Capítulo 61: Luta amigável
A mulher veio chamar, e Claire saiu de onde estávamos em direção à arena. Seu traje chamou a atenção assim que atravessou o portão. Ela usava uma túnica ajustada de cor púrpura, com um brilho metálico que refletia sob o sol. O tecido parecia ondular como magia viva, e havia runas douradas bordadas ao longo das mangas largas. Sobre os ombros, uma capa curta, também púrpura, estava presa com um broche em forma de raio. Uma máscara de tecido preto cobria o nariz e a boca, como um véu, escondendo suas feições, mas seus olhos brilhavam com determinação.
Do outro lado da arena, sua oponente entrou correndo, provocando a multidão ao exibir habilidades atléticas, fazendo acrobacias. A Pulga era magra, musculosa, e seus movimentos lembravam os de um animal selvagem. Vestia um conjunto justo de couro negro, reforçado com placas de metal nos cotovelos, joelhos e peito. As botas de cano curto tinham solados flexíveis, permitindo que ela saltasse com facilidade. Em cada mão, carregava adagas finas que pareciam agulhas, cujas lâminas brilhavam sob o sol. Um capuz escuro escondia parte de seu rosto, mas não disfarçava o sorriso sarcástico que ela lançou para Claire.
As placas exibindo os codinomes subiram: “Raio Púrpura” contra “A Pulga”. A arquibancada, cheia de energia, explodiu em gritos e apostas. Selune e Nix, na arquibancada, observavam com atenção.
— Ela vai precisar manter distância daquela lutadora. A Pulga é perigosa de perto — comentou Selune, tragando o cachimbo.
— Claire consegue, tenho certeza — respondeu Nix, confiante.
O sino soou, e a luta começou. A Pulga partiu para cima de Claire como um raio, saltando com uma leveza impressionante. Claire, preparada, ergueu sua mão e conjurou uma barreira de energia mágica, que brilhou ao seu redor como um escudo. As adagas da Pulga atingiram a barreira com força, fazendo sua energia vacilar, mas resistir. Os golpes foram repelidos.
— Boa! Claire está usando a cabeça! — disse Gérard, observando pela janela.
— Mas ela não pode se deixar encurralar, sua mana vai se esgotar rapidamente assim — salientei.
A Pulga recuou — um erro, em minha opinião — para analisar sua adversária. Saltou para a direita e depois para a esquerda, testando a velocidade de reação de Claire. Ela manteve a concentração, acompanhando os movimentos com a mão enquanto murmurava encantamentos. Subitamente, disparou um míssil mágico em direção à Pulga. Três esferas de energia roxa cortaram o ar, perseguindo a lutadora ágil.
A Pulga deu um salto para trás e depois rolou pelo chão, tentando despistar os mísseis, mas estes ajustavam sua trajetória. Uma das esferas finalmente atingiu a Pulga na lateral, derrubando-a no chão. A plateia explodiu em gritos, metade aplaudindo Claire, metade torcendo para que a Pulga reagisse.
A lutadora se levantou rapidamente, esfregando o local onde foi atingida. Com um sorriso provocador, disparou:
— É só isso que você tem, bruxa?
Claire não respondeu, mas seus olhos revelavam frustração. Antes que pudesse lançar outro feitiço, a Pulga se lançou no ar, girando em um movimento acrobático. Uma das adagas passou raspando pela barreira de Claire, enquanto a outra encontrou um ponto vulnerável, deixando um corte em seu braço esquerdo.
— Maldita! — murmurou Claire, recuando.
— Fique firme! Não deixe ela chegar perto! — gritei, sentindo meu próprio nervosismo crescer.
Claire, agora visivelmente mais cautelosa, começou a mover-se pela arena, tentando manter distância. Enquanto caminhava em círculos, conjurou mais mísseis mágicos, tentando suplantar na quantidade a agilidade da Pulga. As esferas partiram em direções opostas, para depois convergir, forçando a Pulga a saltar para evitar algumas e depois rolar para escapar de outras. Mesmo assim, uma delas atingiu seu tornozelo, causando um desequilíbrio.
— Ela está pegando o jeito — comentou Gérard, observando atentamente.
A Pulga, irritada e já ofegante, gritou:
— Fique parada, covarde! Enfrente-me como uma verdadeira lutadora!
— Magia é minha arma. Encare isso — respondeu Claire, com a voz firme, mas cansada, e sua mana quase esgotada.
