Capítulo 5
Black, agora vestido com uma blusa preta e amarela, calças jeans e botas, encarava seu reflexo no vidro do elevador, que, no momento, não mostrava nada além da escuridão da transição do subterrâneo para a superfície.
“Não vou negar que é bom usar uma roupa de verdade novamente…”
Ele segurou e observou um crachá branco com listras azuis pendurado em seu pescoço, onde estava escrito ‘Acesso de Nível Dois’.
“Finalmente vou encontrar o Tyx. Preciso mostrar a ele que já sou capaz de atuar como Convergente, mas tenho que manter em mente o que Emma disse.”
Seus dedos deixaram o cartão cair sobre o peito enquanto ele suspirava e passava a mão pelo cabelo.
“No final das contas, é verdade: eu preciso melhorar antes de tentar ajudar a mulher dos meus sonhos.”
Ele encarou novamente o espelho, que mostrava levemente seu reflexo e seus olhos amarelados.
Então, a escuridão foi rapidamente ofuscada pela luz do sol. À sua frente, ele conseguia ver o céu azul carregado de nuvens, os enormes arranha-céus e as ruas lotadas de pessoas.
Black se aproximou do vidro, colocando uma mão sobre ele e encarando Nova Atlântida com um olhar determinado.
“Eu vou conseguir!”
A porta do elevador se abriu e Black se deparou com um corredor semelhante ao que já havia visto antes: o chão e as paredes eram brancos, com detalhes marrons nas laterais inferiores, exalando um cheiro de lavanda.
“E pensar que já se passaram mais de três meses desde a última vez que andei por esse lugar. Pelo menos desta vez eu não estou com uma arma apontada na minha cabeça.”
Ele respirou fundo, saiu do elevador e olhou ao redor; havia salas e quadros nas paredes do corredor, além de uma interseção que levava para a direita e para a esquerda.
— A Emma disse que era a última sala no fim do corredor à esquerda… — Black sussurrou para si mesmo, olhando novamente para o cartão antes de seguir em frente.
Ele caminhou observando curiosamente os quadros ao longo do caminho. Eram diversos, mas majoritariamente mostravam o que pareciam ser pontos de interesse de Nova Atlântida.
Black admirou os quadros até ver um cuja foto parecia ter sido tirada durante o nascer do sol em um porto. Este chamou sua atenção, fazendo-o parar por um instante, mas logo prosseguiu em seu caminho para a esquerda. Quando virou a esquina, já conseguiu perceber alguém em frente à porta cinza no fim do corredor, que tinha a inscrição ‘Defensor Tyx’ acima dela.
“Tyx? Não, ele é muito pequeno e magro para ser ele.”
Black continuou andando, se aproximando lentamente da figura que parecia ser um jovem esguio e pálido. Seus cabelos eram pretos, longos e bagunçados. Ele estava vestido com um moletom preto, calças jeans rasgadas nos joelhos e um tênis preto e branco.
— Por que eu sou obrigado a fazer isso? — a voz rouca de Demian soava inconformada enquanto ele batia levemente com o punho fechado na própria cabeça. — Isso é inútil! Por que ele me colocou nessa droga de equipe…?
Black mal conseguiu ouvir e logo se aproximou mais, percebendo que o jovem esguio estava com os olhos fechados, negando levemente com a cabeça.
“Ele está falando sozinho?”
Black se manteve parado com uma sobrancelha levemente levantada, cruzando os braços próximo ao jovem que paralisou completamente.
— Hey, essa é a sala do Tyx? — ele perguntou olhando para a porta do escritório à frente do jovem esguio.
Demian não respondeu inicialmente; parecia tremer levemente enquanto tentava girar a cabeça para ver quem estava atrás dele sem mostrar seu rosto por completo. Mas rapidamente desistiu, colocando uma mão sobre a orelha direita e forçando uma risada.
— Haha! Então é isso! Vou precisar desligar… — Demian disse com expressões corporais exageradas. — Pois é, sabe como é: não posso ficar falando no fone sem fio… porque… é isso. Tchau!
