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Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina
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Capítulo 189 - Onde Tudo Termina, Onde Tudo Começa
A porta deslizou para o lado com um sibilo suave, o som metálico ecoando fracamente pelo espaço.
Ana entrou.
Seus passos eram lentos, ritmados, carregavam o peso de alguém que sabia que não precisava se apressar para dominar um ambiente.
Seis pessoas estavam presentes, todas com roupas leves, não por escolha, mas pelo contínuo desconforto da influência do navio. Um cheiro sutil de suor pairava no ar, evidenciando o cansaço daquele tempo conturbado.
Niala, a rainha inseto, evitava as cadeiras de metal, sentada de forma quase ritualística sobre um pano estendido no chão, suas longas pernas dobradas em uma posição confortável apenas para ela. Ao seu lado, um único guarda de Myrmeceum permanecia ereto, imóvel como uma estátua, o olhar vazio, mas atento.
Lucas, o líder da divisão bestial, estava quase completamente coberto por ataduras, seu corpo musculoso visivelmente fragilizado. Suas feridas ainda estavam frescas, e mesmo seu vigor natural parecia insuficiente para curá-las rapidamente.
O guerreiro havia acordado entre cadáveres, o cheiro de sangue seco impregnado em sua pele, surpreso por ainda estar respirando. Depois de ser resgatado, arrancaram mais de cinco flechas cravadas profundamente em seus músculos. Agora, ele olhava para Ana com uma expressão carrancuda — parte dor, parte orgulho ferido por precisar de ajuda para algo tão “simples” quanto sobreviver.
Madame e Cassandra estavam em um canto, conversando em voz baixa, suas cabeças inclinadas em um sussurro que morreu no instante em que Ana entrou.
O olhar da antiga líder de arena era afiado como uma lâmina embainhada, pronta para cortar se provocada. Mas ela não disse nada.
Miguel, como sempre, estava sentado com uma postura impecável, as mãos cruzadas sobre a mesa, o corpo rígido, mas sereno. Sua máscara refletia a luz pálida da sala, escondendo qualquer emoção, mas seus olhos — por trás das lentes opacas — estavam atentos, registrando cada detalhe com precisão desumana.
Por fim, Alex estava deitado de barriga para baixo em uma das mesas longas, o rosto afundado nos braços cruzados, o olhar entediado e impaciente.
O pugilista soltou um suspiro alto quando a rainha entrou, mas não se moveu.
O silêncio era pesado.
O tipo de silêncio que vem antes de decisões que mudam destinos.
Mancando levemente, Ana se aproximou da mesa central, seus passos ecoando no metal frio.
— Obrigado por virem. Sei que as coisas estão corridas lá embaixo.
Sua voz era calma, mas carregava um tom que deixava claro: aquilo não era um pedido de desculpas. Era uma constatação.
Puxou uma das cadeiras simples e se sentou com um movimento desleixado, jogando o corpo para trás e cruzando uma perna sobre a outra.
Olhou ao redor da sala, deixando o olhar repousar em cada rosto por um segundo a mais do que o necessário.
— Já conversei com alguns de vocês antes, mas quero que tudo fique bem claro.
Cassandra bufou suavemente, cruzando os braços com um movimento irritado.
— Claro. Clareza é algo que você sempre entrega, não é? — o tom era ácido, mas a voz baixa, como se testasse a paciência de Ana de forma sutil.
Ana não se deu ao trabalho de sorrir.
— Sempre. Só não sei se as pessoas gostam do que ouvem.
Um breve silêncio se instalou.
Alex soltou um suspiro dramático, finalmente levantando o rosto da mesa, o cabelo desgrenhado e o olhar cansado.
— Vamos lá, Ana. Fala de uma vez. Estou perdendo tempo precioso de descanso aqui.
— Certo, certo… — a rainha arqueou uma sobrancelha, uma sombra de um sorriso surgindo em seus lábios. Ela se recostou na cadeira, estalando os dedos antes de finalmente começar. — Antes de tudo, Miguel, pode nos dar o relatório?
O secretário fez um aceno sutil, levando a mão até uma pequena folha de papel perfeitamente dobrada.
Antes de começar, limpou a garganta discretamente — um gesto desnecessário, mas que ele fazia por hábito, uma imitação humana que mantinha por razões que talvez nem ele soubesse mais.
Sua voz ecoou, clara e controlada.
— Primeiramente, quanto aos sobreviventes… Levando em conta somente os habitantes originais de Insídia, temos cento e cinquenta e sete pessoas.
O número parecia ressoar com um impacto maior do que o esperado.
— Desses, noventa e sete não estão aptos para o combate e apenas quarenta e uma pessoas das restantes têm resistência suficiente para o embarque.
Fez uma pausa, não por dúvida, mas por respeito ao peso do que acabara de dizer. O silêncio que se seguiu era um tributo silencioso aos que não estavam mais ali.
Lucas, o líder da divisão bestial, olhou para o chão, seus olhos pesados com o fardo da culpa e da sobrevivência.
— Não sobraram soldados escamosos vivos — continuou Miguel, sua voz mais baixa, mas firme. — Já foram enviados dois mensageiros em direção a Carapicuíba para informar detalhes do ocorrido.
