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    Capítulo 038 – ‎A aula da morte!

    Nos arredores, Celérius e os clérigos que estavam exaustos sentiram, uma pontada de esperança.

    O sacerdote loiro encarou Ayel à distância, orgulhoso por escolher certo quem ele seguiria.

    Aos poucos, as luzes pálidas das imposições de mãos retornaram, os feitiços de cura seguiam de mãos dadas com as vozes dos membros do templo que entoavam cânticos fervorosos.

    Lilian observava tudo sorrindo, ajoelhava-se ao lado de um dos guerreiros que estavam feridos, enxugara o suor da testa e sentiu o pouco mana que ainda restava no seu ser, a energia divina respondeu seus pedidos e amenizou os cortes do homem de armas, que assim que teve seus danos reparados, ergueu-se e correu junto do bárbaro.

    Era de se estranhar, os monstros estavam mais frágeis ou os guerreiros de Sihêon que estavam mais fortes?

    As espadas passavam com uma maior facilidade, decapitando os inimigos.

    A guarda real e os sentinelas pressionavam tanto os seres verdes que eram muitos gritos além de dor, mas de medo.

    Todos que escutaram a voz do rei entraram em um estado de raiva completa, atacando com a mesma voracidade bárbara reconhecida por Ayel, que liderava todos. Atacava sem descansar, mal respirava, apenas gritava em uma fúria tão assustadora que até os aliados ao reino decidiam instintivamente manter distância.

    Um massacre, os goblins não durariam muito mais.

    — Impressionante.

    Bruxo Negro cruzara os braços enquanto observava o espetáculo iniciado pelo bárbaro, seu amigo Alyssius se aproximou, sorrindo enquanto contemplava a mesma cena.

    — Lembra o Aiden, não lembra? Quando invadiu o reino e partiu Mahfus III ao meio.

    O senhor de Nox Arcana encarou seu amigo mago, sua expressão completamente obscura pelas sombras do seu rosto.

    — Então é isso, essa é a Exegese do Frenesi, um resquício de força dos Alvoradas unicamente ou uma raiz bárbara? — O arcano cogitava.

    Êxtase.

    Até mesmo os sobreviventes feridos, que estavam abrigados além da retaguarda, sentiram o tremor da voz do Alvorada adornar suas almas com coragem.

    Os deitados saltaram em ímpetos de determinação.

    — Exegese do quê? Perdoe, a intromissão, mestre.

    Amelie havia se aproximado, parte dos alunos de Nox não avançaram, estavam atacando os goblins apenas enquanto ainda estivessem no raio das suas magias.

    — Essa é uma habilidade perdida a muito, onde o discurso é disseminado com a mesma coragem e determinação do usuário de mana que a propagou. — explicou Bruxo Negro para sua afiliada.

    — Mana? Mas, o nosso rei é um guerreiro, não um mago. — A garota parecia muito confusa.

    — O mana não é exclusivo nosso, Amelie. — Alyssius dissera, encarando ela serenamente.

    — Entenda que o mana não é a magia em si… Mas sim, a essência que a torna possível.

    Enquanto Bruxo Negro explicava, era possível visualizar alguns goblins que estavam tentando fugir e passaram perto dos arcanos, tanto ele quanto Alyssius rapidamente os abateram utilizando esferas flamejantes, quando caídos, ele retornou sua atenção para Amelie, completando seu raciocínio.

    — Como um combustível. Como um incêndio que apenas faz com que o fogo espalhe, pois existem as folhas secas que alimentam esse resultado.

    Os guardiões acinzentados de Kassandra, que haviam sido erguidos pelos cadáveres verdes, moviam-se junto dela e dos necromantes para a linha de frente, urrando e grunhindo como seres abissais do mais profundo inferno. Tentavam alcançar o bárbaro e o alvoroço que ele mesmo criara.

    — Pense no mana como uma energia fundamental, ele está presente em literalmente tudo que possui vida. Permeando o mundo como sangue que corre por nossas veias. Embora ele esteja presente em tudo quanto é parte, nem todos podem usá-lo conscientemente. Arcanos, como nós, são seres especiais porque não apenas o sentimos, mas também podemos moldá-lo à nossa vontade. Porém, usar o mana não está limitado apenas aos arcanos.

    A aprendiz escutava atentamente, depois disso, não apenas ela, mas alguns outros alunos começaram a se aproximar. Essa era, definitivamente, uma aula que precisava ser vivida. Todos sentiam a honra de receberem um discurso didático do Bruxo Negro ao lado de Alyssius, precisamente.

    — E como… Isso funciona? — Ela continuava perguntando.

    — Qualquer um pode ser um usuário de mana, mas isso não o torna arcano. Um agricultor poderia muito que bem plantar suas sementes enquanto inconscientemente utilizasse o mana para garantir uma colheita abundante. Ou aquilo…

    Nesse momento, o feiticeiro da pele encoberta de sombras apontara para a linha de frente, onde havia Ayel, bufando e grunhindo, dilacerando qualquer ameaça que estivesse na sua linha de visão.

