mantinha seu olhar fixo, mas sua fala era carregada de insatisfação. — É por sua culpa que isso aconteceu, e é por sua culpa que eu vou ter muita merda para limpar.
— Espera! Você sabe que não pode fazer nada comigo! — Williams se exaltou, respirando de maneira acelerada e o suor já escorria por seu pescoço. — Sem mim o processo todo vai simplesmente parar e milhões serão jogados no lixo! Sou eu quem lida com as transições, o transporte…
— Williams! Já passou da hora de você vai aprender uma das duras realidades da vida… — Koji acendeu outro cigarro, ele parecia incomodado. — Você não é especial, é apenas um número facilmente substituível.
Ele deixou escapar a fumaça pelo canto de sua boca. Williams arregalou os olhos, recuando com um passo para trás.
— Escuta aqui, seu desgraçado! Melhor você não tentar nada! Estou com o meu guarda-costas! — Williams gritou enquanto recuava lentamente. — Ele faz partes dos Los Sanctos… Los Santos! Eles me prometeram proteção e você não vai querer mexer com esses caras!
Koji olhou em direção ao guarda-costas, aumentando seu tom de voz para ser ouvido por ele.
— Ei, eu tenho 100 pratas para você, se apenas sair daqui. O que acha? — ele disse retirando uma carteira e balançando o dinheiro com total desinteresse. — Deve ser bastante dinheiro para alguém como você.
O guarda-costas encarou Koji, abrindo um sorriso que demonstrou algumas próteses dentárias douradas — cuspindo no chão e retomando sua expressão austera.
— Puede enfiar no seu rabo.
Koji negou levemente com a cabeça, guardando o dinheiro e suspirando.
— É seu funeral…
Após ouvir isso, Williams escutou movimento atrás de si e virou-se para olhar para seu guarda-costas, que corria rapidamente em sua direção. Ele tentou se projetar para trás, demonstrando claramente pavor em seu olhar, já que o guarda-costas avançava preparando um aparente golpe com sua mão esquerda.
Williams gritou, entretanto, a mão do guarda-costas passou ao lado de sua cabeça, não o atingindo; então um brilho sobrenatural cintilou no fundo das pupilas dos olhos do guarda-costas, com coloração amarelada como um brilho distante de uma estrela.
Ele desferiu um golpe com a mão aberta e uma figura translúcida se formou, como se fosse desenhada em pleno ar — uma mão gigante, com um leve tom azulado, se formou e flutuou à sua frente. Quando surgiu, um som delicado, semelhante ao timbre produzido pela fricção em vidro, ecoou suavemente, e a poeira do chão se dispersou abruptamente, espalhando-se pelas proximidades. De repente, um som afiado ecoou, pois algo atingiu a mão translúcida.
— Ho ho, quem diria… — Koji murmurou, demonstrando uma surpresa genuína em seu olhar.
Em poucos instantes, a pouca iluminação do local passou a refletir lentamente a lâmina de uma katana que antes podia ser confundida com um leve borrão em pleno ar, pressionando contra a mão translúcida.
Então, a figura de um homem negro que estava empunhando a lâmina foi revelada lentamente, como se ele surgisse de uma escuridão que não estava lá.
Ele usava óculos escuros que ocultavam completamente seus olhos. Sua pele era marrom escura, e seu longo cabelo se emaranhava em dreadlocks compridos que chegavam até a metade de suas costas. Além disso, uma barba cheia contornava seus lábios carnudos.
— ¿Uno mejorado huh? — o guarda-costas sussurrou para si com um sorriso que se formou.
O homem vestia-se com roupas escuras e de tecido confortável e resistente, contando com um tipo de colete que protegia todo o seu torso e um sobretudo negro e longo. Na cintura, podia-se notar outras lâminas menores presas em um cinto e bolsas pequenas.
— Agora isso promete ser interessante. — um sorriso de interesse se formava novamente no rosto de Koji. — Finalmente você vai ter que brincar como todo mundo, não é Sombra?
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