Capítulo 59
Por fim, o último bipe ecoou e Tyx já se encontrava próximo aos elevadores, ele olhou para cima e notou que o brilho nas câmeras voltaram a ser vermelho.
Ele adentrou uma cabine e selecionou no visor qualquer número que o levasse para qualquer andar superior.
Quando as portas da cabine fecharam, ele suspirou pesadamente em alívio. Retirando o chapéu e passando uma mão sobre o rosto com um olhar cansado.
— Imagino quanto tempo irá levar?
Tyx murmurou para si ao olhar as câmeras que até mesmo na cabine do elevador se faziam presentes.
Ele se escorou no vidro onde detrás dele a escuridão do submundo o rodeava, e o único som presente era a melodia do elevador.
Fechando o olho, mas, ele estava claramente incomodado com aquele som banal; tão banal que jamais poderia ser sequer lembrado por alguém, mas mesmo assim, todos têm a sensação de já o terem ouvido.
Ele bufou, e apertou para parar na próxima estação.
Ao sair da cabine, ele estava no que parecia ser uma enorme varanda, não era um setor, mas sim um local aberto onde o ar áspero se fazia presente mesmo com todas as enormes máquinas que tratavam o oxigênio presentes.
A estação era onde os elevadores mudavam de rota, criando um sistema versátil onde um elevador poderia ir de um setor distante apenas mudando de trilha, que eram os cabos finíssimos, mas resistentes que eram responsáveis por erguer e descender as cabines.
Ele olhou ao redor, o grande local com máquinas de bebidas frias e quentes, o chão metálico e limpo e as luzes à distância que brilhavam sem descanso.
Tyx caminhou até uma máquina, o local estava literalmente vazio, e o único som era o das máquinas e maquinários que se alteravam constantemente, mas não eram altos, mas ainda podiam ser ouvidos.
Ele se aproximou de uma máquina, retirando seu EPIC e aproximando-o de um visor; ao se aproximar, a tela do EPIC acendeu, mostrando todas as bebidas disponíveis e ele selecionou a de pêssego.
Uma tela de pagamento aprovado apareceu em verde e o visor da máquina demonstrou para ele retirar a bebida no inferior.
Ele pegou a lata e caminhou pela enorme estação, se afastando dos elevadores e chegando perto de uma varanda aberta onde havia quiosques fechados e bancos vazios, até mesmo as propagandas em neon e hologramas não estavam presentes.
Caminhando lentamente, Tyx deixou seu chapéu sobre um banco vazio e se apoiou na varanda com os braços, abrindo a bebida e olhando para a escuridão.
Ele deixou a bebida no apoio da varanda e colocou a mão em um bolso, retirando uma moeda e a encarando.
— Eu lembro da primeira vez que te trouxe aqui.
Tyx disse com uma voz levemente animada, talvez forçada, mas ainda assim com um sorriso.
A moeda foi deixada ao lado da lata, e Tyx encarou o abismo.
— Eu achava esse lugar horrível, apenas vinha aqui quando não queria ninguém me enchendo o saco.
O homem de sobretudo massageou a mandíbula com um sorriso.
— Meu pequeno canto longe de tudo, apesar de odiar esse lugar, eu me sentia bem aqui.
Ele arrastava os dedos na superfície, agora sentindo as deformidades que o tempo causou no metal.
— E você insistia em dizer que era um lugar lindo, hahaha…
Quando seu olho se adaptou, ele finalmente conseguiu ver as enormes estruturas além das luzes, as enormes caixas e esferas presas por estruturas que levavam até a superfície, e os caminhos iluminados que assim como na cidade acima, pareciam veias percorrendo um enorme corpo. E o som dos maquinários não mais eram barulhos, mas talvez melodias.
— Do seu jeito, tudo era bem mais bonito.
A risada começou alta e foi diminuindo progressivamente, até se transformar em grunhidos.
— Eu sinto tanta sua falta…
Tyx mantinha as mãos abertas, pegando a lata e bebendo todo seu conteúdo de uma só vez, e amassando ao recipiente após bebê-lo.
— Como você gostava dessa porcaria…? Ninguém é perfeito, não é? Haha.
Ele acabou arremessando a garrafa no vazio da escuridão e então agarrou novamente a moeda e a encarou.
— E pensar que você ainda me deu a chance de te beijar e eu recusei haha… — ele sorriu e balançou a cabeça. — Ah, se arrependimento matasse…
Novamente ele olhou ao redor e ele conseguia ver algumas formas, como se estivesse olhando para um céu e encarando as nuvens.
— Como você conseguia ver um gato ali?
Ele entrelaçou os dedos, os unindo firmemente.
— Tudo passou tão rápido, às vezes eu me pego nem lembrando ao certo como era sua voz…
Ele arremessou a moeda para cima e a agarrou.
— E no fim eu sempre me culpei, eu deveria ter te protegido… — ele disse com uma voz cansada e um sorriso triste. — E no fim eu nem consegui te vingar…
Ele passou a moeda pelos dedos, a segurando com força no fim, até o ponto de tremer os dedos.
— Eu sei que você não iria querer isso, mas eu te disse que ninguém muda de verdade, as pessoas melhoram ou pioram…
Ele aproximou o punho fechado do seu rosto.
— Eu queria ser melhor, mas… já é hora de deixar você ir…
Ele abriu os dedos, e a moeda escorregou lentamente até a borda de sua mão.
— Sinto muito por tudo, eu vou sentir sua falta, até o fim…
Por fim, a moeda caiu de seus dedos, e em um rápido reflexo, ele tentou segurá-la, mas se conteve trazendo sua mão para si e assistindo à moeda desaparecer. Ele fechou o olho e respirou fundo, com a mão no peito, até que enfim encarou novamente a escuridão, e agora ele apenas conseguia ver o vasto vazio da escuridão e as melodias apenas se tornaram barulhos.
Ele se manteve no local, em silêncio, até que seu EPIC vibrou e ele sem muita vontade o alcançou em seu bolso, observando uma mensagem na tela.
‘Ele acordou.’
Seu olho se arregalou, e ele encarou novamente a escuridão, firmando seu aperto no apoio da varanda antes de finalmente o deixar ir e se retirar, e os barulhos continuavam, independente de tudo e a escuridão permeava o espaço, mesmo que a luz estivesse ali.

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