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Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina
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Capítulo 185 - Brindando com Fantasmas
O cenário ao redor era apocalíptico. Corpos estavam espalhados por toda parte, esmagados sob as pedras, suas mãos ou pés aparecendo entre os escombros como tristes lembranças da destruição.
A área central do reino não era mais uma cidade. Sendo anteriormente a conhecida pequena capital movimentada, agora não passava de ruínas. Não havia vida, não havia ordem. Apenas desolação.
Estranhamente, alguns poucos prédios ainda estavam de pé, intactos, fantasmas solitários em um cemitério de concreto com longas sombras que se projetavam em uma melancolia opressora.
— Vamos descer para a taverna — a voz de Ana quebrou o silêncio, trazendo um toque de comando ao ambiente.
Miguel e Alex não responderam. Apenas assentiram com a cabeça e seguiram em frente. Ninguém parecia disposto a conversar.
Com o passo apressado, não demorou para verem, ao longe, a praça central.
Lá, seu objetivo solitariamente se erguia.
Ou melhor, o que restava dele.
— Merda… — murmurou Ana, entre dentes, enquanto parava por um momento, analisando a cena. — A explosão não deveria ter chegado até aqui. No pior dos casos, vão estar todos mortos.
Sua voz saiu baixa, um murmúrio carregado não de emoção, mas de realidade. Não havia espaço para otimismo.
Ao seu lado, Alex fungou levemente, um som quase imperceptível. Não foi um questionamento, nem um protesto. Apenas uma aceitação silenciosa do que poderia encontrar.
Eles voltaram a andar.
E então, notaram movimento.
Pessoas. Dessa vez mais visíveis.
Pequenos pontos surgiam de todas as direções, figuras frágeis que pareciam vagar sem destino, suas silhuetas oscilando na poeira fina que se erguia com o vento.
Seus passos eram lentos, como se o peso da sobrevivência fosse mais cruel do que a própria morte.
O primeiro a se aproximar não disse nada.
Era uma mulher de estatura mediana, coberta de sujeira e sangue seco. Sua pele pálida, com um tom sutilmente azulado, denunciava sua origem corrompida. Seu cabelo, que um dia poderia ter sido vibrante, estava opaco, endurecido pela sujeira presente no ar, e sua expressão não carregava qualquer traço de orgulho ou identidade.
Ela apenas parou diante de Ana, se curvou, e esperou.
Não havia medo, nem palavras, nem qualquer pedido de ajuda. Apenas um gesto de reconhecimento.
Ana observou a cena por um momento, estudando sua postura, os ombros encurvados, as mãos trêmulas.
O que ela queria? Um comando? Perdão? Um propósito?
A rainha não sabia. Acenou para ela e seguiu em frente.
A mulher também seguiu.
E então, outros começaram a surgir.
Corrompidos. Mascarados. Até mesmo alguns puros.
Já não fazia mais diferença.
As distinções pareciam irrelevantes em meio a um mar de cadáveres.
Mesmo os membros das guildas, que antes defendiam suas ideologias com fervor, não tinham mais vontade de lutar.
Não havia mais sentido em lutar.
O silêncio era denso.
Alguns caminhavam com lágrimas nos olhos, mas não choravam abertamente.
Outros olhavam para o céu, como se tivessem perdido a razão de continuar.
Por vezes se ajoelhavam diante dos corpos, removendo as pedras com mãos fracas. Talvez estivessem se despedindo, ou tentando acreditar que ainda havia vida ali. Não diziam nada. Apenas limpavam o rosto de seus mortos, alisavam seus cabelos, fechavam seus olhos.
Outros poucos ainda buscavam sobreviventes que gritavam em seu último fôlego embaixo da terra, mas os milagres eram raros.
E assim, conforme Ana seguia em frente, quieta, o grupo foi crescendo.
De três, passaram a cinco.
De cinco, tornaram-se dez.
Dez se transformaram em vinte e cinco.
Mas eram poucos.
Em comparação ao que Insídia havia sido, esse número era insignificante.
Mas ninguém questionou isso.
Ninguém lamentou.
Eles apenas caminharam.
Nenhuma palavra foi dita. Apenas passos sobre as cinzas.
O som dos pés esmagando a poeira do que um dia foi um reino.
E então, Ana atravessou o arco da porta que já não existia.
Diante dela, a taverna.
A visão era incrível e trágica ao mesmo tempo.
Metade do prédio estava reduzida a escombros.
