A janela com vidro quebrado mostrava um helicóptero vagando com um canhão de luz apontado para os prédios e ainda era possível ouvir o barulho das sirenes à distância. Era um apartamento escuro e aparentemente abandonado, com pichações nas paredes e sem energia elétrica. 

    O local deveria ser uma sala de estar, mas não havia móveis, apenas lixo por todos os lados.

    Koji balançava o seu sapato que parecia molhado, junto da extremidade de suas calças. Ele estava escorado em uma parede, com a tela de seu celular acesa e seu dedo teclando constantemente.

    — A saída tinha que ser por um esgoto? — Koji disse com uma voz mais calma, mas ainda assim levemente incomodada. 

    — O que foi que aconteceu? — o grave da voz de Sombra demonstrava claramente sua irritação.

    — Poderia fazer silêncio por gentileza?  — Koji tragou levemente o cigarro que fumava com dois dedos, estalando a língua por conta da dor no lábio superior. — Estou ocupado informando sobre o nosso sucesso…

    Sombra virou-se em direção a Koji, os seus cenhos franzidos e os lábios curvados.

    — Que tal dizer que seu showzinho quase ferrou com tudo?

    — É, se eu soubesse que aquele mexicano maldito fosse fazer isso em meu rosto…! — Koji respondeu com desdém apontando para o ferimento em seu rosto. — Eu teria explodido o desgraçado no momento que eu o vi.

    — Foda-se a porra do seu rosto! E se a droga da garota tivesse chamado reforços? — Sombra disse ao passar a mão sobre o rosto. — E você ainda derrubou a porra do prédio em cima dela, e se ela tivesse morrido? Você sabe quem ela é!

    — Engraçado você falar isso após atravessar ela pelas costas… com uma lâmina. — Koji demonstrou um sorriso sarcástico.

    — Eu estava salvando o seu rabo seu maldito rabo! Eu sei que a garota não iria morrer com aquilo, era apenas para criar uma abertura para fugir! — Sombra respondeu apontando no rosto de Koji. — Eu deveria ter deixado ela te queimar vivo seu maldito!

    — Até parece! Você acha mesmo que aquela piranha iria conseguir fazer algo contra mim!? — Koji respondeu tragando seu cigarro novamente apertando na ponta com o dedo. — Enquanto ela estava parada no corredor era só um golpe e boom! Ela estaria em pedaços!

    De repente, Koji sentiu o ar ser cortado ao passar do lado de seu rosto — Sombra desferiu um golpe contra a parede, bem próximo do rosto de Koji.

    — Seu filho da puta! — Sombra se exaltou, pressionando seu punho com mais força na parede enquanto respondia. — Você quase fodeu com tudo, acha que eu estou aqui para ser a porra da sua baba!?

    — Lembro de alguém tendo problemas em acabar com um certo mexicano. — disse Koji, suspirando com um sorriso torto. — Você sabe que se não fosse por mim, aquele cara teria acabado com você, não é?

    — Tudo teria sido resolvido se você não ficasse de papinho com o 425 e realmente fizesse algo no combate! — Sombra apontou na direção do helicóptero que pairava no céu. — Agora estamos em evidência porque você derrubou um prédio na filha de um maldito Defensor!

    Sombra parecia prestes a explodir — veias saltavam em sua testa enquanto cutucava o dedo indicador no peito de Koji. Este manteve seu sorriso, porém suas sobrancelhas levemente se arquearam com o ato.

    — Tá bom, te dou crédito por essa, está feliz? — Koji se expressou, se afastando e olhando em um vidro que refletia sua imagem. — Isso vai deixar uma maldita cicatriz…

    — Você não é o único afetado por tudo isso, seu desgraçado! E eu te garanto! Se alguma coisa der errado por sua culpa…

    Sombra virou Koji e o agarrou pelo colarinho, enquanto falava e o forçou novamente contra a parede.

