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    No final daquela tarde, Claire estava deitada na areia da arena, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto recuperava o fôlego. Apesar de exausta, suja e ofegante, seus olhos brilhavam de satisfação. Até mesmo Gérard, que geralmente mantinha uma expressão neutra, tinha um sorriso discreto nos lábios.

    — Você viu o que eu fiz no final? Foi incrível! — Claire exclamou, incapaz de esconder o orgulho.

    — Claro que vi. — concordei. — Foi impressionante como você prendeu Karlom no chão e bombardeou ele com seus mísseis mágicos. Se fosse uma luta de verdade, ele teria perdido feio.

    — Sorte de principiante. — resmungou Karlom, irritado o suficiente para garantir que ela ouvisse.

    Ri da interação entre eles. Em apenas um dia, Gérard e Claire haviam demonstrado progresso considerável. Não era o suficiente, mas definitivamente era um bom começo.

    — Amanhã, com Selune, tenho certeza de que as coisas serão ainda mais intensas.

    Deixei Claire e Dante próximos de sua residência ao retornarmos. Avisei que os buscaria no mesmo lugar na manhã seguinte, para poupar tempo.

    Assim que cheguei à mansão, fui direto para o banho junto com Nix. A água quente lavou a tensão do dia, mas ao sair, me deparei com Shade, ainda em processo de evolução. De imediato, levei a mão à testa.

    — Burro!

    Sem Shade, eu havia completamente esquecido das mensagens que precisava enviar e receber de minha mãe.

    — Vem pra cama. — Nix chamou, sua voz manhosa ecoando pelo quarto.

    — Tenho algo importante para fazer.

    — Mais importante do que isso? — Ela arqueou as sobrancelhas enquanto cruzava as pernas no ar, um sorriso provocador iluminando seu rosto.

    Engoli em seco antes de responder. — Sim, mais importante.

    Ela bufou, claramente contrariada, mas, fui até minha escrivaninha. Sentando-me, peguei pena, tinta e papel, comecei a redigir a carta.

    Nela, relatei as descobertas que fiz na casa de André, incluindo a suspeita de que outras Casas estavam sendo alvos de atentados. No entanto, hesitei ao mencionar o miasma. Revelar isso poderia levantar questões para as quais ainda não tinha respostas claras.

    No final, optei por incluir apenas que Lady Alía e sua filha menor estavam doentes, e que eu suspeitava ser obra dos mesmos responsáveis pelos atentados.

    Após cifrar a mensagem, chamei um dos serviçais de Jorjen e o instruí a entregá-la ao gerente do restaurante onde minha mãe havia me interrogado anteriormente. Ele era um dos agentes de Lady Althéa, espiã de confiança de minha mãe.

    Após terminar a carta, rolei os ombros, sentindo o peso das horas intensas do dia. Havia muito mais que eu poderia dizer, mas decidi que as palavras escolhidas seriam suficientes para alertar minha mãe sem criar desconfianças desnecessárias. Enquanto o serviçal partia, voltei meu olhar para Nix, ainda deitada na cama, me observando com um olhar provocador.

    — Acabou? — ela perguntou, com um tom entre o divertido e o impaciente.

    — Acabei. — levantei, sentindo a tensão do dia se dissipar.

    Ela abriu um espaço ao seu lado, batendo de leve no colchão. — Então, venha pra cá antes que eu fique realmente brava.

    Deitei ao lado dela, e, por um momento, deixei o cansaço me dominar. Seu calor era reconfortante, e, mesmo com todos os perigos que pairavam sobre nossas cabeças, era difícil não se sentir um pouco em paz.

    — O que você escreveu? — ela perguntou, passando os dedos suavemente pelo meu peito.

    — Só informações para minha mãe, sobre o jantar do André e algumas descobertas sobre os atentados que outras Casas também sofrem.

    — E você acha que isso vai ajudar? — O tom dela era genuíno, sem traços de dúvida, apenas curiosidade.

    — Vai, ou pelo menos espero que sim. Minha mãe é mais esperta do que eu em certos jogos.

    Ela não respondeu, apenas me olhou e me puxou para um beijo apaixonado. O som de risos e murmúrios tomou conta do quarto. Amanhã traria novos desafios, mas, por enquanto, eu podia me permitir este pequeno momento de descanso.

