Capítulo 8
Williams ofegava, arrastando a perna ferida para tentar acelerar o passo, segurando o celular em seu ouvido, ele não parava por nem sequer um segundo, mantendo a outra mão no bolso de seu terno.
— Por que você não atende o maldito celular…? — sussurrou para si, retirando o celular do ouvido para verificar a situação da chamada, que eventualmente foi parar na caixa postal. — Amor, assim que ouvir essa mensagem: saia de casa com a Katherine e pegue aquele dinheiro…
Williams desacelerou, contraindo os músculos de seu rosto e prendendo a respiração. As lágrimas escorreram de seus olhos, mas ele logo suspirou, encarando o corredor escuro à sua frente.
— Vá para a casa dos seus pais e me espere lá… Caso eu não chegue em duas horas… Você deve sair do país… — ele disse com a voz embargada, fechando os olhos com força. — Eu te amo… Amo vocês duas…
Ele retomou seu ritmo, voltando a percorrer o corredor; acionando o teclado do celular — ele digitou o número de emergência.
‘Aqui é da polícia de Nova Atlântida. Qual é a sua emergência?’
— Escute bem, eu estou em perigo! Tem atividade de aprimorados… — Williams respondeu com a voz esgotada e exaltada. — Por favor, envie ajuda!
— Senhor, poderia tentar falar com mais calma? Onde você está?
Ao ouvir a voz no celular, Williams cerrou os dentes; ele tirou o celular do ouvido e o colocou em frente à boca.
— Droga! Eu estou em Vale da Liberdade! Na merda do hospital em reforma… — Williams gritou com o celular, até que finalmente conseguiu ver as escadas à distância.
Ele sorriu e decidiu apressar o passo, mas enquanto caminhava, seus ouvidos captaram uma frequência incômoda e contínua. De repente, ele foi surpreendido por dois brilhos amarelo-claros que estavam parados na penumbra, no caminho da escada.
— Olá Williams… — a voz cálida de Koji ecoou na escuridão.
Williams arregalou os olhos, rapidamente tentou correr na direção oposta, mas tropeçou ao tentar apoiar todo seu peso em sua perna ferida.
— Se afaste de mim! Ajuda! Alguém me ajuda! — Williams gritava ao se levantar, enquanto os passos lentos de Koji se aproximavam.
— Que deselegante, tentando escapar de sua punição. Que menino mais malcriado! — Koji caminhou lentamente em direção de Williams. — Deixe-me lhe ensinar algo sobre mim: eu detesto perseguir.
Com um leve gesto da mão direita, Koji disparou uma onda de vibração — o som grave reverberou pelo corredor enquanto Williams foi arremessado contra a parede ao lado com força.
Este gritou e deixou o celular cair, tentando respirar enquanto pressionava as mãos contra o peito, mantendo os olhos cerrados.
— Você sempre foi um merdinha, mas apelar à segurança pública? Isso foi demais até para você… — Koji discursou com um leve sorriso, pisando no celular caído.
Williams encolheu-se, apoiando-se na parede, enquanto Koji o observava com as sobrancelhas arqueadas e uma expressão calma.
— Você acredita que depois da merda que fez ainda vai sair daqui com vida?
— Para trás! Me deixe em paz! Se você se aproximar mais… eu vou atirar em você! — Williams gritou, sacando a arma ensanguentada de seu terno e apontando-a para Koji.
Koji se manteve imóvel por um segundo, mas logo caiu em gargalhadas, apoiando-se contra a parede oposta de Williams.
— Ora, vamos! Olhe para si mesmo! Você nem sequer tem colhões para puxar esse gatilho. — Koji sorriu, e suas sobrancelhas se ergueram discretamente enquanto o interesse emergiu em seus olhos.
— Mas sabe, Williams, dentro de cada um ser humano existe uma força que é capaz de mudar o destino. — Koji discursou, afastando-se lentamente da parede e se mantendo em meio ao corredor. — Às vezes pode te transformar em um arquétipo: um líder, um sobrevivente ou até mesmo um oportunista. Mas existe aquela que eu mais gosto: o monstro.
Williams apenas conseguia ver sua silhueta de Koji e os brilhos em suas pupilas, que o observavam friamente.
— Nossa espécie chegou onde está devido ao monstro, é ele que surge quando estamos em situações de vida ou morte, porém, quando aprendemos a controlá-lo! — Koji estalou os dedos com um sorriso formado. — Foi neste momento que percebemos que essa força, é capaz de não apenas nos transformar em seres distintos entre os animais, mas distintos entre os próprios homens.
— Eu não estou brincando, seu desgraçado! — Williams gritou, segurando a arma com as mãos trêmulas. O suor escorria por suas têmporas.
