Índice de Capítulo

    Quer apoiar o projeto e garantir uma cópia física exclusiva de A Eternidade de Ana? Acesse nosso Apoia.se! Com uma contribuição a partir de R$ 5,00, você não só ajuda a tornar este sonho realidade, como também faz parte da jornada de um autor apaixonado e determinado. 🌟

    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

    Apoia-se: https://apoia.se/eda

    div

    Um buraco negro. Um universo sem estrelas. Tudo se desfaz. Tudo se perde. Eu me perco.

    Socorro… socorro… socorro!

    Não… não consigo gritar. Não consigo respirar. Não sinto… nada. Não há ar, não há chão, não há corpo. Apenas o vazio, e o vazio me quer. Isso precisa acabar.

    Meus dedos se movem por instinto. Sim, se ainda posso mexê-los, então posso… acabar com isso. Preciso voltar. Mas… voltar para onde?

    Meus pensamentos se embaralham, se dissolvem nessa escuridão sem bordas. Se minha carne for o que me ancora ao mundo, então que se rasgue. Que se parta. Meus dedos encontram minha garganta, e pressionam, apertam, cavando… se for para me libertar, então… tudo bem.

    — Você… mãe?

    Uma voz. Distante, mas real. Meu coração dá um solavanco.

    Jasmim? Não. Não pode ser. A essas horas ela está com sua guilda.

    — Mãe?

    Perguntei de volta sem querer. A palavra queimou minha língua. O que é esse vórtice que me chama? Quem é essa abominação que não foi tocada pela mana?

    Não quero mais ver. Não posso mais ver. Meus olhos, por favor… parem!

    Onde está minha arma?

    — Sim. Seu nome é Margareth, não é?

    Não fale comigo. Não fale comigo. Não fale comigo!

    — Sim…

    Meu coração retumba. Ele está se aproximando. Preciso chegar ao balcão. Minha arma… onde está minha arma? Era para estar aqui… Achei!

    Dê mais um passo, monstro!

    Só mais um passo. Um mísero passo. Minha mão está firme. Vou disparar.

    Espera… quê?

    Não, monstro… não toque nelas. Não toque em minhas ervas…

    Isso não faz sentido. Ela aceitou isso? Isso é um truque?

    Não. A natureza não mente. 

    As pequenas raízes estão dançando com ela, como crianças buscando conforto, acolhendo-a como uma das suas. Minhas plantas… a receberam?

    O monstro está sorrindo. Um sorriso genuíno. Isso… isso não deveria me deixar tão inquieta. O medo, a adrenalina, a certeza de que essa coisa diante de mim é uma ameaça — tudo isso deveria ser simples, óbvio.

    Mas não é.

    Respire, Margareth. Apenas respire.

    — Fico feliz que você esteja bem, mãe.

    Mãe. Ela diz isso tão naturalmente, como se fosse um fato incontestável. Como se essa palavra não carregasse peso, como se eu pudesse simplesmente… aceitar.

    Minha mão ainda segura a arma, mas os dedos estão trêmulos. Meus olhos me traem. Estou com medo. Isso não é minha filha.

    Ou… talvez seja?

    Sinto um calor inesperado no peito. Meus dedos se afrouxam um instante, mas minha mente grita. O brilho nos olhos dela, a maneira como a vescania se aconchega… tudo me faz hesitar.

    Preciso me acalmar. Preciso ver com meus olhos reais.

    Respire. Respire. Respire.

    Pare os olhos.

    É difícil ver o mundo comum depois de tanto tempo. Parece tão frio e solitário. Não gosto dessa sensação. Sem a mana me guiando, tudo parece vazio.

    Mas pelo menos posso vê-la de verdade.

    Não tem como eu não lembrar desses olhos cor de mel. Tão cansados, mas tão vivos.

    — Ana?

    — Sim…

    O olhar ainda é aterrorizante. Mas é realmente ela, não é? 

    — Senti saudades de tomarmos um café juntas.

    O quê? Essa frase… essa voz…

    Eu a encaro. O jeito como ela fala, a naturalidade absurda de suas palavras… 

    Meu coração se aperta. Uma lembrança surge tão nítida que quase posso senti-la — Ana segurando uma xícara, soprando o café com delicadeza, bebendo pelas bordas para não queimar a língua, de um jeito ridiculamente meticuloso, o olhar perdido enquanto os primeiros raios de sol atravessavam a janela.

    Tão real. Tão comum. Tão Ana.

    Minha filha está viva.

    Antes que eu perceba, já a abracei. Meus braços a apertam, como se tentassem compensar a ausência, como se quisessem garantir que ela não vá sumir novamente. Mesmo que seja uma armadilha, mesmo que seja uma ilusão…

    Só um pouco. Só por um instante.

    Ela me abraça de volta. Seu corpo é quente, há um coração pulsante ali. Isso é real.

    Mas… ela precisa de uma bronca.

    — Sabia que te procuramos por todos os lugares por um tempão? — Minha voz treme, mas continuo. — Você tem ideia do quão cruel foi não dar notícias para sua família por DEZ ANOS?!

