“Haidar…”

    Seus punhos, que estavam presos por uma algema negra e ainda manchados em vermelho, se abriam e fechavam constantemente; seu olhar parecia perdido, encarando o único foco de luz no teto branco. 

    “Esse era o nome dele, eu lembro! Ele estava lá comigo, ele também queria salvar ela…”

    Ele estava sentado — escorado em uma parede de um quarto completamente branco onde havia apenas uma cama metálica com um colchão fino e no teto uma luz tão forte que parecia projetar sombras tão escuras quanto aquele branco proeminente.

    “Mas o que aconteceu? De alguma forma eu consegui fugir, será que ele também conseguiu? Será que ele fugiu com ela?”

    Black sentiu como se algo arranhasse seu cérebro, ele fechou os olhos em resposta. Mas não era apenas a dor, mas também imagens vinham em sua memória, agora de forma mais clara.

    “Eu tenho que descobrir o que aconteceu…”

    Agora ele encarava suas mãos, misturando a poeira com o sangue que ele ainda conseguia sentir entre seus dedos.

    — Merda… 

    “Eu tenho o direito de me preocupar com isso agora?”

    Seus olhos amarelos refletiam a superfície avermelhada em suas mãos.

    “Bobby, será que eu o…”

    Sua garganta se fechou e ele respirou fundo, fechando firmemente os punhos.

    “Não, ele deve estar bem… não é? Droga, isso não deveria ter acontecido… Se eu não tivesse me forçado…”

    Black encarou a algema em seu pulso sem sequer tentar forçá-la. Sua expressão demostrava claramente remorso enquanto ele encarava a única porta — ela não tinha fechadura e se encaixava perfeitamente na parede, com nenhum milimetro sequer de diferença. 

    Do outro lado da porta estavam: O Criador Noturno, de olhos fechados, braços cruzados e escorado próximo à porta que continha um leitor ao seu lado direito e abaixo do leitor, uma placa de metal. A Vidro estava no lado oposto, encarando o Criador Noturno, também de braços cruzados, como se estivesse a escondê-los, e com um semblante preocupado.

    Ambos estavam em um corredor com diversas portas semelhantes a esta, mas todas elas contavam com uma luz indicara em verde, com exceção da que eles estavam em frente.

    O silêncio era constante, até que foi interrompido pelo Clone que passou correndo de uma intercessão de corredores, olhando em direção dos dois e seguindo em direção de ambos.

    Vidro tentou melhorar o semblante, se afastando da parede ao ver a chegada e cumprimentando o homem de terno que acabará de chegar com um aceno de mão.

    O Criador Noturno apenas abriu os olhos, demonstrando que suas pupilas cintilavam constantemente; ele apenas virou a cabeça em direção do Clone.

    — Então? Como ele está? — o Criador Noturno direcionou sua pergunta para o Clone.

    — Esta passando por uma cirurgia, pelo visto teve uma hemorragia interna, mas no momento ele está estável. — o Clone respondeu e em seguida encarou a porta. — E o moleque?

    — Na mesma… — o Criador Noturno respondeu sem muitos rodeios.

    Vidro lançou um olhar de reprovação em direção dele, e logo voltou se para o Clone, agora com um semblante mais amistoso.

    — Ele quer dizer que o garoto não está esboçando reação. — ela olhou em seu EPIC, mostrando imagens de Black através de uma câmera. — Ele só ficou sentado o tempo todo.

    — Isso é estranho, não acham? — o Clone olhou em direção da porta. 

    — O que, você? — o Criador Noturno respondeu com um sorriso torto e olhando para cima.

    Vidro se aproximou dele e o acertou com o cotovelo levemente, demonstrando um olhar de reprovação e grunhido.

    — Não, emo da terceira idade. — o Clone revirou os olhos, mas os manteve na porta. — Ele atacou o tal do Esmagador sem piedade, até resistiu nossa investida inicialmente, mas depois simplesmente aceitou ser rendido.

    — Foi realmente estranho, eu não ouvi, mas pelas câmeras eles pareciam estar lutando esportivamente. — Vidro respondeu dando total atenção para o Clone.

    — Então, o “Chefão” falou pessoalmente comigo sobre isso. — o Clone respondeu sacando seu EPIC e acessando a câmera que mostrava Black. — Ele disse que esse moleque era perigoso, e que eu deveria reportar qualquer anomalia no teste.

