Capítulo 76 - Vozes (epílogo)
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
Natalya cruzou os braços, observando com desdém os corpos ao seu redor. Alguns respiravam — por enquanto. Outros sequer tinham esse luxo. O silêncio ali era só uma palavra conveniente, porque sempre havia som, mesmo que fosse o eco longínquo da água pingando.
— Bando de azarados… — murmurou, apertando os olhos como quem tenta enxergar algo que não quer ver. Limpou os óculos com a manga da camisa. Não que isso melhorasse muito as coisas. Suas lentes podiam filtrar a luz, mas não o aborrecimento.
Seu olhar vagou pela caverna até repousar nas bolsas largadas num canto, como carcaças esquecidas. Caminhou até elas sem pressa. Acendeu uma lanterna pequena e vasculhou o conteúdo com a precisão de quem já fizera aquilo vezes demais para se surpreender. Faca pequena. Frascos de remédio baratos. Uma agulha solitária com a ponta ainda suja de sangue seco e linha surrada. Tudo inútil. Tudo descartável.
“Saia… é hora de ir…”
Grunhiu, levando a mão à testa como se pudesse esmagar a voz que arranhava seu crânio. Não podia. Já tinha tentado. Voltou à busca.
Então seus dedos encontraram um livro. Capa simples, esfolada, papel de qualidade duvidosa. Fez uma careta: já tinha mais livros do que juízo. Ainda assim, abriu. Por puro tédio, talvez. Ou hábito.
Uma página. Depois outra.
Seus olhos, acostumados a passear pelas letras alheias, arregalaram-se com uma súbita lucidez. Havia algo ali. Algo que conhecia.
“Saia… saia… há mais o que buscar…”
— Cala a boca! Cala a boca! Cala a boca! — Os dedos pressionaram as têmporas com uma força que ficou marcada. Dor física ainda funcionava como silenciador, aparentemente. As vozes sumiram como se nunca tivessem existido.
Respirou fundo, aliviada. Tocou a lateral dos óculos. Uma luz azulada acendeu-se, lançando sombras dançantes que aumentavam a beleza sinistra do que estava ao seu redor. Uma interface holográfica surgiu, obediente como sempre.
— Mostre-me minha biblioteca.
O sistema respondeu com eficiência: listas de livros, títulos acadêmicos, filosofias datadas, compêndios matemáticos que fariam um velho professor chorar de emoção. Coisas úteis, especialmente para um mundo que andava cambaleando de volta à idade da pedra. Mas era outra categoria que interessava: “Desconhecido.”
Eram livros que não deveriam existir. Obras sem autor, datas vagas, anotações demais para simples diários e conhecimento demais para simples devaneios.
— Compare com os demais.
O scanner fez seu trabalho. Linhas de luz azul varreram cada página do livro em suas mãos com uma lentidão que testava a paciência. A resposta veio sem delongas:
Compatibilidade: 100%.
— Achei mais um… — murmurou, quase num tom de reverência, como quem encontra uma relíquia inesperada. — Qual a idade da tinta?
Máximo de seis meses.
Seus pensamentos foram puxados de volta à jovem que havia enfrentado. Não era forte. Não ainda. Mas tinha um estilo único. Algo nela fugia do previsível, e Natalya sabia reconhecer o valor disso.
— Quem é você, Ana?
Sem perceber, sorriu. Aquele tipo de sorriso que não se faz para ninguém, apenas para si mesma. Era a alegria silenciosa de alguém que encontrara uma peça nova para seu quebra-cabeça.
— Atualize a categoria. Ana… ponto de interrogação. Nunca se sabe.
Feito.
Com um aceno, afastou a tela da vista. Guardou o livro na bolsa com o cuidado que se dá a uma peça de arte roubada. Então, antes de partir, olhou uma última vez para o abismo à frente. Pensou em algo espirituoso, desistiu, e chutou a mochila vazia para dentro do vazio. Pequeno gesto, mas lhe trouxe paz.
— Espero que sobreviva, garota… — murmurou. — Você vai fazer parte da minha coleção.
O silêncio voltou a engolir a caverna, um cenário calmo que abrigava memórias de um campo de batalha marcado pela luta e pela coragem desesperada de pequenos brinquedos dos céus.
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