    Na manhã seguinte, Selune nos aguardava para o café da manhã, como de hábito. Ela tinha um sorriso nos lábios, o que considerei um bom sinal.

    Enquanto tomávamos nosso desjejum, uma carta de minha mãe chegou. Decifrei rapidamente e comecei a ler:

    “Meu querido filho,

    Intrigas e disputas sempre existiram entre as Casas, sempre. Quanto mais alto subimos, mais terá alguém querendo te derrubar, mesmo dentro da própria família. Hoje, enfrento uma intriga nesse exato momento, por conta de não ter conseguido dar um filho homem para seu pai. Lady Tereza, sua tia-avó, uma das anciãs da família, está fortalecendo a posição de Lady Avelline. Ela quer que Victor, e não Cassiopeia, herde a posição de herdeira. Isso não tem relação com suas descobertas, mas é um exemplo de tudo que cerca uma grande Casa. Então, tome cuidado com suas conclusões.

    A única coisa que realmente me salta aos olhos é o fato de que os atentados dessa vez estão sempre ligados a jovens que vão participar do torneio. Além de Cassiopeia, Alissande e André, Althéa me contou de outros dois, um deles, inclusive, sendo fatal.

    Agora que você chamou atenção dos figurões das grandes Casas e do Império, tome cuidado.

    Continuaremos a nos comunicar por este canal, até que seu corvo se recupere.

    Fique bem, meu filho.”

    Queimei a carta assim que terminei de lê-la. Levantei-me e olhei para Nix e Selune.

    — Vamos para a arena? — Olhei diretamente para Selune. — Sua ajuda vai ser mais que bem-vinda.

    Ela assentiu e se levantou, acompanhando-nos.

    Quando chegamos, Claire estava radiante.

    — Não sei o que você falou para o Dante, mas funcionou! Não só ele não contou nada do nosso treino e do Matadouro, como ainda me ajudou a acobertar tudo. Obrigada! — Ela se inclinou e me beijou na bochecha, congelando ao notar Nix me observando.

    — Não foi nada — respondi, desviando o assunto. — Agora vamos treinar.

    Passamos o dia treinando. Dante, agora empenhado em ajudar Claire a melhorar, fez questão de forçá-la a ir além de seus limites e, em algumas oportunidades, até ultrapassá-los. Na verdade, ele se dedicou a ajudar todos um pouco.

    Na hora do almoço, me sentei com Selune, Claire e Gérard em uma das arquibancadas. Era hora de começar a ensinar alguns de meus segredos.

    — Quero mostrar uma coisa para vocês. Sei que estão vinculados ao juramento, mas não custa nada dizer que isso é segredo meu.

    E lhes mostrei a maneira de alterar uma runa, da mesma forma que alterei minhas chamas fantasma.

    Treinamos o resto da tarde até o início da noite. Estávamos tão absortos no treino que não percebemos nada até uma voz grossa, mas feminina, ecoar na arena. Era Rosa.

    — E não é que o negócio tá bonito de ver…

    Todos pararam imediatamente e olharam em sua direção. Rosa adorava fazer entradas triunfais e atrair os holofotes.

    Ela desceu das arquibancadas com passos confiantes e, nos últimos metros, saltou para a areia onde estávamos.

    Ao se aproximar, levou a mão ao rosto de Dante, um gesto que claramente o incomodou.

    — Gosto de cabeludos também. Já que aquele moreno bonito não está aqui… — disse ela com um sorriso provocador.

    Dante se afastou de sua mão, mas um gesto meu bastou para que ele não reagisse além disso.

    — O que você quer? — perguntei diretamente.

    — Não posso visitar a minha própria arena? — retrucou Rosa, fingindo ofensa.

    Sem graça, respondi:

    — Claro que pode.

    — Só vim ver vocês. Quero saber o nível que estão para poder escolher bem os seus adversários. Não quero que seja muito sem graça, sabe?

    — Hoje é só o segundo dia — falei, tentando minimizar. — Não tem como avaliar nada ainda.

    Rosa riu, um som breve e cortante.

    — É aí que você se engana. Estou observando vocês há algum tempo. Minha preocupação não é como estão se saindo agora, mas o empenho que estão colocando nisso. E posso ver que estão colocando seus corações. Mal posso esperar pelo final de semana.

    Ela deu um último olhar provocativo antes de sair da arena, deixando-nos com a sensação de que algo grande estava por vir.

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