    — O quê? — Koji discursou em tom de deboche. — Está preocupado que a filhinha descubra o que o papai faz…?

    Sombra agarrou uma lâmina curta, aproximando-a rapidamente do pescoço de Koji.

    — Filho… de uma… puta…! — o tom da fala de Sombra foi sinistro. — Se você mencionar minha filha de novo, eu vou cortar essa sua maldita língua!

    Ele forçava levemente a lâmina sobre o pescoço de Koji, que não deixou de encará-lo em nenhum momento. Koji abriu um breve sorriso de canto de boca, juntamente com seu olhar afiado que observava o fundo dos olhos de Sombra.

    — Sombrinha, meu querido, é só uma brincadeirinha de um colega de trabalho. Não vai querer levar a sério, afinal… — Koji respondeu com as pupilas levemente cintilantes e sua mão vibrando e encostando no abdômen de Sombra. — Pode haver retaliação…

    Ambos se encararam por um instante e logo se afastaram um do outro.

    — Você tem sorte que aqueles malditos realmente gostam de você… — Sombra disse com os dentes cerrados.

    — Aqueles “malditos” que nos pagam? — Koji disse tragando o cigarro novamente. — Ah, eles me adoram!

    Sombra respirou fundo, olhando em direção ao horizonte com um semblante conflituoso ao encarar a lâmina em suas mãos.

    — Não precisa se preocupar, ninguém realmente liga para o que acontece aqui. — Koji respondeu estalando as costas e mexendo o ombro, ele pareceu ter sentido o impacto da força de Sombra — Você veio do gueto, deveria saber como as coisas funcionam.

    — Foda-se você e esse seu discursinho fodido. — Sombra disse ao virar-se de costas para Koji, colocando uma mão sobre a testa e respirando fundo.

    — Tenha calma, você sabe como é a realidade, os irmãos se matam por uma partida de basquete, as mães prostituem as filhas para conseguirem uma pedra de crack. — Koji disse com um leve sorriso e uma voz despretensiosa enquanto descartava a bituca do cigarro. — O que é um prédio demolido no Vale da Liberdade comparado a vida amorosa de algum famoso na internet? Tudo aqui é descartável, e isso me faz adorar esse lugar.

    — Vai se foder…

    Sombra respondeu, guardando sua lâmina menor na bainha em seu cinto e se dirigindo para a porta que levava à saída do local. Koji apenas sorriu; ele estava prestes a alcançar sua carteira de cigarro quando viu que as nuvens no céu haviam se movido, revelando uma linda noite de lua cheia.

    — Finalmente, o clima perfeito. — seus olhos se fixaram nela e ele sorriu. 

    Sombra olhou para Koji com os lábios arqueados e a testa enrugada ao observar o êxtase do homem que encarava o astro pálido no céu. Em seguida, virou as costas e desapareceu em meio a escuridão.

    Algum tempo se passou. Koji agora estava no topo do prédio abandonado, e em cima dele manteve aquele sorriso genuíno no rosto ao ver a cidade aos seus pés, apreciando a melodia das sirenes juntamente com a luz do luar. 

    Ele acariciou um bolso de sua jaqueta e, em seguida, recolheu um pano branco manchado em vermelho que continha um volume enquanto o vento acariciava a sua pele alva e seus cabelos lisos. 

    Ao desdobrar o pano, retirou um dedo feminino que estava com uma aliança dourada — nela havia um lindo diamante. Ele observou com um sorriso no canto da boca, inicialmente alisando o dedo carinhosamente e, em seguida, dando-lhe um longo beijo, manchando seus lábios com sangue novamente.

    — Ah, Kate… pena que Katherine não esteja conosco… 

    O som das sirenes e do helicóptero ao fundo pareciam uma melodia para ele sorrir genuinamente ao observar o caos e a destruição à distância.

    — Ela certamente iria adorar ver essa linda noite de luar.

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