Capítulo 3
Black levantou-se rapidamente, colocando ambas as mãos sobre a mesa. Ele havia comido apenas metade da comida que estava na bandeja. Encarou Emma e franziu levemente o cenho; havia determinação em seu olhar.
— Eu vou imediatamente! Onde devo encontrá-lo?
— Vai com calma, tigrão. Você ainda tem tempo antes da reunião — Emma respondeu sinalizando a mão para ele se acalmar. — O Tyx nem sequer está presente no Iovem ainda.
Black comprimiu os lábios, mas concordou levemente com a cabeça, sentando-se novamente e encarando os talheres quebrados.
“Ela tem razão, eu tenho que me acalmar e vou precisar formar um plano.”
Ele levantou o olhar, encarando o objeto oval na parte superior do refeitório. A todo momento, era perceptível um brilho vermelho que piscava constantemente.
“Primeiro, vou ter que agir como um Convergente; afinal, eles certamente estão me observando de perto. Então, quando eu tiver uma oportunidade…”
— Está tudo bem com você? — Emma questionou, encarando Black diretamente nos olhos. — Você parece diferente hoje…
O sorriso de outrora e sua expressão corporal haviam mudado; não havia mais aquela leveza nas palavras.
— Ah, sim, claro… — Black respondeu, desviando o olhar da câmera e olhando para Emma.
— Você está diferente. Normalmente é bem sério, mas hoje até mesmo sorriu. — as palavras de Emma tinham uma entonação diferente da habitual; ela parecia sem emoção. — É estranho; afinal, eu não havia visto você sorrir nesses meses, nem mesmo um sorriso forçado como o de hoje…
“Droga, Emma estaria de olho em mim? Eu sabia que estaria sendo observado, mas não pela instrutora “legal”? Merda. Acho que baixei demais minha guarda.”
Black pegou os talheres de plástico com cuidado, tentando cortar um pedaço de ovo. Suas mãos tremiam enquanto tentava manter a delicadeza para não quebrar os talheres.
“Vou ter que improvisar.”
— Normalmente fico sozinho no refeitório, então é interessante ter companhia… — Black respondeu, encarando sua comida e tentando formar um sorriso em seu rosto.
— Hmm…
Emma continuava a encará-lo; sua expressão era uma incógnita. Diferente de antes, agora seu rosto estava completamente inexpressivo.
“Ela sabe que estou mentindo? Ela sabe como eu me comporto, afinal estava me observando de perto esse tempo todo.”
Black se manteve estático por um momento e então encarou Emma nos olhos, deixando a tentativa de sorriso de lado e segurando os talheres com firmeza.
“Então acho que não tenho outra escolha, talvez eu consiga deixar ela confusa da mesma maneira que eu me sinto.”
— Você já se sentiu perdida, Emma?
— Por que a pergunta? — Emma respondeu, apoiando o rosto sobre a mão e inclinando levemente a cabeça, mantendo seus olhos afiados.
— Você sabe como é se sentir como um animal raivoso? Como se tudo ao seu redor fosse uma jaula de contenção? — a voz de Black tomou um tom mais sério enquanto encarava os talheres que já demonstravam danos por conta da pressão dos seus dedos. — Sabe como é se sentir como uma ameaça para todos…?
— Eu sei.
“Huh?”
Black instantaneamente encarou Emma, que agora exibia um sorriso triste e estava levemente cabisbaixa.
— Sabe, Black, pode não parecer, mas tempos atrás o mundo me fez acreditar que eu era um monstro, — o rosto dela lentamente deslizava pela mão que apoiava seu rosto, demonstrando um sorriso melancólico. — mas aqui conheci pessoas que me mostraram que eu era muito mais do que o mundo pensava sobre mim.
Emma estendeu a mão e pegou o talher de plástico que Black havia quebrado anteriormente. Ele estava partido ao meio; metade dele era mantida apenas por uma fina camada de plástico.
Então, um leve brilho sobrenatural amarelo surgiu nas pupilas de Emma — uma forma escura emergiu da sombra sob o talher e pareceu saltar sobre ele, enrolando-se como fios de algodão até o cobrir completamente e transformá-lo em um talher completamente negro.
— Não sou sua inimiga, — ela disse oferecendo o talher negro a Black enquanto o brilho desaparecia de seus olhos. — apenas quero fazer por você o que um dia fizeram por mim.
