Demian se escondia entre os pequenos morros de terra atrás da construção, observando cautelosamente o ponto mais iluminado. Após alguns segundos, notou a chegada do homem com as duas lâminas negras, que examinava os arredores com um dedo no ouvido.

    – Então, para onde ele foi? – disse o Criador Noturno ao se aproximar da construção, fitando os possíveis locais onde alguém poderia estar escondido.

    Demian abaixou a cabeça, deitando-se no morro com as sobrancelhas franzidas enquanto suspirava. Retirou o fone do ouvido, aproximou-o da boca, apertou o botão e sussurrou: – Onde vocês estão? Estou atrás da construção, acho que vou precisar de apoio para entrar…

    Em seguida, colocou novamente o fone no ouvido, tentando escutar algo; no entanto, o aparelho permaneceu mudo o tempo todo.

    – Manter comunicação é o cacete… – expressou Demian em um sussurro, negando com a cabeça e escorando-a no monte de terra.

    – Como assim você o perdeu? Eu espalhei vidro por toda a droga da arena como você pediu!

    Os olhos de Demian se arregalaram e ele se escorou completamente ao ouvir a voz do Criador Noturno se aproximando dele.

    – Que se dane o que o Clone vai pensar de você. Por que você quer impressionar esse cara mesmo? Ele não passa de um tapado…

    Demian levantou uma sobrancelha e cerrou levemente os olhos enquanto ouvia as palavras do Criador Noturno que se aproximava cada vez mais.

    – Escuta…

    O Criador Noturno disse ao apoiar o pé sobre o morro onde Demian estava escorado. Alguns filetes de terra caíram sobre seu cabelo; por conta disso, ele tentou se escorar ainda mais, prendendo a respiração e fechando os olhos.

    – Dá para parar de falar por um segundo…? – a voz entediada do Criador Noturno era evidente, especialmente porque ele passava a mão sobre o rosto com a cabeça inclinada para trás. – Tá vendo? Por isso que eu não gosto de trabalhar com você; tenho certeza de que você está olhando mais para o Clone do que para o espelho!

    Demian prendeu a respiração, agora abrindo os olhos e olhando levemente para cima, movendo apenas os olhos.

    – Agora é minha culpa? Com tanto vidro que eu espalhei, você deveria ser capaz de ver até fora desta maldita arena!

    Demian arregalou os olhos em realização e semicerraram-se. Suas bochechas já estavam ficando vermelhas por conta do fôlego preso.

    – É, vou encontrar ele sozinho mesmo; não preciso da sua ajuda! – disse o Criador Noturno, dando um chute na terra que caiu sobre Demian e virando as costas para o morro. – E pode ter certeza de que o Clone vai ficar impressionado com você; afinal, vai ser difícil ele ignorar essa sua testa de para-raios!

    Demian fez uma expressão confusa e deu de ombros enquanto mal conseguia prender a respiração. Quando ouviu a voz se afastar mais, deixou escapar o ar que estava preso, retomando a respiração e limpando a terra que havia caído em seu cabelo.

    – Então alguém pode nos ver através do vidro… – sussurrou Demian para si mesmo. Em seguida, retirou o fone do ouvido, pressionou o botão e sussurrou nele: ‘Pessoal, o que eu vi no vidro não era um fantasma; acho que tem alguém capaz de ver através dos vidros…’

    Karoline defletia um chute com o antebraço esquerdo, rangendo os dentes enquanto preparava um ataque com o punho direito. Porém, antes que seu ataque fosse desferido, recebeu uma rasteira por trás que acertou sua perna direita, fazendo-a perder o equilíbrio.

    – Foco no combate, princesa! – disseram ambos os Clones, prestes a desferir um golpe com o punho direito.

    Ela seria atingida dos dois lados ao mesmo tempo; entretanto, no momento em que se desequilibrou, o brilho em suas pupilas cintilou ainda mais. Então uma enorme bola de fogo se formou ao seu redor; porém não rapidamente o suficiente. Os Clones desistiram do ataque e se afastaram velozmente.

    O fogo se expandiu e rapidamente subiu, transformando-se em fumaça. Karoline encontrava-se de joelhos, levantando os olhos para ver que ambos os Clones estavam a certa distância dela, mas intactos. O brilho em seus olhos deixou de cintilar enquanto tentava retomar o fôlego com os punhos fechados no chão.

    ‘Acho que consigo entrar na construção e procurar o refém; conto com vocês para continuarem chamando a atenção dos instrutores…’

    Karoline suspirou ao ouvir a voz de Demian em seu ouvido e abriu um sorriso cansado, apertando o botão em seu ouvido enquanto se levantava. O suor finalmente aparente unia alguns fios de cabelo em sua testa e algumas partes de seu rosto estavam roxas devido aos golpes recebidos.

