Índice de Capítulo

    Eu olhei para Selune, que me observava em silêncio.

    — Parece que os jogos das grandes Casas são mais intrincados do que imaginei — murmurei, mais para mim mesmo.

    A elfa assentiu devagar, seu olhar sugerindo que este não era o momento nem o lugar para confidências.

    — André e Alissande me deram muito em que pensar.

    Nunca havia considerado que outras grandes Casas também poderiam ser um alvo.

    Claire, que estava por perto, se aproximou, com o rosto levemente inclinado para baixo, desanimada.

    — Oi, Lior. Este aqui é Dante Avaris. — Claire disse, apontando para um rapaz de cabelos compridos e expressão severa. — Ele é meu guarda-costas e se inscreveu na nossa equipe. A Casa Avaris tem um longo histórico de fornecer guarda-costas para os Umbrani.

    Observei Dante por um instante. Sua postura era impecável, e ele mantinha um silêncio que parecia mais intimidante do que respeitoso.

    — Prazer, Dante. — cumprimentei, com um leve aceno de cabeça.

    — Igualmente. — respondeu ele, a voz baixa e firme, como se pesasse cada palavra.

    Claire parecia um pouco desconfortável, mas aproveitei a oportunidade para levá-la de lado e perguntar:

    — E quanto à arena? Como você vai resolver isso?

    Ela soltou um suspiro, sua sinceridade evidente na resposta:

    — Ainda não sei. Bem que você me avisou… Minha prima foi correndo contar ao seu pai que eu estava andando sozinha, com pessoas “suspeitas”. E agora estou com um guarda-costas.

    Tentei tranquilizá-la com um sorriso.

    — Vamos dar um jeito nisso.

    Claire não pareceu totalmente convencida, mas agradeceu com um leve aceno antes de se afastar, deixando-me com mais perguntas do que respostas sobre o que se passava nas intrigas da Casa Umbrani.

    Antes que a conversa pudesse continuar, uma garota pequena, com doze ou treze anos, entrou pela porta, vestindo pijamas. Seus olhos verdes e cabelos castanho-avermelhados eram inconfundíveis.

    — Mia, o que você está fazendo aqui? — Lady Alía, a mãe de André, perguntou num tom firme. — Você deveria estar dormindo.

    — Não consigo dormir. — respondeu a menina, com a voz trêmula. — Eu fecho os olhos e tenho pesadelos.

    Percebi que Mia estava pálida, magra e com olheiras escuras. Seu estado parecia refletir algo mais profundo, talvez relacionado à mesma condição que notei em sua mãe.

    Ela segurava a cintura de Lady Alía, buscando proteção. Pedi permissão com um olhar e me aproximei, abaixando-me para ficar à altura da garota.

    — E como são esses pesadelos? — perguntei, mantendo um tom calmo e acolhedor.

    Mia hesitou por um instante, mas a atenção que recebeu a encorajou a falar:

    — São monstros… escuros e cheios de dentes. Eles vêm debaixo da minha cama e… querem entrar debaixo da minha pele.

    Sua voz era entrecortada, como se cada palavra exigisse um esforço físico para ser dita. Isso me deixou ainda mais inquieto. Concentrei-me em meus sentidos e percebi algo peculiar. Havia um traço sutil de miasma nela, espalhado superficialmente pela pele e roupas. Lady Alía exalava o mesmo resquício. A descoberta me pegou de surpresa, e tentei ao máximo disfarçar minha expressão.

    — O que foi, Lior? — Lady Alía perguntou, percebendo minha reação.

    Levantei-me, minha mente trabalhando rapidamente enquanto ponderava a situação.

    — Eu costumava ter muitos pesadelos quando era criança — menti, e então me virei para Mia com um sorriso tranquilizador. — Sabe o que me ajudava? Que alguém olhasse debaixo da minha cama.

    — Você quer que eu vá ver debaixo da sua cama? — perguntei com um sorriso, tentando tranquilizá-la.

    Lady Alía pareceu prestes a protestar, mas seu marido, Lorde Jonas, que tinha se aproximado fez um gesto para que ela deixasse a situação seguir.

    — Vou buscar uma amiga minha. Ela é ótima para espantar monstros. — falei, saindo em busca de Nix.