O silêncio foi quebrado por Niala, que cruzou os braços de forma despreocupada, sentada ainda no chão.
— Aqueles idiotas vão se virar de alguma forma.
O comentário cortante dela não carregava rancor, apenas um pragmatismo cruel. Miguel respondeu com a mesma neutralidade de sempre, sua voz abafada pela máscara.
— Assim espero — ele ajustou o papel em suas mãos, mantendo o olhar fixo nas anotações. — Quanto aos lobos cinzentos, eles se dispersaram após a ausência do conselheiro Garm. Creio que teremos alguns problemas de segurança nas florestas até que consigamos, ao menos, restabelecer o gado para uma nova tentativa de domesticação.
Ana franziu o cenho, pensativa, e depois deu um leve aceno de cabeça.
— Não deve ser um problema se centrarmos os sobreviventes nas alas que ainda possuem muralhas. — disse com indiferença. — Os lobos não são fortes o suficiente para quebrá-las.
Miguel concordou com um breve gesto da cabeça.
— Também acho. Mas ainda é algo para se ter em mente ao sair. Com isso, nos resta falar sobre os danos…
O silêncio na sala se intensificou.
— A área central não existe mais.
Cada palavra era um golpe invisível, mas doloroso.
— A ala leste é um campo carbonizado.
As imagens de corpos rachando em um preto intenso e estruturas desmoronadas surgiram na mente de todos.
— A oeste permanece relativamente intacta, mas é um campo de morte para onde quer que se olhe.
A rainha cerrou os punhos brevemente, mas logo relaxou, mantendo sua expressão inabalável.
— Peça para a divisão das dríades cuidar dos corpos. Não podemos arriscar uma doença agora.
O mascarado hesitou por um instante, algo raro para ele.
— Me adiantei nesse assunto… — começou, com um leve desconforto na voz. — Mas temos um pequeno problema. Letícia disse que vai permanecer em Insídia na sua ausência. Vai seguir com a reconstrução dos laboratórios e centros médicos.
Ana arqueou uma sobrancelha, mas não interrompeu.
— Os demais sobreviventes do povo verde pretendem voltar a viver em meio às árvores. São poucos, mas aceitaram ajudar na limpeza dos cadáveres. Disseram que não será um mau adubo para a floresta destruída. No entanto, não querem mais viver em sociedade.
— Isso pode ser um problema… — murmurou Ana. — Bem, que seja. Talvez demore, mas deixarei anotações detalhadas com os ciclos das plantações antes de partir — ela suspirou, o olhar perdido por um breve instante. — Com tão pouca gente, vão se manter relativamente bem.
O olhar dela se tornou mais afiado, voltando ao modo de comandante.
— Quantos mascarados temos no navio neste momento?
— Em torno de vinte e três. — respondeu Miguel.
— Certo… é pouco, mas envie alguns deles para ficar no reino. Podem ajudar na reconstrução. Os que faziam parte da elite de Alex devem ser mantidos por aqui.
Então, sem saber exatamente por onde começar, fixou o olhar em Niala.
— Rainha inseto, tem certeza de que pretende nos acompanhar?
Niala sorriu, de forma estranhamente despreocupada, um contraste gritante com a frieza habitual que costumava exibir.
— Sim. Já fiz minha escolha. Verath vai ficar no controle do meu reino — disse, com um suspiro quase aliviado. — Ele é mais do que leal, mas sei que no fundo sempre quis isso.
Ana franziu o cenho, visivelmente cética.
— Você vai foder com toda a organização que tem por lá…
— Já dediquei tempo demais para aquele lugar — disse a nulher, dando de ombros. — Estamos firmes o suficiente para nos manter agora que Barueri já não é uma ameaça. Quero explorar o mundo! — exclamando, tirou um pequeno frasco de bebida do cinto e deu um gole entusiasmado. — Hic!
Ana arqueou uma sobrancelha, o olhar carregado de julgamento silencioso.
“Alcoólatra desgraçada”, pensou, observando o corpo de Niala balançar desajeitadamente enquanto falava, exibindo uma personalidade muito diferente da líder calculista habitual.
— Que seja, então — deixando a mulher de lado, se virou para Lucas. — Espero que ajude a manter os soldados bem treinados e as ruas seguras. Sei que não vai demorar para se recuperar.
O homem fez um gesto de respeito, tentando levantar o braço em saudação, mas grunhiu de dor e desistiu rapidamente, optando por um aceno discreto com a cabeça.
O olhar de Ana passou rapidamente por Alex, que agora dormia profundamente, e por Miguel, logo ao seu lado.
Para eles, não disse nada, pois já sabia suas respostas.
Por fim, seus olhos se fixaram em Cassandra.
Sem uma palavra, puxou a máscara rachada que pendia em seu casaco.
A virou em suas mãos, analisando os detalhes que a acompanharam diariamente nos últimos dois anos.
Cada rachadura era uma cicatriz, uma memória do que ela havia enfrentado.
Ela respirou fundo e, com um gesto firme, estendeu a máscara para a rainha mercenária que a observava.
Não havia discurso, nem explicações.
Era mais do que um símbolo.
Era um fim e um começo ao mesmo tempo, condensados em um único gesto.
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