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    Observava os magos do meu time correndo em círculos pela arena. Como esperado, Gérard e Claire estavam novamente na liderança, os dois sempre competitivos e disciplinados. No entanto, fiquei satisfeito ao ver que Yorg e James, que antes estavam entre os mais lentos, agora os seguiam de perto. Victor e Sabrina ainda vinham por último, mas ao menos, desta vez, conseguiram completar o exercício sem sinais de exaustão extrema ou reclamações excessivas. Era progresso, ainda que lento.

    Quando terminaram, reuni todos no centro da arena, a respiração deles pesada, mas os olhos atentos.

    — Parabéns, todos vocês. — Fiz uma pausa, deixando minhas palavras ganharem peso. — Vocês estão melhores que na semana passada. Continuem assim, e se tornarão magos muito mais fortes.

    Minha avaliação passou de um para outro, notando a postura mais firme e o olhar determinado de cada um. No segundo treino, já demonstravam organização e disciplina muito superiores à bagunça que foi a primeira sessão.

    — Certo, hoje vamos treinar o raciocínio mágico.

    Um murmúrio de curiosidade correu entre eles, e eu sorri levemente, gostando da reação.

    — Vamos nos dividir em trios para isso — continuei, erguendo a voz para garantir que todos entendessem claramente. — Um de vocês ficará no centro, e os outros dois começarão em lados opostos. O objetivo é simples: os dois precisam correr e tocar quem está no centro, como se fosse um pega-pega.

    Olhei para os rostos deles, já vendo alguns começarem a pensar nas possibilidades, enquanto outros pareciam apreensivos.

    — A pessoa no centro só pode usar magia para atrapalhar a movimentação dos outros. Nada de barreiras permanentes ou feitiços ofensivos. Estamos treinando precisão e controle, não destruição. Quando o jogador do centro for tocado, trocamos as posições.

    Alguns sorrisos se abriram, enquanto outros franziram o cenho. Gérard parecia ansioso para começar, enquanto Claire já analisava os outros mentalmente, provavelmente escolhendo sua estratégia.

    — Vou participar também, para manter os trios equilibrados. Assim todos têm a mesma chance de melhorar.

    Com isso, fiz um gesto para que se organizassem em trios.

    — Vamos começar. E lembrem-se: esse treino é sobre inteligência, não força bruta. Usem suas cabeças

    Dei um leve sorriso desafiador, o tipo de provocação que eles precisavam para dar o máximo de si.

    O treino foi exaustivo, como eu havia previsto. Eles não estavam acostumados a formular magias em um ambiente tão caótico, mas era isso que eu queria: forçá-los a sair da zona de conforto. No início, a maioria falhou em se adaptar ao ritmo frenético. Os corredores tropeçavam, as magias eram imprecisas, e as estratégias mal se sustentavam. Contudo, com o passar das rodadas, começaram a entender a dinâmica. A pessoa no centro passou a resistir cada vez mais tempo sem ser tocada, aprendendo a usar o terreno e a própria magia de forma criativa.

    Correr enquanto se desviava de feitiços e enfrentava obstáculos mágicos era um esforço brutal para o corpo, enquanto a necessidade de pensar rápido e criar runas mágicas improvisadas drenava a mente. Era esse equilíbrio que eu queria que eles alcançassem: resistência física e agilidade mental trabalhando em harmonia.

    Após o exercício inicial, continuamos com outros desafios, aumentando gradativamente a dificuldade. Magias ofensivas disparadas em altíssima velocidade exigiam reflexos e precisão nas defesas. Os magos tinham que identificar rapidamente o tipo de ataque e improvisar a defesa correta, ajustando suas energias em frações de segundo.

    Como era de se esperar, alguns se destacaram em áreas específicas. Gérard demonstrava excelente reflexo para ataques rápidos, enquanto Claire tinha um talento natural para defesas adaptáveis. Yorg, embora mais lento, mostrava criatividade em usar o terreno a seu favor, enquanto Sabrina e Victor, apesar de ainda um pouco atrás, davam sinais de progresso.

    Quando finalmente todos estavam exaustos, os corpos suados e as mentes esgotadas, dei a eles um descanso merecido.

    — Bom trabalho. Descansem um pouco, mas não se acomodem. Ainda temos muito pela frente. Vocês estão começando a entender a diferença entre um mago comum e um verdadeiro mago.

    Enquanto os magos se espalhavam pela arena para recuperar as forças, caminhei até André, que observava tudo de perto, braços cruzados e uma expressão avaliadora no rosto.

    — Então, o que achou? — perguntei, parando ao seu lado e cruzando os braços, meu tom sério.

    Ele deu um sorriso leve, carregado daquele misto de aprovação e desafio que era sua marca registrada. — Você está transformando esse grupo em algo interessante, Lior. Mas sabe que ainda há um longo caminho pela frente, certo?