    Ao encontrá-la, expliquei rapidamente a situação.

    — Vamos fazer uma boa ação. Preciso da sua ajuda com a pequena Mia.

    Nix concordou sem hesitar, e juntos seguimos até o quarto de Mia, que parecia fascinada pela presença da raposa. Ordenei que meu camundongo espião nos acompanhasse.

    — Mostre-me onde os monstros estão. — Nix pediu, com uma voz gentil e brincalhona, enquanto fazia caras e bocas para arrancar um sorriso da menina.

    Quando chegamos ao quarto, Mia apontou para debaixo da cama. Enquanto Nix simulava uma busca divertida, meu camundongo, obedecendo um comando mental, esgueirou-se para explorar o local.

    — Todos os monstros já foram embora. — Nix declarou após a “caçada”.

    Compartilhei dos sentidos do camundongo e logo percebi algo alarmante: um pequeno buraco no assoalho, dentro do qual havia um diminuto crânio de animal. Gravada em sua testa, uma runa emanava uma energia negra e oleosa, claramente miasma. Era uma quantidade pequena, mas suficiente para saturar o ambiente ao longo do tempo.

    “Então é isso”, pensei. O crânio era a origem do problema. Mas o que era isso?

    Com cuidado, absorvi o miasma através do camundongo, dissolvendo a runa até que o crânio se desintegrasse. No entanto, a possibilidade de haver mais objetos como aquele, espalhados pela mansão, me preocupava.

    Dei uma ordem mental ao camundongo, que partiu em busca de outros focos. Sabendo o que procurar, a busca era mais fácil.

    Lady Alía recolocou Mia na cama, e carinhosamente a cobriu e lhe deu um beijo na testa. A garota olhou para Nix com olhos brilhantes.

    — Pode ficar aqui comigo até eu dormir? — a menina pediu a Nix, com olhos brilhantes.

    — Não incomode os convidados, Mia. — respondeu Lady Alía, mas Nix prontamente disse:

    — Não é incômodo. Eu fico.

    Enquanto elas ficavam no quarto, retornei ao salão. Minha atenção permanecia dividida, acompanhando a busca do camundongo por outros focos de miasma.

    Lorde Jonas e Lady Alía se aproximaram, ambos com expressões genuínas de gratidão.

    — Muito obrigado. Desde que chegamos a Thallanor, para a temporada de patrocínios, eu e Mia temos estado doentes, e nosso sono tem sido perturbado. — Lady Alía comentou, a exaustão evidente em sua voz.

    — Não foi nada. — respondi com calma, fixando meu olhar no dela. — Tenho certeza de que, a partir de agora, esses episódios não vão mais se repetir.

    Lady Alía me observou por um momento, como se tentasse decifrar o que eu realmente sabia.

    Pouco tempo depois, Nix reapareceu, cruzando o salão com passos leves.

    — Ela dormiu. — anunciou, um sorriso tranquilo suavizando suas feições enquanto notava o olhar curioso de Lady Alía sobre ela.

    Meu pequeno espião encontrou mais três crânios: um no depósito de comida, outro sob a cama de André e o último debaixo da cama de casal. Eliminei todos da mesma forma, absorvendo o miasma até que os objetos se desintegrassem, garantindo que o ambiente ficasse livre de qualquer resquício.

    No instante em que destruí o último foco, uma das serviçais que estava servindo bebidas soltou um gemido baixo e abafado. De repente, ela levou a mão ao rosto, tentando conter um fluxo intenso de sangue que escorria de seu nariz. Sem pedir licença, saiu apressada para a copa, deixando um rastro de gotas vermelhas pelo caminho.

    Meu instinto foi chamá-la, interrompê-la, mas hesitei. Selune me lançou um olhar questionador, como se percebesse minha indecisão. Se eu agisse, teria que explicar mais do que estava disposto. Optando por uma abordagem mais discreta, ordenei mentalmente ao camundongo que a seguisse. Ele disparou pelo chão, movendo-se de forma quase invisível enquanto eu mantinha minha postura calma, fingindo não ter notado nada.

    As portas da sala de jantar se abriram e um aroma delicioso invadiu minhas narinas. Lorde Jonas disse.

    — Por favor, o jantar está servido. 

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