Capítulo 34: Entrando na equipe Javali
Depois da reunião com minha mãe, senti a urgência de agir. Fui direto à administração do Império para resolver minha inscrição no torneio. O tempo era um recurso precioso, e eu precisava usá-lo com sabedoria. A cada dia que passava, a chance de completar meu terceiro círculo de mana antes do início do torneio parecia mais desafiadora. Selune seria essencial para empurrar meus limites mágicos, enquanto Karlom continuaria a aprimorar minha técnica com a espada. Não havia espaço para negligência; o torneio exigiria o máximo de nós.
A antessala das inscrições era um espaço imponente, onde o silêncio ecoava como um lembrete da gravidade daquele momento. As paredes eram decoradas com brasões das equipes que iriam competir, e o ar parecia carregado de expectativa. No centro da sala, um painel massivo dominava o ambiente. Cada equipe era representada por seu brasão: leão, javali, cervo, águia e alce. Abaixo deles, os nomes dos participantes inscritos brilhavam em dourado sobre o fundo negro.
Me aproximei do painel e analisei os nomes. As equipes ainda estavam sendo formadas, mas algumas já tinham um número significativo de integrantes.
A equipe Leão, liderada por Valis Nonnar, destacava-se pela rapidez em atrair participantes. Além de Valis, já contava com Elizabeth Elden, Eryk Forlorn, Rylo Avaris, Tobias Forlorn e outros cinco nomes que eu não reconhecia de imediato. Sua façanha no baile havia atraído candidatos para sua equipe.
A equipe Javali, de André Rulmar, ainda estava em processo de formação. Até o momento, constavam os nomes de André, Alissande Vulkaris e o meu.
A equipe Cervo, liderada por Cassiopeia Vulkaris, parecia já ter uma base sólida. Além de Cassiopeia, estavam inscritos Roderick, Kael, Nyra e Zia Umbrani.
A equipe Águia, liderada por Maya Nymeris, tinha uma característica curiosa: todos os membros até então eram da Casa Nymeris. Além de Maya, tínhamos Lia, Ametista e Mara.
A equipe Alce, de Niara Zephyrus, ainda estava em um estágio inicial. Apenas o nome de Niara brilhava solitário sob o brasão.
Enquanto observava os nomes no painel, a gravidade do torneio se tornava ainda mais clara. Cada equipe contaria com mais de vinte participantes, e a formação final determinaria muito do que estava por vir. Não era apenas uma questão de habilidades individuais, mas de como cada grupo funcionaria como uma unidade sob pressão.
Com minha inscrição finalizada, senti uma breve onda de alívio, mas logo a ansiedade retornou. O torneio seria mais do que uma prova de força e estratégia. Seria um campo onde alianças seriam forjadas e testadas, onde rivalidades poderiam decidir destinos e onde cada um de nós enfrentaria seus próprios limites. Eu precisava estar pronto para tudo.
Ao chegar em casa, fui imediatamente cercado por Nix e Selune. Ambas pareciam curiosas e ansiosas para saber como havia sido minha reunião com minha mãe. Contei-lhes tudo, incluindo minha decisão de me inscrever na equipe de André. Selune ficou visivelmente satisfeita com a escolha. Para ela, era positivo eu estar em uma equipe diferente da de Cassiopeia para meus objetivos.
Depois de compartilhar as novidades, decidi treinar. No gramado, Selune me auxiliava a circular meu mana, sua voz firme e tranquila guiando meus esforços com precisão e paciência. Meu objetivo era claro: acumular mana em meu núcleo e consolidar o terceiro círculo. A tarefa exigia concentração absoluta, mas Selune tinha o dom de tornar o árduo em algo quase natural, como se o fluxo de mana fosse uma extensão do meu próprio ser.
Os dias seguintes assumiram um ritmo quase monástico, marcados por treinos incessantes, refeições rápidas e noites de sono curtas, mas incrivelmente reparadoras.
Selune se mostrava uma mestra surpreendente, desafiando-me com métodos criativos para refinar o controle sobre minha mana e a visualização precisa das runas que formavam as magias. Ironia ou não, parecia impossível acreditar que eu fora o responsável por introduzi-la àquela abordagem teórica. Ao mesmo tempo, Nix e Karlom mantinham meu corpo no limite, conduzindo treinamentos físicos exaustivos e sparrings que testavam não apenas minha força, mas também minha resistência e velocidade. Meu domínio sobre como a mana influenciava meu corpo único e especial — aprimorando minhas capacidades e conferindo habilidades únicas — progredia de forma notável.
Na manhã de mais um dia de treinamento intenso, fui interrompido por Jorjen. Sua postura rígida e formal permanecia inabalável, mas havia algo diferente naquele momento: um leve traço de urgência, quase imperceptível, que transparecia em seu semblante.