    — Dois defensores envolvidos em uma equipe de ajudantes? — o Criador Noturno virou o rosto em direção do Clone, levantando uma sobrancelha. — Difícil de acreditar.

    — Você pode considerar três… — Vidro respondeu.

    Ambos encararam a Vidro, ela, por outro lado, encarou a porta.

    — Você ainda tem essa mania de ficar espiando os outros…? — o Criador Noturno questionou negando com a cabeça, olhando para o Clone com um sorriso no fim. — Fica esperto ao se trocar em frente a um espelho, podem ter espectadores indesejados…

    Vidro desferiu um tapa contra a cabeça do Criador Noturno, com seu rosto pálido completamente vermelho. 

    — Cala a boca, Maycon! — a Vidro demonstrou um punho fechado e uma expressão furiosa em direção do Criador Noturno, rapidamente mudando seu semblante ao falar com o Clone. — Eu sempre checo todo o local quando eu chego, não é nada estranho! E eu acabei vendo o Visionário com o Tyx.

    — Mas isso não deve ser nada estranho, não é incomum ver esses dois juntos… — o Criador Noturno respondeu massageando o local atingido de sua cabeça.

    O Clone ponderou por um momento se aproximando de Vidro, que se encolheu e engoliu em seco. Ele estendeu as mãos tocando nos braços pálidos da pequena mulher e os estendendo — ela inicialmente tentou recolher-lhos, mas o Clone firmou seu aperto, os mantendo expostos. 

    Seus vasos sanguíneos, artérias e veias eram visíveis através de sua pele, que ainda parecia levemente ressecada — como caminhos negros que percorriam seu interior. 

    — Dói? — o Clone questionou ao passar os dedos sobre a pele de Vidro.

    Ela umedeceu os lábios, unindo-os ao sentir o toque do Clone em sua pele; ela o encarou levemente cabisbaixa, enquanto sua face corava.

    — Não… — a voz mal saia de sua boca, ela desviava o olhar e suas mãos tremiam. — Já está melhorando, no início queimou e me deu uma fraqueza, mas agora está melhorando.

    O Clone encarava não a figura da mulher, mas sim parecia intrigado pelo efeito em sua pele. Ele sorriu, e por fim a encarou nos olhos.

    — Você vai melhorar princesa, afinal, você é incrível… — o Clone disse com um sorriso carismático no rosto. — Posso perguntar algo? Você serviria como testemunha por mim se necessário?

    O Criador Noturno inicialmente parecia enojado com a interação à sua frente, mas quando ouviu a última frase, ele se afastou da parede e se aproximou de ambos.

    — Qualquer coisa… — Vidro encantada respondeu rapidamente, mas ao perceber sua frase, ela tentou retomar a postura. — Cl… Claro sem problema!

    — Ei, que história é essa de testemunha? — o Criador Noturno questionou ao tocar no ombro do Clone e o afastar.

    O Clone soltou o braço de Vidro e encarou o irmão dela com um semblante enigmático — um meio sorriso, mas com olhos desafiantes.

    — Só estou cumprindo ordens amigo.

    — E o que minha irmã tem a ver com isso?

    Vidro estava escorada na parede, abraçando seus braços com um sorriso bobo no rosto.

    — Só o que posso dizer é que tem algo errado com essa equipe. — o Clone respondeu rebatendo a mão do homem pálido. — Mas para pensar, nunca vimos estes ajudantes e eu chequei a ficha deles, e não tem praticamente nada…

    — Isso tá me parecendo problema… — o Criador Noturno murmurou, como se chegasse a conclusão de algo. — É por isso que a divisão zero tem estado tão presente por aqui?

    — É bem provável, mas é nosso chamado, resolver problemas, é isso que um herói deve…

    — Besteira! — o Criador Noturno sussurrou de forma exaltada. — Olha, eu não dou a mínima no que você se mete, mas você não vai envolver minha irmã nessa bagunça!

    — Acho que ela é bem grandinha para tomar suas próprias decisões. — o Clone respondeu virando as costas para o Criador Noturno, se preparando para se retirar. — Mas não seu preocupe, aparentemente só quem vai ter problemas será o Tyx…

    — Como assim?

    — Você vai ter que esperar para ver…

    O Criador Noturno manteve o olhar desconfiado no Clone que caminhou no corredor para longe de ambos.

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