Índice de Capítulo

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    *Este capítulo faz parte da novel reescrita!

    Como coisas tão aterrorizantes saíram de mãos humanas?

    Malditas estátuas.

    Seus olhos vazios. Suas posturas perfeitas. Sua presença sufocante. Era para ser arte, mas eram distorções.

    Malditas estátuas!

    Pelo menos ela resolveu sair daqui.

    Isso eu podia aceitar.

    Porque, se fosse para ficar presa nessa cidade com essa mulher louca e desgraçada, eu mesmo teria destruído cada uma dessas coisas com as próprias mãos.

    — Vai continuar me ignorando? Achei que as coisas iam mudar depois que você falou. O que custa falar comigo um pouco?

    Ela nunca desiste, não é? Não está errada, mas não vou dar a vitória de graça. Uma pessoa tão estranha.

    — Só um pouco! Prometo que não te encho mais o saco se falar um pouco comigo. Só mais uma palavrinha!

    Isso é uma mentira, tenho certeza. Mas… e se for verdade?

    — Gabriel.

    Merda, eu realmente disse?! Talvez o louco aqui seja eu!

    — Gabriel?

    — Sim.

    — Estranho.

    Estranho?! É meu nome, desgraçada!

    — Posso saber o porquê?

    — Bem… você é uma mulher.

    Ah. Sempre me esqueço desse conceito humano inútil.

    — Que seja, é meu nome.

    Eu já vi esse sorriso. Ela vai se sentar ao meu lado e ficar falando sem parar.

    Tenho certeza.

    — Eu me chamo Ana!

    E lá está. Sentada. O que fiz para ficar preso com uma criatura tão irritante?

    — Eu sei.

    — Então realmente estava prestando atenção quando eu falava com você! Isso é bom! Posso te perguntar algo?

    — Não.

    Vai perguntar do mesmo jeito, não vai?

    — O que acha disso?

    Sim. No fim, perguntou. E agora eu estou vendo algo ridículo.

    Ela está socando o ar com puro ímpeto, como se balançar os braços mais forte fosse resolver alguma coisa. Ela já deveria saber que…

    — Força não vale muito quando não se tem a habilidade necessária para aproveitá-la.

    Eu realmente disse isso?

    O pensamento escapou antes que eu pudesse impedir. Talvez… eu também estivesse com mais saudade de falar do que pensava.

    — Ah, eu sabia que você não era uma inútil! Se sabe que são horríveis, pode me ajudar a melhorar, né?

    — Não.

    Não parece que irritei ela com a negativa. Isso é curioso.

    Ah, ela só me ignorou e continuou os movimentos. Ai, ai… dessa vez, não vou culpá-la, fiz o mesmo por tanto tempo. E, bem, foda-se. Pelo menos isso vai ajudar com o tédio.

    — Eu vi isso em alguns livros… é melhor do que o que mostrei antes?

    Opa, agora isso já é outra coisa. Os movimentos ganharam precisão. 

    Não são só socos jogados ao vento. Agora, tem intenção. A base mudou. O peso do corpo está distribuído. A postura é mais controlada.

    Não foi só um ajuste, precisa de muita repetição para algo desse nível… O quanto ela treinou?

    — Isso é Krav Magá?

    — Sim! É muito inútil? Eu posso te mostrar uns outros golpes… todos parecem meio bobos, mas acho que aprendi mais ou menos nos últimos seis anos.

    — Seis anos?

    — Sim, ué. Você tava do meu lado quando comecei a me exercitar, como não lembra?

    Seis anos?! Essa mulher é uma ameba ambulante!?

    A primeira vez que a vi levantar um peso foi há quase um século atrás! Como pode um ser humano ser tão inconsciente da própria realidade?

    Bizarro.

    — Mostre logo o que mais você sabe…

    Não estava esperançoso quando fiz o pedido. Mas o sorriso cruel que surge no rosto dela… isso sim é incrível. Tenho certeza que ela estava esperando por esse pedido há anos. E não decepcionou.

    Essa mulher é um diamante bruto.

    Do tradicional karatê, até a expressiva capoeira.

    Uma técnica atrás da outra. Uma infinidade delas. Chega a ser uma loucura sem sentido. Mas falta algo… falta refino.

    — Perna direita, quatro centímetros para trás.

    Nenhuma resposta. Mas o ajuste foi exato.

    — Coloque o peso no centro do corpo e desloque para a ponta do pé em meio ao giro.

    Mais uma vez, perfeito. Isso não é talento. Talento não cria movimentos tão meticulosos.

    Isso é obsessão.

    — Você tem… — A palavra quase morreu na minha garganta, mas escapou antes que eu pudesse impedir. — Potencial.

    Droga. Eu realmente disse isso em voz alta? Espero que ela não tenha ouvido.

    Mas… se estou aqui, se vou acompanhá-la de qualquer jeito…

    Talvez… talvez não seja tão ruim.

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    Ou talvez seja uma bela merda. 

    — O que está fazendo agora?

    — Meditando.

    — Entendo…

    Não, não entendo. Meditando? Essa é nova. Já basta assistir ela lendo por dias a fio, agora terei que aguentar isso?

    — Por quê?

    — Quero pensar na filosofia por trás de cada estilo, sinto que tem muita coisa errada em todos eles.

    — E tem, por isso você deve continuar praticando até dominar todos. Use um para eliminar a deficiência dos demais.

    — Discordo.

    Está discordando de muita coisa ultimamente. Mas nunca explica porquê. Só discorda. Não precisa reinventar a roda, humana, apenas aprenda a matar.

    — Quanto tempo ficaremos aqui? 

    — Não sei, uma semana ou duas. Ainda tenho alguns animais para catalogar. Mas primeiro, preciso pensar um pouco, tudo o que você me ensinou parece tão pouco eficiente…

    Duas semanas já se foram há três meses atrás, idiota. Não sei porque ainda pergunto, a mesma coisa se repete em todo lugar.

    — Já não tem todos rabiscados nesse maldito caderno?

    — Por fora, sim.

    Por fora, sim.

    É um passatempo macabro. Até mesmo eu sou forçado a admitir uma certa aversão a isso. O sorriso gentil que ela tinha enquanto abria aquele gato… isso não deveria estar ali.

    Ela nem mesmo hesitou enquanto deslizava a lâmina de forma curiosa. Um ser que a acompanhou por mais de cem anos foi reduzido a peças de carne por simples… fome? Sim, acho que é uma boa definição.

    Se fosse para se alimentar, eu entenderia. Mas essa era pura fome de conhecimento. Essa mulher é algo problema por si só. Tenho pena das criaturas deste mundo que forem escolhidas para seu catálogo. 

    Os esboços eram detalhados demais. Cada pequeno órgão, cada pequena divisão nas minúsculas veias… tão detalhados que me deixam mal só por tentar ler. Não tenho paciência pra isso. Não quero mais pensar nisso.

    — Acho que entendi o que falta… Gabriel, você quer lutar?

    O que foi isso? Ela pediu para lutar?

    Posso ver em seu olhar que está cheia de expectativa.

    — Não tenho como testar minhas conclusões sem alguém…

    Aprender não basta? Eu deveria recusar, mas a ideia de vê-la se movendo, ver o quão longe chegou, me prendeu ali por um momento.

    Então apenas assinto. O que mais poderia fazer? Estou com tanto tédio.

    Ela avançou primeiro, e o maldito sorriso já está lá.

    Não o cruel, não o gentil. Ela tem tantos sorrisos diferentes… esse parece de uma feroz alegria.

    E, pela primeira vez em muito tempo…

    Eu sorri também.
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