Capítulo 11: Carta misteriosa
É um absurdo! — exclamei, franzindo a testa. — Cinquenta peças imperiais é um preço absurdo para um tutor de nível básico. Há alguns anos, compramos um engenheiro de mana por quase essa quantia.
O mercador tentou argumentar, mas eu o ignorei, decidido a não pagar mais do que quinze moedas. Com o orçamento definido, virei-me e saí, sem perceber que alguém nas sombras me observava atentamente.
Ao cortar caminho por um beco estreito em direção à estalagem, senti um movimento rápido se aproximando, mas não a tempo de evitar o ataque. Levantei o braço instintivamente, e um porrete pesado colidiu com força. O impacto foi brutal — cerrei os dentes ao sentir meus ossos estilhaçarem com o golpe. A força me lançou ao chão. Tentei me levantar, mas, ao apoiar o braço ferido, senti uma dor intensa e caí novamente, amaldiçoando minha própria distração.
— Passe a bolsa de moedas — exigiu uma voz firme, sem espaço para negociação.
Um assalto. Com o foco nos problemas com Eryk, eu tinha vacilado duplamente ao não perceber a emboscada.
— Vamos, rápido, não estou para brincadeiras — insistiu o ladrão, com o tom impaciente.
Reuni o pouco de força que me restava e comecei a circular minha mana, tentando intimidá-lo. No entanto, o ladrão apenas bufou, desprezando meu esforço.
— Nem sequer tem um círculo completo e quer me enfrentar… Que piada!
O assaltante circulou sua própria mana, revelando o brilho intenso do quarto círculo completo. A diferença de poder era clara, e percebi que estava encurralado. Desesperado, minha mente se voltou para o miasma contido em meu coração. Concentrei-me nele, e uma mana negra e densa envolveu meu corpo.
O ladrão estacou, olhos arregalados, e em um instante, desapareceu nas sombras sem dizer mais nada.
Quando a aura de miasma se dissipou, comecei a tossir e a tremer incontrolavelmente. Mesmo aquela quantidade ínfima havia desgastado meu corpo quase até o limite. Com dificuldade, tropecei para fora do beco em busca de apoio, apenas para me deparar com a ponta de várias lanças apontadas em minha direção. À frente, um oficial de patente avançada me fitava com um olhar severo.
— O senhor está preso — declarou, a voz carregada de autoridade, deixando claro que qualquer resistência seria inútil.
Eu estava em uma sala de interrogatório, o braço recém enfaixado pendendo em uma tipoia. A dor ainda latejava, mas eu me forcei a manter o foco quando o oficial entrou, com um ar solene. Ele se sentou à minha frente, colocando alguns papéis sobre a mesa antes de falar:
— Temos uma acusação contra o senhor. Lorde Eryk, um cidadão estimado, alega que foi enganado em uma operação de venda de escravos. Ele exige que o senhor honre o acordo, transferindo a propriedade da escrava para ele.
Engoli minha indignação. Qualquer reação impulsiva apenas pioraria a situação. Respirei fundo, reunindo calma, e respondi claramente:
— Deve haver algum engano. Eu nunca fiz qualquer acordo com Eryk. Pelo contrário, recusei-o várias vezes.
O oficial olhou-me com um olhar frio, ajustando sua postura para me intimidar:
— Ele tem várias testemunhas… seria prudente evitar confusão.
A raiva fervia dentro de mim, mas, ao me sentir encurralado, lembrei-me de Okron. Não sabia se ele tinha previsto algo como isso, mas tirei a pequena placa de bronze do bolso e a mostrei ao oficial, mantendo meu tom firme:
— O senhor Okron me deu isto. Ele pode testemunhar a meu favor, pois viu tudo o que aconteceu.
Ao ver a placa, o oficial empalideceu, sua confiança desmoronando. Ele gaguejou, claramente perturbado, e deixou a sala levando a plaqueta. Esperei ali por cerca de meia hora até que ele retornasse, sua expressão tensa.
