Capítulo 18 - Confronto
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
O silêncio os segurou por uma fração de segundo. O tipo de silêncio tenso antes da tempestade, carregado de incerteza, de medo.
Os olhos de Ana varreram as criaturas uma última vez.
Longas pernas. Ossos finos demais para o tamanho do corpo. Movimentos rápidos, quase fluidos, como se o próprio ar fosse cúmplice do seu avanço.
Mas… instáveis.
“A chave não está na força bruta.“
Os olhos de Ana se estreitaram, sua mente girando em cálculos rápidos.
— Mirem nas articulações, ataquem logo após o recuo do salto!
Se os caçadores a obedeceriam, não sabia. Não tinha tempo para checar.
Porque naquele instante, a fera se moveu.
O mundo se dobrou ao redor do ataque. O ar vibrou com a velocidade da investida, garras negras reluzindo sob a luminosidade pálida que permeava o local.
Ana iniciou sua dança.
Seus pés deslizaram no chão como se o tempo tivesse desacelerado. Seu corpo se curvou no ângulo exato, escapando da morte por milímetros.
O primeiro golpe foi um sussurro de lâmina contra carne.
Não profundo. Não letal. Mas o suficiente.
O monstro rugiu, recuando, confuso. A dor era nova. Ele não esperava isso.
Ana não deu tempo para que processasse. Seus músculos se moveram antes que o pensamento tomasse forma. Desviou para o lado, sua faca riscando a lateral da criatura, traçando cortes pequenos, mas precisos. Testando.
A pele era mais resistente do que parecia. Não impenetrável, mas algo próximo.
Mas não era isso que importava. O ritmo da luta estava mudando.
A criatura não entendia o que estava acontecendo. Ela atacava, rasgava o ar, mas cada golpe se chocava contra o vazio, sem chegar à pequena mulher.
Ana estava ali, e então não estava mais. Seus passos ecoavam em padrões que não faziam sentido, sua lâmina aparecia em lugares inesperados, seus golpes dilaceraram pedaços de carne em ângulos improváveis.
A fera uivou, impaciente, furiosa. E, então, mordeu.
Foi um ataque bruto, um golpe de desespero. A mandíbula desceu com força brutal, mirando seu rosto — mas encontrou a armadura.
O impacto reverberou em seu braço. Doeu, mas mais pela pressão no metal do que pela mordida em si. Os dentes da criatura cravaram no aço, incapazes de perfurar o suficiente para causar um ferimento grave. Frustrante.
— É mais fraco do que eu pensei que seria…
A constatação veio carregada de tédio. Uma risada engasgada subiu por sua garganta, quase um reflexo automático. Se aquilo fosse o bastante para fazê-la recuar, então talvez merecesse morrer ali mesmo.
Depois de tudo que já enfrentou, de ter vomitado tanto sangue tantas vezes ao receber os socos daquele maldito anjo, cederia para isso?
Seria patético. Suspirou.
“Chega de brincadeiras.”
Aproveitou a distração do monstro, que mordia descontroladamente seu braço, e cravou a faca no ombro esquerdo da criatura. O golpe foi certeiro, inesperado. O monstro tropeçou para trás, caindo pesadamente no chão. Pela primeira vez, o sangue dele espirrou de verdade, uma fonte escura e quente tingiu o solo.
O monstro uivou, contorcendo-se no chão, e por um momento, Ana não se moveu. Estava eufórica. Mal conseguia conter a vontade de continuar o perfurando.
Sentia desejo, um gosto pela batalha de uma forma que não sentia a anos.
E então, algo mais.
Matar…
Não foi um pensamento, mas sim algo próximo a um sussurro. Tão baixo que pensou ser apenas sua mente pregando uma peça, mas tão íntimo que ainda instigou a confusão.
Um toque invisível, gentil, sombrio. Quase carinhoso. Algo… familiar.
Seus olhos arregalaram. A faca, ainda cravada na carne do monstro, foi esquecida. Virou-se bruscamente, o coração martelando.
— Gabriel?!
A frase não veio como um comando racional. Foi um grito repleto de surpresa.
Mas não havia ninguém ali. Apenas a floresta. Apenas o sangue encharcando a terra. Então por que parecia que ele estava ali?
O instante de distração custou caro.
O golpe veio de um ângulo cego, um braço distorcido voando em sua direção.
Ana sequer teve tempo de reagir. A pancada atingiu seu estômago com força bruta, esmagando músculos e ossos, arrancando-a do chão.
Ela voou.