    Eu não queria gritar. Mas não pude evitar.

    Filhos são uns bichos ingratos. Nos fazem sofrer, nos fazem esperar, nos fazem amar mesmo quando não queremos mais sentir.

    Mas… é engraçado.

    O tempo longe se esvai como se nunca tivesse existido. Parece que foi ontem que a vi saindo de casa de madrugada, olhos semicerrados, andar arrastado, um murmúrio rouco de despedida.

    “Mãe, pai, estou saindo!”

    Ela sempre achou que falava baixo o suficiente para não me acordar. Nunca falou. Todas as manhãs eu fingia estar dormindo, esperando que ela dissesse de novo.

    — Não foi de propósito.

    Ah… minha filha.

    — Eu sei que não, garota boba. — Suspiro. Fico aliviada que esteja viva.

    Mas há algo diferente nela. Ela parece distante. Como se carregasse um fardo invisível nos ombros, como se parte dela estivesse sempre longe, presa a algo que não posso alcançar.

    Mas tudo bem. Creio que não há o que fazer.

    — É uma bela coincidência que tenha vindo aqui com a pequena Marina. São amigas?

    — Não só isso, ela salvou a gente, senhora!

    — Não é pra tanto…

    — Como não?! A gente ia estar mortinho da silva sem você! — Marina gargalha, e então a expressão dela muda para algo entre fascínio e incredulidade. — E é muito engraçado você ser a filha da herborista da cidade!

    A pequena manipuladora é ainda mais fofa animada. Uma energia vibrante, inquieta, como se o próprio corpo fosse pequeno demais para conter toda a excitação. Ana está com eles. Isso é um bom sinal. São boas pessoas.

    — Então no fim você também se tornou uma caçadora, Ana? Sua irmã vai ficar feliz.

    — Na verdade, não. Foi só sorte de estar por perto.

    Não é uma caçadora? Isso… isso é verdadeiramente ótimo.

    Mas é estranho.

    — Mas… a Jasmine? Ela vai ficar… feliz?

    A voz dela vacila, quase imperceptível. Quase.

    Ela errou o nome da irmã?

    — Sim. Essa menina é totalmente apaixonada por essas coisas.

    — Entendi. Ela tá por aqui? E meu pai?

    Lá vem. Eu sabia que essa pergunta chegaria. Sempre chega.

    — A Jasmim — frisei o ajuste — deve estar ajudando no centro da cidade com os amigos dela. Mas seu pai… bem, as coisas não foram tão fáceis nos primeiros dias de Aurórea…

    Ela não perguntou mais nada sobre, só acenou.

    Sem lágrimas, sem tremores, sem qualquer resquício de dor. Aceitação plena.

    É assim mesmo que a morte deve ser encarada, minha filha. Seja forte.

    — Não vamos falar de coisas tristes. Hoje é um dia de comemoração! O destino trouxe você de volta. Vou preparar algo para o almoço, então relaxem um pouco.

    — Ah, não podemos! Eu quase esqueci, senhora, pode me vender mais um pouco de pomada cicatrizante? O Felipe se machucou bastante na última missão.

    — Eu não te vendi um pote todo semana passada?

    — A gente usa muito…

    Jovens inconsequentes. Ainda vão acabar mortos.

    — Pegue um pote de graça. Pela sua expressão, parece algo bem urgente.

    — Não precisa, eu tenho um pouco de dinheiro…

    — Vamos, vocês são amigos da minha filha. Só peguem de uma vez.

    — Então tá… obrigada, senhora.

    — Obrigada, mãe.

    Ana está falando tão pouco. Observando muito.

    Antigamente, ela preenchia os espaços vazios com palavras, risos, perguntas que se emaranhavam umas nas outras. Agora, escuta demais.

    — Voltem aqui depois de resolverem seus assuntos, certo?

    — Pode deixar, com certeza voltaremos.

    — Então tá. Agora saiam logo da minha loja!

    Rio, mas por dentro… há algo errado. Preciso de um cigarro.

    Ela talvez pense que eu não vi, mas como posso não notar que matou minha planta favorita?

    Não houve crueldade. Mas deu calafrios. 

    Aquela escuridão… minha menina… é uma Sombra?

    Talvez eu deva começar a andar com minha arma ainda mais perto.
    div


    Quer apoiar o projeto e garantir uma cópia física exclusiva de A Eternidade de Ana? Acesse nosso Apoia.se! Com uma contribuição a partir de R$ 5,00, você não só ajuda a tornar este sonho realidade, como também libera capítulos extras e faz parte da jornada de um autor apaixonado e determinado. 🌟

    Venha fazer parte dessa história! 💖

    Apoia-se: https://apoia.se/eda

    Discord oficial da obra: https://discord.com/invite/mquYDvZQ6p

    Galeria: https://www.instagram.com/eternidade_de_ana

    Curtiu a leitura? 📚 Ajude a transformar Eternidade de Ana em um livro físico no APOIA.se! Link abaixo!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota