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    A entrada foi servida em tigelas pequenas de porcelana branca, com delicados filetes dourados. O creme de cogumelos exalava um aroma terroso, envolvente, com o perfume sutil do azeite trufado pairando no ar como uma promessa. Claire levou a colher aos lábios com cuidado e, depois da primeira prova, fechou os olhos por um instante, saboreando.

    — Eu me sentiria muito requintada se não estivesse morrendo de vontade de lamber a tigela — disse ela, sorrindo com os olhos.

    — Fique à vontade, Lady Claire — respondi com um ar solene. — Aqui, ninguém ousaria julgar.

    Ela soltou uma risada breve, e um pouco do nervosismo do início da noite pareceu se dissolver de vez.

    A conversa deslizou fácil entre um assunto e outro. Falamos do casamento que se aproximava, das cores escolhidas por Nix, do vestido que ela ainda não tinha aprovado, e que dizia não estar à altura, e até das primeiras vezes que nos vimos no baile. Eu lembrava de cada uma, mas deixei que ela contasse como foram para ela.

    O prato principal chegou pouco depois. Os medalhões estavam perfeitamente selados, cobertos por um molho escuro e espesso, com um perfume intenso de vinho e ervas. As batatas estavam douradas, com bordas crocantes e um interior macio como creme. Claire pegou o talher, mas demorou a provar. Olhava para mim por sobre a borda do prato.

    — Por que está me olhando assim? — perguntei, tocando com o garfo uma batata.

    — Não sei — disse ela, baixando os olhos. — Talvez porque ainda esteja tentando acreditar que isso está mesmo acontecendo. Que nós dois estamos aqui. E que você me olha como se eu importasse de verdade.

    — Mas você importa. Sempre importou. Você só não percebia.

    Ela desviou o olhar para o prato, mas seus olhos brilhavam. De emoção contida. De coisas que nunca foram ditas em voz alta.

    A sobremesa veio quando as taças estavam pela metade. A torta quente de avelã vinha com uma camada fina de chocolate derretido por cima, que escorria lentamente pelas laterais. Um perfume doce, quase caseiro, pairava no ar. Claire mordeu a primeira garfada e soltou um som quase imperceptível, que me fez sorrir.

    — Não sei se o beijo ou a torta me ganharam mais hoje — disse ela, provocando.

    — Posso repetir o primeiro, se quiser comparar de novo.

    Ela riu. O riso certo, no tom certo. E os olhos dela diziam que, embora brincasse, não era só brincadeira.

    Terminamos a sobremesa devagar. Ninguém teve pressa para ir embora.

    Lá fora, a noite estava fresca, com a brisa carregando o perfume das flores da praça imperial. A carruagem nos esperava, e o cocheiro abriu a porta com uma reverência discreta. Entrei primeiro e ajudei Claire a subir. Assim que a porta se fechou e o som dos cascos começou a marcar o ritmo da volta, ela se virou para mim.

    — Obrigada por hoje — murmurou, os olhos presos aos meus. — Foi perfeito.

    Toquei seu rosto, com os dedos pousando de leve na linha de sua mandíbula.

    — Você merece mais noites assim.

    Ela se aproximou. Devagar. E me beijou.

    Foi um beijo quente, calmo, sem urgência. Um beijo cheio de intenção. Ela não se afastou logo. Ficou ali, com os rostos próximos, os lábios quase colados.

    — Você vai sair em missão, não é? — sussurrou.

    Assenti, ainda tocando sua pele.

    — Vai ser perigoso?

    — Um pouco. Mas eu tenho bons aliados. E voltarei em segurança.

    Ela respirou fundo, como se quisesse guardar meu cheiro junto com minha resposta.

    — Quero que você vá comigo para o meu quarto essa noite — disse.

    Não era um pedido afoito. Não havia hesitação nem pressa em sua voz. Era apenas um convite. Simples. Cheio de significado.

    A carruagem seguiu seu caminho, e nada mais foi dito até chegarmos. Mas as mãos seguiram entrelaçadas, e o calor entre nós só crescia, como se a noite ainda estivesse começando.

    A carruagem parou suavemente diante da mansão. O cocheiro desceu, abriu a porta e manteve-se em silêncio enquanto Claire aceitava minha mão para descer. O ar noturno estava perfumado com jasmins, e mesmo na penumbra das lamparinas mágicas, seu rosto parecia irradiar luz própria.

    Subimos os degraus da entrada lado a lado. Dentro, o silêncio da casa era acolhedor, íntimo. Não encontramos ninguém no caminho. Era como se o mundo tivesse recuado, respeitando o espaço que agora era só nosso.

    — Venha comigo — disse ela, guiando-me pelos corredores até o andar de cima.

    Paramos diante da porta do quarto dela. Claire a empurrou com delicadeza e me fez sinal para esperar.

    — Só um instante… preciso me preparar.

    Assenti. Ela desapareceu atrás da divisória, levando consigo o som suave de seus passos descalços sobre o assoalho. Fiquei no cômodo, observando os pequenos detalhes: o vaso com flores recém-trocadas, a escrivaninha com folhas e penas de escrita.

    Retirei meu casaco e pendurei-o no encosto da poltrona. Sentei-me na beira da cama. As mãos entrelaçadas, tentando conter a mistura de ansiedade e cuidado que me atravessava. Eu não queria errar com ela. Queria que aquela noite fosse leve, serena, segura.

    Minutos depois, ela reapareceu.

    Tinha trocado o vestido por uma camisola clara, feita de um tecido leve que dançava com seus movimentos. O brilho tênue da luz mágica ressaltava seus traços com delicadeza, os ombros expostos, a curva do pescoço, os olhos que evitavam os meus por um momento, apenas para então, com coragem, encontrar o meu olhar.

    — Claire… — murmurei. — Você está linda. Deslumbrante.

    Ela corou, as mãos se juntando como se quisesse se esconder. Mas não se moveu. Apenas respirou fundo e se aproximou.

    — Obrigada — disse, baixinho.

    Fiquei de pé. Toquei seus cabelos, deslizei a mão por sua bochecha e a beijei. Com mais ternura do que desejo. Mas o desejo logo veio, no modo como ela me puxou pela gola da camisa. Nos aproximamos da cama, e sem romper o beijo, a acolhi em meus braços e a deitei com cuidado.

    Claire reclinou-se sobre os travesseiros, e eu me debrucei sobre ela, apoiado com cuidado, atento aos seus sinais.

    Os dedos dela tocavam meu rosto, os olhos me buscavam com uma confiança que me fez prender o fôlego por um segundo.

    — Estou pronta — murmurou ela, quase sem voz.

    Aquela frase ficou suspensa no ar entre nós.

    Nos beijamos mais uma vez, agora com mais intensidade. O quarto ficou em silêncio, exceto pelos sussurros do tecido se movendo, da respiração entrecortada, dos corações acelerados. A noite seguiu, deixando-se envolver pelos dois, com carinho, respeito e entrega.

    As velas continuaram a queimar baixinho, lançando sombras suaves sobre o quarto, enquanto o mundo lá fora desaparecia por completo.

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