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Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina
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Capítulo 60 - Visitantes
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
Os céus estavam abertos como uma ferida limpa, de um azul tão saturado que parecia artificial — como se o mundo tentasse convencer a todos, com certo desespero, de que ainda havia beleza ali em cima. Foi nesse pano de fundo indecentemente calmo que os aviões surgiram.
Vieram aos poucos, como se testassem as nuvens antes de confiar totalmente nelas. Surgiram junto à cauda da grande baleia-branca que carregava Leviathan. Não era comum ver aeronaves se aproximando com tanta ousadia, não depois do colapso da maioria das formas de comunicação serem cortadas no ainda não nomeado Novo Mundo e da delicada diplomacia entre os que viviam no ar e os que ainda arrastavam os pés no chão. Ainda assim, não foi o tipo de coisa que alarmou os habitantes da cidade — pelo menos não de imediato. Leviathan era acostumada a visitas estranhas, e fortemente tentada a ignorá-las.
As aeronaves variavam tanto em modelo quanto em personalidade. Havia um Douglas DC-3 de guerra, inteiro pintado com runas em tons de cobre. Ao lado dele, um cargueiro colombiano Bell UH-1, do tipo usado para missões humanitárias no século passado, mas agora com turbinas substituídas por um sistema híbrido de hélices de bronze e um zumbido arcano vindo de tanques pendurados sob as asas. Um jato executivo também apareceu, repintado com spray preto, ostentando adesivos de caveiras e placas de metal soldadas sobre os vidros como se fossem armaduras de um cavaleiro bêbado.
A maioria deles parecia uma piada mal contada sobre a aviação. Havia peças recicladas de ônibus escolares, estruturas visivelmente remendadas com o que pareciam ser partes de geladeiras antigas, e, para completar, símbolos desenhados com o descuido de alguém que aprendeu manipulação de mana copiando rabiscos da parede de uma cela. E, ainda assim, voavam, adotando o improviso como norma.
Do alto das muralhas, alguns guardas observaram a chegada com expressões que iam do tédio ao desinteresse clínico. Um deles bocejou de forma tão dramática que parecia tentar convencer o próprio corpo de que ainda valia a pena estar vivo. Ninguém soou um alarme, evitavam alardes.
O primeiro a descer foi um homem grande e de barba espessa, barba essa que lembrava uma floresta mal gerida, e em seu rosto, um olho robótico girava devagar, analisando tudo com o brilho inquieto de algo que não foi feito para dormir. Tinha um sotaque arrastado e uma voz que parecia ter sido propositalmente afogada em alguns barris de álcool.
— Finalmente, de volta aos malditos filhos da baleia! — rugiu com uma alegria áspera, pisando firme na pele mais firme que o mais firme aço da baleia, como quem reencontra um desafeto de longa data.
Ao seu lado, um homem mais magro — e visivelmente mais animado com a própria existência — olhava ao redor com um brilho predatório nos olhos. Puxou uma adaga curta do cinto e passou o dedo pela lâmina com a mesma afetuosidade de quem acaricia um animal de estimação.
— Vamos fazer isso rápido. Lugares altos me fazem pensar demais — murmurou, olhando para o horizonte como se ele estivesse zombando.
— Calma. Ainda não é hora. — Após encher os pulmões do pouco oxigênio dos céus, o homem barbudo parecia estranhamente mais relaxado. — Vamos ver como andam as coisas aqui primeiro.
Ao fundo, as rampas de outras aeronaves se abriram como bocas famintas. E delas, não saiu nada que pudesse ser chamado de civilizado. Dezenas de figuras — mulheres e homens vestidos com couro gasto, panos puídos e uma espécie de orgulho desleixado. Alguns traziam machadinhas manchadas e lâminas tortas presas com cordas. Outros, mais sofisticados, empunhavam armas de fogo customizadas, cobertas de entalhes, penas e, em um caso particularmente preocupante, o que parecia ser um dedo humano usado como apoio de mira.
O som de botas contra metal preencheu o espaço como uma batida de tambor desalinhada acompanhada de longos cabelos loiros.
— Quantos são, afinal? — perguntou a mulher de expressão serena, cuja voz tímida, quase vacilante, certamente não condizia com o olhar.
— O suficiente pra finalmente tomarmos a cidade — respondeu o capitão, o olho mecânico girando devagar, focando mais nos próprios pensamentos do que nela. — Não estraguem tudo. Aquela cachaceira desgraçada dobrou a recompensa prometida pra esse ano.
Disse como se isso encerrasse o assunto, mas todos sabiam que não encerrava. O grupo estava disperso, inquieto, exigindo mais.
— Lógico que dobrou — comentou a mulher. — Não tem nem metade dos piratas do ano passado. E não fala assim da Dama de Ferro. Ela vai ficar puta se ficar sabendo.
— Que fique — o capitão resmungou, balançando as mãos com certo tédio performático. — Só lembra que não dá pra vacilar. Isso aqui deve estar um caos por dentro, então não vai ter oportunidade melhor.
Houve um assentir coletivo, silencioso e desconfortável. Sabiam que a ideia era ruim desde a primeira vez que fizeram isso, a quase dez anos atrás, mas a alternativa era a fome. Os mais supersticiosos se aproximaram uns dos outros, formando pequenos pares desalinhados enquanto pegavam objetos de dentro das mochilas. Um deles — um homem magro, com uma tatuagem inacabada de bússola preenchendo seu pulso — murmurou algo e pegou um punhado de sal, jogando-o discretamente por sobre o ombro direito. Outro removeu uma moeda lascada da bota e a entregou para o parceiro, que a cuspiu e depois a beijou com certo respeito.
— Lembrou do batismo do casco? — perguntou a mulher de antes, agora com o olhar mais firme, dando tapinhas na lataria do próprio avião.
— Lógico, com a cerveja mais cara daquela porra de Doca Enforcada. — O capitão parou por um instante, bateu com os nós dos dedos no peito nu e grunhiu.
— Alguém tá ostentando muito ultimamente, hein…
— Mundo novo, vida nova. Dessa vez vai ser diferente… ô se vai… — O homem gargalhou alto. Antes de assoviar e se virar para seus tripulantes com um alto grito. — Vento nos ossos, ferro na mente!
— Sangue no mar, sorte nas velas! — completaram os outros, quase em uníssono.
Era o mais próximo que tinham de uma oração, e sem mais uma frase sequer, o grupo se dispersou. Gritos viraram silêncio, não houve planos desenhados no chão, nem sinalizações discretas. Só uma confiança silenciosa de que, dessa vez, ia ser diferente. Claro, se tudo desse errado, o caos ainda seria o plano B. Não que o plano A também não fosse.
Com sorrisos largos e canções animadas, misturaram-se com os habitantes rotineiros como se sempre tivessem sido parte do lugar. Camuflados entre comerciantes, carregadores, músicos de rua e mendigos sorridentes. Alguns trocaram roupas em becos, outros apenas ajustaram os casacos, puxando mangas ou amarrando faixas para esconder insígnias já bem conhecidas. Olhares se cruzaram e desviaram com rapidez cirúrgica, repletos de uma ansiedade morna de quem não espera sair vivo, mas quer garantir que alguém se lembre que tentou.
Ainda não haviam se anunciado, mas a cidade agora carregava um leve zumbido — imperceptível, mas incômodo. Como uma corda afinada demais prestes a estourar.
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