— De joelhos! — a ordem veio do soldado negro de bigode, com uma voz imponente. — Agora!

    Black caiu ajoelhado no chão, enquanto o zunido lentamente desapareceu de seus ouvidos e ele não conseguia ver nada além dos vultos e imagens com formas piscantes. O suor escorria por sua testa enquanto seus olhos perdiam o brilho, voltando àquela tonalidade fosca.

    Ele olhou ao redor; armas apontadas em sua direção. Nos olhos, ele conseguia perceber a raiva, mas também medo — as pontas das armas em sua direção, a vontade de atirar deles era algo que ele já havia presenciado antes. 

    — Vê? Você não passa de uma abominação descontrolada, e, no fundo, você sabe disso. 

    Black conseguia apenas ver o vulto que se misturava às formas piscantes em sua visão; a voz homem velho à certa distância, mas que se aproximava aos poucos.

    — Você deve se entregar: diga que você aceita os procedimentos da Divisão Zero… vai fazer um favor a si mesmo e a todos aqui. 

    “Eu não consigo mais…” Black apoiou suas mãos sobre o chão fechando os olhos, mas as figuras não desapareciam mesmo na escuridão, algumas pareciam com animais, outras não tinham sentido, mas outras pareciam com corpos despedaçados.

    — Imagine quantas pessoas você pode ferir, você nem sequer é capaz de controlar a si mesmo.

    A voz do velho se aproximava cada vez mais, ele abriu os olhos e todos os vultos armados estavam mais próximos, ocultando a luz e parecendo o cobrir como em uma mortalha de escuridão.

    — Você sabe disso, então diga…

    — Eu… — a voz grave e cansada de Black ecoou através do silêncio profundo, ele encarava as próprias mãos com clara confusão em seu semblante. — Eu…

    — Diga!

    — Eu…!

    Black olhou para cima e notou o rosto do velho, como uma visão fantasmagórica e distorcida, alterada pelas formas que desapareceram aos poucos de sua visão.

    — Vejo que vocês não têm boas maneiras com convidados!

    Uma voz diferente ecoou, de repente todos os vultos se afastaram, o homem velho que estava abaixado em sua frente se levantou. Black conseguiu ver uma figura ocultada pela luz na intercessão no fim do corredor. 

    Sua visão se tornava mais clara e ele conseguia ver um homem que vestia um sobretudo marrom e um chapéu do tipo fedora. Ele vestia uma máscara de metal com um visor preto que lembrava uma máscara carnavalesca, mas em tom cinza.

    — Maverick, poderia me explicar o que exatamente está acontecendo aqui!? — o homem de sobretudo direcionou sua fala para o homem velho e para os soldados enquanto se aproximava com passos rápidos. — E vocês, abaixem essas malditas armas!

    O homem de sobretudo foi ao encontro de Maverick, o homem velho. Seu andar era peculiar, ele abria um pouco as pernas ao caminhar e inclinava levemente o corpo. 

    Os olhares dos soldados buscavam aprovação em Maverick, que apenas acenou positivamente, seguindo o homem mascarado com os olhos.

    — Chama-se protocolo de segurança, Tyx, caso você tenha esquecido. — Maverick encarou a figura de sobretudo passar por ele.

    — O que me lembro é que você tem uma ordem e não está a cumprindo! — Tyx se expressou colocando-se em frente a Maverick. — Sabe que o que fez pode complicar muito a sua carreira, não é?

    — Eu estou cumprindo meu dever! — Maverick respondeu com voz firme. — Tudo o que aconteceu foi que o aprimorado decidiu atacar e lidamos com a ameaça, agora está tudo sob controle!

    Tyx encarou Maverick, em seguida olhando para Black, que estava ajoelhado no chão, ofegante.

    — Então, sargento Maverick, exijo que você cumpra seu dever, já que a situação está sob controle: entregue a guarda do jovem!

    Black estreitou os olhos, alternando o olhar entre Tyx e Maverick. O último não parecia intimidado, mas seu cenho franzido demonstrava insatisfação.

    — Não é assim que funciona — Maverick respondeu com um sorriso tenso. — O aprimorado atacou durante a escolta. Ele deve retornar aos cuidados da Divisão Zero.

    — Você não quer cruzar essa linha… — Tyx inclinou-se, fixando os olhos em Maverick. — Quer mesmo arriscar sua carreira, mostrando que os “Tigres Asiáticos” falharam numa escolta simples?

    — Suas palavras não me afetam, apenas o fato que aquela coisa é uma ameaça! — Maverick franziu o cenho ao olhar em direção de Black.