    – Certo… – sussurrou ela com a voz cansada, passando as mãos pelo rosto e limpando-o. – Acho que só resta colocar em prática o plano F…

    – Por que não se rende logo, princesa? Já está ficando feio ver você nessa situação… – disse o Clone à frente dela.

    – O que você está murmurando aí? – questionou o Clone atrás dela. – Já encontramos seus colegas; acha mesmo que ainda é capaz de fazer algo?

    Karoline cuspiu saliva misturada com sangue e virou-se de lado para conseguir ver ambos os Clones. Fechando os punhos com força e franzindo os cenhos, novamente os brilhos em suas pupilas cintilaram; porém desta vez mais fraco e constante.

    – Só tem uma coisa para fazer agora… – respondeu Karoline encarando a construção ao centro da arena enquanto se rodeava de chamas.

    – Te garanto que tentar voar até o centro é uma ideia idiota – disse o Clone que anteriormente estava atrás dela ao retirar uma bola negra do bolso da calça. – Não sou fã do estilo do cara, mas é a vantagem de ter alguém como ele por perto…

    – Eu prefiro tentar! – gritou a jovem criando enormes chamas que espalhavam fumaça diante de seus pés, lentamente impulsionando sua figura para cima.

    Rapidamente a figura em chamas saiu do chão como um foguete levantando voo.

    – Garotinha idiota! – gritou o Clone avançando à frente para criar mais força no arremesso da bola negra.

    Quando foi arremessada, a bola se abriu no ar mostrando-se como uma enorme rede de captura formada por fios negros. A rede avançou rapidamente; porém quando entrou em contato com a figura ascendente, atravessou-a e esta se desfez em fumaça.

    O Clone arregalou os olhos e ao olhar para baixo viu uma mão aberta se aproximar em meio à fumaça em direção ao seu rosto; atrás da mão estava Karoline com dois pontos cintilantes azul claro nos olhos.

    – Te peguei… – disse a jovem com os olhos fixos à sua frente e a palma da mão aberta.

    Quando o Clone à sua frente expressou surpresa em seu semblante, o ar à frente da mão da jovem rapidamente se encandeceu e uma enorme explosão de fogo foi desferida, engolindo completamente o Clone.

    Através da fumaça, o último Clone restante aplaudia enquanto a visão da garota lentamente se revelava; ela se virava devagar para encará-lo.

    Ele sorria apenas com metade do rosto, enquanto o outro lado de sua face permanecia sério.

    – Meus parabéns… – disse ele, com uma raiva contida em seu tom de voz. – Você me pegou…

    O verdadeiro Clone dentro da construção estava com o punho completamente fechado, os olhos cerrados e os lábios levemente arqueados para baixo. Ele abriu os olhos e olhou para a mulher de vestido branco atrás dele.

    – Vidro, minha querida, você ainda tem conhecimento da localização de todos os alunos? – questionou com seriedade, suas pupilas brilhando de forma constante.

    A mulher estava focada no espelho à sua frente, com as pupilas brilhando em vermelho, tocando-o gentilmente com os dedos. Porém, ao ouvir a voz do homem, rapidamente perdeu o foco. Desviou o olhar e retraiu as mãos, ajustando o cabelo na testa e corando levemente as bochechas.

    – Hm, sim… A Chama Escarlate está com você, aquele Black está com o Esmagador na clareira e… – respondeu ela, passando a mão pelo cabelo e tentando olhar na direção do homem sentado, mas sempre desviando o olhar. – Meu irmão está cuidando do último.

    – Bom… – respondeu o Clone quase instantaneamente, voltando seu rosto para frente. – Querida, poderia verificar como está nosso adorável refém?

    – Claro! Se isso te deixar feliz! – ela respondeu rapidamente, levantando-se com um enorme sorriso que quase ocultava sua expressão cansada. – Quer dizer… Claro, já estou indo!

    – Isso vai me deixar muito feliz. – disse o Clone com um belo sorriso. – Obrigado, querida.

    Ela rapidamente se dirigiu para a porta que levava a um corredor, com as bochechas coradas e um sorriso de orelha a orelha, saltitando. Ao sair pelo corredor pequeno e iluminado apenas por uma única lâmpada no centro da parede, havia espaço apenas para as escadas em suas extremidades: à esquerda levava ao andar superior e à direita ao inferior. Ela passou pela porta cantarolando e se dirigiu rapidamente para a esquerda.