— A acusação contra você foi retirada. Pode ir embora.
Um sorriso escapou no meu rosto enquanto eu dizia, com fingida despreocupação, já pensando em tirar alguma vantagem daquela situação:
— Hm… sabe, em casos de falsa acusação, costuma-se oferecer uma compensação à parte ofendida, certo?
O oficial me lançou um olhar azedo, mas, após algumas negociações, saí da delegacia com cem peças imperiais e uma carta assinada pelo próprio Eryk, comprometendo-se a nunca mais me incomodar a respeito de Nix.
Ao sair, joguei o saco de moedas para o alto em uma comemoração silenciosa — mas, ao cair em mim, olhei para os lados, recolhi rapidamente o dinheiro e o guardei. Voltei à hospedaria, onde encontrei Nix à minha espera, impaciente e aborrecida por eu não tê-la levado, apesar do bilhete que tinha deixado explicando minha ausência.
Mas ao ver meu braço enfaixado, ela esqueceu a mágoa e veio me ajudar com cuidado, preocupada. Contei-lhe sobre o ladrão que tentara me roubar e como acabara na delegacia. Omiti a parte sobre Eryk, para poupá-la de qualquer culpa. Depois, tomei uma das poções guardadas no quarto e, ao sentir a dor se dissipar, soube que meu braço estaria melhor em uns dois dias.
Descemos para jantar no salão da hospedaria. Apesar de agora ter dinheiro suficiente para viver tranquilo por um bom tempo, eu estava farto de tanta emoção num único dia. Enquanto jantávamos, uma criança de rua entrou e se aproximou, com roupas em farrapos, e me entregou um bilhete dobrado.
Achei aquilo estranho, mas abri o bilhete e, em uma caligrafia refinada, li:
“Pode-se dizer que descobri seu segredo mais sombrio. Tenho um grande interesse em você e acredito que podemos nos ajudar mutuamente. Venha amanhã, no começo da noite, ao Seda Vermelha. Vamos nos encontrar.”
Nix, curiosa, espiou o bilhete por cima dos meus ombros, sua expressão ansiosa deixando claro que esperava uma explicação.
Dei de ombros para Nix, tão confuso quanto ela sobre o conteúdo do bilhete. Levantei-me e fui até o balcão, onde o estalajadeiro, um senhor já idoso de cabelos brancos e nariz avermelhado, estava atento aos fregueses. Mostrei-lhe uma moeda de prata, que ele olhou com interesse enquanto eu perguntava:
— O que você pode me dizer sobre o Seda Vermelha?
O homem corou ligeiramente e abriu um sorriso malicioso, inclinando-se para mim.
— É um bordel, o melhor da cidade — disse ele, pegando a moeda da minha mão. Aproximando-se, sussurrou: — Dizem que lá se fazem alguns negócios sujos, além das… especialidades da casa, se é que me entende. — Ele completou a frase com um olhar astuto e uma inclinação de cabeça para Nix, ainda sentada à mesa. — Eu não a levaria, não senhor, não mesmo…
Voltei à mesa sob o olhar atento e curioso de Nix, que parecia tentar ler meus pensamentos. Sentei-me, fingindo concentração na comida, mas a verdade era que eu estava planejando como sair sozinho novamente. Sabia que seria difícil convencê-la a me deixar ir sem levantar suspeitas.
Nix estreitou os olhos, e um arrepio subiu pela minha espinha. Era como se ela soubesse exatamente o que eu estava tramando. Mesmo com o problema com Eryk resolvido, um incômodo persistente apertava meu peito, como um aviso de que outras complicações estavam por vir. Enquanto terminava a refeição, tentei disfarçar meu nervosismo. A ideia de ir ao Seda Vermelha estava longe de me agradar, mas a curiosidade e a necessidade de entender quem estava por trás do bilhete me puxavam para o encontro como um ímã.
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