    — Até onde posso ver, nenhum de seus soldados está ferido; por outro lado, o jovem parece ter sofrido forte agressão física e psicológica… — Tyx terminou seu discurso encarando Maverick que retraiu os lábios, tremendo levemente a pálpebra esquerda ao se aproximar mais dele. — Sabe, com as imagens que tenho eu poderia fazer de sua carreira um sonho distante que nunca vai se realizar. 

    — Quer usar câmeras? Vá em frente! — Maverick se aproximou de Tyx. — Desta forma você realmente não terá mais argumentos!

    — De fato, poderei atestar para os órgãos reguladores dos Estados Unidos que a Divisão Zero está se demonstrando incapaz de lidar com aprimorados conforme o tratado de Evelyn. — Tyx respondeu olhando para um objeto oval preso ao teto. — Acredite, posso fazer isso e ainda conseguir a guarda do garoto, mas vou deixar você apenas cumprir o seu maldito dever!

    — Você tem sorte… se não fosse por conta do Júpiter… as coisas seriam muito diferentes. — Maverick sussurrou próximo a Tyx, que manteve a postura sem se deixar abalar. Em seguida, afastou-se dele e ordenou: — Deixem-no ir!

    Todos os soldados se afastaram de Black, posicionando-se nas laterais do corredor. 

    — Tyx, aqui deixo aqui registrado que a escolta foi realizada com sucesso pela Divisão Zero. — Maverick declarou, retirando-se do local com os demais soldados, que obedeceram sem questionar. — Vamos!

    Fei Hu e Bai Hu também os seguiram, mas o último se manteve a encarar Black até o momento em que as portas do elevador se fecharam.

    “Quem é esse cara? Por que obedecem a ele?” Black encarou o homem de sobretudo com uma sobrancelha levantada enquanto retomava a postura. Tyx se aproximou dele, oferecendo uma mão para levantar, mas Black ignorou o gesto e se levantou por conta própria.

    — Peço desculpas pelo ocorrido, mas temo que tenhamos assuntos mais urgentes para tratar. — Tyx recolheu sua mão ao ver que o jovem a rejeitou. — Está tudo bem com você?

    — Quem é você? — Black fitou Tyx de cima a baixo enquanto massageava seu rosto, agora sentindo dor dos golpes realizados por Bai Hu. — Você é um militar?

    — Sou um Defensor, para ser mais exato. Me chamo Tyx, mas creio que você já sabe disso por conta de nosso sargento de cabeça branca.

    Tyx colocou a mão sobre sua máscara, apertando dois mecanismos em ambos os lados dela, retirando-a, revelando seu rosto; ele tinha um bigode ralo, uma riba nasal levemente sobressalente, lábios finos e pele morena.

    — Por que me ajudou? — Black encarou com olhos confusos, limpando o pouco de sangue que estava em seus lábios.

    — Faz parte do meu trabalho garoto. — Tyx limpou a garganta e respondeu com um tom leve. — Você está bem?

    Black não respondeu, desviando o olhar e em seguida encarando com um olhar irritado.

    — Imagino que não. — Tyx disse ao fazer menção de olhar para trás, mas voltando seu olhar para Black. — Sei que é repentino, mas poderia me seguir? Tenho assuntos a tratar com você.

    — E por que eu deveria fazer isso? — Black arqueou as sobrancelhas e fechou os punhos. — Eu não te conheço e não confio em você; por que eu deveria te seguir?

    — Incisivo, eu respeito isso — Tyx manteve um sorriso no rosto, virando-se de costas para Black e se afastando alguns passos dele, parando no meio do corredor. — Escuta, sei que você tem motivos para desconfiar. Porém, você tem apenas duas opções, uma conversa amigável ou mais tempo com aquele velho, e te garanto que eu sou uma companhia bem mais agradável.

    — Então, está dizendo que eu não tenho escolha? — Black questionou contorcendo os lábios.

    — Você tem, mas infelizmente apenas duas. — Tyx disse encarando o jovem.

    “Merda…” Black encarou suas mãos, o leve vermelho de seu sangue se assemelhava ao cor do LED daquela algema, ele sentia-se mais confortável, mas mantinha os braços próximos um do outro como se ainda estivesse preso. 

    — Certo… eu vou com você… — disse Black, levantando a cabeça e fechando os punhos.

    — Perfeito. — Tyx abriu um sorriso de canto de boca. — Então vamos, tenho que apresentar você a algumas pessoas.

    — Ei… Tyx não é? — Black o interrompeu, levantando a cabeça com um olhar inseguro.

    — Sim?

    — Eu ainda sou um prisioneiro? — Black questionou com um olhar incisivo.

    — Você é convidado. — Tyx respondeu. — Nada mais, nada menos.

    Black encarou a figura que seguiu em frente no corredor, então olhou para trás, encarando a lajota quebrada no chão, então suspirando e seguindo a figura de sobretudo.

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