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    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

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    De volta ao escritório da taverneira, Ana, agora cercada por um silêncio incômodo e quase respeitoso, observava o objeto que lhe haviam entregue como prêmio. Um pequeno emblema negro em formato de coroa, com detalhes em bronze e alguns entalhes em seu centro. Um símbolo de poder, talvez. Ou de encrenca iminente.

    Pesava mais do que parecia — não em gramas, mas em implicações.

    Preferia algumas moedas”, pensou de forma divertida, enquanto o guardava no bolso como quem enfia um troféu entre papéis velhos. Seus olhos, no entanto, brilharam. Ainda que discretamente.

    Madame, foi quem finalmente quebrou o silêncio.

    — Pois eu lhe digo… fiquei foi surpresa. Tu é forte, disso eu já sabia só de ver sua fuça. Mas não achei que tivesse culhão pra derrubar um caçador rank D.

    Ana arqueou uma sobrancelha, puxando o fio do comentário.

    Rank D? O mesmo dos lobos…” A lembrança do desvio do primeiro golpe retornou à mente como um aviso tardio. “Bom, ser mais fácil faz sentido. Instinto puro é difícil de prever. Já gente como ele… previsível até demais. O corpo podia ser mais forte que o meu, mas usava como se fosse emprestado.

    O raciocínio a fez sorrir com o canto dos lábios, mais por entender a lógica do que por orgulho. Depois de ponderar o suficiente, voltou a focar na conversa.

    — Esse é seu limite, né? — perguntou Madame, com os olhos semicerrados.

    Ana levou a mão ao queixo, pensou com sinceridade.

    — Fisicamente? Provavelmente, sim.

    — Então pronto. Sem mana, cê tá ferrada. — Caminhou até a janela, onde o céu começava a tingir-se com os primeiros tons do novo dia. Não parecia muito impressionada com o espetáculo natural. — Mas ser uma rainha mercenária não é só bater forte. É ter talento. E tu tem de sobra. Por isso, hoje eu tô te dando a chance de moldar o rumo dessa companhia.

    Ana manteve o olhar fixo, firme, sem conseguir deixar a cautela totalmente de lado.

    — Ainda assim…  por que eu?

    — Gosto de coisas interessantes.

    A dona da taverna deu alguns passos de volta, chegando ao lado da escrivaninha.

    — Tu é uma exceção rara. Pode ser perigosa. Pode ser inútil. Pode ser que tu vá morrer em uma missão besta daqui a dois meses. Mas até lá, eu quero ver. Quero saber, entender, apostar.

    Havia uma franqueza desconfortável ali. Ana absorveu as palavras com uma expressão neutra, mas sua mente registrava cada camada com cuidado.

    Se ajeitou no banco, os dedos tamborilando brevemente no tecido da calça. Aquela proposta vinha envolta em palavras grandes, metáforas empolgadas e um brilho de promessa. Mas tudo o que ela queria, no fim das contas, era uma resposta objetiva.

    — Tá certo, tudo muito bonito. Cheio de visão, futuro, drama. Mas o que tem pra mim? Em cifras, de preferência.

    Madame riu. Um riso leve, talvez sincero, talvez ensaiado — era difícil saber com ela. Ergueu os braços em um gesto aberto, quase ridículo, como se estivesse revelando um palco inteiro só para Ana.

    — Ah, o dinheiro vai chegar, minha filha. Dinheiro é prioridade, sempre. — Apontou com o queixo para o canto da sala, onde pilhas de moedas e contratos dormiam sob uma camada fina de poeira, como promessas que só precisavam de assinatura. — E liberdade. Liberdade de escolher, de mandar, de negociar. Mas também…

    — Peraí — Ana ergueu a mão, cortando sem cerimônia. O cenho franzido e a paciência se esvaindo. — Você tá em um teatro?

    Madame parou. Piscou. A testa se enrugou por um segundo, como quem avalia se vale a pena se ofender.

    — Mas que droga, vamos direto ao ponto! — continuou Ana. — O que eu ganho, exatamente? E o que eu tenho que fazer?

    Madame piscou, visivelmente desarmada com a interrupção. O entusiasmo no olhar murchou um pouco, mas ela não perdeu a compostura. O show podia parar, mas o contrato ainda precisava ser assinado.

    — Tá bom, então. Um salário generoso. O valor cheio das tuas missões, ou seja, sem comissão pra taverna. E tu ganha uma equipe também, ora. Afinal, tu é uma rainha. — disse, com um sorriso que carregava mais ironia do que respeito pelo título. — A única obrigação fixa é uma missão de classe especial por mês. Isso quando tiver alguma pendente, claro. Se quiser adiantar, pode fazer mais de uma e tirar umas folgas depois. As missões são puxadas, mas o pagamento compensa. Quase sempre casam com teu nível de coroa.

    Ana piscou, confusa.

    — Nível de coroa?

    — Sim, sim. São marcos de progresso. Bronze Fundador, Prata Patrono, Ouro Aficionado, Platina Protetor, Diamante Visionário e Iridium Supremo. As seis coroas reconhecidas por tavernas mercenárias de todo o mundo.

    Ana franziu o cenho. Aquilo soava como uma tentativa muito entusiasmada de parecer importante.

    — Por que complicar com coroas? Não seria mais fácil usar os ranks iguais aos de caçadores?

    Madame soltou um suspiro longo, profundo, como quem lamentava a morte lenta da imaginação coletiva.

    — Tu é uma pessoa triste, não é mesmo?

    A frustração era quase física, como se cada palavra tivesse que atravessar uma parede de ceticismo para sair. Ela começou a gesticular, sem pressa, como quem repete uma lição importante.

    — Mercenário, Ana, pega trabalho que até Deus duvida. A gente lida com o que não pode ser explicado, contratado ou documentado. Cada vez que passamos por aqueles portões, tem uma chance real de não voltar. Não é serviço comum. Não devia ser chamado como se fosse.

    Ana abriu a boca, mas Madame seguiu.

    — “Rank A”, “Rank F”, “Rank C”. Pelo amor de Deus! Isso parece escala de supermercado. Estamos num mundo de fantasia! As histórias que assistíamos, que a gente lia com os olhos brilhando… agora podem ser vividas. Me diga uma coisa Ana, por que, num mundo desses, alguém ainda insistiria em chamar as coisas de “rank C”?

    Houve silêncio.

    Ana não respondeu de imediato, porque não era uma pergunta feita para ser respondida. As palavras de Madame se espalharam como fumaça, se infiltrando nos recantos da sua mente antes que ela tivesse tempo de bloqueá-las.

    Pareciam infantis, quase bobas, mas tinham um peso específico. Para seu próprio desgosto, algo naquilo bateu fundo. Teatral ou não, havia lógica. Torta, sim — mas funcional.

    Se pegou pensando mais uma vez — contra a própria vontade — sobre a vida antes do fim. Uma existência sem cheiro nem sabor. 

    Precisava romper de uma vez por todas essas amarras.

    Assim, Ana apertou os dentes, inconscientemente. Respirou devagar. Não estava convencida — mas talvez, só talvez, valesse a pena experimentar a fantasia por um tempo.

    — Então… sou uma fundadora de bronze, certo?

    — Sim. Ao menos por enquanto. — Os olhos da taverneira brilharam, como quem acabava de ver a centelha que queria. — Espero que tenha muito mais guardado aí dentro. Me mostre que vale a coroa que carrega, visse?

    Ana não sorriu. Mas assentiu.

    — Pode deixar…
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