“Quanto tempo já faz?”

    Black estava escorado na parede, cabisbaixo e com os olhos fechados. Assim estava ele há algum tempo, sem emitir nenhum som, com apenas o barulho de sua respiração preenchendo o local.

    “Horas e até agora nada…”

    Ele encarou a porta, se aproximando dela com uma expressão de irritação e então olhou para a câmera no canto da sala, suspirando e sentando-se novamente.

    — Que merda…

    Ele falava consigo mesmo quando de repente seus olhos se abriram ao ouvir o som da porta se abrir; ele rapidamente olhou em sua direção, contorcendo levemente os lábios ao perceber uma presença adentrando a sala.

    — Olá garoto. 

    “Tyx?”

    Surpreso, ele ajustou a costa na parede e encarou a figura de sobretudo que adentrou a sala sondando-a com sua visão.

    — Espero que eles não tenham te tratado tão mal assim.

    — Tyx, o que está fazendo aqui? — Black olhava para trás de Tyx, se pondo de pé.

    — Apenas uma visitinha rápida, como você está garoto?

    Black desviou o olhar, com um olhar levemente frustrado.

    — Eu não queria fazer aquilo, eu achei que eu conseguiria controlar, mas eu…

    Tyx encarou o jovem que respondia com a voz ríspida e as mãos trêmulas, ele escondia o rosto, parecia um misto de vergonha, culpa e raiva.

    — O que aconteceu? — Tyx perguntou encarando o jovem, com um semblante levemente sério.

    — Eu perdi o controle, no início parecia que eu tinha tudo nas minhas mãos — Black disse com um breve tom de excitação, que logo perdeu, demonstrando agora frustração. — Mas, eu apaguei, não lembro de quase nada além do Bobby ensanguentado no chão.

    O homem de sobretudo desviou levemente o olhar, com uma mão no queixo e outra no quadril.

    — O que houve? — questionou Black ao encarar Tyx que virou as costas para ele.

    Tyx não respondeu, mantendo-se de costas para o jovem, até que ouviu o bip de seu relógio e a questão do jovem que veio no exato momento.

    — Tyx! Ele está bem?

    — Sim… — Tyx respondeu levantando seu olhar levemente entristecido, que mudou para um confiante quando ele virou para encarar Black. — O Bobby está bem, se é isso que te preocupa, relaxa.

    Black arregalou os olhos, agora mantendo um contato visual direto com Tyx.

    — Quer dizer que…

    — Sim, ele sofreu apenas contusões, nada que o tempo não cure — Tyx respondeu com um sorriso, reafirmando sua mão estendida. — Agora escute, eu preciso que você preste atenção.

    “Que cara durão, ele está bem… Eu não o matei…”

    Black suspirou aliviado, deixando escapar um sorriso e limpando finalmente o vermelho de suas mãos em suas calças.

    — As coisas agora vão ficar bem mais intensas. — Tyx disse ao indicar para Black se sentar na cama.

    — Eu fiz merda não foi? — Black sentou-se na cama que estralou toda a sua estrutura com o peso do jovem. — Estraguei tudo, faltava tão pouco e eu achei que poderia superar essa coisa.

    — O que você acha que te faz perder o controle?

    — Eu não sei, mas eu percebi que quando estou prestes a perder o controle, eu vejo imagens com formas estranhas.

    Tyx ponderou por um breve momento, escutando as palavras do jovem.

    — Mas desta vez eu lembrei de algo…

    Tyx arregalou seu olho ao ouvir o jovem, mas comprimiu os lábios ao ouvir mais um bipe de seu relógio.

    — Que… merda… — disse Tyx ao olhar rapidamente para seu relógio e em seguida para a câmera no canto da sala que piscava com aquela luz alaranjada. — Escuta, não temos tempo, agora eu preciso que você se foque no que vou te dizer.

    “Ele parece preocupado, está suando também, o que aconteceu?”