    Demian estava agachado ao lado direito da porta, com o ouvido esquerdo escorado na parede. Assustou-se ao ver a mulher de vestido branco saltitar até o final do corredor e caiu sentado, tapando a boca com os olhos arregalados. Ela parou de repente.

    – Ah merda… – sussurrou Demian para si mesmo, contraindo as sobrancelhas e cerrando os dentes.

    Mas ela prosseguiu pelo caminho e virou à direita, subindo a escada oculta pela parede.

    O jovem suspirou com uma mão sobre o peito e logo voltou a se agachar, lentamente escorando-se na parede e olhando para dentro da porta pela qual a mulher saiu. O que conseguia ver era apenas uma parte da enorme sala iluminada por uma única lâmpada no centro. O piso era de concreto como todo o resto da construção e no centro havia um homem sentado sobre um pano no chão, de costas para a porta.

    Ele encarou o homem sentado, fechou um punho, mas logo balançou a cabeça e seguiu com passos leves pelo mesmo caminho que a mulher havia tomado.

    Enquanto caminhava, aproximou novamente o fone da boca, sussurrando enquanto espiava a escada que levava ao andar superior e encarava a escuridão:

    ‘Estou me aproximando do refém e há dois divergentes aqui; um está vestido diferente dos outros; ele está de terno…’

    Black ouvia aquele zunido novamente; porém desta vez era diferente: parecia contido e constante, seguindo as batidas de seu coração como um plano de fundo. Ele se afastou rapidamente para desviar de um gancho executado pelo punho direito do Esmagador; o suor escorria enquanto ele cerrava os dentes ao notar que o Esmagador firmou os pés no chão e preparou um soco direto em sua direção.

    “Que desgraçado rápido…”

    Black juntou os braços em frente ao rosto; porém o golpe atingiu seu peito. O alto som do impacto reverberou pelo local enquanto Black capotou pelo chão por alguns metros.

    ‘Conto com vocês para me ajudarem a escapar quando eu assegurar o refém; estou seguindo a especialista deles acredito eu; ela não parece ser forte então vou lidar com ela…’

    Black estava ofegante no chão e retirou o fone do ouvido, arremessando-o para longe. Sentou-se no chão e olhou para o Esmagador que gesticulou com o queixo para que ele se levantasse.

    “Eu não vou conseguir focar com essa merda no meu ouvido…”

    Ele colocou a mão no chão para se levantar; suas mãos tremiam e seus músculos se contraíam. Seu coração palpitava rapidamente e em seu rosto surgia um leve sorriso torto.

    “E eu não quero perder…”

    Estufando o peito, ele se pôs de pé; as pupilas dilatadas quase ocultavam o amarelo de seus olhos.

    “Mas por que estou me sentindo tão bem? Fazia tempo que não me sentia assim…”

    Seus dedos se abriam e fechavam enquanto sua respiração permanecia acelerada.

    “Mas preciso manter a cabeça fria; já percebi que ele foca mais meu lado esquerdo; tenho que encontrar uma forma de contra-atacar.”

    O Esmagador começou a se mover ao redor de Black, saltitando em passos rápidos e coordenados que pareciam uma dança; sua postura de combate mantinha-se em ritmo constante.

    – E então Black, como é o gosto da terra? – disse o Esmagador com um sorriso, respirando apenas pelas narinas. – Eu sei que você consegue fazer melhor que isso; vamos!

    – Sabe, se isso tivesse acontecido algum tempo atrás eu estaria preocupado… – disse Black encarando sua própria mão.

    – O que quer dizer? – questionou o Esmagador diminuindo o ritmo.

    – Esse sentimento… Essa energia; eu costumava ter medo de perder o controle. – Black disse com um leve sorriso torto, agora abrindo um sorriso aberto. – Agora me sinto diferente…

    – Se sente no controle? – perguntou o Esmagador agora apenas movendo lentamente os punhos.

    – Não… Eu sei que não estou no controle. – respondeu Black com um sorriso confiante. – Mas agora estou aprendendo a lidar com isso.

    O Esmagador riu, perdendo a postura por um momento. Black cuspiu no chão enquanto levantava novamente os punhos, flexionando os joelhos e tentando imitar os movimentos realizados pelo Esmagador.

    – Isso! Você deve fazer assim: meio passo para frente e meio passo para trás. – disse o Esmagador demonstrando a movimentação ao avançar para frente e para trás com os pés. – Esse é o básico do boxe: um oponente em movimento é mais difícil de prever do que um parado.