— É claro que não. — disse Koji, com seriedade. — Certo, vou te dar uma chance: atire em mim…
Williams encarou Koji, engolindo em seco; seu dedo deslizava sobre o gatilho, mas ele não tinha força para apertá-lo.
— Você não quer acabar com este pesadelo? O poder para mudar o destino está em suas mãos; basta deixar acontecer.
A voz cálida de Koji ecoava no ouvido de Williams, que respirava fundo ao observar a figura do homem à sua frente.
— Vamos, Williams! Você só precisa puxar o gatilho. — Koji apontou para seu próprio peito com a mão livre enquanto discursava. — Mostre-me que você é capaz de deixar o monstro fazer o trabalho para sobreviver; é a única maneira de acabar com isso!
As lágrimas escorriam dos olhos de Williams, a expressão de dor, angústia e medo eram todas presentes em seu rosto
— Termine logo com isso!
O som do tiro se seguiu à ordem de Koji, e Williams mantinha os olhos cerrados quando apertou o gatilho. Por um momento, ele ouviu apenas aquela frequência agonizante que incomodava seus ouvidos. Ele abriu lentamente os olhos, notando que a figura de pupilas brilhantes ainda estava lá.
— Não… Não, não!
Williams disparou várias vezes seguidas, continuando a apertar o gatilho, mesmo com sua arma já descarregada. As gargalhadas de Koji ecoaram pelo corredor após os disparos.
— É quase imperceptível, não acha? — Koji se aproximou de um projétil à sua frente que estava parado e vibrando em pleno ar.
Os projéteis disparados flutuavam e vibravam, como se fossem parados por uma parede invisível; todavia, caíram ao chão quando o brilho das pupilas de Koji desapareceu.
— Parabéns… você realmente puxou o gatilho. — Koji se aproximou de Williams, com um sorriso agora bastante perceptível.
Williams o encarava, incrédulo, aqueles olhos negros que pareciam o fundo de um abismo.
— Você finalmente teve um vislumbre do monstro. — Koji ergueu lentamente a mão na direção de Williams. — Mas está na hora de conhecer um de verdade.
— Senhor Koji, por favor, poupe a minha vida… Eu não vou cometer mais erros! Você sabe que eu tenho uma família que amo; elas precisam de mim! — Williams se ajoelhou com o rosto no chão.
Koji o observou sem demonstrar emoções em seu rosto, como se ele não esperasse aquilo, então retirou um celular do bolso de sua calça.
— Levante a cabeça. — Koji revirou os olhos, ainda com aquela inexpressividade.
— Senhor Koji… Por favor…
— Ama a sua família, é? Engraçado, pois boa parte do dinheiro que você recebia era gasto em noites regadas a drogas, apostas e luxúria. — Koji observava Williams com afinco, esperando sua reação. — Não me parece alguém que se importa muito com a sua família, para ser sincero.
Williams engoliu em seco, sem remover o rosto do chão por um segundo sequer.
— Soube que você também negligenciava a família que diz amar, sempre se mantendo distante. Mas eu te entendo, nós homens, somos seres ambiciosos. — o sorriso começou a se formar novamente no rosto de Koji. — Acho que isso vale até mesmo para um inútil como você… Porém, não mais; essa preocupação é passado.
— O que você quer dizer? — Williams levantou a cabeça com um nó na garganta e os olhos trêmulos.
Koji novamente sorriu, mas desta vez demonstrando seus dentes brancos e alinhados.
— Hoje serei seu messias… — Koji ofereceu um smartphone que estava com a tela acesa. — Eu te libertei de suas amarras; a partir de agora, você é um homem livre novamente!
Williams guiou suas mãos lentamente em direção ao aparelho, girando-o lentamente para si ao pegá-lo. Ao olhar para a tela do celular, seus olhos se esbugalharam e começaram a se encher de lágrimas rapidamente. Ele chacoalhava a cabeça em negação, mal conseguindo segurar o celular.
— Kate, era uma mulher linda, mas não se preocupe; ela certamente não morreu solitária… — Koji expressou alegria, com aquele sorriso, que agora não era mais tão alinhado por conta do corte em seu rosto. — Diferente de você, eu mantive companhia até o último segundo…
Williams deixou escapar um grito de fúria, fechando os punhos e se preparando para desferir um golpe. Porém, quando estava prestes a atacar, Koji novamente fez um leve gesto com a mão direita e suas pupilas cintilavam com aquele brilho sobrenatural.
Rapidamente, uma onda de vibração foi disparada, desta vez ela foi concentrada e precisa, atingindo apenas o braço direito que Williams usaria para atacar.
O som reverberou através do ar, juntamente com o sangue que atingiu a parede, e as pequenas partes de ouro do que era outrora um relógio caro.
