Capítulo 6
Os ponteiros do relógio de ouro marcavam oito horas e vinte minutos e Williams estava sentado em uma mesa na parte de cima de um bar; ele conseguia ver a decoração em neon, as pinturas nas paredes, que eram compostas principalmente por imagens de Jesus Cristo e Maria, assim como também ouvir música lenta aparentemente cantada em espanhol.
Seu pé direito batucava sob a mesa. Seu semblante cabisbaixo contrastava com o ambiente vibrante Eventualmente ele olhava para a janela ao seu lado que mostrava um céu que estava com muitas nuvens.
Uma boa parte dos homens vestiam roupas com cores em amarelo e cinza. Na sacada do corredor, que dava vista para o andar inferior, estava escorado um homem de pele clara, com tatuagens por todo o corpo e vestindo uma jaqueta com estampas amarelas e cinzas, camisa preta, calças largas, um tênis branco, uma bandana na cabeça e correntes em seu pescoço.
— Ele ainda vai demorar muito? — Williams olhou em direção ao homem que parecia mais interessado em uma partida de bilhar no andar inferior ao invés dele.
— Relájate cabrón. — o homem respondeu sem sequer olhar para Williams, bebendo um gole da garrafa de cerveja em sua mão.
— Imigrante maldito… — Williams sussurrou para si, cerrando os lábios e checando seu relógio e uma pasta preta que estava ao seu lado no banco.
O homem então tornou sua bebida, e deixou a garrafa com firmeza na mesa à frente de Williams, este que se assustou com o barulho súbito.
— Esta é por tua conta, cabrón. — o homem disse ao soltar a garrafa na mesa e em seguida levantar levemente a camisa e mostrou uma arma no quadril. — Sorte sua que vai encontrar com El Primo… se não tua boca iria te levar pra uma vala bem rápido.
O homem se retirou, deixando Williams respirando fundo e organizando a garrafa, deixando a mesa livre à sua frente, então abaixando a cabeça e fechando os olhos.
— Onde é que eu estou me metendo…? — ele murmurou para si, passando a mão pelos cabelos.
— Quando disseram que um engravatado entrou aqui, não vou negar, pensei que seria algum tipo de piada.
Williams abriu os olhos e notou que um homem maduro levemente acima do peso se sentava em sua frente, deveria ter por volta de quarenta anos, com cicatrizes no rosto, em sua maior parte ocultas por tatuagens.
Ele usava uma camisa social branca, colete cinza aberto, calça e sapatos sociais, usava um relógio de ouro semelhante ao de Williams e anéis dourados. O seu cabelo era penteado para trás e ele tinha entradas que denunciavam claramente sua calvície.
O homem se acomodou deixando uma pequena caixa de charutos sobre a mesa, abrindo-a e retirando uma unidade de três.
— Nunca tivemos um de vocês por aqui, tenho certeza de que seu tipo não costuma frequentar esse tipo de local. — o homem continuou a falar enquanto removia uma tesoura afiada da caixa de charutos e cortava a ponta do seu charuto. — Mas é como dizem: o destino nos leva a lugares que jamais imaginaríamos ir.
Williams observava o homem com certa aflição, ao redor ele podia notar que o mundo continuava a seguir, porém, agora ele era capaz de perceber os olhares em sua direção, principalmente de dois outros homens que vestiam as cores amarela e preto como se fossem parte de sua identidade e estavam próximos à mesa, não o suficiente para ocultar a visão do salão, mas sim para manter os olhos fixos em Williams.
O homem colocou o charuto em sua boca e estalou os dedos, e um dos sujeitos escorados veio lhe entregar um isqueiro. Desta forma, ele acendeu o charuto com um sorriso que mostrou a falta de alguns dentes e algumas próteses douradas.
— Pode me chamar de Primo Augusto. — o homem deixou a fumaça sair por sua boca.
Uma mulher corpulenta deixou sobre a mesa dois copos de whiskey e uma garrafa, servindo ambos com delicadeza. Augusto olhou nos olhos dela e para seu corpo enquanto ela o servia e então se retirava após uma reverência com a cabeça.
— Eu… — Williams limpou a garganta. — Pode me chamar de Williams, e eu preciso de seus serviços.
Augusto continuou encarando para a mulher até o momento que ela desceu as escadas.
— Sim, claro, você quer seguranças, não é? — Augusto voltou sua atenção para Williams, fechando a caixa de charutos, porém deixando a tesoura sobre a mesa. — Mas por que um engravatado do centro de Nova Atlântida iria procurar uma gangue para proteção?
Augusto bebeu o uísque do copo em apenas um gole, saboreando a bebida enquanto ela passava por sua garganta.
— Soube que vocês honram sua palavra e preciso de um bom serviço. — Williams respondeu claramente, ele estava nervoso. — De um que não faça perguntas de preferência.
Augusto concordou com a cabeça, mas não com seu olhar, então fez um gesto com as mãos para Williams beber o whiskey enquanto retirava a garrafa de seu campo de visão, a colocando próxima ao canto da mesa.