A estrutura, que antes havia sido o lar de conversas, risadas e planos de guerra, agora estava inclinada, suas paredes resistindo ao colapso com o que pareciam ser os últimos resquícios de força.
O teto estava em pedaços, algumas vigas ainda segurando um peso que não deveriam aguentar.
Uma das laterais havia desabado completamente, expondo o interior da taverna ao mundo como um livro aberto.
No entanto…
O resto ainda estava de pé.
As mesas e cadeiras, algumas tombadas e cobertas de poeira, ainda estavam lá.
As janelas, mesmo quebradas, ainda estavam lá.
O balcão, com rachaduras e pedaços faltando, ainda se erguia, resistente.
Era como se a taverna recusasse a se render completamente.
O último pedaço de Insídia que ainda se segurava na existência.
Ficou parada na entrada por um momento, sentindo sua mandíbula se contrair. Resmungou palavras inaudíveis e concentrou-se o máximo que pôde.
Suspirou quando finalmente os ouviu.
Eram murmúrios, muitos deles.
“Um peso a menos que terei que levar comigo.”
Afinal, eles estavam vivos.
O alívio, acompanhou um pequeno sorriso, e então, como se reagindo à sua chegada, Madame apareceu.
Ela vinha da parte de trás de um pequeno armazém lateral, equilibrando algumas canecas sujas em suas mãos calejadas. Seus passos eram pesados, mas seguros, como se o caos ao redor não tivesse abalado sua rotina de forma alguma.
Quando seus olhos encontraram os de Ana, não houve surpresa, nem saudação.
Ela simplesmente foi para trás do balcão, largou os utensílios com um baque abafado e pegou um pano, começando a limpar a louça como se fosse apenas mais um dia normal na taverna.
Ana caminhou até lá e se sentou.
As duas ficaram ali, quietas, e com a mesma tranquilidade de sempre, a taverneira pegou um copo lascado, preenchendo-o com um pequeno gole de cerveja.
— Infelizmente não sobrou muito, então só posso te dar esse tanto.
Ana sorriu e assentiu.
Levantou o copo, mas não bebeu de imediato. Primeiro, observou o ambiente ao seu redor.
Pela fresta da porta que separava o bar menor do refeitório, viu os sobreviventes de Insídia. Pareciam bem. Pelo menos, fisicamente.
O clima era pesado, mas não de desespero. Era um luto silencioso, honrado.
As pessoas se forçavam a sorrir.
Ninguém queria ser aquele que quebraria o momento.
Ninguém queria ser aquele que negaria o sacrifício dos que morreram para que estivessem ali.
Assim, se esforçavam para conter as lágrimas, para engolir o choro, para permanecerem de pé, como se quisessem respeitar aqueles que não tiveram a mesma sorte.
E, ainda assim, as crianças corriam.
Elas brincavam, entre as mesas, seus olhos brilhando com a inocência de quem ainda não entendia completamente o que havia sido perdido.
Ana não sabia se aquilo era um alívio ou um peso maior.
Talvez fosse os dois, pois mesmo em meio à dor, havia esperança no ar.
Pouco a pouco, mais guerreiros chegaram.
Se juntaram àqueles que já estavam ali, ocupando as mesas, os cantos, qualquer espaço disponível.
E foi nesse clima sombrio que todos receberam seu próprio gole de cerveja.
Mesmo os inimigos, aqueles que antes estariam em lados opostos da batalha, sentaram-se em silêncio, presos em seus próprios pesadelos.
Tirando a centena que já estava na taverna, quase quarenta novos sobreviventes haviam se juntado ao grupo.
Cassandra chegou por volta desse período.
Ana, ergueu os olhos, já esperando o confronto inevitável com a musculosa rainha mercenária.
A mulher a viu imediatamente.
Seus olhos escuros passaram por Ana e então pela sua máscara monocromática repousando no balcão.
Seu semblante brilhou com fúria, mas mal se passou um segundo antes que tal sentimento se dispersasse.
Cassandra não avançou, ao invés disso, seus olhos ficaram marejados. Apertou o jornal sujo de sangue em suas mãos, segurando-o com força, mas com estranha gentileza.
Não era preciso perguntar, Ana simplesmente entendeu.
Assim, sem seu energético espírito rotineiro, Cassandra apenas se afastou para um canto da taverna, se serviu e bebeu em silêncio.
Um sorriu resignado surgiu no rosto da rainha de Insídia, e por fim também bebeu seu único gole de cerveja.
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