Ele continuou com sua risada forçada por mais um momento enquanto ainda encarava a porta.
“Estranho…”
Black limpou a garganta para chamar a atenção, colocando um punho fechado sobre a boca.
— Ah, foi mal! Eu não… — Demian virou-se; seus olhos se surpreenderam ao notar o tamanho de Black enquanto levantava o rosto para encará-lo.
Sua surpresa, entretanto, não durou muito; deu um passo para trás, franzindo levemente as sobrancelhas.
— Esta é a sala do Tyx? — Black descruzou os braços e apontou com a cabeça para a porta.
— Você não sabe ler? — o jovem esguio questionou com um sorriso torto, apontando com a cabeça para cima onde estava a inscrição.
“Desgra… não… isso não vai me irritar, vou apenas seguir e ignorar.”
— Então…? — Black disse mais uma vez limpando a garganta e gesticulando com a cabeça para o lado, insinuando que o jovem saísse da frente da porta.
— Tá com algum problema na garganta ou no pescoço? — Demian respondeu sarcasticamente enquanto encarava Black.
Uma veia pulsou na testa de Black enquanto suas sobrancelhas arquearam.
— Cara! Vai entrar na droga da porta!?
— Não, sabe como é: meu hobby é ficar encarando portas… — o jovem respondeu dando de ombros com um sorriso torto.
— Então sai da droga do caminho! — Black exclamou agarrando o colarinho de Demian e levantando-o até o deixar nas pontas dos pés.
Demian abandonou o sorriso e adotou uma expressão séria, mas Black conseguiu perceber que ele estava tremendo levemente.
— É melhor você me soltar… — Demian respondeu com uma entonação fraca enquanto encarava Black nos olhos.
“Não… ele não merece isso.”
Black fechou os olhos e suspirou, abrindo a mão e soltando o jovem, que rapidamente se afastou colocando a mão próxima ao pescoço. Então, a porta se abriu revelando Tyx, que estava sem a parte inferior da máscara. Ele observou os dois alternando o olhar entre eles.
— O que estão fazendo? — Tyx perguntou encarando ambos em frente à porta.
Black e Demian se olharam por um momento, ambos demonstrando uma expressão nada amigável.
“Merda! Se o Tyx descobrir o que quase aconteceu… Eu preciso arranjar uma desculpa.”
— Err… Sabe…
Quando Black estava prestes a falar, Demian suspirou encarando Tyx com seus olhos cansados.
— Nada de mais… eu só estava explicando para ele que essa era sua sala já que parecia que ele estava te procurando. — respondeu Demian com desinteresse.
“Por que ele não disse nada? Bom… não importa, ele me deu a desculpa que eu precisava.”
— É, foi isso mesmo. — Black respondeu, forçando um sorriso. — A Emma disse que queria conversar comigo.
Tyx se retirou da frente da porta, abrindo espaço para ambos.
— De fato, entrem e sentem-se.
Demian foi à frente, encarando Black sutilmente com as pálpebras levemente caídas.
“Então ele está aqui para ver o Tyx também? Ele não parece ser um aprimorado.”
Black adentrou por último, observando o local por completo. A sala era espaçosa, mas vazia; contava com um enorme tapete que ocultava majoritariamente a lajota branca. No centro, havia uma grande escrivaninha de PVC com um computador sobre ela, uma cadeira de escritório confortável e quatro poltronas em frente. Atrás da escrivaninha, uma enorme janela estava oculta por persianas.
Quando ambos entraram, uma garota ruiva de olhos verdes e pele clara que estava sentada em uma das poltronas se levantou, virando-se em direção a todos. Ela estava vestida com uma blusa rosa ombro a ombro, um top preto por baixo da blusa, calça jeans azul e tênis branco e rosa. Seu cabelo estava preso em duas tranças e as pontas tinham formato de baby liss, com mechas lisas caindo sobre seu rosto.
— Olá, Black e Demian, correto? É um prazer conhecê-los! – ela disse com um belo sorriso no rosto. — Meu nome é Karoline, mas vocês podem me reconhecer como Chama Escarlate.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.