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    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

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    O mar estava calmo — mais calmo do que devia. Mas Calico Jack não notou. Não por distração. Ele apenas não levava mais a realidade tão a sério.

    Com o peito estufado, o casaco puído de capitão balançando com o vento e o pescoço em permanente desacordo com o resto do corpo, ele observava o horizonte como quem acredita que o mundo ainda aguarda seu sinal para girar. Já tinha se acostumado com a tensão na nuca, como alguém que se adapta a uma bengala ou a uma mentira longa demais. Era só parte da sua silhueta agora. Um charme assimétrico.

    — Mary, minha flor do caos, essa brisa é natural ou você deixou escapar de novo?

    A risada veio na mesma cadência de sempre — ele próprio a ensaiara tantas vezes que já parecia espontânea. Se virou então com elegância, gesticulando em direção ao navio à direita.

    — Primeiro navio, vela de bombordo trêmula demais! Endireitem ou vão virar sopa de água doce! — berrou, a voz forte ecoando pelo convés e se perdendo sem resposta. — E me tirem aquele estandarte! Não estamos aqui pra dar show, estamos aqui pra lembrar que o mar tem dono!

    Nenhuma figura correu. Nenhum grumete respondeu. Mas, poucos segundos depois, as velas realmente mudaram de posição — rangendo sutilmente enquanto se esticavam com mais tensão. Jack assentiu, satisfeito.

    — Isso, isso. Não é difícil, vejam! Basta um pouco de brio e menos rum — disse, balançando um dedo no ar como um velho professor.

    Virou-se para a esquerda, onde Anne estava “sentada”, encostada na amurada, as mãos apoiadas sobre os joelhos e um lenço florido cobrindo a testa. Seu rosto, mesmo imóvel, parecia carregado de julgamento.

    — Ah, por favor, Anne, não comece com esse olhar de novo — murmurou, cruzando os braços. — Eu mandei afundar aquele galeão porque era a decisão certa, e você sabe disso.

    O capitão endireitou o corpo como se estivesse se preparando para um bate-boca.

    — “A decisão certa, Jack?” — respondeu, agora em um tom feminino forçado, agudo e debochado. — “Você disse que queria dar um susto neles, não que ia arrancar metade do casco com um tiro de advertência.”

    Ele respondeu à própria encenação com um riso curto.

    — Ah, exageros! Palavras ditas no calor do momento! — E, como se Anne tivesse retrucado, ele inclinou a cabeça novamente, dando um passo teatral à frente. — “Talvez o calor do momento esteja durando meses”, é isso que vai dizer agora, não é? Pois saiba que tenho plena consciência do calendário, madame!

    Fez uma reverência irônica. Depois, virou-se para o outro lado, onde Mary “observava” o convés com olhos semicerrados e expressão de cansaço.

    — Mary, minha flor, diga-me: o que pensa disso tudo?

    Sem pausa, ele continuou — agora numa voz mais baixa, ainda feminina, um pouco sonhadora.

    — “Acho que deveríamos parar em Tortuga. Estou cansada de sangue no café da manhã.”

    Jack levou a mão ao peito, dramatizando um falso pesar. Sua cabeça pendeu um pouco mais à esquerda com o entusiasmo do gesto, e ele demorou um segundo para realinhá-la com o tronco.

    — Cansada de sangue no café da manhã? E depois sou eu o sensível! — sorriu. — Mas está anotado, anotado sim. Vamos pensar em mudar o cardápio.

    Atrás dele, as velas de outro navio da frota começaram a girar. Um estalo breve no convés e uma pequena âncora se soltou do alto. Nada visível indicava quem fez o movimento, mas Jack sorriu como quem acabou de assistir à execução perfeita de uma ordem dada.

    — Muito bem, muito bem! Marujos, preparem os canhões para saudação silenciosa. E limpem esse convés! Quero ver reflexo de vergonha nas tábuas!

    A brisa aumentou um pouco. Ou talvez tenha sido só ele se movendo rápido o bastante para parecer vento. Com passos largos, subiu até o topo da cabine de comando e girou levemente o leme de um dos navios à esquerda. No horizonte, o navio respondeu. Um leve desvio. Uma nova posição.

    Jack manteve-se em pé ali, imóvel, firme como um ícone esculpido em delírio puro.

    — Anne, Mary… — disse com voz embargada de empolgação mal contida. — Hoje o mar é nosso. E o amanhã… também será, se as correntes não se meterem.

    Então, como quem vive num musical só seu, estendeu os braços para os céus, seguido por um gesto de agradecimento com a cabeça para uma multidão que só ele via, depois baixou o olhar para as mulheres e piscou.

    — “Sempre dramático, não é, Jack?” — disse, com a voz de Anne.

    — Sempre inesquecível, minha querida.

    Retornou ao convés com passos seguros, satisfeito, os olhos brilhando com a luz de quem acredita. E o mar seguiu calado, como quem sabe que interromper um espetáculo desses seria de extrema grosseria.

    Foi quando Jack estreitou os olhos contra o sol baixo. Ali, um grande navio seguia firme, solitário, a vela arqueada por um vento que ele já julgava particular demais. Era só mais uma silhueta entre tantas, e ainda assim, algo nele acendeu um alarme antigo. Um velho incômodo no peito, no estômago — no que restava de seus instintos.

    Inclinou o corpo ligeiramente para frente, como se pudesse encurtar a distância só na força do olhar. Os dedos se apertaram contra a amurada, as unhas rangendo contra a madeira.

    — Vocês veem isso, não veem? — disse, sem se virar para ninguém em particular. — Reconhecem esse perfil… eu reconheço.

    Silêncio.

    — Anne, diga que estou ficando louco — pediu, quase num sussurro.

    E então, com voz rouca e feminina, respondeu a si mesmo.

    — “Você está sempre ficando louco, Jack. Isso não é novidade.”

    — Hah! — riu, abruptamente, e depois engoliu a risada como se ela tivesse passado do ponto. — Mas olhem de novo… é ele. É aquele maldito navio de patrulha. O mesmo que nos perseguiu nas Ilhas Lucaias. Só pintaram diferente, achando que eu não notaria!

    Girou nos calcanhares, puxando o casaco para ajeitar o colarinho com um gesto exagerado.

    — Mary! Aviso geral! Estão se aproximando! Aqueles cães do Império britânico voltaram. Devem ter perdido a vergonha na cara…

    Outro passo. Outro comando.

    — Todos aos postos! Canhões prontos! Não quero um furo sequer em nosso convés — pausou, sem respirar, como se ouvisse uma objeção — Sim, mesmo no terceiro navio, idiota! Se quer furar alguma coisa, arrume um barril de rum e enfie sua espada nele!

    A brisa puxou a aba do chapéu para o lado, e ele a reposicionou com calma. Estava sorrindo agora. Um sorriso torto, fervendo com a convicção de alguém que acredita profundamente em sua própria causa.

    — Eles acham que podem apagar a liberdade com uniformes e leis… acham que podem derrubar o último capitão verdadeiro com um barco alugado e uma cara limpa.

    Caminhou até o timão e pousou as mãos com reverência.

    — Deem meia-volta. Rota direta. Não vamos esperar dessa vez.

    As velas reagiram. O navio principal girou com precisão, e os outros dois, como sombras obedientes, seguiram logo atrás. Três navios vazios, alinhados com a exatidão de uma frota treinada.

    — Não vamos fugir como da última vez, não, senhoras — murmurou, já entrando no tom de discurso — vamos mostrar a eles o que acontece quando se metem com quem não deviam se meter.

    Mais uma pausa dramática. Depois um gesto breve com a mão, como um maestro que guia um silêncio. Jack sabia que o dia estava só começando, mas sabia também que mais tarde haveria jantar, música e — se ele quisesse muito — uma dança com Mary. Ou com Anne. Dependia de qual delas ainda teria um braço.
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    Ficaremos sem imagens por um tempo, mas logo volto a postar!

    Estou meio sem tempo e não estão saindo resultados bons…

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