Karoline recuava com suas mãos trêmulas; não havia mais chamas ao seu redor, apesar do brilho ainda presente em suas pupilas. Ela estava com os dentes cerrados e o olho esquerdo roxo, e seu lábio inferior levemente inchado. Os três Clones andavam lentamente em sua direção, coordenadamente.

    — Isso já está ficando feio para o meu lado, por que não desiste logo?

    Desta vez, apenas o Clone do meio respondeu; ele não mantinha mais o sorriso, agora sua expressão parecia levemente desconfortável.

    — Cala a boca… — a voz exaurida escapou dos lábios de Karoline, enquanto ela tentava manter a estabilidade.

    O Clone central suspirou e negou com a cabeça, em seguida cruzando os braços.

    — Reconheça seu limite, princesa; não é vergonha saber quando parar… — em meio à sua fala, os olhos dos três Clones se arregalaram, e então dois deles se desfizeram naquele líquido, e apenas o central se manteve.

    Karoline recuou, mas em seguida olhou para a cena com um olhar de estranhamento; então, ela ouviu a voz de Demian no fone em seu ouvido, com latidos de um cachorro.

    ‘Cof… Droga… Capitã Nepotismo! Preciso da sua ajuda agora! Eu estou com o cachorro…’

    Os olhos dela se arregalaram enquanto um leve sorriso surgiu em seus lábios; em seguida, ela respirou fundo e pressionou o fone.

    — Ele conseguiu…? — Karoline disse com clara surpresa em seu semblante.

    ‘Ah, merda…’

    Demian estava ajoelhado, claramente se recuperando da queda do andar acima; ele segurava o cachorro em seus braços. O teto acima dele estava com um buraco em cima de si e outro mais adiante, mostrando as duas pernas do Criador Noturno. O jovem se deparou com o verdadeiro Clone, que estava sentado, agora o encarando por cima dos ombros.

    — Ora, ora, quem diria que teríamos um visitante indesejado — o Clone disse enquanto se levantava; seus olhos continuavam cintilando enquanto duas cópias de si se formavam ao seu lado.

    Demian contraiu seus músculos faciais com nojo ao notar como as cópias do Clone eram formadas: um líquido mucoso era expelido de sua pele e até mesmo atravessava suas roupas, já tomando forma mesmo antes de ser expelido completamente; então, no fim, estavam lá: mais dois Clones.

    — Que merda é essa!? Você consegue se multiplicar!? — Demian recuou até finalmente se encontrar com a parede. — Vocês são todos trapaceiros!

    — Vocês nem sequer trocaram informações sobre quem estavam enfrentando? — o Clone cujas pupilas continuavam a cintilar discursou. — É difícil imaginar que vocês chegaram até aqui.

    O Criador Noturno finalmente caiu do teto, apoiando-se com as mãos no chão ao atingi-lo. Ele levantou a cabeça e encarou Demian; então, suas pupilas também cintilaram, e o concreto nas pontas de seus dedos foi danificado. Demian notou que o chão tremeu levemente em seus pés; quando ele olhou ao redor, rapidamente barras negras e reforçadas atravessaram o chão e a parede atrás do jovem, entrelaçando-se entre si, criando uma grande jaula que prendeu Demian.

    — Já chega de fugir, moleque… — o Criador Noturno disse com uma entonação séria.

    Demian cerrou os dentes, encarando os indivíduos à sua frente; rapidamente, ele pressionou o fone em seu ouvido enquanto tentava manter o cachorro que latia em seu outro braço.

    ‘Capitã, é sério, eu preciso de uma ajudinha aqui o mais rápido possível! Eu estou com o refém!’ 

    Karoline franziu o cenho ao olhar em direção da construção, mas antes de ela reagir, o Clone restante logo começou a falar.

    — Não importa se ele está com o cachorro! No fim, se você retornar ao ponto inicial com ele sem desarmar a bomba, vocês falham no teste! — o Clone restante levantou a voz, abrindo novamente um leve sorriso em seu rosto e se aproximando mais da jovem. — E você não está em condições de desarmar essa bomba, e eu vou me certificar que você não consiga fazer isso.

    Karoline encarou o chão com os dentes cerrados e fechando os punhos com força; em seguida, pressionou o botão de seu fone.