    Black encarou o homem de sobretudo com curiosidade, em seguida, novamente olhando para o lado de fora da porta.

    — O que está acontecendo?

    — Preciso que você diga que atacou Bobby por vontade própria.

    “O quê?”

    — Mas… eu perdi o controle, eu nem lembro direito o que aconteceu…

    — Você não pode falar isso! — Tyx respondeu olhando para trás, onde a porta estava aberta. — Escuta, a maioria das pessoas aqui te quer preso ou pior, então você tem que confiar em mim… não, você só pode confiar em mim!

    Black engoliu em seco, engolindo seus lábios e fechando os punhos.

    — Eu não tenho tempo, mas certamente haverá um julgamento, você DEVE se declarar culpado da acusação de agressão. — Tyx disse ao olhar novamente o relógio e estalar a língua. 

    “Ele diz que querem me prender e diz para me declarar culpado!?”

    — O que você está dizendo não faz o menor sentido! — Black respondeu levantando da cama, levemente irritado. — Quer que eu diga que quase matei um cara porque estava puto!?

    Tyx concordou com a cabeça de forma presunçosa.

    — Essa é uma boa, faça isso. — Tyx respondeu de forma sínica.

    — Vai se foder! — Black respondeu quase não acreditando na resposta.

    — Escuta, agora é sério, você tem que confiar em mim. — Tyx respondeu colocando sua mão no ombro direito de Black.

    — É meio difícil, do jeito que você está falando parece que quer que eu me atire em um abismo e confie que vou sobreviver simplesmente porque você disse!

    Tyx sorriu, firmando seu aperto no ombro do jovem.

    — Você não vai apenas sobreviver, vai ter a chance de ir atrás do que procura.

    Black arregalou os olhos, agora ele estava hesitante.

    “Ele está mentindo? Mas como isso seria possível?”

    — É sua escolha pular no abismo, mas você só vai ter essa chance… 

    Mais um bipe do relógio ecoou.

    “Merda, e se ele estiver falando a verdade? O que eu faço?”

    — É sua escolha garoto, ir atrás das pessoas que precisam da sua ajuda ou aguardar nas mãos das pessoas que fizeram você passar por tudo que passou…

    Black se colocou austero, seus punhos fecharam e ele encarou Tyx.

    — Você não pode me falar mais nada? Como isso vai funcionar?

    — Tudo que você precisa saber, é que vai dar tudo certo.

    — Quer que eu simplesmente faça o que você manda!?

    — Você acredita em Deus garoto? — perguntou Tyx.

    Black encarou o rosto de Tyx, principalmente a grande cicatriz em sua face e a falta de um olho.

    — Não faço ideia.

    — Seria mais fácil se acreditasse — Tyx respondeu dando dois tapas no ombro do jovem e se dirigindo para fora da cela. — Afinal, isso vai ser um salto de fé.

    — Espera, por que você não me deixa sair da cela com você?

    — Faz parte do plano.

    “Esse cara é um cretino.”

    — Minha única chance é? — Black disse para si mesmo, mas Tyx concordou com a cabeça ao ouvir.

    — A última chance… — Tyx murmurou para si ao se retirar da sala, prosseguindo encarando Black e respondendo a ele. — Conto com você garoto.

    Mais um bipe soou.

    “Eu não posso continuar preso, mas se ele estiver errado?”

    Black encarou Tyx com uma expressão conflitante, e então a porta se fechou e ele estava novamente sozinho naquela sala.

    “Droga, qual é a verdadeira intenção desse cara?”

    Black estalou a língua e passou as mãos por sua cabeça, por fim sentando naquela enorme, mas compacta cela branca.

    “Não faz sentido depois de tudo ele querer ferrar comigo, mas pedir para eu me declarar culpado…”

    Por fim, ele passou as mãos pelo rosto esticando a pele de seu rosto, até deixar seus olhos com uma expressão elétrica.

    “Arrgghh… Porra e agora!?”

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