Capítulo 60: O início das lutas
Depois de cerca de meia hora de espera, a mulher robusta que nos guiara até ali voltou, trazendo consigo um papel amarelado. Ela o fixou em um quadro de madeira na parede, batendo os nós dos dedos para chamar a atenção de todos.
— Aqui está a ordem das lutas da tarde. Confiram seus nomes e preparem-se — disse ela com firmeza, antes de se retirar novamente.
Nosso grupo se aproximou do quadro, lendo a lista com atenção. A primeira luta seria de Joana, que adotara o codinome Dama Bastão. Seu oponente seria um homem chamado Choque.
— Parece apropriado — comentei, tentando aliviar a tensão.
A próxima luta seria de Claire, que escolhera o codinome Raio Púrpura. Ela enfrentaria uma garota chamada A Pulga. Claire esboçou um sorriso nervoso.
— Nunca subestime quem tem um nome engraçado — disse Gérard com um sorriso, tentando acalmá-la.
Dante vinha em seguida, com o codinome Tao da Espada. Infelizmente, seu oponente seria Joaquim, conhecido como Velhos Punhos. Ninguém disse nada por alguns segundos.
— somos um grupo grande, era esperado alguns de nós se enfrentar. — salientei — o importante é fazermos o melhor e não levarmos isso pro pessoal. Vamos descontar quando entrarmos pros rankings.
Gérard seria o próximo, lutando sob o nome Supremo. Seu oponente era uma garota chamada Domina. Ele sorriu confiante, mas o brilho nos olhos denunciava um misto de ansiedade e empolgação.
Por fim, minha luta. Eu, Sombra, enfrentaria alguém chamado Marreta de Aço.
Olhei para o nome e ri baixinho.
— Pelo menos não é Velhos Punhos, certo?
Claire e Gérard riram, mas o clima ainda estava carregado. Cada um começou a se concentrar em sua própria batalha, revendo mentalmente estratégias e fortalecendo o espírito.
Enquanto isso, observei meus amigos. Esse era o momento pelo qual havíamos treinado durante toda a semana. Agora, tudo estava em jogo.
— Vamos mostrar para o que viemos — disse, tentando transmitir a confiança que eu mesmo buscava.
Eles assentiram, e então cada um seguiu para seus preparativos finais.
O horário da abertura se aproximava, e todos estávamos tensos, como cordas prestes a estourar. Cada um de nós tentava esconder o nervosismo à sua maneira: Claire tamborilava os dedos na coxa, Gérard ajustava incessantemente a faixa que prendia seu cabelo, enquanto Dante permanecia em silêncio, mas com o olhar fixo na porta, como se esperasse ser chamado a qualquer momento.
Finalmente, uma voz grave ecoou do corredor:
— Dama Bastão, está na sua hora.
Joana se levantou com determinação. Ela ajustou a armadura de couro, verificou se o bastão estava firme em suas mãos e olhou para nós com um leve aceno.
— Eu volto com a vitória — disse, tentando disfarçar a tensão com um sorriso que não chegou aos olhos.
— Vamos ficar aqui torcendo — respondi, tentando soar mais confiante do que me sentia.
O homem que veio chamá-la fez um gesto com a cabeça e, antes de sair, apontou para o fundo da sala.
— Se quiserem assistir às lutas, há janelinhas na ante-sala. Vocês podem ver tudo de lá.
Mal ele terminou a frase, todos nós nos levantamos. Seguimos para as janelas, espremendo-nos para conseguir um bom ângulo.
O adversário de Joana já estava na arena. Ele era alto e magro, com movimentos rápidos e confiantes. Sua roupa era uma mistura chamativa de preto e amarelo, e nas mãos ele segurava dois pequenos bastões metálicos. Quando os esfregava, faíscas voavam, iluminando o ar. O apelido dele, “Choque”, fazia total sentido.
Quando Joana entrou, um murmúrio de curiosidade percorreu a arquibancada. Sua armadura de couro preta reluzia sob a luz da arena, com detalhes em metal polido que refletiam a agitação da multidão. Seu bastão de combate, maior que ela própria, parecia uma extensão natural de seu corpo. O coque firme em seus cabelos e a máscara cobrindo o rosto lhe davam um ar intimidador e misterioso.
As placas subiram anunciando os nomes: Dama Bastão vs. Choque. A arena vibrou com gritos e apostas. Era uma batalha de estreantes, o que significava que os espectadores estavam apostando às cegas, o que tornava tudo ainda mais emocionante.
Eu apertei os punhos, sentindo o peso da tensão no ar.
A voz do locutor soou alta e clara:
— Senhores e senhoras, preparem-se! De um lado, temos Dama Bastão, estreante destemida, trazendo a força e a precisão de uma guerreira de elite! Do outro, o eletrizante Choque, mestre do relâmpago mortal!
Assim que o sino ecoou pela arena, Choque foi o primeiro a se mover. Ele correu em zigue-zague, com os bastões metálicos emitindo faíscas que dançavam como pequenos relâmpagos. Joana se manteve firme, girando seu bastão e plantando os pés no chão. Sua postura era defensiva, quase como se estivesse calculando os movimentos do oponente.
— Ele é rápido demais! — Claire murmurou, apertando o punho contra a janela.
— Calma, ela está só analisando — retruquei, sem tirar os olhos da luta.
Choque deu um salto para o lado e, com um movimento fluido, lançou-se contra Joana. Seus bastões faiscaram no ar quando ele desferiu um golpe direto contra sua cabeça. Joana girou o bastão para bloquear, o som do impacto ecoando como um trovão na arena. Mas a força do golpe a fez dar dois passos para trás, quase perdendo o equilíbrio.
— Droga! Ela está hesitando. — Gérard balançou a cabeça.
— Ela está esperando a oportunidade certa. Não vai desperdiçar energia à toa. — Apesar das palavras, até eu sentia o coração acelerar.
Choque não deu trégua. Ele se aproximou em uma sequência de golpes rápidos e precisos, os bastões emitindo estalos elétricos que zumbiam cada vez mais alto. Joana desviava ou bloqueava, mas era visível que ele estava ditando o ritmo da luta. A multidão aplaudia cada movimento do lutador.
— Você consegue, Joana! — gritou Claire, batendo na parede ao lado da janela.
Foi então que aconteceu. Um dos golpes de Choque passou raspando, acertando o braço esquerdo de Joana com uma pequena descarga elétrica. Ela gritou de dor e deu um salto para trás, segurando o braço afetado.
— Merda! — murmurei, os olhos fixos nela. Por um momento, um pensamento sombrio cruzou minha mente: “Será que ela não estava pronta? Será que fomos precipitados?”
Mas Joana respirou fundo, firmando a postura. Seus olhos brilhavam por trás da máscara, e ela girou o bastão de forma intimidante, criando um círculo defensivo ao seu redor.
— Isso mesmo! Não se deixe intimidar — Claire exclamou, o tom firme como um comando.
Quando Choque avançou novamente, Joana contra-atacou. Em vez de recuar, ela deu um passo à frente e desferiu um golpe direto na lateral de seu torso. O som do impacto foi abafado, mas o corpo dele balançou. Ele recuou, claramente surpreso.
A plateia reagiu imediatamente, metade torcendo por Joana, a outra por Choque.
— É isso aí, garota! Mostra pra ele! — gritou Joaquim, batendo na parede.
Choque tentou recuperar o controle, investindo novamente. Desta vez, Joana estava pronta. Ela usou o bastão para desviar um dos ataques e, girando o corpo, acertou as pernas dele com um golpe baixo. Ele caiu de joelhos, mas antes que ela pudesse finalizar, ele girou os bastões no ar, criando uma explosão de faíscas que a obrigou a recuar.
— Ele é esperto. Está tentando ganhar tempo. — Dante observava com atenção.
Joana respirava pesado, o braço ainda mostrando os sinais da descarga anterior. Choque se levantou, sorrindo de forma desafiadora.
— Você luta bem, Dama Bastão, mas não o suficiente!
Ele avançou, desferindo golpes rápidos. Joana bloqueou o primeiro, o segundo, mas no terceiro, o impacto fez o bastão dela girar em suas mãos, quase caindo. A multidão rugia, e eu sentia o peso de cada segundo se arrastando.
— Você consegue, Joana. Não ceda.
Quando tudo parecia pender para o lado de Choque, Joana surpreendeu. Em vez de recuar, ela usou o próprio impulso do bastão girando em suas mãos para aumentar a força de um golpe circular. O impacto foi tão forte que um dos bastões de Choque voou para longe. Ele tentou se recuperar, mas Joana não lhe deu chance.
Com um giro ágil, ela acertou o torso dele, depois as pernas, e finalizou com um golpe direto contra o ombro, que o jogou no chão. O silêncio tomou conta da arena por um segundo, seguido por uma explosão de gritos e aplausos.
— Isso! Eu sabia que ela ia conseguir! — Claire quase pulava de alegria.
— Ela virou o jogo no último instante. Estratégia perfeita. — Gérard sorriu, orgulhoso.
Joana ergueu o bastão no ar, o rosto ainda escondido pela máscara, mas era possível sentir o orgulho emanando dela.
“Essa é a minha equipe”, pensei, com um sorriso discreto.
Enquanto ela saía da arena, a multidão ainda aplaudindo, todos nós nos movemos para a porta para recebê-la.
— Você arrasou! — Claire exclamou, abraçando-a com força.
— Não foi fácil, mas eu sabia que você ia dar conta.— A confiança na minha voz era mais para esconder o quanto havia me preocupado.
Joana riu, tirando a máscara e respirando fundo.
— Obrigada. Mas agora é a vez de vocês. Não me façam passar vergonha.
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