A Pulga tentou mais um ataque desesperado, saltando alto com as adagas prontas para golpear. Claire, com um último esforço, concentrou toda a energia restante e disparou um míssil mágico poderoso. A esfera roxa perseguiu a Pulga no ar, acertando-a em cheio no peito. A força do impacto a lançou ao chão, onde ficou deitada, ofegante e sem forças para continuar.
Percebi que lutadores corporais tendiam a se frustrar muito facilmente quando a luta saía de seu campo de especialidade.
A plateia explodiu em gritos, dividida entre aplausos e murmúrios de surpresa. Claire caiu de joelhos, exausta, segurando o braço ferido.
— Ela venceu! — gritou Nix, batendo palmas com entusiasmo na arquibancada. Selune observava com um meio sorriso.
— Foi no limite, mas ela mostrou do que é feita — comentou.
Claire foi ajudada a se levantar e recebeu aplausos enquanto saía da arena, o rosto pálido, mas aliviado. Ela venceu, e isso era tudo que importava.
Claire voltou para a sala de espera com passos lentos, o rosto pálido e a mão pressionando o braço ferido. Assim que ela entrou, todos nos levantamos. Dante foi o primeiro a alcançá-la, segurando-a pelos ombros.
— Você está bem? — perguntou ele, a voz carregada de preocupação.
— Consegui… mas estou exausta — Claire respondeu, forçando um sorriso.
Joana ajudou-a a sentar-se em um banco no canto da sala, enquanto Gérard pegava o kit de primeiros socorros.
— Isso foi apertado — murmurei, cruzando os braços e observando enquanto ele limpava o corte em seu braço. — Você venceu, mas arriscou demais, Claire.
— Era isso ou deixar que ela me pegasse — respondeu ela, com os olhos fechados e a respiração pesada.
Joana sorriu e deu um tapinha no ombro dela.
— Você fez o que precisava fazer. Estamos todos orgulhosos.
Gérard terminou de enfaixar o braço e se afastou, lançando-me um olhar.
— Vamos ter que conversar sobre estratégia depois, Lior. Isso está ficando mais complicado do que prevíamos.
Assenti, mas minha mente já estava na próxima luta. Joaquim e Dante. Dois dos nossos. Isso seria ainda mais difícil de assistir do que as batalhas anteriores.
— E agora? — perguntou Gérard, ajeitando o kit de volta na prateleira.
— Agora, esperamos — respondi, tentando esconder o nervosismo.
O silêncio tomou conta da sala por alguns minutos, enquanto Joaquim e Dante se preparavam mentalmente. Os dois estavam em cantos opostos, focados, sem trocar uma palavra. Era um contraste marcante: Joaquim, com sua postura relaxada e um leve sorriso nos lábios, e Dante, com seu semblante sério, quase meditativo.
Finalmente, a mulher que anunciava os combates chamou novamente:
— Velhos Punhos, Tao da Espada, é a sua vez.
Os dois se levantaram ao mesmo tempo. Joaquim, com seu jeito despreocupado, estendeu a mão para Dante.
— Vamos dar um show, irmão.
Dante apertou a mão dele, mas sua expressão permaneceu séria.
— Que vença o melhor.
Os dois saíram juntos pelo corredor, enquanto o restante de nós se reuniu próximo às janelas para assistir.
— Isso vai ser difícil de ver — murmurei para mim mesmo, sentindo um peso no peito.
Na arquibancada, Selune e Nix também estavam tensas, embora de longe não pudessem ouvir o que dizíamos. Selune observava a arena com um olhar calculista, enquanto Nix parecia inquieta, mexendo nos cabelos enquanto esperava a luta começar.
Essa batalha seria um verdadeiro teste, não só de habilidade, mas de camaradagem.
A arquibancada estava em polvorosa quando os nomes de Joaquim e Dante apareceram nas placas acima da arena: “Velhos Punhos” contra “Tao da Espada”. A tensão no grupo de espectadores era palpável.
Joaquim entrou primeiro na arena, arrancando aplausos da multidão. Ele trajava um colete reforçado de couro escuro, com detalhes em vermelho nas bordas. Usava manoplas de aço que reluziam à luz do sol, cobrindo não apenas as mãos, mas também os antebraços, parecendo uma combinação de arma e escudo. Seu queixo estava erguido e seus passos eram firmes, carregando a confiança de um lutador experiente. Suas feições estavam protegidas por uma pequena máscara vermelha ao redor dos olhos.
