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    Entre as pedras de ancoragem que Nix encontrara, três eram para Brumora, território da Casa Zephyrus, uma das grandes casas humanas. Eu conhecia bem aquelas pedras; quando criança, meu pai e eu visitamos Brumora para adquirir Mestre Kes, um goblin engenheiro de mana, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da Manaclaste. Lembrava-me da assinatura de mana daquela pedra, gravada em minha mente desde então.

    Separei duas pedras de Brumora: uma para mim e outra para Nix. Chamei os sobreviventes e permiti que cada um escolhesse uma pedra de ancoragem, mas ainda sobraram várias, que guardei para vender. Fizemos uma última busca no local em busca de algo valioso, mas além do cetro, das poções e das pedras, não havia mais nada de valor.

    Pegamos alguns mantimentos, objetos úteis e roupas antes de partirmos em direção à névoa. No caminho, refiz o contrato de escravidão com Nix. Expliquei que Brumora era um dos maiores mercados de escravos das ilhas humanas, onde qualquer therian atrairia muita atenção. Sendo minha escrava, ela poderia evitar problemas, ao menos temporariamente, e Nix concordou sem hesitar.

    Quando atravessamos a névoa, fomos parar no coração de Brumora. Eu não lembrava da imponência da cidade, com seus prédios altos de granito e concreto que se erguiam em nosso redor. A praça de escravos ficava sob uma marquise sustentada por colunas imensas, como se quisessem intimidar os recém-chegados.

    Vendi as pedras de ancoragem restantes, e o comerciante disse que algumas conectavam a ilhas raras de outras raças, o que nos rendeu um bom dinheiro. Com isso, encomendei duas pedras para Thallanor, a ilha central. Ele disse que estariam prontas em aproximadamente dez dias.

    Ao caminharmos pelo distrito comercial, onde as ruas fervilhavam com barracas e vendedores oferecendo produtos e comidas de aromas irresistíveis, notei o fascínio nos olhos de Nix. Tudo parecia deslumbrá-la, e se eu não estivesse atento, ela teria se perdido na multidão. Também percebi os olhares que alguns transeuntes lhe lançavam; vulpinos eram raros por ali.

    Passamos por uma barraca onde uma vendedora oferecia salsichas empanadas. Vi que Nix observava o alimento com olhos brilhantes, e sorri.

    — Espere aqui — pedi, antes de ir comprar para nós dois.

    Me demorei apenas alguns instantes, mas, ao me virar, Nix havia sumido. Gelei. Segurando as duas salsichas, concentrei-me em nossa ligação e percebi que ela estava irritada, mas próxima.

    Segui o rastro até um beco estreito, onde ouvi o rosnado baixo de Nix. Dois homens conversavam com ela, tentando manter a voz baixa.

    — Jovem mestre, ela já tem marca de escrava — disse um homem baixo e corpulento.

    — Não me importo, eu a quero — respondeu o jovem loiro com roupas finas, apontando para Nix.

    Aproximei-me cautelosamente para não os alertar.

    — Se ela morder, o jovem mestre pode reivindicar que o antigo dono não lhe ensinou as regras — sugeriu o homem baixo. — Não é permitido a um escravo ferir um homem livre.

    — Ótima ideia — concordou o jovem.

    Antes que ele desse outro passo, me fiz presente. Canalizei minha mana para parecer mais autoritário e disse, em um tom firme:

    — Parem aí. Segundo a mesma lei que citaram, assediar o escravo de um homem livre também é crime.

    O homem baixo deu um salto para trás, assustado, enquanto Nix se aproveitava da distração para se esconder atrás de mim.

    O jovem loiro me lançou um olhar atento e, com um sorriso irônico, recuou. — Por enquanto, você venceu, mas ela será minha, ou eu não me chamarei Eryk Forlorn.

    O serviçal dele saiu correndo atrás, mas eu já estava aliviado.

    — Um segundo e você já arruma confusão — brinquei, entregando-lhe a salsicha. Nix riu, relaxando ao meu lado.

    Comprei um manto com capuz para ela assim que saímos do beco, para que ela pudesse esconder sua aparência, e seguimos para uma hospedaria. Depois do susto, queria sair logo das ruas.

    Aproveitei nossa passagem pelas terras humanas para buscar notícias sobre o evento de apresentação imperial dos jovens, que havia ocorrido recentemente. Eu precisava saber o que se falava sobre meu desaparecimento e o que havia acontecido com minha irmã Cass e nossa Casa. Em Brumora, um ponto de comércio importante, não faltariam rumores e histórias para eu captar.

    Durante o jantar na estalagem, notei um homem de pele escura e barba cerrada, vestido em uma túnica de seda. Parecia um mercador viajante, o tipo de pessoa que teria informações valiosas.

    — Aceitaria que eu lhe pagasse uma bebida? — perguntei, me aproximando.

    O homem sorriu, arqueando uma sobrancelha.

    — Você não faz meu tipo — brincou, rindo.

    — Quero apenas informações. Gostaria de saber sobre o evento de apresentação dos jovens deste ano.

    Ele continuou sorrindo e fez sinal para que a atendente nos trouxesse uma jarra de vinho tinto.

    — E o que você quer saber sobre isso? Muita coisa aconteceu este ano… — disse ele, servindo-se de vinho antes de me olhar de soslaio.

    Suas palavras seguintes me pegaram desprevenido. Segundo ele, Ganimedes Vulkaris estava “morto”. Meu pai não hesitara em decretar meu falecimento e providenciar meu funeral. Não houve sequer uma investigação ou espera; assim que o “filho aleijado” sumiu, a Casa Vulkaris o considerou um assunto resolvido.

    Além disso, ele mencionou fofocas sobre minha irmã Cassiopeia. Como era esperado, ela fora um dos destaques no evento. No entanto, o que parecia ter agitado a sociedade foi o pedido de casamento de André, o filho do primogênito da Casa Rumal. Segundo o mercador, Cassiopeia não apenas recusou o pedido de forma categórica, mas o conflito entre os dois escalou rapidamente, resultando em uma briga acalorada. Em uma reviravolta estranha, André acabou prometido à nossa outra meia-irmã, Alissande. Agora, para “lavar a honra” ferida, ele havia desafiado Cassiopeia a um duelo de morte, marcado para o grande torneio do final do ano.

    O torneio do fim do ano, marcava o final do evento de apresentação.

    Outro ponto de tensão, foi que em um dos jantares, membros do Tribunal de Justiça e Retribuição, foram envenenados. Não houve óbitos, mas existia um rumor que o alvo era na verdade a casa Vulkaris, porque no momento, tanto meu tio Augustus, quanto seus filhos Gêmeos estavam na mesa.

    Por fim, o mercador mencionou uma figura nova que capturara a atenção de todos: um jovem de uma casa menor, chamado Valis Nonnar, que havia superado os demais nos testes de aptidão mágica e física. Alguém, pelo visto, promissor e poderoso o suficiente para provocar rumores.

    Agradeci as informações, mas enquanto me afastava, não pude deixar de refletir sobre a frieza de meu pai e a força de Cass para enfrentar um inimigo tão implacável. Fui surpreendido, no entanto, pela menção de Valis Nonnar. Se alguém de uma casa menor havia superado as outras, talvez houvesse ali mais do que mera habilidade.

    Disse a Nix que eu precisava voltar para o quarto. Eu tinha bastante coisa para pensar.

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