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    Aproximei-me de Dec com calma, focando-me na energia que fluía em seu corpo. Minha sensibilidade à mana era elevada, o que me permitia avaliar a força de um oponente. Ele não parecia possuir sequer três círculos completos de mana. Perfeito, pensei.

    — Com licença… preciso ir ao banheiro — inventei, tentando encontrar uma desculpa plausível para me afastar do armazém.

    Ele apenas balançou a cabeça, dispensando-me com um olhar entediado.

    Deixei o galpão e me dirigi às sombras de uma parede lateral. Fechei os olhos e tentei, mais uma vez, acessar minha contraparte sombria. No entanto, havia apenas silêncio. Droga.

    Quando abri os olhos, Nix já estava ao meu lado, ansiosa.

    — E aí? — perguntou ela, suas orelhas se movendo com leveza sob o capuz.

    — Sem contar os carregadores, que provavelmente vão fugir, há apenas um homem aqui embaixo. Lá em cima, são cinco. Selune e Karlom estão lá, mas não podem nos ajudar.

    — Se você distrair o de baixo, eu posso cuidar dele… — Disse ela, confiante.

    Não havia muitas opções. Concordei com um aceno.

    Voltei ao armazém, tentando parecer natural, e recomecei o trabalho. Após alguns minutos, quando estava próximo da entrada, deixei uma das caixas menores, com o leão estampado, cair de propósito. A tampa rachou, espalhando um pó escuro no chão.

    — Moleque do caralho! — Rugiu Dec, vindo na minha direção com passos firmes, a mão levantada para me dar um tapa.

    Lembrando dos treinos com Karlom, girei meu corpo e prendi seu braço em um movimento rápido. Surpreendi-me com a facilidade do golpe. Sem hesitar, desferi uma cabeçada violenta em seu rosto. O impacto foi satisfatoriamente brutal; senti os ossos de seu nariz racharem.

    Dec desabou no chão, desacordado. Nix, que observava à distância, inclinou a cabeça e me olhou com curiosidade, como se questionasse por que eu havia pedido sua ajuda.

    Os carregadores, assustados, largaram o trabalho e correram porta afora, gritando enquanto desapareciam pela rua. Seus gritos ecoaram no armazém, alertando os homens no andar de cima.

    — Merda. — Murmurei.

    Nix desapareceu nas sombras, silenciosa como sempre. Eu saquei minha espada e procurei um ponto cego próximo à escada, me preparando para o confronto.

    Não demorou para que dois homens descessem apressadamente. Um deles era o homem com cicatrizes no rosto que me havia chamado para trabalhar; o outro era um capanga robusto. Quando o homem das cicatrizes viu Dec caído, correu até ele, ajoelhando-se ao lado do companheiro.

    Aproveitei a distração. O outro capanga estava com as costas voltadas para mim. Não hesitei: avancei e cravei minha espada em suas costas. O aço perfurou carne e osso, atravessando seu peito. Ele tombou imediatamente.

    O homem das cicatrizes ergueu o olhar para mim, seus olhos semicerrados em ódio.

    — Desçam aqui! Temos um rato! — gritou, sua voz ecoando pelo galpão.

    Ouvi passos rápidos no andar superior.

    O homem das cicatrizes se levantou, sacando uma cimitarra da cintura. Ele girou a lâmina em sua mão com habilidade, exibindo um sorriso sarcástico.

    — Já fez as pazes com seu criador? — Provocou.

    Ele avançou com dois ataques rápidos, exploratórios, que defendi sem muita dificuldade. Enquanto isso, percebi Nix se aproximando por trás dele, movendo-se com cuidado.

    Sinalizei para ela com um leve movimento de cabeça. Foi um erro. O homem notou meu gesto e se virou no momento exato, desviando de um golpe que deveria ter sido fatal. A adaga de Nix, que mirava seu pescoço, acertou seu ombro. Ele rugiu de dor, mas isso só o deixou mais furioso.

    Virando-se completamente para ela, o homem atacou com violência, obrigando Nix a desviar e aparar os golpes com suas adagas. Ela dançava ao redor dele, esquivando-se como podia e tentando encontrar uma abertura para contra-atacar.

    Enquanto isso, os outros dois capangas já haviam descido as escadas, cercando-me para me flanquear.

    Me concentrei, avaliando a mana deles. Ambos eram de 3º círculo completos, enquanto o homem que enfrentava Nix estava em um patamar superior, de 4º círculo.

