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    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

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    Cassandra permaneceu em silêncio, encarando a máscara que Ana estendia.

    O olhar da mercenária era frio, carregado de um questionamento silencioso.

    Não precisava nem mesmo perguntar em voz alta — o olhar bastava: 

    “O que diabos você está fazendo?”

    Ana não ofereceu respostas verbais de imediato.

    Em vez disso, riu sozinha discretamente, e sem quebrar o contato visual, fez um gesto casual com a mão para Miguel.

    O secretário mascarado se moveu sem pestanejar, aproximando-se da mesa e colocando uma grande pasta de couro gasto bem na frente de Cassandra.

    O som seco do impacto de seu impacto sobre a madeira quebrou o silêncio com uma estranheza desconfortável.

    Cassandra arqueou uma sobrancelha, franzindo o cenho enquanto seus dedos traçavam o couro áspero. Ela parecia mais irritada do que curiosa, como se o gesto fosse uma provocação.

    — Você é uma pura, não é? 

    Cassandra piscou, processando a pergunta de Ana.

    Antes que pudesse responder, a rainha continuou, implacável.

    — Vá até aquela maldita cidade e mostre isso para eles.

    Apontou com o queixo para a máscara, que ainda pendia entre seus dedos.

    — Fale que me matou. Se declare a nova rainha de Insídia.

    O silêncio que se seguiu foi mais intenso do que qualquer grito.

    Cassandra arregalou os olhos, uma risada curta e seca escapando de seus lábios.

    — Você só pode estar de brincadeira — disse ela, inclinando-se para frente, com um tom entre o deboche e a incredulidade. — Eu? Rainha? Desde quando você é do tipo que faz piadas ruins?

    Ana simplesmente continuou a encará-la, o sorriso agora transformado em um olhar penetrante, carregado de uma certeza inabalável.

    — Pega logo a porcaria da máscara.

    Ignorando-a, Cassandra abriu a pasta com um movimento brusco, revelando uma série de documentos, mapas e anotações detalhadas. No entanto, em meio aos muitos arquivos, uma série de letras tortas e desenhos rascunhados também eram vistos.

    O olhar da mercenária se estreitou.

    — Por que eu? — perguntou, finalmente levantando o olhar para Ana e pegando hesitantemente o símbolo do reino caído.

    Ana deu de ombros, mas dessa vez sem seu habitual escárnio. Pegou cuidadosamente um dos muitos papéis. Nele, uma pequena sauna mal desenhada era vista.

    — Porque nós fizemos esse plano juntas — respondeu. — Ou estava bêbada demais para se lembrar?

    Cassandra soltou o ar com força, balançando a cabeça, mas um sorriso teimoso começou a se formar nos cantos de sua boca. Então olhou para Ana, com um brilho desafiador nos olhos.

    — Quem diria… de arenista a rainha. 

    Ana se levantou da cadeira, o peso da exaustão visível em seus ombros, mas seus olhos ainda brilhavam com a mesma intensidade feroz de sempre.

    Se aproximou de Cassandra, parando ao seu lado e dando um leve tapa amigável em seu ombro.

    — Não pegue leve com o pessoal lá embaixo — disse em um tom que misturava sarcasmo e seriedade. — Quando eu voltar, quero que a nova cidade-arena faça Tenebris parecer um beco ilegal de briga de galos.

    A mulher soltou uma risada rouca, o tipo de riso que vem quando se aceita o inevitável. Segurou a máscara e, com um movimento deliberado, a colocou sobre o rosto.

    O ajuste não era perfeito, e as partes quebradas incomodavam a pele, mas o efeito era impressionante.

    Ana deu um passo para trás, observando-a com um olhar que misturava orgulho e um toque de melancolia.

    Os segundos passavam devagar, em uma suavidade quase cômica. Vendo que as duas pareciam perdidas em pensamentos, Madame pigarreou discretamente.

    — Então… já posso trazer a maquinaria do bar pro navio? — perguntou, com um tom leve, quase indiferente ao peso da reunião.

    A pergunta pairou no ar, pegando todos de surpresa.

    Ana virou-se lentamente, com um olhar de falsa incredulidade, como se a frase fosse tão absurda que não merecesse resposta… mas, ao mesmo tempo, impossível de ignorar.

    — Por que você já não fez isso?

    — Bom, eu não sabia o quão sério você queria tratar todo esse papo de dominação mundial — respondeu ela, o sorriso enigmático nos lábios. — Bebidas são realmente adequadas em uma embarcação militar?

    Ana piscou algumas vezes, e então arqueou as sobrancelhas de forma dramática, como se tivesse ouvido a coisa mais absurda do mundo.

    Deu um passo à frente, os olhos brilhando com uma intensidade que fazia difícil distinguir se ela estava prestes a rir ou explodir em fúria. Curvou-se ligeiramente e soltou um pequeno riso, as mãos apoiadas nos joelhos, como se estivesse prestes a perder o equilíbrio.

    Mas então, parou abruptamente, o corpo rígido, e levantou a cabeça de forma teatral. Sua aura emanava uma intensidade febril, algo que misturava loucura e clareza absoluta.

    — Militar? — repetiu de repente, antes de começar a olhar ao redor, encarando cada um dos presentes como se estivesse prestes a revelar uma grande piada da qual só ela sabia o final. — Acho que vocês estão entendendo tudo errado!

    O silêncio voltou por um instante, mas dessa vez era um silêncio expectante.

    Todos ficaram imóveis, o olhar fixo nela, esperando o desfecho daquela declaração.

    Ana respirou fundo, o sorriso crescendo ainda mais.

    — Nós não somos militares.

    Os olhos da antiga rainha se arregalaram, o sorriso cresceu até beirar o psicótico. E então, com uma energia explosiva que parecia sair de dentro do próprio peito em um enorme berro, ela sussurrou.

    — Somos piratas!

    Foi baixo e direto, mas todos ainda sentiram o peso daquilo.

    A gargalhada que se seguiu foi selvagem e descontrolada. O olhar misterioso caminhou até uma das pequenas janelas do local, encarando o mundo lá fora como se pudesse moldá-lo com suas próprias mãos.

    Girou em seu próprio eixo, os braços abertos, como se estivesse abraçando o próprio conceito de caos.

    — E agora, como bons piratas… vamos caçar baleias!

    O eco das palavras se espalhou pela sala, misturado com o som da sua risada maníaca.

    Houve um momento de quietude após o grito final.

    Então, como se algo tivesse sido quebrado — ou talvez libertado —, alguns sorrisos surgiram nos rostos ao redor.

    Primeiro Niala, que soltou uma risada curta, balançando a cabeça como quem pensa “Essa mulher é insana.”

    Cassandra bufou, mas um sorriso se formou enquanto tirava a máscara.

    Lucas riu baixinho, apesar da dor, e até Miguel, o sempre impassível, pareceu relaxar um pouco os ombros, o brilho nos olhos mascarados denunciando um certo… orgulho?

    Era isso.

    Ana não estava apenas declarando um objetivo, estava definindo o próximo capítulo da história de cada um deles.

    Ninguém ali conseguia dizer, com certeza, se ela estava brincando ou completamente séria.

    Talvez fosse as duas coisas.

    E talvez fosse exatamente isso que tornava tudo tão mágico e perigoso.

    Porque quando Ana dizia algo assim, não era uma metáfora.

    Era uma promessa.
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