— Eu não estou com sede. — William respondeu inicialmente de forma sucinta, mas deixando sua arrogância prevalecer. — Escuta, podemos falar de negócios ou você vai apenas desperdiçar meu tempo?
— Em Roma, faça como os romanos. — Augusto disse, oferecendo novamente a bebida com um gesto.
Williams respirou fundo, estendendo sua mão em direção ao copo e olhando para Augusto, que tragava seu charuto e o deixava sobre um cinzeiro que estava na mesa.
Williams alcançou o copo e o levou até a boca, entornando-o, sentindo o gosto da bebida de boa qualidade. Então levou o copo à mesa e quando o soltou, Augusto agarrou seu pulso esquerdo e apoiou a mão aberta de Williams sobre a mesa.
Williams se desequilibrou ao sentir a força que puxou seu braço que ficou estendido, com seu rosto na extremidade da mesa e ele conseguia sentir as lâminas da tesoura que cortaram o charuto amassando levemente seu dedo anelar, onde estava sua aliança.
— O que é isso!? Calma! — Williams tentou sair da situação, mas ele sentiu que outras pessoas também o seguraram, mantendo-o naquela posição.
— Tu acha que tá falando com quem!?
Uma voz masculina disse bem próximo de seu ouvido, era de um dos homens que estava próximo à mesa.
— Acho que começamos com o pé esquerdo. — Augusto disse amassando a tesoura, não o suficiente para cortar, mas sim para Williams sentir a lâmina amassar sua pele. — Vou te explicar essa regra apenas uma vez, em minha casa, minha palavra é lei, acene com a cabeça se entendeu.
Williams acenou repetidamente, ele respirava ofegante e seus olhos lacrimejavam, apenas podendo ver levemente o reflexo de Augusto na janela.
— Ótimo, — Augusto esboçou um sorriso. — por que está aqui?
— Eu já disse…! Eu preciso de seguranças armados, é só isso! — Williams respondeu rapidamente, com as mãos trêmulas e o coração palpitando. — Eu… estou com um pressentimento que irão atentar contra minha vida, não é nada relacionado a polícia!
— Quem vai atentar contra sua vida? — Augusto perguntou com certo interesse.
— Escuta, eu não posso falar! Eu falo sério, você não vai querer saber! — Williams disse com claro temor em sua voz. — Mas eles vão apenas me encontrar hoje, então eu apenas preciso descobrir do que se trata! Talvez não seja nada!
— Sua resposta não está me agradando muito. — Augusto disse apertando um pouco a tesoura.
— Espera! Calma! Calma! Eu vou pagar! O dinheiro está na maleta! — Williams apontou com a cabeça para a maleta. — É tudo seu! Tem vinte e cinco mil!
Augusto olhou para um dos homens e acenou para ele verificar a maleta. Este o fez sem pestanejar, agarrando a maleta e a colocando sobre a mesa; quando estava prestes a abrir as travas, o outro homem que ainda imobilizava Williams interrompeu a ação.
— ¿Y si es una bomba? — o homem segurando Williams olhou para o que estava com a maleta.
— ¿Primo? Marcos tiene razón. ¿Y si ese cabrón es de los Crimson? — o homem com a maleta hesitou, olhando em direção de Augusto.
Augusto parou por um momento, olhando para Williams, que estava praticamente deixando escorrer lágrimas e então sorriu.
— Los Crimsons pueden ser unos hijos de puta, pero no se mezclan con basura como esta. — Augusto disse com gargalhadas após sua fala.
Os outros homens também riram brevemente, então o homem abriu finalmente a maleta, revelando maços de notas de cem dólares acumulados.
— Carajo… — o homem que abriu a maleta sorriu e concordou com a cabeça para Augusto, que também deixou escapar um sorriso.
Williams sentiu a pressão sobre o seu corpo sumir, os homens se afastaram da mesa, deixando ambos a sós novamente.
— Williams, não é? Peço desculpa pelo tratamento repentino, mas um homem em meu ramo de negócios tem que ter suas precauções. — Augusto virou a pasta para si e retirou um maço de dinheiro, passando os dedos pelas notas que faziam barulho ao encostar uma na outra.
Williams se ajustou em seu assento novamente, calado e massageando o dedo de sua aliança, e em seguida fechando a mão e encarando Augusto com um olhar afiado.
— Então? Temos um acordo? — Williams, apesar de claramente temeroso, ainda assim demonstrou seriedade.
— Se é de proteção que você precisa, é proteção que você terá. — Augusto olhou para um homem e o deu uma ordem. — Ve a llamar a Javier.
— Javier, ¿estás seguro? — o homem perguntou olhando para Williams.
Augusto apenas acenou a cabeça com um sorriso de satisfação enquanto o homem se retirava e ele oferecia não apenas a mais uma dose de bebida, mas também um charuto para Williams, que inicialmente hesitou, mas acabou aceitando a oferta cuidadosamente.
— Ahora, estamos hablando de negocios.
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