    Antes que os dois homens à minha frente pudessem me cercar, ataquei. O treinamento começava a fazer sentido. Milhares de cortes praticados com Karlom tornaram meu movimento preciso e veloz. O primeiro capanga tentou levantar sua espada para defender, mas estava atrasado. Meu golpe não tirou sangue, mas o desequilibrou.

    O segundo homem avançou. Seus movimentos eram incertos, carregados de medo. Ele não atacava com verdadeira intenção. Aproveitei sua hesitação, esquivei do golpe e contra-ataquei, cortando seu pescoço. Senti o aço rasgar a carne, e pressionei até que ele desabasse.

    Meu breve sucesso, no entanto, me deixou descuidado. Enquanto avançava para finalizar o primeiro capanga, não percebi que Dec havia se levantado. Ele, com uma faca grande na mão, e o outro capanga, com uma espada curta, cercaram-me. Dec olhava para mim com ódio puro, o nariz deformado pelo golpe anterior.

    Os dois começaram a me atacar, desferindo cortes superficiais, mas suficientes para minar minha força e confiança. Eu me via preso na defensiva, incapaz de revidar. Eles não tinham pressa, satisfeitos em me desgastar pouco a pouco.

    Ao longe, ouvia o choque do aço e sabia que Nix também estava em apuros. Uma olhadela rápida confirmou meus temores: ela estava encurralada, sangrando por vários cortes, mas ainda resistia.

    A distração custou caro. Um dos capangas estocou contra mim, mas instintivamente reagi com um contra-ataque que havia repetido à exaustão nos treinos. Meu golpe atravessou o fígado dele, e o homem caiu com um gemido agonizante.

    Agora só restava Dec. Ele compensava a falta de força com uma técnica impecável no uso da faca. Cada golpe meu era recebido com um contra-ataque feroz. O cansaço se acumulava, os cortes no meu corpo ardiam, e minha confiança vacilava.

    Então vi Nix. O homem das cicatrizes a havia encurralado em um canto e avançava como um predador, certo da vitória. Seu rosto refletia desespero e raiva, e algo dentro de mim explodiu.

    Sem pensar nas consequências, avancei contra Dec com toda a força que me restava. Ele conseguiu cravar sua faca no meu abdome, mas meu golpe foi decisivo. Minha espada cortou seu pescoço, quase separando sua cabeça do corpo.

    Meu coração martelava no peito enquanto eu avançava, ignorando completamente a dor. O homem das cicatrizes, ainda focado em Nix, virou-se para me encarar no último momento. Ele pareceu surpreso ao me ver, ensanguentado e ofegante, mas ainda avançando com determinação.

    — Você tem mais coragem do que eu imaginava, moleque — ele disse, sorrindo com malícia, ainda girando a cimitarra.

    Eu não respondi. Não havia palavras, apenas o som do aço cortando o ar. Minha espada encontrou a lâmina dele no primeiro ataque, um golpe horizontal que ele bloqueou com habilidade. Ele girou o corpo logo em seguida, tentando cortar minha perna, mas recuei no último instante.

    Atrás de mim, Nix estava caída no chão, pressionando o ombro ensanguentado. Seus olhos dourados brilhavam com uma determinação feroz, mas seu corpo tremia, exausto.

    O homem avançou novamente, seus movimentos fluidos e implacáveis. Cada golpe era preciso, calculado para abrir minha guarda e forçar um erro fatal.

    Minha força estava se esvaindo. O ferimento em meu abdome ardia a cada respiração, e o sangue empapava minhas calças.

    — Suba… — gritei para Nix, entre dentes. — Liberte Karlom! Eu não vou aguentar muito tempo!

    Como uma sombra, Nix disparou pelas escadas, os pés mal tocando os degraus. O homem tentou bloquear seu caminho, mas interceptei sua lâmina a tempo. Só me restava torcer para que ela conseguisse.

    O próximo golpe veio com violência, um arco descendente que coloquei minha espada para bloquear. Minha mão, fraca, não resistiu. A lâmina foi desviada, mas a espada escapou dos meus dedos e voou para longe.

    Recuei, trôpego, enquanto minha visão começava a turvar. O homem avançava devagar, com um sorriso doentio no rosto, saboreando a vitória iminente.

    A última coisa que ouvi antes de a escuridão me engolir foi um trovão alto vindo do andar superior. 

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