Capítulo 2
— Guten Morgen, Black! — a mulher perguntou ao se colocar atrás de Black e batendo levemente em ambos os ombros dele, com um sorriso nos lábios suavemente pintados de vermelho. — Dormiu bem?
O jovem a observou com os olhos e concordou com a cabeça enquanto ela retornava e se sentava à sua frente na mesa.
— Gútem… Mornen…? — Black tentou imitar o mesmo sotaque de Emma, semicerrando os olhos em direção à moça sentada à sua frente. — O que é isso? É russo?
Ela o encarou e seus lábios se curvaram em um bico de insatisfação.
— É alemão bobinho… você deveria saber a língua principal de sua instrutora preferida! — ela respondeu virando o rosto e fechando os olhos, apontando seu bico para o lado e cruzando os braços, mantendo a coluna firme. — Sabe, desse jeito estou vendo que vou ter que te reprovar…
“Me pergunto o que ela quer… eu nunca a vi por aqui. Na verdade, eu não vejo ninguém aqui nesse horário…”
Black não respondeu; apenas manteve uma sobrancelha levantada. Ela lentamente abriu um olho e, ao notar a reação do jovem, suspirou enquanto ajeitava o cabelo em frente ao rosto.
— Por que não funciona com você? Todos os meus outros alunos até me trazem doces quando eu os ameaço… — ela reclamou apoiando o rosto nas mãos com uma expressão de tédio que não durou muito quando viu a bandeja de comida. — Nossa! Você consegue comer tudo isso? Que apetite em!
Ela disse enquanto pegava uma batata frita da refeição do jovem e mordia metade dela — contraindo involuntariamente os músculos do rosto e negou levemente com a cabeça, colocando o restante de volta no prato dele.
— Como você consegue comer isto?
Ela perguntou enquanto engolia com o rosto contraído e os lábios arqueados para baixo.
“De certa forma é até bom que ela esteja aqui; o jeito dela pode me ajudar a agir normalmente, eu não posso esquecer que estou sendo observado a todo momento.”
— Eu preciso de bastante energia para o dia a dia. — Black respondeu pegando a batata que a moça à sua frente deixou em seu prato e comendo-a. — Eu pensei que todos os aprimorados comessem bastante.
— Imagina! Nós seríamos o problema da nação se esse fosse o caso! — Ela respondeu em tom cômico e com olhos alegres. — A realidade é que depende bastante de pessoa para pessoa; mas a maioria apenas precisa de um pouco mais de energia do que um adulto comum.
“Ela está aqui apenas para conversar? Tudo bem; talvez se eu conversar um pouco com ela consiga descobrir algo.”
— E você? Quanto você come?
— Hmm? Por que o interesse? Está pensando em me convidar para um encontro? — Emma questionou com um sorriso provocador, demonstrando uma expressão brincalhona enquanto gesticulava com uma mão. — Eu gosto bastante de Schnitzel, é melhor você anotar! Mas é uma pena para você que eu não saio com meus alunos.
“O que tem de errado com ela?”
— Você sabe que eu sou praticamente um prisioneiro, não é? — Black respondeu suspirando e fechando levemente os punhos. — Eu nem sequer posso sair daqui, seja lá onde estamos…
A mulher desfez seu sorriso e contorceu levemente os lábios, encolhendo sua postura e desviando o olhar.
— Sei que isso não deve estar sendo fácil para você…
“Eu não posso descontar isso nela… a última coisa que preciso é que eles desconfiem de mim e querendo ou não ela sempre me tratou bem… mas no momento preciso de informações.”
Black respirou fundo, olhando brevemente para o objeto oval e em seguida abrindo um leve sorriso no canto da boca.
— Mudando de assunto, eu estava imaginando algo que lembre ter visto algum professor mencionar: existe uma forma de identificar aprimorados através de uma escala, não é?
A expressão da mulher mudou para um leve sorriso.
— Sim; chama-se Índice de Variação de Poder.
— Como é feita a identificação? Através das cores que brilham nas pupilas?
— Sim; Alpha é vermelho, Beta é laranja, Gamma é amarelo, Delta é amarelo-claro, Épsilon é branco e Zeta é azul-claro — ela respondeu apoiando o rosto em uma das mãos.
“No meu sonho consegui ver um brilho alaranjado; então ela era uma aprimorada de nível Beta…?”
Black manteve-se pensativo até que a mulher à sua frente o encarou com uma expressão curiosa.
— O que foi?
— Huh? — Black deu de ombros, sendo retirado de seus pensamentos.
— Você pareceu estar pensando em algo. — Emma disse semicerrar os olhos.
— Ah… é que lembro ter visto isso em alguma lição, mas não entendi muito bem. — Black expressou coçando levemente a parte de trás da cabeça com um sorriso forçado.
A mulher à sua frente sorriu enquanto estufava o peito com as mãos na cintura.
— Então deixe que sua instrutora preferida te explique: em resumo, quando um aprimorado utiliza suas habilidades, um brilho de uma cor específica é emitido por suas pupilas. — ela explicou enquanto pegava outra batata frita e gesticulava com ela. — Um homem chamado Khalarran durante a segunda guerra decidiu criar uma tabela para classificar os aprimorados.
— Kalaran? — Black questionou tentando pronunciar o nome.
— Khalarran! — Emma corrigiu e então mordeu a batata novamente, fazendo a mesma expressão de desgosto. — Urgh… Então foi aí que surgiu o Índice de Variação de Poder ou IVP se você preferir.
— Mas… São sete índices na escala e você só mencionou seis.
De repente a mulher assumiu uma postura mais austera, batucando levemente os dedos sobre a mesa.
— Às vezes eu esqueço que você não é daqui… — Emma disse em tom sério, desviando levemente o olhar. — O último nível da escala foi descoberto há alguns anos; em 2010… Foi nomeado como Ômega e sua cor é azul…
“Eu nunca ouvi ela falar desse jeito; por que ficou assim?”
Black colocou ambas as mãos sobre a mesa, encarando a mulher que retornou o olhar com um leve sorriso forçado.
— Eu disse algo errado?
— Não é nada… É apenas uma cicatriz que ainda dói…
“Então até mesmo ela, que sempre está sorrindo e brincando, tem problemas em seu passado… eu não posso ficar no escuro; preciso tentar descobrir o que aconteceu no meu. Mas não posso fazer isso aqui.”
— Emma, você sabe quando vou conseguir sair daqui? Quero dizer, agindo como um Convergente. — Black questionou com seriedade no olhar.
— É Instrutora Emma! — a mulher respondeu ao apontar um dedo com uma mão e inflando as bochechas enquanto fazia um bico exagerado com a boca. — E sim; na verdade, é por isso que vim aqui…
— É sério!? — Black questionou apreensivo; o talher de plástico quebrou novamente em sua mão.
Emma riu enquanto Black pegava outro talher, desconcertado com o que fez.
— Tyx quer encontrar você hoje.
Black demonstrou surpresa por um momento, mas logo um leve sorriso apareceu no canto de sua boca.
“Já fazem meses; finalmente… desta vez vai ser diferente. Eu vou conseguir um jeito de sair mesmo que eu tenha que agir como um cão obediente…”
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