Capítulo 041 – A raposa traiçoeira!
Capítulo 041 – A raposa traiçoeira!
O grande templo da morte estendia-se como se fosse literalmente um túmulo de pedra enegrecida.
A noite era deveras impiedosa e ela lançava calmamente o seu manto silencioso sobre Maut Ka Mandir.
Nenhuma das tochas dos corredores ardiam em luz, não existia propósito para tal.
Apenas um par de passos ecoava no meio do grande vazio negro, passos lentos e gentis.
Niyati acabara de deixar a sua garota no quarto dela.
Quando visitou a vila Bramut junto do seu amigo Lavish, adotaram por fim aquela criança. Ela ficou muito grata por Anusha ter permitido que ambos ficassem com a pequena.
Tanto o Solanki quanto ela apadrinharam a menina.
Os dois cuidavam da mesma, o que começou por pena, mas com o passar das semanas os dois criaram um apreço enorme pela garotinha.
Trinity, ela foi batizada dessa forma.
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Ela era nova demais para poder dizer outra coisa, a menininha era criada e educada pelo casal de amigos.
Por mais que Trinity não tivesse mais que cinco anos, já recebia um treino intenso consideravelmente de Lavish Solanki, o que deixava ela exausta volta e meia.
Quando com a “mamãe” Ma, a garotinha recebia muito carinho e cuidados, nessa dualidade os dois seguiam na criação da mini algoz.
A pequena balbuciava pequenas palavras com o tempo, dialogando minimamente. Nenhum dos dois amigos criou uma criança antes para saber se ela estava atrasada ou adiantada em sua comunicação.
Niyati encarava o vazio de um santuário pela primeira vez em anos.
Ela não estava no confronto, a única algoz que não constava no portão sul. Ela não queria arriscar, com a ida do Lavish, ela iria também poderia ser perigoso para o futuro da sua “filha”.
Até que.
O som dos portões de Maut Ka Mandir abrindo chamara sua atenção. Ela demorou para se aproximar, andando lentamente pelos corredores enegrecidos.
Anusha estava nas fontes sagradas, o sangue goblin quando envelhecido, se torna um negro viscoso. Ele lavava seu par de katares.
A luminosa lua esgueirava-se em meio à penumbra absorvida pelo templo sagrado do reino.
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Brilhava em branco quando a mesma batia em Anusha, a aprendiz erguia os olhos para encarar o seu mestre. Dava de encontro com a máscara de porcelana.
Tão imaculada, fria e distante. Moldada naquela face que nunca havia sido vista. Muitos algozes tentavam deduzir como o Anusha se pareceria, tanto ele quanto Mudamir. Ambos pharidenhos, escondiam seus rostos diariamente.
— Mestre Anusha? — Ela observava a entrada do mais velho.
— Niyati… Esperava te ver dormindo, não perambulando pelo santuário.
Os ventos que ousavam passar entre as arcadas do templo sussurravam como um cântico agudo e irritante.
— A pequena Trinity estava um pouco agitada… Peguei um pouco de leite que comprei mais cedo no mercado e fervi para ela, a acalmou suficiente para voltar a dormir…
Ela mexia nos seus cabelos clareados, usava roupas leves, não o couro escuro dos algozes.
— E o senhor, mestre? Por qual motivo aparecera?
Aqueles olhos ocultados nas sombras da máscara observavam Niyati sem palavras, mas ainda ressoava como uma expressão visível. A mulher sentia algo naquele homem, um véu de tristeza, um brilho opaco. Um encarar vazio. Em um respirar fundo, ele respondeu:
— Finalizei o que tinha de ser finalizado.
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Havia sons de corneta ao fundo, deveria ser o reforço inimigo, provavelmente a chegada do rei goblin. Anusha estava olhando para o horizonte, calmo.
— Mestre, eu não entendo.
Niyati estava um pouco confusa, Anusha nunca abandonaria o restante dos algozes para retornar a Maut apenas para limpar a sua arma, ele estava com uma postura mais informal do que a perfeição que ele sempre transbordava.
— Talvez eu possa te contar… Apenas saiba que recebi uma proposta de trabalho que foi irrecusável.
Ele começara a secar as katares.
— Preciso assassinar um alvo, mas o pagamento que receberei está acima de qualquer quantia de ouro que já vimos.
Algozes sempre foram sentinelas da sua própria quietude, movendo-se com tamanha disciplina. Mas existia uma diferença na forma como Anusha se encontrava, Niyati visualizava isso com muita veemência. Ao ser um exemplo, todos os olhos pairam sobre você. Anusha era o algoz mais velho, com exceção do próprio Mudamir.
O mais velho era dono de uma presença densa, embora estivesse pesado pela maneira como o mestre algoz mantinha a sua postura deveras rígida. Era como se seus ombros estivessem carregando um peso muito além do material. Aquela máscara que sempre parecia um enigma inerte de porcelana e trazia consigo uma melancolia angustiante.
— Qual a quantia? — indagou a mulher.