    — Não há o que fazer, Demian, eu não vou conseguir desarmar… — Karoline sussurrou com a voz cansada.

    ‘Quem pediu para você desarmar algo!? Tá achando que o mundo gira ao seu redor e que somente você tem a solução!?’

    Karoline franziu o cenho e comprimiu os lábios, claramente demonstrando irritação.

    ‘Eu não disse isso!’

    — Mas você pensou… — Demian disse enquanto encarava o Criador Noturno que se aproximava da jaula.

    ‘Chega! O que você quer que eu faça!?’

    — Preciso que você voe e pegue o refém e o leve seja lá para onde for preciso levar. — Demian sussurrou, olhando para o cachorro que o encarava assustado. — Você tem dois minutos…

    ‘Demian, eu… acho que não…’

    — Conto com você! — Demian disse ao pegar o fone e o guardar no bolso de sua calça.

    O Criador Noturno e dois Clones se aproximavam dele e o encaravam através da jaula.

    — Já chega, moleque, me dê agora o refém — o Clone da direita tocou no ombro do Criador Noturno e passou por ele.

     Este, porém, o segurou pelo antebraço, encarando-o com o cenho franzido.

    — O que você pensa que está fazendo?

    — Garantindo que você não faça mais besteirinhas. — o Clone do lado direito do Criador Noturno respondeu.

    — Afinal, você já teve duas chances de capturar esse moleque franzino e falhou. — o Clone da esquerda também passou pelo Criador Noturno, que enrugou o nariz.

    — Vai se ferrar… — o Criador Noturno chacoalhou o ombro para retirar as mãos dos Clones de si.

    — Perder para um adolescente que ainda por cima é um ajudante especialista é no mínimo…

    — Patético, não acha? Hahaha!

    Os dois Clones à frente do Criador Noturno olharam um para o outro e falaram de forma gozada.

    — É sério isso? — o Criador Noturno olhou para trás em direção do Clone verdadeiro, cujos olhos cintilavam. 

    Este apenas deu de ombros, forçando um sorriso desconcertado ao colocar novamente os óculos escuros.

    — Não leve para o pessoal, estes dois aí são muito maldosos — o Clone verdadeiro respondeu ajustando os óculos em seu rosto com um sorriso alinhado.

    — Vamos, moleque, me entregue logo. — disse o Clone da direita de Demian.

    — Como eu vou entregar algo para você? — Demian respondeu com os olhos firmes. — Você percebe que tem uma jaula me prendendo.

    — Tem como abrir esse negócio? — o Clone da esquerda olhou para o Criador Noturno. 

    Este focou seu olhar na jaula; seus olhos ainda se mantinham cintilantes. 

    Então, o barulho das barras em frente à jaula se movendo pôde ser ouvido por todo o ambiente, um som de metal retorcido; em seguida, a frente dela estava aberta por completo.

    Um Clone se aproximou de Demian, estendendo a mão e encarando os olhos do jovem. Este respirou fundo, segurando o cachorro com ambas as mãos e o erguendo lentamente.

    — Isso mesmo, bem devagar… — o Clone da direita estava com um sorriso em seu rosto.

    Demian continuou levantando o cachorro em direção do Clone próximo a ele, o animal uivou e a luz piscante do colete preso a ele apagou completamente.

    — Como quiser! — Demian exclamou

    Seu cenho se franziu e ele puxou o cão para si com a mão esquerda e agarrou a mão do Clone com a sua mão direita com firmeza. 

    Rapidamente, listras negras percorreram o braço do Clone que Demian tocou; ele tentou recuar, entretanto, seu braço quebrou como se fosse gesso, se despedaçando em pó quando atingiu o chão. As listras se estenderam até o seu ombro, e essa parte de seu corpo se tornou esbranquiçada; em seguida, caindo e se tornando pó no chão. 

    — O que é isso!? — exclamou o verdadeiro Clone, que pareceu demonstrar uma leve dor de cabeça. — O que você fez!?

    Todos ficaram surpresos, inclusive Demian, que recuou por um instante, mas logo avançou com um golpe de ombro, usando o corpo para gerar impacto no Clone mais próximo — que já não parecia estar sob o controle do Clone verdadeiro — e o derrubou. Em seguida, ele olhou para a janela à direita e correu em sua direção.