Williams caiu no chão, gritando, com a mão esquerda segurando o que restava de seu braço. Da extremidade de seu cotovelo para baixo, já não existia mais nada além de pele destroçada.
— Ah… o que houve, Williams? — Koji questionou com um sorriso genuíno, apanhando seu celular e observando brevemente as fotos. — Não me diga que está precisando de uma mãozinha?
— Seu desgraçado! Como pôde fazer isso com ela!? Maldito! Filho da puta! — Williams gritou enquanto estava deitado no chão, lágrimas escorriam por suas bochechas e se misturavam a poeira e o sangue em seu rosto.
— Xiu… garotão, foi divertido, e acredite, ela mal conseguia conter a excitação… Ou será que era dor? Não sei dizer ao certo, pois o único barulho que ela fazia era “Urgh! Urgh!” — Koji colocou uma mão sobre a boca e fazendo barulhos abafados, em seguida gargalhando.
— Kate, meu amor… oh meu Deus… o que fizeram com minha filha…? — a voz de Williams falhou ao questionar; ele mantinha o rosto no chão, com a voz falha em soluços sufocantes enquanto o sangue escorria de seu braço.
Koji de repente transformou seu semblante. Seu sorriso foi desfeito e ele bloqueou o celular, olhando na direção que Williams havia percorrido.
— Ah, Katherine, não é? Infelizmente não foi desta vez… Eu gostaria de toda a família reunida aqui, mas sabe, o Sombra é muito protetor quando o assunto são criancinhas… — os afiados olhos de Koji observavam os pontos vermelhos se aproximando na escuridão. — Ainda mais quando se trata de uma garotinha; deve lembrar ele de alguém importante.
A pouca luz no corredor parecia se dobrar enquanto o Sombra surgia. Suas lâminas gotejavam sangue fresco, e o brilho em suas pupilas desaparecia quando sua figura se formava lentamente.
— Então, como o mexicano desgraçado morreu? Espero que tenha fatiado o desgraçado… — Koji disse ao observar as lâminas manchadas de sangue.
— Vou acabar logo com isso; não temos tempo. — Sombra cortou a fala de Koji enquanto limpava o sangue em suas lâminas e se dirigiu em direção a Williams.
Ele, porém, foi interrompido por Koji, que colocou a mão em seu peito, encarando-o por um momento.
— Lembra que eu disse que gostaria de abordar esta situação ao meu modo?
— Eu não dou a mínima; vamos acabar logo com isso.
— Você não vai tirar isso de mim…! — Koji disse cerrando os dentes e empurrando Sombra. — Eu quero que esse fodido sofra! Ele não vai morrer tão facilmente assim!
Cada vez que Koji gritava, ele desferiu um chute contra Williams, e com cada chute, o corpo de Williams se sacudia violentamente. O sangue espirrava de seu braço, formando pequenas poças ao seu redor.
Koji terminou passando a mão por sua face com um sorriso, ajustando os cabelos para trás. Sombra o encarou com os cenhos franzidos.
— Você já chamou atenção demais, temos que ir! — Sombra se colocou entre Koji e Williams.
— Saí…! Da minha…! Frente…! — as pupilas de Koji começaram a cintilar enquanto ele apontava sua mão em direção a Sombra. — Ele vai encontrar a vagabunda da sua esposa na outra vida em pedacinhos, da mesma forma como eu a deixei!
Sombra empunhou a katana com mais firmeza e encarou Koji, sem dizer uma palavra, mas ajustando sua postura para um combate. Koji apenas sorriu de orelha a orelha.
— Você realmente quer morrer por esse monte de lixo? — Koji disse com os dedos tremendo por conta da raiva. — Bom, eu estava realmente com vontade de…
Antes de Koji terminar sua fala, uma luz amarelada emanou na escuridão, vinda da direção das escadas como um fogo-fátuo.
— Merda… — Sombra disse ao olhar a iluminação por cima do ombro e desaparecer, deixando um breve resquício dos brilhos de seus olhos por um momento.
Koji respirou fundo e se aproximou de Williams, agachou-se e agarrou seu cabelo, virando sua cabeça com força em direção à chama flutuante.
— Está vendo seu desgraçado? Você fodeu com tudo! — Koji sussurrou, se aproximando de Williams e golpeando sua cabeça no chão, deixando-o lá, sangrando. — Agora eu vou ter que lidar com a merda de um convergente…
Ele se pôs de pé e se afastou de Williams, tocando no corte do seu lábio tentando formar um sorriso, mas a frustração e raiva não permitiam. Ele tentou limpar o sangue que também havia manchado sua roupa e olhou na direção da chama flutuante que se aproximava cada vez mais.
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