    “Tenho que me adaptar…”

    Os movimentos de Black ainda eram travados; porém aos poucos ele conseguia se mover mais suavemente.

    – Isso! Bom! É desse jeito mesmo; agora isso aqui é essencial: se chama defesa pêndulo. – O Esmagador disse movendo o tronco e mexendo a cabeça em formato de meio círculo enquanto flexionava os joelhos.

    Black tentou realizar o movimento movendo apenas a cabeça e se abaixando levemente.

    – Não, Tá errado! – exclamou o Esmagador realizando novamente o movimento. – Tem que abaixar o tronco, flexionar levemente os joelhos; sua cabeça tem que ser como um pêndulo.

    Black acenou positivamente com a cabeça, abaixando mais o tronco enquanto flexionava os joelhos e baixava a cabeça seguindo o movimento como demonstrado.

    – Boa moleque! É isso aí! – disse o Esmagador aplaudindo antes de fechar os punhos e avançar em movimento pêndulo para atacar. – Agora vamos ver o que você aprendeu!

    “Aprender, adaptar e superar!”

    Black se movimentava como ensinado, agora com um sorriso no rosto e os olhos focados em seu adversário que avançava em sua direção.

    Demian subia a escada estreita lentamente, apoiando a mão esquerda na parede, respirando de forma contida e com os olhos fixos no caminho à frente. Ao chegar ao fim da escada, deparou-se com um corredor escuro, parcialmente iluminado pela luz branca que vinha da única porta à direita. Ele se aproximou da parede e se esgueirou lentamente, observando sutilmente o que havia dentro da sala.

    – Você também acha que ele gosta de mim, não é? – Demian ouviu a voz animada da mulher de vestido branco e deixou escapar uma expressão de estranheza. Notou que ela estava agachada, balançando levemente a cabeça de forma divertida e mexendo as mãos.

    Demian respirou fundo, focando seu olhar na grande sala vazia, que contava apenas com duas janelas nas laterais. Logo voltou sua atenção para a mulher, que começou a rir contidamente.

    – Como podem pedir para usar uma coisa fofa como você como refém? Eu quero te levar para minha casa! – A mulher abraçou um pequeno cachorro marrom com orelhas caídas, colocando-o em seu ombro esquerdo. Demian arregalou os olhos e se retraiu, escorando-se na parede com o corpo inteiro, os olhos estreitos e os lábios levemente arqueados.

    – Não… o cachorro não pode ser o refém, não é? – ele sussurrou para si mesmo, em seguida olhando novamente para a sala.

    Percebeu que a mulher estava esfregando o rosto no cachorro que a lambia. Desta vez notou que o animal usava um peitoral preto que cobria quase todo seu torso, e nele conseguiu perceber alguns fios coloridos.

    Então retirou novamente o fone e sussurrou próximo dele:

    ‘Eu encontrei o refém… mas é um cachorrinho e ele está com alguma coisa com fios no peito.’

    Karoline caminhava em direção ao último Clone restante; porém ao ouvir no fone a voz de Demian, parou e involuntariamente sussurrou: – Um cachorro?

    O Clone, que estava com uma postura ereta, levantou uma sobrancelha ao ouvir as palavras proferidas pela jovem.

    – Então alguém já descobriu quem é nosso adorável refém… – disse ele passando uma mão sobre o cabelo com um leve sorriso no rosto. – É uma lástima; eu queria acabar com isso antes que vocês descobrissem.

    Karoline estalou a língua, fechando os punhos e apoiando o pé direito no chão ao abaixar sua postura, com o braço direito mais abaixo e o esquerdo mais acima.

    – Você parece muito confiante para alguém cujos planos não estão indo como esperado. – respondeu Karoline com as pupilas cintilando levemente. – Agora só falta uma cópia e você está fora.

    – É o que você acha? – ele questionou com um sorriso de deboche enquanto abria os braços e mais dois clones foram formados. – As estatísticas não estão mais a seu favor…

    – Seu safado! – Karoline exclamou recuando com os dentes cerrados e encarando os três Clones. – Você disse que não iria mais se multiplicar!

    – Princesa, você é quem tem que seguir as regras aqui; hoje eu sou um Divergente. – respondeu apenas o Clone central; os outros dois apenas se apoiaram em seus ombros com os cotovelos, um de cada lado. – Meu objetivo aqui é fazer você entender que lá fora não existem contratos ou regras; as palavras são jogadas ao vento…

    Karoline franzia os cenhos enquanto recuava, observando que os dois novos Clones começaram a andar lentamente em sua direção.