— O senhor tem visitas, jovem mestre.
Visitas? A notícia me pegou desprevenido, e minha mente imediatamente começou a trabalhar para imaginar quem poderia ser. A curiosidade venceu o cansaço, e, acompanhado por Selune e Nix, segui até a sala de estar.
Ao entrar, fui surpreendido pela presença de Joaquim, Joana e Claire. Não esperava vê-los ali.
— Olá, gente — cumprimentei, tentando disfarçar o desconcerto.
— E é assim que você cumprimenta um amigo? — Joaquim respondeu com seu humor característico, levantando-se para me abraçar com uma intimidade que me deixou sem jeito. Joana riu de seu jeito peculiar, já acostumada aos modos do primo.
Nix, que já os conhecia, parecia à vontade, especialmente com Claire. As duas rapidamente começaram a conversar, como velhas amigas. Contudo, ao apresentar Selune, percebi algo estranho: Claire olhou para mim e para ela de um jeito difícil de interpretar, quase como se houvesse um toque de ciúmes.
Joaquim, sendo Joaquim, não perdeu a oportunidade de fazer um comentário provocativo. Ele lançou um olhar avaliador para Selune e, com um sorriso malicioso, disse:
— Agora eu entendo por que você anda tão recluso…
Nix e Claire coraram profundamente, enquanto eu revirava os olhos, tentando conter a irritação.
— Nada disso. Estou treinando muito para o torneio — retruquei, tentando desviar o foco.
Selune, como de costume, manteve-se serena, observando a interação com um leve sorriso. Mas eu sabia que ela estava avaliando cada um deles com atenção.
A voz tímida de Claire cortou a conversa.
— Nos encontramos no salão de inscrições. Estávamos escolhendo nossos times quando vimos seu nome ali. Você escolheu o time do André…
Assenti, já esperando a pergunta.
— Sim. Acho que vai ser melhor para minha estratégia. O time dele oferece maiores chances para o que planejo. O time de Cassiopeia e o de Maya vão atrair os grandes nomes das Casas principais, e o de Valis será competitivo demais. Com André, acho que terei menos oposição interna.
Minha explicação era convincente, mas estava longe de revelar meus verdadeiros motivos.
Joana abriu um sorriso zombeteiro e anunciou:
— Resolvi entrar no mesmo time que você. Mas só por causa do meu primo, que acha que você vai causar estragos no torneio.
Joaquim sorriu orgulhoso, mas Claire parecia hesitante, como se lutasse para encontrar as palavras certas. Por fim, falou:
— E eu também entrei no seu time…, mas eu queria te pedir uma coisa. Quero treinar magia com você. Desde o baile, não consigo parar de pensar no que você fez. Magia de cura é tão rara…
Selune, que até então mantinha sua expressão imperturbável, deixou escapar um suspiro quase imperceptível.
— Você não para de me surpreender, meu querido, não me contou sobre magia de cura — disse ela, com um tom que misturava admiração e curiosidade.
Claire me olhava com expectativa, seu pedido pairando no ar. Por um momento, senti o peso de tantas diferentes expectativas sobre mim. Respirei fundo e respondi com cautela:
— Não posso lhe responder agora. Preciso pensar. — Lancei um olhar para Selune, que permaneceu em silêncio, mas seus olhos não esconderam um lampejo de curiosidade.
Claire balançou a cabeça lentamente, indicando que entendia minha posição.
— Aguardo sua resposta — disse ela, com uma leve inclinação, antes de recuar.
Joaquim, nunca confortável com o silêncio, rapidamente mudou o foco da conversa.
— Você foi convidado para a festa dos Vulkaris? Vai ser outro evento para potenciais patrocinadores.
— Sim, fui convidado. Apesar de Lady Isolde ter recusado me patrocinar, ela disse que ainda estava me avaliando. Então, sim, pretendo participar.
Um sorriso malicioso surgiu nos lábios de Joaquim.
— Já era hora. Você pulou os últimos dois jantares.
— Já disse que só penso em treinar agora — retruquei, com um toque de exasperação.
Selune, que permanecera quieta até então, riu suavemente, atraindo a atenção de todos.
— Treinar é importante, querido, mas você também precisa jogar o jogo fora das arenas. O torneio é tão político quanto físico.
Ela estava certa, e o lembrete de sua experiência em manipular situações complexas era um aviso implícito. Joaquim riu, apontando para Selune.
— Está vendo? Até ela sabe. Você precisa aparecer mais, meu amigo.
Suspirei, percebendo que as palavras de ambos faziam sentido. O torneio ainda estava longe, mas os movimentos políticos já tinham começado. Estar presente na festa dos Vulkaris poderia ser mais importante do que eu queria admitir.
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