O mundo girou, e no instante seguinte, seu corpo atravessou uma árvore, partindo-a como se fosse feita de papel. A madeira estalou, desmoronando em uma chuva de folhas e galhos enquanto a mulher atingia o solo com um impacto seco.
“Vacilei…“
A dor explodiu como fogo em suas entranhas. Tossiu, sentindo o gosto metálico do próprio sangue encher sua boca. Lentamente, muito lentamente, se levantou.
Ana cuspiu um bocado de sangue e sorriu. Balançou a cabeça, clareando a visão.
Cambaleou, mas não caiu.
A criatura, agora mancando, avançou novamente. Preparando o típico golpe final de bestas que veem a morte se aproximando.
Mas Ana também deu um passo à frente.
Seu corpo moveu-se como um fio de aço dobrando sob tensão. Cada músculo, cada fibra, cada movimento calculado com precisão milimétrica. Abaixou-se por baixo das garras que vinham em sua direção, escapando por um fio de cabelo. Ganhou espaço. Seu corpo girou no ar, e com a força acumulada, desferiu um chute direto na caixa torácica do monstro.
O impacto foi devastador.
O monstro gritou, o corpo subindo alguns centímetros no ar, impulsionado pela força do golpe. Mas Ana não o deixou cair.
Não.
A faca já estava de volta em sua mão antes mesmo de perceber. A lâmina riscou o ar em um arco mortal, e com a criatura ainda no alto, cravou-se profundamente em sua cabeça.
Entrou pela lateral do queixo, rasgando pele e ossos com a mesma intensidade. Um líquido escuro, mais espesso que sangue começou a vazar, escorrendo por seu braço enquanto observava o corpo inerte despencar, como se um fio fosse cortado.
A jovem milenar sorriu. Pelo jeito duraria um dia a mais. Mas o gosto amargo não tardou em voltar a subir por sua garganta, fazendo novas gotas carmesins respingarem enquanto seus pulmões se contraiam.
“Ah… merda.”
Os joelhos cederam conforme a adrenalina começava a se dissipar, e sua faca escorregou de seus dedos relaxados, atingindo o solo com um som abafado.
Respirava pesadamente, cada sopro um testemunho da batalha que havia travado. Ela venceu, mas não sem custos. Seu braço estava ferido e seus órgãos tremiam, seu corpo estava marcado pela batalha.
Foi quando o ardor em sua mão chamou sua atenção, arrastando-a de volta para o presente. Uma aura opaca, sutilmente avermelhada, brilhou sobre a arma que carregava. Apenas um lampejo. Um instante tão efêmero que poderia ser facilmente descartado como ilusão.
— Que porcaria é essa?
Era uma boa arma, isso ela tinha certeza. Não uma simples peça forjada, mas uma obra-prima nascida de um método que dominou com sangue e suor. Dobrada inúmeras vezes, temperada no momento exato, resfriada no melhor dos óleos para maximizar sua resistência. Aço impecável, cada milímetro moldado à perfeição.
E ainda assim… com certeza não deveria brilhar.
Seu cenho se franziu ainda mais. A memória veio como um estalo.
— Este é meu último presente para você, criadora obstinada…
Ana repetiu as palavras como se o próprio Gabriel sussurrasse em sua mente. Lembrou-se de como foram deixadas para trás junto com uma única gota de sangue, pingando sobre o item recém-forjado. Sentiu uma raiva latente crescendo dentro dela.
— Filho da puta… você podia ter pelo menos explicado as coisas direito, né?
Mas não havia tempo para divagações.
Com um suspiro, reuniu as forças e se levantou, o corpo protestando com cada movimento. Ainda não havia terminado, podia ouvir os gritos ofegantes ao redor. Para os outros, a batalha continuava.
A garota ruiva, agora aos farrapos, lutava com o que restava de seu corpo. Sangue escorria de inúmeros cortes, uma de suas pernas quase inutilizada, mas seus braços ainda se moviam. As flechas voavam sem pausa, disparadas mesmo quando seus dedos, já em carne viva, tremiam com o esforço.
O jovem com a lança… chorava.
Lágrimas se misturavam ao suor e ao sangue enquanto ele atacava incansavelmente, buscando qualquer abertura. Não existia técnica, era apenas desespero. Mas também havia amor ali.
Os gritos de ódio e tristeza denunciavam isso.
Mas a realidade era cruel. Sua força restante não era suficiente. A lança se cravava na pele da criatura, mas nunca fundo o bastante. Nunca letal o bastante.
Atrás deles, a tímida maga.
Ana piscou ao vê-la de pé, se segurando em um cajado maior que ela mesma. Seus olhos mal conseguiam se manter abertos. Seu peito subia e descia de forma errática, quase sufocante. De seus lábios, algo estranho escapava.
