Capítulo 1
“O que…?”
Sua visão obscureceu e seu punho se manteve erguido, na mesma posição que ele havia desferido o golpe anteriormente, mas, diferente de antes, agora ele não sentia nada; havia acontecido de novo.
“Não…”
Seu corpo inteiro tremeu em resposta a frustração. Ele lentamente engoliu em seco e fechou os olhos com força enquanto cerrava os dentes.
“Não pode ser!”
Black caiu de joelhos, seus dedos fazendo força contra seu couro cabeludo, como se ele quisesse perfurar o próprio crânio.
“Eu estava no controle!”
Seus olhos se arregalaram quando em um flash ele viu — Bobby estava deitado no chão de terra da arena, totalmente ensanguentado enquanto o jovem continuava a atingi-lo continuamente.
Ele colocou a mão sobre o rosto, com clara expressão de dor, mas agora batendo com seu punho fechado contra a própria cabeça.
“Acorda! Acorda porra!”
Novamente outro flash; vários homens vestidos com vestimentas sociais e com aparência similar corriam em sua direção, eles o rodeavam e o atacavam. Mas com apenas um golpe ele era capaz de se livrar de cada um, que se liquidificavam quando eram atacados.
Ele colocou as palmas das mãos sobre os olhos, tentando gritar, mas nenhum som saia de sua boca.
“Porra! Porra! PORRAAAA!”
Black desferiu golpes continuamente contra o chão obscuro, mas nada acontecia. Apenas o silêncio o rodeava e breves ecos sonoros que reverberavam, como se o som estivesse tão distante que não mais se conseguia entender o que ele significava.
O jovem então parou e virou seu rosto para ver os seus arredores; novamente aquela escuridão de antes, mas dessa vez ele não estava mais mergulhado nela, mas sim de pé sobre ela.
Não havia mais o deserto, mas também não havia mais nada, apenas a infinidade do vazio.
“No fim, eu não consigo controlar isso…”
As figuras que antes apareciam apenas em sua visão tomavam forma à distância do infinito, como o formato de nuvens que apenas apareciam quando um raio as iluminavam.
O que seria aquilo? Uma fortaleza ou uma prisão? Uma coroa de ouro ou de espinhos? Uma pessoa definhando ou uma estátua erodindo?
Ele encarou suas próprias mãos, estavam sujas com uma mistura do vermelho do sangue e do marrom da terra. De repente ele se sentiu observado, e então olhou para a direita; por um momento ele sentiu a mesma sensação de quando viu aquele singular brilho alaranjado.
“É você?”
As figuras a distância apareciam com mais frequência, formando mais e mais figuras com sentidos ambíguos: uma presa ou um predador? Um protetor ou um carrasco? O nascer do sol ou será que era o brilho daquela mulher?
“Você está comigo não é?”
As figuras desapareceram, e as luzes que as iluminavam vieram em sua direção em formação fractal, rodeando-o com incrível velocidade. Ele sentiu o pulsar das batidas nas palmas de sua mão; um tambor que ecoava sob sua pele, marcando o compasso da existência.
“Então eu vou conseguir!”
Black afundou no chão e as luzes o perseguiram, perfurando o obscuro e marcando com cicatrizes por onde passavam. Mas elas não perseguiram caminhos aleatórios; pareciam acender uma cadeia imensa de ligações em um enorme potencial de ação.
A luz atravessou um espaço infinito em um piscar de olhos, acendendo uma vasta cadeia de conexões na escuridão — uma constelação viva, um universo pulsante que brilhava conforme ele descendia.
Black parecia flutuar com os olhos fechados com força, suas veias saltava em sua testa e ele cerrava os dentes.
“Não passamos de ecos de nosso antigo ser…”
— Não passamos de ecos de nosso antigo ser…
As palavras que estavam em sua mente saíram, ao mesmo tempo, de sua boca, mas a voz que ecoava não era a sua e sim de outro homem.
“Eu não dou a mínima para o preço…”
— Eu não dou a mínima para o preço…
Black abriu os olhos e viu uma figura a distância, não era ele, era uma figura obscura iluminada por uma luz alaranjada em suas costas e com as pupilas brilhando em amarelo. A figura não tinha uma silhueta humana, e tinha diversas cicatrizes em seu corpo.
“Se eu ferrar com tudo…?”
— Se você ferrar com tudo…
A figura se aproximou cada vez mais enquanto as luzes brilhavam com mais intensidade, como a visão de um espelho distorcido de Black, não era ele, mas ambos agora estavam iluminados pela luz alaranjada.
“Eu não vou falhar.”
Ambos estavam frente a frente e Black encarava a figura com seriedade, ele conseguia sentir sua pele enrijecer e seus pelos ascenderem em sintonia com a sensação de controle que aos poucos ele conseguia sentir.
“Eu preciso despertar.”
Então o som de sua voz ecoou finalmente de sua própria boca.
— Nós vamos conseguir tirar ela daqui…
Seus olhos aos poucos perderam o tom vivido e sua pupila se contraiu; ele finalmente conseguia ver a área do teste novamente, as luzes piscavam em vermelho e ele conseguia ver aqueles diversos homens, iguais uns aos outros. Havia dois agarrados em seus pés e cerca de oito em seu campo de visão.
— Haidar…
A voz ofegante de Black veio em um tom de realização enquanto seus olhos demonstraram, além do cansaço, surpresa.
— Agora! — um dos clones gritou ao olhar para detrás de Black.
Do chão, enormes corretes negras brotaram em grande velocidade, acorrentando os braços, pernas e pescoço de Black que se viu forçado de joelhos quando a força das correntes o puxaram para o chão.
Ele inicialmente tentou olhar ao redor, confuso, mas cada vez mais correntes emergiram do chão e se prendiam ao seu corpo e o forçavam para o chão.
— Eu peguei ele! — o Criador Noturno gritou com seriedade, com as pupilas brilhando com intensidade e segurando a extremidade das correntes negras. — Vá chamar ajuda para o Esmagador!
Alguns Clones rapidamente alcançaram Black e o forçaram contra o chão, ele inicialmente resistiu ao forçar os músculos, mas logo se deixou derrubar.
O jovem estava com o rosto forçado contra o chão de terra. Ele respirava fundo, sentindo a força das correntes que praticamente imobilizaram seus movimentos. Agora, somente podendo mover seus olhos, ele notou que Bobby estava deitado no chão e sangue escorria por seus braços.
De seu campo de visão era difícil ver algo, mas ele conseguia ouvir a comoção, pessoas falando e acionando a emergência, mas ele apenas conseguia seus olhos fixos no homem no chão e um pensamento não escapava sua mente.
“O que eu fiz?”
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