Logo em seguida, Dante entrou com uma postura serena. Usava um hakama preto sobre um kimono de seda azul com motivos de ondas, que contrastava com a bainha preta da katana em sua cintura. Ele parou no centro da arena, sacou a katana lentamente e fez uma reverência, primeiro à plateia, depois a Joaquim. Era uma cena digna de um guerreiro disciplinado.
Os dois se posicionaram, olhos fixos um no outro. Não havia provocação, apenas respeito mútuo e determinação.
O sino soou, e a luta começou. Joaquim avançou rapidamente, seus punhos levantados em guarda alta. Dante manteve a distância inicial, esperando o momento certo para atacar. Com um movimento fluido, ele cortou o ar em um arco horizontal, mas Joaquim bloqueou o golpe com as manoplas, o som metálico ecoando pela arena.
— Joaquim está no controle do início. Ele vai pressionar — murmurei, observando pela janela.
Dante recuou, buscando espaço para manobrar. Joaquim, no entanto, não deu trégua, avançando com uma sequência de socos rápidos e diretos. Dante desviou do primeiro, bloqueou o segundo com a lâmina e rolou para o lado, tentando escapar da pressão. Aproveitando a abertura, ele contra-atacou com um corte ascendente, obrigando Joaquim a saltar para trás.
A plateia vibrou com a troca de golpes. Selune observava, com um olhar crítico:
— Joaquim está forçando muito. Se não tomar cuidado, Dante pode virar isso com um só golpe.
E foi exatamente isso que aconteceu no instante seguinte. Quando Joaquim tentou outro ataque direto, Dante girou rapidamente sobre um dos pés, desviando do golpe e usando o movimento para um ataque lateral, no último instante que Joaquim conseguiu bloquear com a manopla. A colisão virou uma chuva de fagulhas e a força do impacto fez Joaquim perder o equilíbrio, com Dante aproveitando para acertar um chute em sua lateral, derrubando-o no chão.
— Isso, Dante! — gritou Gérard, torcendo de punhos cerrados.
Joaquim, no entanto, não se deu por vencido. Com um movimento rápido, rolou para longe e se levantou, ajustando a postura. Ele limpou um pouco de sangue do canto da boca e sorriu.
— Nada mal, garoto. Mas isso ainda não acabou.
Ele mudou de estratégia, diminuindo o ritmo. Em vez de atacar frontalmente, começou a circular Dante, forçando o espadachim a se virar constantemente. Dante percebeu a tática e se manteve em guarda, mas Joaquim foi astuto. Fingiu um ataque pelo lado esquerdo e, quando Dante tentou reagir, acertou um gancho com a mão direita direto na lateral da cabeça dele.
Dante cambaleou, e a plateia vibrou.
— Essa foi boa! — disse Nix, na arquibancada, animada.
Dante não desistiu. Mesmo zonzo, ele recuou, equilibrando-se, a espada parecia pender de sua mão. Com uma respiração profunda, concentrou-se, e seus movimentos ficaram ainda mais precisos. Ele começou a atacar com cortes rápidos e consecutivos, obrigando Joaquim a recuar.
Joaquim usava as manoplas para bloquear os golpes, mas cada impacto o empurrava um pouco mais para trás. Em um momento de descuido, Dante conseguiu um corte superficial no ombro dele, arrancando um gemido de dor.
— Está ficando perigoso para Joaquim — comentei, apertando os punhos.
Porém, quando parecia que Dante tomaria o controle, Joaquim mostrou porque era chamado de “Velhos Punhos”. Ele absorveu os golpes com precisão, observando o padrão de movimentos de Dante. Quando Dante tentou um golpe descendente, Joaquim desviou para o lado e acertou um soco direto no pulso de Dante, forçando-o a soltar a katana.
A plateia foi à loucura. Dante recuou, desarmado, mas não se rendeu. Ele tentou um chute alto, mas Joaquim agarrou sua perna no ar e o derrubou com um golpe certeiro no peito.
Dante caiu no chão, ofegante. Quando tentou se levantar, Joaquim já estava com um dos punhos levantados, pronto para finalizar o golpe. Mas, vendo a situação, Dante relaxou no chão, o que declarava a vitória de Joaquim.
A arena explodiu em aplausos. Joaquim estendeu a mão para Dante, que a aceitou com um sorriso cansado. Era uma vitória apertada, mas honrada.
— Foi uma luta de verdade. — comentou Gérard, aliviado.
Eu, do lado, apenas respirei fundo. A rivalidade saudável dos dois mostrava que nosso grupo era mais forte do que parecia.
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