Black, agora vestido com uma blusa preta e amarela, calças jeans e botas, encarava seu reflexo no vidro do elevador, que, no momento, não mostrava nada além da escuridão da transição do subterrâneo para a superfície.

    “Não vou negar que é bom usar uma roupa de verdade novamente…”

    Ele segurou e observou um crachá branco com listras azuis pendurado em seu pescoço, onde estava escrito ‘Acesso de Nível Dois’.

    “Finalmente vou encontrar o Tyx. Preciso mostrar a ele que já sou capaz de atuar como Convergente, mas tenho que manter em mente o que Emma disse.”

    Seus dedos deixaram o cartão cair sobre o peito enquanto ele suspirava e passava a mão pelo cabelo.

    “No final das contas, é verdade: eu preciso melhorar antes de tentar ajudar a mulher dos meus sonhos.”

    Ele encarou novamente o espelho, que mostrava levemente seu reflexo e seus olhos amarelados.

    Então, a escuridão foi rapidamente ofuscada pela luz do sol. À sua frente, ele conseguia ver o céu azul carregado de nuvens, os enormes arranha-céus e as ruas lotadas de pessoas.

    Black se aproximou do vidro, colocando uma mão sobre ele e encarando Nova Atlântida com um olhar determinado.

    “Eu vou conseguir!”

    A porta do elevador se abriu e Black se deparou com um corredor semelhante ao que já havia visto antes: o chão e as paredes eram brancos, com detalhes marrons nas laterais inferiores, exalando um cheiro de lavanda.

    “E pensar que já se passaram mais de três meses desde a última vez que andei por esse lugar. Pelo menos desta vez eu não estou com uma arma apontada na minha cabeça.”

    Ele respirou fundo, saiu do elevador e olhou ao redor; havia salas e quadros nas paredes do corredor, além de uma interseção que levava para a direita e para a esquerda.

    — A Emma disse que era a última sala no fim do corredor à esquerda… — Black sussurrou para si mesmo, olhando novamente para o cartão antes de seguir em frente.

    Ele caminhou observando curiosamente os quadros ao longo do caminho. Eram diversos, mas majoritariamente mostravam o que pareciam ser pontos de interesse de Nova Atlântida.

    Black admirou os quadros até ver um cuja foto parecia ter sido tirada durante o nascer do sol em um porto. Este chamou sua atenção, fazendo-o parar por um instante, mas logo prosseguiu em seu caminho para a esquerda. Quando virou a esquina, já conseguiu perceber alguém em frente à porta cinza no fim do corredor, que tinha a inscrição ‘Defensor Tyx’ acima dela.

    “Tyx? Não, ele é muito pequeno e magro para ser ele.”

    Black continuou andando, se aproximando lentamente da figura que parecia ser um jovem esguio e pálido. Seus cabelos eram pretos, longos e bagunçados. Ele estava vestido com um moletom preto, calças jeans rasgadas nos joelhos e um tênis preto e branco.

    — Por que eu sou obrigado a fazer isso? — a voz rouca de Demian soava inconformada enquanto ele batia levemente com o punho fechado na própria cabeça. — Isso é inútil! Por que ele me colocou nessa droga de equipe…?

    Black mal conseguiu ouvir e logo se aproximou mais, percebendo que o jovem esguio estava com os olhos fechados, negando levemente com a cabeça.

    “Ele está falando sozinho?”

    Black se manteve parado com uma sobrancelha levemente levantada, cruzando os braços próximo ao jovem que paralisou completamente.

    — Hey, essa é a sala do Tyx? — ele perguntou olhando para a porta do escritório à frente do jovem esguio.

    Demian não respondeu inicialmente; parecia tremer levemente enquanto tentava girar a cabeça para ver quem estava atrás dele sem mostrar seu rosto por completo. Mas rapidamente desistiu, colocando uma mão sobre a orelha direita e forçando uma risada.

    — Haha! Então é isso! Vou precisar desligar… — Demian disse com expressões corporais exageradas. — Pois é, sabe como é: não posso ficar falando no fone sem fio… porque… é isso. Tchau!