    – De qualquer forma, sua missão não é apenas resgatar o refém. – disse o Clone central. – Você também tem que desarmar a “bomba” que está presa nele; este é o elemento surpresa.

    Karoline arregalou os olhos brevemente e logo voltou a ranger os dentes.

    – E nós sabemos que a única capaz de desarmar a bomba está bem aqui. – O Clone principal se expressou com um sorriso. – Então sim, estou confiante porque tudo está ocorrendo como planejado.

    – E agora? – disse o Clone à esquerda, começando a rodeá-la pelo lado em que se encontrava.

    – Como vai lidar com a situação? – perguntou o da direita, fazendo o mesmo pelo seu respectivo lado.

    – Vamos ver do que você é capaz! – exclamou o Clone do centro enquanto avançava em direção à jovem.

    Chamas novamente surgiram ao redor de Karoline; porém desta vez era notável que o fogo estava em menor intensidade, apenas circulando próximo de seus punhos.

    Demian segurava o fone em seu ouvido enquanto observava a mulher no interior da sala, claramente desconfortável enquanto mordia os lábios inferiores.

    – Por que esses idiotas não respondem? – murmurou para si mesmo, tentando ouvir algo; porém nenhum som vinha do fone. – Que se dane; então vou fazer do meu jeito…

    Ele lentamente adentrou a sala; com passos leves dirigiu-se em direção à mulher agachada próxima da parede. Ao alcançar o centro da sala, o cachorro que estava no ombro da mulher encarou-o e começou a rosnar em sua direção.

    – Eu estava me perguntando quanto tempo você iria ficar me espiando pela porta. – disse a mulher ao abaixar o cachorro e deixá-lo no chão; este ficou rosnando para Demian.

    – Vai me dizer que você sabia que eu estava aqui? – Demian questionou deixando de se esgueirar, claramente insatisfeito com sua voz.

    A mulher apenas concordou com a cabeça, sorrindo enquanto cruzava os braços.

    – Até parece! Você é a única mulher aqui; então eu sei que você consegue ver através dos vidros e não havia nada do tipo por aqui… – Demian disse com o queixo levemente levantado. – O que custa você admitir que soube da minha posição porque o cachorro…

    Enquanto Demian discursava, a mulher simplesmente retirou um EPIC de um bolso do vestido, tocou na tela enquanto suspirava e depois mostrou a imagem para ele. A tela mostrava um vídeo de Demian adentrando a construção em repetição.

    O jovem parou de falar e colocou uma mão sobre a testa contraindo todos os músculos faciais.

    – Ah… A câmera… – disse Demian fechando os olhos.

    – Éééé… A câmera. – respondeu a mulher concordando enquanto gesticulava com o celular na mão.

    – Por que vocês têm acesso às câmeras!? – questionou Demian indignado. – Isso é trapaça!

    A mulher deu apenas de ombros, mantendo um leve sorriso torto no rosto. Demian suspirou e logo retomou sua compostura, olhando para suas costas e abrindo um sorriso torto também.

    – De qualquer forma, tanto faz; o que importa é que não tem ninguém aqui para te defender. – disse Demian estendendo a mão direita em direção à mulher. – E você vai passar o cachorro… quer dizer, o refém para mim…

    A mulher riu levemente consigo mesma negando com a cabeça. Demian desviava seu olhar coçando a parte de trás da cabeça, claramente desconcertado.

    – O que era para ser isso? – disse ela se agachando e fazendo carinho no cachorro enquanto ignorava Demian. – Não acredito que meu irmão conseguiu ser enganado por um garotinho igual você…

    – Garotinho…? – Demian questionou levantando uma sobrancelha. – Escuta aqui: se você não me passar o refém agora…

    – O que você acha que vai fazer? Afinal você nem sequer está em vantagem. – respondeu ela cortando as palavras de Demian. – Não é maninho? Você acha que ele vai conseguir fazer alguma coisa?

    – Já falei para você não me chamar assim!

    Demian rapidamente virou-se e notou que o Criador Noturno estava escorado na porta com os braços cruzados. Cerrou os dentes e franziu os cenhos, divergindo seu olhar entre os dois indivíduos.

    – Vamos te dar uma chance garoto; se você quiser pode se render agora… – disse o Criador Noturno adentrando a sala.

    Demian abaixou a cabeça estalando a língua; porém seus olhos se focaram no cachorro. Todos seus dedos se esticaram enquanto ele se preparava para avançar em direção à mulher, que levemente arregalou os olhos em reação.

    – Que se dane! – exclamou Demian avançando rapidamente, deixando o chão abaixo de si com algumas rachaduras. – Eu não tenho nada a perder!

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