O silêncio era uma lâmina invisível, mais afiada que qualquer katar, cortava a expectativa de Niyati que ansiava por respostas. Forçada a aguardar.
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— Não, minha aprendiz. Não menciono um pagamento como esse, mas sim… Poder. Um poder inimaginável.
O som do tecido fino que o homem usava para limpar as suas armas também sentira esse corte. Niyati escutava o rasgar do pano um pouco embasbacada, mas tentava disfarçar. Parecia outro homem, ela se perguntava como havia sido a batalha para seu mestre estar dessa forma, afinal.
Essa inquietação muda, uma angústia enraizada devido à ignorância do que de fato ocorria naquele momento ao sul e o que de fato possa ter acontecido com o seu professor. A mulher com cabelos claros estava embebida em tormenta.
— Precisei analisar o alvo, para saber se sairei vivo… Precisei compreender sua força, talvez eu até pereça no embate, mas adoraria apenas ter a sua cabeça para mostrar que fiz o que fiz.
— Que fora o contratante? Seriam os gêmeos de Eikõ? Talvez a senhora bruxa do norte?
Por mais que ela houvesse escutado as palavras do próprio senhor de Maut de que os contratos não seriam mais feitos no próprio reino, Niyati ficara completamente curiosa sobre quem seria esse alvo tão poderoso que faria o Anusha desobedecer ordens reais.
O homem tocou na sua máscara de raposa e respondeu:
— Seu nome é Crono… Ele é o senhor de uma grande torre que fica além-sul. Um mago de poder colossal.
— Mestre? Crono? O inimigo declarado do reino? Senhor?
A mulher dos cabelos claros e vestes leves umedeceu os lábios enquanto hesitava sua próxima fala. Niyati cogitava como poderia oferecer alívio para algo que ela não fazia a menor ideia do que poderia ser. Ela compreendia que existia algo de errado com o seu mestre, mas não identificava o quê. O homem também não demonstrava seu sofrimento com palavras, mas seu corpo não mentia.
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O homem sentia-se claramente incomodado enquanto conversava, ela podia reparar muito bem nisso. Ainda assim, ele continuava nesse discurso. Como se estivesse sendo forçado para tal. Anusha prosseguia:
— Como eu disse, o pagamento é imenso. A ponto de me obrigar a aceitá-lo, infelizmente acredito que eu acabe tendo que sair do nosso santuário. Os antigos líderes não entenderiam as minhas motivações e poderiam me julgar pelo feito.
— Para evitar que eu seja expulso… Sairei eu mesmo, assim que o serviço for feito.
Os dedos da mulher entrelaçavam-se, ela pensou dar um passo à frente, mas acabou detendo-se enquanto seu pé esquerdo ainda estava no ar. Preferiu dar um passo para trás.
Ela queria perguntar, mas a própria pergunta lhe faltava. Queria ajudar, mas a própria ajuda lhe fugia.
Naquele silêncio entre os dois, apenas a máscara continuava a responder. Mesmo que em um silêncio, aquela máscara sem boca, sem expressão e sem vida. Ecoava a palavra tristeza.
Anusha se aproximara.
— Quem… Quem é o alvo? — Niyati Ma criara coragem.
O homem com a máscara de raposa voltou os olhos diretamente para a mulher, ela conseguia ver as íris brilharem atrás da porcelana.
— O rei Ayel.
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Antes mesmo que a ela pudesse ter qualquer tipo de reação sobre o que acabara de escutar, com a katar da mão direita que estava recém seca, Anusha estaca completamente a sua subordinada. Fazendo com que a lâmina perfurasse o máximo que a força do homem permitisse dentro dela.
O algoz mais velho conseguia escutar perfeitamente o som do sangue sair por quase todas as vias da mulher, sem retirar a katar, ele solta um ar aliviado.
— Assim que feito, eu apenas irei embora… O templo fará falta… Mas acredito que a Torre de Crono possa me consolar igualmente. Você compreende isso, não compreende?
Anusha aproximou o ouvido do rosto da mulher da pele de ébano que estava sufocada, encarando-o com tamanha surpresa nos olhos cheios de lágrimas.
— A canção de Crono… A promessa… Não posso falhar, me perdoe, Niyati.
Ele então retirou a katar, o que fez com que o sangue jorrasse com ainda mais agressividade. Por um momento, Anusha decidiu apenas ignorar a existência de Trinity, julgando ter acabado com toda a vida que existia no santuário, apenas finalizando sua dedicada aluna.
— É uma pena que você tenha escutado tudo, uma pena que tenha retornado para cá. Mas ninguém poderia me ver… Por quê você apenas não estava dormindo?
O homem encarava a sua katar suja, decepcionado.
— É uma pena que você tenha sido “atacada por um goblin” que conseguiu chegar até Maut Ka Mandir… Descanse em paz, minha irmã das sombras.
Enquanto Anusha retornava para as fontes, desamarrou novamente a katar do seu punho.
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— Vamos limpar tudo isso… Vamos voltar para o campo de batalha.
A canção de Crono.
Ele estava fora de si.
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