    Ele continuou com sua risada forçada por mais um momento enquanto ainda encarava a porta.

    “Estranho…”

    Black limpou a garganta para chamar a atenção, colocando um punho fechado sobre a boca.

    — Ah, foi mal! Eu não… — Demian virou-se; seus olhos se surpreenderam ao notar o tamanho de Black enquanto levantava o rosto para encará-lo.

    Sua surpresa, entretanto, não durou muito; deu um passo para trás, franzindo levemente as sobrancelhas.

    — Esta é a sala do Tyx? — Black descruzou os braços e apontou com a cabeça para a porta.

    — Você não sabe ler? — o jovem esguio questionou com um sorriso torto, apontando com a cabeça para cima onde estava a inscrição.

    “Desgra… não… isso não vai me irritar, vou apenas seguir e ignorar.”

    — Então…? — Black disse mais uma vez limpando a garganta e gesticulando com a cabeça para o lado, insinuando que o jovem saísse da frente da porta.

    — Tá com algum problema na garganta ou no pescoço? — Demian respondeu sarcasticamente enquanto encarava Black.

    Uma veia pulsou na testa de Black enquanto suas sobrancelhas arquearam.

    — Cara! Vai entrar na droga da porta!?

    — Não, sabe como é: meu hobby é ficar encarando portas… — o jovem respondeu dando de ombros com um sorriso torto.

    — Então sai da droga do caminho! — Black exclamou agarrando o colarinho de Demian e levantando-o até o deixar nas pontas dos pés.

    Demian abandonou o sorriso e adotou uma expressão séria, mas Black conseguiu perceber que ele estava tremendo levemente.

    — É melhor você me soltar… — Demian respondeu com uma entonação fraca enquanto encarava Black nos olhos.

    “Não… ele não merece isso.”

    Black fechou os olhos e suspirou, abrindo a mão e soltando o jovem, que rapidamente se afastou colocando a mão próxima ao pescoço. Então, a porta se abriu revelando Tyx, que estava sem a parte inferior da máscara. Ele observou os dois alternando o olhar entre eles.

    — O que estão fazendo? — Tyx perguntou encarando ambos em frente à porta.

    Black e Demian se olharam por um momento, ambos demonstrando uma expressão nada amigável.

    “Merda! Se o Tyx descobrir o que quase aconteceu… Eu preciso arranjar uma desculpa.”

    — Err… Sabe…

    Quando Black estava prestes a falar, Demian suspirou encarando Tyx com seus olhos cansados.

    — Nada de mais… eu só estava explicando para ele que essa era sua sala já que parecia que ele estava te procurando. — respondeu Demian com desinteresse. 

    “Por que ele não disse nada? Bom… não importa, ele me deu a desculpa que eu precisava.”

    — É, foi isso mesmo. — Black respondeu, forçando um sorriso. — A Emma disse que queria conversar comigo.

    Tyx se retirou da frente da porta, abrindo espaço para ambos.

    — De fato, entrem e sentem-se.

    Demian foi à frente, encarando Black sutilmente com as pálpebras levemente caídas.

    “Então ele está aqui para ver o Tyx também? Ele não parece ser um aprimorado.”

    Black adentrou por último, observando o local por completo. A sala era espaçosa, mas vazia; contava com um enorme tapete que ocultava majoritariamente a lajota branca. No centro, havia uma grande escrivaninha de PVC com um computador sobre ela, uma cadeira de escritório confortável e quatro poltronas em frente. Atrás da escrivaninha, uma enorme janela estava oculta por persianas.

    Quando ambos entraram, uma garota ruiva de olhos verdes e pele clara que estava sentada em uma das poltronas se levantou, virando-se em direção a todos. Ela estava vestida com uma blusa rosa ombro a ombro, um top preto por baixo da blusa, calça jeans azul e tênis branco e rosa. Seu cabelo estava preso em duas tranças e as pontas tinham formato de baby liss, com mechas lisas caindo sobre seu rosto.

    — Olá, Black e Demian, correto? É um prazer conhecê-los! – ela disse com um belo sorriso no rosto. — Meu nome é Karoline, mas vocês podem me reconhecer como Chama Escarlate.

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