    — Guerreiros como o nosso rei, que podem canalizar seus momentos de ira, impulsionando sua força. — reiterou o senhor de Nox.

    Os goblins que sobreviveram essa investida brutal dos humanos fugiam, corriam em meio ao alvoroço verde, de volta para o emaranhado do Bosque das Folhas Densas.

    — O mana é definitivamente algo vasto, mas não significa que seja maleável para todo mundo. — Alyssius completava enquanto ajeitava seu manto.

    — Essa seria a maior diferença. Devo dizer inclusive o quão crucial ela seja. Essa energia que manipulamos é expansiva, o nosso mana é vasto, podemos transformá-lo em lanças de gelo, chamas de fogo, escudos tele-cinéticos e até mesmo alterar algumas leis naturais, mas existem outros tipos de mana, armazenados em certos indivíduos ativados por gatilhos específicos. Tipos que não são versáteis como o nosso.

    O grande mestre arcano sorriu, mas não conseguiriam reparar isso em seu rosto.

    Aqueles goblins que não eram tão velozes pereceram na lâmina, a vantagem numérica cessou. O povo de Sihêon era cinco vezes maior que as pequenas tropas de monstros que ainda se mantinham na praça, o campo de batalha era um cenário de horror e destruição, os últimos tilintares do metal servia-se junto do grito de dor dos monstros verdes.

    — Eu não sabia que existia mais de um tipo da energia que mexemos. — Uma voz ecoara um pouco longe, era mais um dos alunos que estavam se aproximando de Amelie para escutar a aula no meio da guerra.

    — O maior exemplo para isso seja o mana vermelho… Ele é geralmente associado às emoções, então você pode percebê-lo sendo ativado quando o usuário está munido de muita raiva ou paixão… Ele não obedece à vontade como as magias que estamos acostumados a trabalhar, mas sim, reage ao estado emocional do seu usuário.

    O grande arcano dizia enquanto voltava seu rosto para a batalha, ainda era palpável ver a energia de Ayel, quando todos focavam por alguns segundos no corpo do tribal, era como se o suor dele estivesse evaporando, o vapor era vermelho. Era muito difícil de se notar.

    — Observe o bárbaro, por exemplo. Usou mana vermelho em seu discurso recente, isso canalizou a sua energia sem que ele mesmo percebesse isso. Inflamou o coração de todos ao redor dele, quase como uma magia. — ilustrou Alyssius.

    — Então… Ele sequer sabia que estava utilizando mana, apenas… Ocorreu? — indagou a pequena bruxa.

    — Exatamente! E será isso que separará um usuário comum de um arcano. Enquanto nós estudamos e compreendemos o mana em sua totalidade, para podermos moldá-lo com precisão. Muitos dos usuários utilizam como uma ferramenta instintiva, claro… Isso não é ruim, mas obviamente seria uma limitação. — O mago da caverna alegrava-se com a curiosidade dos alunos do seu amigo.

    — Existem outros tipos de mana, ativados por outras questões… Existindo em outros tipos de pessoas, mas agora não é o momento, certo? Preciso que você recue com os alunos de volta para Nox Arcana.

    Bruxo Negro estava sério.

    — O que houve, mestre?

    Amelie e os outros alunos perguntavam, o tom mudou drasticamente para uma tensão fria e gigantesca.

    No momento em que parecia que a humanidade estava virando o jogo, vindo mais ao sul, um estranho e assustador evento criou forma.

    — Estou sentindo uma presença que me desagrada…

    — Eu também reparei nessa presença. Bruxo… O que nos aguarda, ainda? — O mago da caverna erguia prontamente as mãos, pronto para canalizar sua energia.

    Sons de tambores de guerras e cornetas ressoando, os aventureiros sobreviventes trocavam olhares de desespero. Um último reforço?

    Estavam todos atentos, encarando o portão no qual emergia a maior ameaça que aquele reino já havia visto.

    Do meio da grande horda final dos goblins, um deles se destacou. Mas não por conta da sua estatura, que era minimamente maior que a do restante, mas sim, por seu deslumbrante traje adornado em ouro e outras quinquilharias brilhantes.

    Esse ser utilizava, uma coroa majestosa, emanava uma energia maligna sinistra que era de se arrepiar apenas com seu olhar frio e penetrante.

    Aquele ser verde estava carregado de um poder feérico e cruel, todos ao redor estremeceram de medo. Menos o bárbaro, que limpava um fio de sangue que descia pela lateral esquerda do seu lábio, ficando ereto para encarar o pequeno de coroa de cima.

    No silêncio que havia se criado com o surgimento do monstro líder enfeitado em ouro, toda sua horda se afastara para que ele pudesse avançar, tomando a frente total da sua tropa monstruosa.

    A sua presença era como se um pesadelo tivesse invadido a praça, mas aquele olhar frio batia diretamente no olhar assassino de Ayel, que deu alguns passos à frente, sem um pingo de intimidação.

    Um embate que encheria o peito dos bardos de desejo.

    O rei goblin contra o rei bárbaro.


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