O silêncio permaneceu por um momento enquanto Black encarava Emma, que se mantinha oferecendo o talher negro.
“Será que eu posso mesmo confiar nela?”
Black soltou o talher que estava segurando e levou cuidadosamente a mão em direção ao talher negro, hesitando inicialmente em pegá-lo. Mas quando olhou para Emma, com as pálpebras levemente caídas e aquele sorriso genuíno, decidiu aceitá-lo.
“Eu não sei, mas sinceramente eu estou cansado de estar sempre sozinho.”
Ele notou que o talher agora era resistente; não se quebrava quando ele o segurava. Então ficou levemente cabisbaixo.
— Eu lembrei de algo…
Emma abriu os olhos lentamente com curiosidade, mas manteve sua expressão facial.
— Você lembrou de algo sobre quem te capturou?
Black negou levemente com a cabeça, deixando o talher negro na bandeja e encarando sua mão direita, que se abria e fechava.
— Não, eu lembrei de alguém que acredito que estava comigo antes.
— Alguém que você conhece? — Emma questionou inclinando-se levemente para frente e observando a expressão de Black.
— Eu acho, não tenho certeza quem é, mas sinto que a conheço muito bem… — A voz de Black soou frustrada enquanto ele passou as mãos sobre a testa, pressionando os olhos.
Emma continuou olhando para o rapaz, descendo o olhar e acariciando sua própria mão ao ouvir suas palavras.
— Eu não sei por que não consigo lembrar… — ele disse, retirando as mãos dos olhos e olhando para Emma novamente, agora com um olhar determinado, fechando levemente os punhos. — Mas eu preciso encontrá-la. Eu prometi que… estaríamos juntos…
Emma encarou suas próprias mãos, passando o dedão esquerdo pelo meio da mão direita. Então, ela também fechou os punhos, respirou fundo e encarou Black.
— Vai dar tudo certo. Nós podemos te ajudar a encontrá-la quando você estiver melhor.
Black franziu o cenho, enrugando o nariz e cerrando os dentes.
— O que você quer dizer? Não tem nada de errado comigo! — Black respondeu, batendo ambos os punhos sobre a mesa. — Ela precisa da minha ajuda! Eu preciso encontrá-la!
Ele sentiu um leve zunido em seu ouvido, olhou ao redor e viu que alguns serventes recuaram com sua ação; todos saíram do refeitório em seguida. Emma, por outro lado, apenas parecia se compadecer com sua situação.
“Por que sou tão impotente!?”
A respiração de Black começou a acelerar; seus punhos lentamente começaram a entortar a mesa e o zunido ficou mais forte.
“Por que não consegui salvá-la!?”
— Black!
Ele retornou à realidade ao ouvir a voz exaltada de Emma, que o encarava com um olhar firme. Notando o que fez com a mesa, ele recuou a mão, agora trêmula, enquanto o zunido lentamente desaparecia.
— Eu preciso ajudá-la… — disse cabisbaixo e com a voz esgotada.
— E como pretende fazer isso!? Você mal consegue controlar suas próprias emoções e perde facilmente o controle! Tem que entender que não pode tomar decisões estúpidas! — pela primeira vez, Emma se exaltou, levantando-se ao apoiar as mãos sobre a mesa. — Você quer a ajudar!? Então ajude primeiramente a si mesmo!
Black também se levantou, apoiando os punhos sobre a mesa e encarando o rosto de Emma. — E o que acha que estou tentando fazer!?
Ele arremessou a bandeja de comida longe, ela atravessou a sala e bateu contra a parede do salão, criando um enorme barulho.
Então se virou de costas para Emma, encarando o chão enquanto negava com a cabeça.
— Eu estou tentando… Mas nem sequer sei por onde começar…
O silêncio tomou conta do salão. Black se mantinha estático; seus punhos tremiam e sua respiração estava acelerada. Emma olhou para o jovem, suspirou e sentou-se novamente, pegando um dos guardanapos que caíram da bandeja e limpando o leite espalhado sobre a mesa.
— Posso te contar uma história? — Emma disse em um tom que misturava melancolia com aceitação. — A história de como eu fui salva da pessoa que eu mais odiava… eu mesma…
Black encarou o chão, e o silêncio permaneceu até o momento que o jovem acenou positivamente com a cabeça, mas ainda se mantinha de costas para a Emma, que apenas sorriu e abriu os lábios.
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