    O outro Clone, ainda intacto, tentou alcançá-lo, mas mal conseguiu apenas agarrar a roupa do garoto, que se impulsionou com um pulo em direção à janela. 

    Ele tocou a janela primeiro com a perna direita, mas, quando estava prestes a avançar com a esquerda, ouviu-se o som do ar sendo cortado — um chicote negro atingiu sua perna, enrolando-se nela e fazendo-o perder o equilíbrio, ficando com parte do corpo para fora da construção e quase deixando o cachorro cair.

    O Criador Noturno segurava o chicote com a mão direita, impedindo o avanço de Demian, que lutava para que o cão não escapasse, afinal este não parava de se contorcer. O clone verdadeiro cerrou os dentes, avançou em direção à janela e fixou o olhar no Criador Noturno.

    — Puxe ele agora!

    O Criador Noturno tentou acatar a ordem, puxando Demian com as duas mãos, porém não conseguiu porque a perna direita de Demian estava forçando sua saída pela janela. Ele gemia de dor por conta de sua perna, que estava sendo apertada fortemente, então ele olhou para o lado de fora em direção aos morros.

    — Nós ganhamos! — Demian exclamou. 

    Mesmo com uma expressão de dor, ele forçou um sorriso e arremessou o cão para fora da construção.

    — Não!

    O Clone verdadeiro avançou pela janela, empurrando Demian, que se desequilibrou completamente, ficando pendurado de cabeça para baixo no lado de fora. 

    Ele pulou, encarando o cachorro que estava em pleno ar,  estendendo seus braços que cada vez mais se aproximavam do pequeno cachorro, que agora estava começando a cair em direção ao chão.

    O Clone estava prestes a alcançar — já havia um sorriso aberto em seu rosto, entretanto, muito antes do cachorro atingir o chão, uma figura flamejante passou voando em sua frente, assegurando o cão em pleno ar. Ele tentou alcançá-la com seus braços, porém ela se distanciou dele rapidamente.

    — Termine com isso! — Demian gritou, estava pendurado de ponta-cabeça com clara expressão de dor e segurando o chicote com ambas as mãos.

    O Clone atingiu finalmente o chão rolando nele para amortecer o impacto, ele levantou a cabeça e viu que as chamas partiram em direção de uma das saídas. Ele então correu com rapidez em direção dela, seguindo o rastro de fumaça no ar.

    Enquanto corria, ele retirou uma bola negra do bolso de sua calça, passando por um morro até finalmente conseguir ver Karoline bem em frente ao portão de saída do teste.

    — Acabou princesa! — o Clone disse com um sorriso ofegante.

    A jovem segurava o cão e aparentemente estava analisando os cabos e os componentes do colete do cão que agora estava mais calmo. A chegada do homem a interrompeu, agora ela segurava o pequeno cachorro contra seu peito, ofegante e visivelmente exausta.

    — Se você apenas sair do teste sem desarmar a bomba, você vai falhar… — os dedos do Clone forçavam a bola negra em sua mão e ele forçava um sorriso. — Você vai ter que parar e eu vou terminar isso…

    A jovem não respondeu, recuando até finalmente ficar um passo da porta que levava para fora da área do teste.

    — Tenho que admitir que vocês performaram melhor do que eu imaginava, mas acabou. — o Clone se aproximava lentamente, agora descartando a bola negra no chão e estendendo a mão direita. — Me entregue o refém!

    Karoline fechou os olhos, claramente preocupada em sua expressão, até o momento que ela abriu os olhos e engoliu em seco.

    — Tem certeza…? — a voz esgotada saiu da boca da garota, ela estava claramente insegura, olhando para a direita onde estava o fone em seu ouvido.

    — Você não vai fazer isso… — ele disse se preparando para correr em direção de onde a chama pousou. — Se fizer vai falhar…

    A jovem relutou, mas enfim concordou com a cabeça.

    — Eu não vou perder para vocês! — o Clone gritou ao avançar em direção da garota.

    Ela o encarou por um momento, em seguida fechando os olhos com força ao dar um passo para trás para fora da arena. Por pouco, o Clone não a alcançou, e ele apesar de sorrir, estava franzindo o cenho.

