Capítulo 62: Dama fatal
A porta da antessala rangeu ao abrir, e Dante e Joaquim retornaram, ambos com expressões carregadas, mas diferentes. Dante parecia sereno, resignado talvez, enquanto Joaquim trazia no rosto um misto de alívio e cansaço.
Joaquim foi o primeiro a falar, ajeitando as manoplas de aço nos braços.
— Não foi fácil, hein? — Ele olhou para Dante. — Você me deu trabalho de verdade.
Dante soltou um riso curto, balançando a cabeça enquanto limpava o suor da testa com a manga do kimono.
— E mesmo assim não foi o suficiente. — Dante se lamentou. Em seu rosto eu via que ele agora entendia a necessidade de usar a arena para treinar. Ele me olhou.
— Nosso grupo está em boas mãos, mas temos que continuar praticando.
— Vocês dois foram incríveis — disse Claire, que ainda massageava o braço ferido da sua própria luta. — Não sei como conseguiria enfrentar nenhum de vocês.
Joaquim se virou para ela, um sorriso cansado no rosto.
— Acho que nenhum de nós gostaria de enfrentar você e seus mísseis mágicos.
Gérard, sentado em um banco, observava em silêncio enquanto ajustava o manto. Ele murmurou algo que soava como:
— Lutas entre aliados podem deixar as marcas mais profundas.
— Verdade — concordei, com um olhar rápido para os outros. — Mas temos que lembrar que isso é só o começo. Aqui dentro, estamos sozinhos, mas lá fora… devemos ser uma equipe.
Joaquim e Dante se sentaram para recuperar o fôlego.
A mulher robusta retornou, e com a postura rígida de sempre anunciou com uma voz clara.
— Supremo, está na hora.
Gérard, sentado em um canto, levantou-se com a calma de quem já sabia o que fazer. Sua túnica azul-escura, bordada com runas prateadas que pareciam cintilar com sua respiração, ajustava-se perfeitamente ao seu corpo magro e alto. Um manto longo e pesado repousava sobre seus ombros, suas bordas decoradas com símbolos arcanos que brilhavam fracamente. Em seus dedos haviam anéis ornamentadas com joias.
— Vamos ver se ela está pronta para a tempestade — disse ele, com um leve sorriso, enquanto passava por nós e se dirigia ao portão da arena.
Notei algo estranho em seu comportamento. De um covarde, ele parecia estar se transformando em alguém com um excesso de confiança.
— Cuidado — avisei, observando-o com um olhar preocupado. — Não deixe que nossos treinamentos subam à sua cabeça.
Ele me olhou por um momento, e então abriu um sorriso cheio de confiança. Era como se estivesse enfeitiçado. Um pensamento surgiu em minha cabeça, mas eu o afastei imediatamente; era impossível que alguém tivesse feito alguma coisa com ele enquanto estávamos todos ao seu lado.
Ele subiu para a arena, e ficamos ali, observando. O público nas arquibancadas estava em alvoroço, gritando e se agitando, impacientes pelo início da luta. O tempo parecia passar devagar, até que finalmente a outra entrada da arena se abriu. E então, ela apareceu: Domina.
Ela caminhava lentamente, atraindo os olhares e assobios da plateia. Seus cabelos roxos, presos em um rabo de cavalo alto, brilhavam sob o sol e balançavam suavemente a cada passo. Usava uma máscara de couro preto que cobria o nariz e a boca, com um zíper metálico formando um sorriso distorcido, deixando apenas seus olhos à mostra. Seu traje, também de couro preto, estava ajustado ao corpo, combinando sensualidade com funcionalidade. A roupa realçava suas curvas, enquanto placas metálicas, tiras reforçadas e fivelas protegiam suas áreas mais vulneráveis. Botas longas completavam seu visual exótico e ameaçador, projetado tanto para impressionar quanto intimidar.
Ela carregava um chicote de couro negro enrolado em uma das mãos. A ponta, reforçada com metal, estalava no ar a cada poucos passos, o som ecoando pela arena como uma ameaça constante. A postura dela era desafiadora, quase arrogante, enquanto observava Gérard do outro lado da arena.
— Espero que tenha trazido mais do que truques de salão, Supremo — provocou, com a voz cortante como o estalar de seu chicote.
Gérard, já posicionado, ergueu as mãos com tranquilidade, como se convidasse a luta a começar.