Era um sussurro, um fio de voz quase engolido pelo caos. Não um cântico ancestral, nem uma prece poderosa. Mas sim… uma canção de ninar.
— Brilha, brilha… estrelinha…
A melodia saía errada. Irregular. Um fragmento distorcido de algo familiar, mas desfigurado pelo medo. A entonação oscilava, e apesar de ainda ser bela, não continha a doçura com que deveria ser cantada.
— Quero ver você brilhar…
Ana sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O contraste era grotesco. No meio do caos, da carne rasgada, do cheiro de sangue e da adrenalina pulsante, aquela voz quebrada parecia mais um lamento do que uma melodia.
A cada verso, uma fraca luz escapava de suas mãos. Não explodia como fogo, nem cortava como lâminas divinas. Mas estava lá. Piscando. Frágil. Irregular. Como as estrelas que tentava emular.
O padrão era notável. Sempre que a criatura preparava um ataque, a luz surgia, como um reflexo. Uma distração? Um feitiço de apoio? Ana não sabia. Mas sabia que, sem aquele murmúrio torto, sem aquela música corrompida pelo terror, talvez já estivessem todos mortos.
Ainda assim…
— Não são ruins, só muito fracos… — Um estalo passou por sua mente. Seus olhos brilharam com irritação. — Mas o que esses idiotas estão fazendo?!
Certamente ignoraram completamente suas palavras anteriores. Cada um lutava da sua forma, mal podiam ser considerados uma equipe. Seus pés já estavam se movendo antes mesmo que percebesse sua decisão.
Foi então que algo brilhou no canto de sua visão. O martelo.
Abandonado no meio do campo de batalha, a arma da arqueira jazia no chão, ignorada. Pesada. Maciça. Perfeita. Aquilo sim era uma ferramenta de destruição.
Aproveitando o impulso, desviou de um golpe aleatório da criatura que rasgou o espaço onde estava e se lançou em direção à arma. Os dedos envolveram o cabo robusto. A faca continuava firme na mão direita, o martelo agora se fundindo ao seu braço esquerdo. Sentiu a madeira ceder levemente sob o aperto, mas ignorou.
Canalizou toda a força acumulada na corrida e desceu a arma como um trovão prestes a despedaçar a terra. O martelo cortou o ar em um borrão de pura violência, descendo direto para esmagar a perna direita da criatura.
Mas nada aconteceu.
O impacto nunca veio.
O solo abaixo explodiu em estilhaços. O chão rugiu em protesto, mas o monstro não estava mais ali. Ele se moveu no último segundo, esquivando-se com um salto quase debochado, deslizando para longe do golpe mortal.
Sabia naquele instante que tinha dado merda.
Até tentou saltar para trás, mas a fera foi mais rápida. Sentiu a carne da perna se rasgar sob o toque frio de uma garra. Não foi profundo, mas a ardência espalhou-se como fogo pelo corpo. O equilíbrio se desfez, e ela caiu de lado.
Começou a rir ironicamente.
“É isso? Assim que acaba?“
Por um instante, aceitou. Mas o fim nunca veio.
Uma flecha rasgou o ar, cravando-se direto no olho esquerdo da criatura. O rugido de dor foi imediato, um som grotesco de fúria e desespero. A fera se virou para retalhar seu atacante, mas foi recebida por um brilho ofuscante da garota loira. A luz feriu seu último olho funcional, fazendo-a tropeçar no próprio corpo.
Aproveitando a abertura, o jovem da lança saltou, cada fibra de seu corpo gritando vingança. A lâmina desceu com brutalidade, cravando-se no topo do crânio da fera. O monstro vacilou.
— Isso é pelo meu irmão, desgraçado!
A voz do garoto tremia, mas estava cheia de determinação.
O monstro já caía quando Ana se estabilizou. Usou a força restante na perna boa e atravessou a faca direto no coração da criatura. O sangue quente jorrou sobre sua pele, tingindo suas mãos com o fim daquele jogo macabro. O corpo da fera tremeu, contorceu-se e então, finalmente, morreu.
Ana não teve tempo de comemorar. O cadáver caiu sobre ela com todo seu peso, esmagando-a contra o solo. Seu olhar encontrou os jovens. Ensanguentados. Ofegantes. Mas vivos.
Então, o mundo piscou em estática, a consciência de Ana se despedaçando como vidro fino atingido por uma pedra.
— Foi divertido…
Desmaiou.
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REESCRITA – TEMPORARIAMENTE SEM IMAGEM
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