    — Sua idiota… — sua voz carregava claro descontentamento. — Parabéns, você acabou de matar o refém…

    Ele encarava os vários telões que estavam posicionados sobre a arena em meio a sua fala, levantando os braços e demonstrando com as mãos levantadas.

    Estes então se ascenderam, mostrando a cor verde por toda a extremidade superior da arena. O Clone arregalou os olhos, cerrou os dentes, abaixando lentamente os braços.

    — Não… — ele parecia incrédulo ao olhar para os telões. — Isso é impossível…

    O Clone parecia tentar compreender, mas seus olhos vagueavam novamente olhando para as telas verdes para conferir se estava enganado. Até que finalmente ele explodiu.

    — Mas que droga!

    Demian estava com um dedo sobre o fone novamente em seu ouvido e deixou escapar um sorriso cansado, relaxando o corpo quando olhou para as telas no teto. 

    — Vocês me devem uma…

    Mesmo de ponta cabeça, ele olhou para a direção dos destroços onde ele estava anteriormente e percebeu que ainda havia comoção ali.

    Black desferiu um soco direto em direção do Esmagador, este, porém, realizou uma esquiva pendular, segurando o pulso e o ombro de Black e o arremessando em uma parede que quebrou com facilidade quando foi atingida.

    O Esmagador estava coberto de suor, sua respiração agitada e sua pele estava roxa em diversas partes, principalmente nos braços, peitoral e no rosto.

    Black rapidamente se levantou, armando os braços novamente em frente ao seu rosto; ele estava com os olhos bem abertos, desta vez com o rosto focado e sem demonstrar emoções. Ele estava no mesmo estado, porém sua respiração agora estava calma, suas pupilas completamente dilatadas, escondendo praticamente todo o amarelo de seus olhos.

    O Esmagador olhou para cima, notando os telões verdes; ele deixou escapar um sorriso, passando a mão sobre a testa.

    — É Black, parece que vocês conseguiram… — ele disse, retomando seu olhar para o jovem à sua frente.

    — Não! — a resposta de Black foi áspera e rápida; ele fechou os punhos e encarou os olhos do Esmagador. — Ainda não acabou.

    — Você precisa disso, não é? — o Esmagador contraiu os lábios e encarou os olhos do jovem.

    Black apenas assentiu com a cabeça, deixando o ar escapar de seus pulmões.

    — Certo, garoto, vamos terminar logo com isso; eu vou com tudo e espero que você faça o mesmo!

    “É isso! Finalmente eu sei que consigo me controlar!”

    Seu coração se acalmou; Black ainda conseguia ouvir o zunido, como se nada mais existisse ao seu redor, apenas ele e seu oponente.

    “Agora eu sei que consigo fazer mais que isso…”

    Ele respirou fundo, levantando o pé lentamente para avançar e viu que o Esmagador fazia o mesmo. A cada passo dado, ele sentia seus músculos se contraindo, seus punhos se cerrando com mais força e o suor ficava para trás por conta do atrito com o ar.

    “Eu não vou mais perder o controle!”

    As pupilas de Black aos poucos se contraíam, e o amarelo opaco de seus olhos aos poucos se tornava mais vívido.

    “É agora!”

    O Esmagador avançou com a intenção de realizar um soco cruzado, porém ele puxou demais o braço direito para trás e Black notou isso. Em sua visão estavam apenas ele e o Esmagador, e a escuridão ao redor dos dois.

    Ele abaixou cuidadosamente a cabeça, inclinando o corpo para baixo em diagonal, realizando uma esquiva pendular. O golpe do Esmagador não acertou Black por centímetros, tocando apenas seu cabelo.

    Black preparou seu punho direito, focando toda sua força e olhando abaixo do peito e em cima da barriga de seu oponente.

    “Eu consegui!”

    O grito de Black ecoou apenas seus próprios ouvidos; então, o golpe foi desferido com uma força descomunal, atingindo em cheio o esôfago, gerando um som de impacto muito alto. As pupilas do Esmagador pararam de brilhar instantaneamente, e de sua boca sangue foi expelido.

    Black lentamente abriu um sorriso em seu rosto, seus olhos agora com aquela coloração vívida. Seu coração batia cada vez mais rápido, enquanto ele ainda forçava seu punho em direção de seu obstáculo.

    Então, novamente, escuridão.

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