As placas subiram lentamente, exibindo os codinomes: “Supremo” contra “Domina”. A arena inteira entrou em frenesi, a plateia vibrando com gritos e apostas. O sino finalmente soou, e a disputa estava prestes a começar.
Gérard não perdeu tempo. Ele rapidamente conjurou um tornado de vento. Estendeu a mão, e uma poderosa corrente de ar se formou ao seu redor, criando uma barreira de ventos que circulava seu corpo. Ele queria manter Domina à distância e atacá-la com suas magias elementares. De acordo com nossos treinacorrente próximo passo seria usar fogo para desestabilizá-la.
Mas para surpresa de todos, Domina, ao contrário do que pensávamos, circulou mana ao redor de seu corpo. Percebi que ela estava utilizando feitiços para se reforçar. Ela não era uma especialista em combate corpo a corpo — era uma maga. Gérard não tinha treinado para isso.
Domina se moveu com uma velocidade inesperada. Em um piscar de olhos, ela balançou seu chicote em direção ao vento. O estalo cortou o ar e desfez o tornado de Gérard com uma precisão impressionante. A magia elementar foi dissolvida com um simples movimento de sua arma. Gérard franziu a testa, surpreso, mas não demonstrou fraqueza.
Ele logo percebeu que estava lidando com uma adversária que não se comportaria como ele esperava. Havíamos treinado exaustivamente para enfrentar especialistas corporais, combatentes que confiavam em força e agilidade. Enfrentar outro mago, ainda mais um tão habilidoso quanto Domina, era um choque que desafiava todos os seus preparativos.
Com rapidez, Domina se aproximou, estalando o chicote em direção a Gérard. Ele desviou por pouco, mas o chicote cortou o ar com precisão mortal, tentando pegá-lo de surpresa. Gérard ergueu a mão e conjurou uma parede de terra, que se expandiu diante dele, criando uma barreira física.
Domina, no entanto, foi mais rápida. Com um movimento ágil, ela usou um contrafeitiço, desintegrando a parede de terra antes mesmo que ela se fechasse completamente. Em seguida, seu chicote atingiu Gérard no peito, cortando sua roupa e sua pele. Seu grito ecoou pela arena, alto o suficiente para ser ouvido acima da balbúrdia da plateia.
Com um estalo, o chicote foi lançado novamente, agora com mais força, acertando Gérard nas costas. O impacto fez com que ele soltasse outro grito de dor, e a plateia estremecesse com o som do chicote atingindo sua pele.
— Maldita! — resmungou Gérard, mas ele não recuou. Em vez disso, avançou, conjurando uma chuva de pedras que desabaram sobre Domina, uma técnica de controle do solo que ele dominava com maestria.
Domina não se intimidou. Com um movimento ágil, ela girou o chicote acima da cabeça, criando uma barreira improvisada contra a chuva de pedras. Gérard, demonstrando o progresso de seus estudos comigo e com Selune, manipulou a runa mística da barreira de Domina, transformando-a em um leque de fogo. Pedras e chamas desabaram sobre ela, quase encerrando a batalha.
Domina lançou a Gérard um olhar que mesclava surpresa e admiração. Usando sua impressionante agilidade, ela escapou da área de impacto, mas não sem consequências. Ferida, com fuligem manchando seu rosto e um filete de sangue escorrendo da testa, ela bateu no rabo de cavalo roxo, do qual ainda saía fumaça, enquanto encarava Gérard com fúria e determinação.
Ela percebeu rapidamente o que ele havia feito: manipular sua magia, algo raramente visto, e imediatamente suprimiu todos os seus feitiços ativos, exceto um. A luta os levou para perto das janelas onde estávamos, e suas palavras chegaram claramente até mim:
— Não queria ganhar assim, mas não terei outra oportunidade…
Ela ergueu a mão e estalou os dedos. Gérard parou no mesmo instante, os olhos vazios, capturado por um feitiço de Domina. Sem hesitar, ela utilizou o chicote para amarrá-lo como se fosse um troféu, posicionando-o de maneira humilhante. Com um pé sobre seu adversário derrotado, ergueu o braço triunfante em direção à plateia.
A arena mergulhou em silêncio por um momento, antes de explodir em aplausos e gritos de surpresa e empolgação. Domina, vitoriosa e imponente, celebrava sua vitória, enquanto todos ainda tentavam processar a reviravolta inesperada.
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