    — Eu sei. — Minha resposta foi firme. — Mas eles têm potencial. Só precisam ser moldados. Para isso, vou precisar da sua ajuda… e do seu grupo.

    André arqueou uma sobrancelha, curioso, mas não interrompeu.

    — Meu objetivo com esses treinos é simples — continuei. — Quero que os magos sejam autossuficientes, capazes de pensar rápido em qualquer situação. Mas, em combate real, nossa função será fornecer suporte estratégico a vocês. Por isso, depois do descanso, quero mesclar os grupos em dois times. Combatentes e magos trabalhando juntos. Precisamos aprender a agir como uma unidade.

    Ele levou a mão ao queixo, ponderando antes de assentir. — Concordo. Mas não podemos abrir mão do treino específico de cada grupo. Essa base é essencial. Vamos fazer assim: cada grupo treina suas especialidades primeiro. Depois, unimos os dois para testar a integração.

    Assenti, satisfeito. — Perfeito. A ideia é que os magos entendam como apoiar os combatentes e que os combatentes aprendam a proteger e potencializar as ações dos magos.

    André sorriu de lado, o brilho desafiador voltando ao olhar. — Só espero que o seu grupo consiga acompanhar o nosso ritmo.

    — Eles vão acompanhar — rebati, meu tom firme. — E talvez surpreendam vocês.

    Ele soltou um riso curto, sem responder. Havia confiança em sua postura, mas também a percepção de que ele sabia dos desafios que estávamos enfrentando.

    — Vou reunir meu grupo e preparar o treino de integração — avisei. — Quero começar essa dinâmica ainda hoje, logo após o descanso. Reúna seu pessoal.

    André fez um gesto afirmativo com a cabeça.

    — Ótimo. Vamos ver como eles se saem.

    Enquanto ele se afastava para organizar os combatentes, fiquei observando os magos. O cansaço era visível em seus rostos, mas também havia progresso. Cada treino os levava um pouco mais longe. Com esforço e a estratégia certa, podíamos construir algo sólido antes do torneio.

    Ao me aproximar dos meus pupilos, fiz questão de falar com clareza e honestidade:

    — Preparem-se. Vamos iniciar a próxima fase do treinamento, onde assumiremos o verdadeiro papel de magos de combate: dar suporte aos nossos combatentes.

    Parei por um momento, analisando suas expressões antes de continuar.

    — Isso é novo para mim também. Minha especialidade é combate individual e, dessa vez, estaremos aprendendo juntos. Na verdade, muitos de vocês, com toda a educação formal que receberam, devem saber mais sobre magia de suporte de grupo e suas estratégias do que eu.

    Minha voz adquiriu um tom mais firme e confiante. — Espero a compreensão e a cooperação de vocês. Só assim podemos fazer deste grupo algo realmente único. Vamos mostrar que os magos não são apenas intelectuais em torres altas, mas guerreiros que fazem a diferença no campo de batalha.

    Houve murmúrios de aprovação e acenos de cabeça. Apesar do cansaço, eles estavam prontos para encarar o próximo desafio.

    Levei meu grupo para o centro da arena, onde André já havia organizado seus guerreiros. O ambiente estava tenso, mas havia uma energia de expectativa no ar. Cumprimentei Joaquim, Joana e Dante com um aceno de cabeça enquanto eles se posicionavam, prontos para o que viria.

    — Vamos ao que interessa — disse André, direto. Ele então explicou a estratégia.

    Havia no total nove magos e nove especialistas corporais. André optou por separar os três melhores guerreiros — ele mesmo, Alissande e Aiden — e combinar suas forças com quatro magos de suporte: Claire, Sabrina, Victor e Elara. Era uma formação defensiva sólida, e eles teriam a responsabilidade de “segurar” o avanço das forças atacantes.

    Para o outro time, que ele confiou à minha liderança, eu tinha à disposição: como combatentes, Valéria, Celina, Melina, Dante, Joaquim e Joana, e como magos, eu, Antony, Gérard, Yorg e James. Nosso objetivo era simples: avançar e conquistar o terreno defendido por André e seu grupo.

    Reuni meu time, falando com clareza e tentando transmitir confiança:

    — Eles estão nos esperando com uma defesa pesada e uma combinação forte de ataque e suporte. Não vamos subestimá-los, mas confiem na estratégia e na força do grupo. Dante, Joaquim e Joana, vocês serão nossa linha de frente, abrindo espaço. Valéria, Celina e Melina, deem suporte direto a eles e mantenham pressão constante.

    Virei-me para os magos. — Antony, Gérard, Yorg e James, vocês vão trabalhar comigo para fornecer cobertura e desestabilizar a defesa deles. Nosso objetivo é abrir brechas e criar caos suficiente para que os combatentes possam entrar. Trabalhem em conjunto e confiem uns nos outros.

    Todos assentiram, o clima entre nós estava firme, mas focado. Posicionei-me com os magos e observei enquanto André fazia o mesmo com sua equipe.

    O treino estava prestes a começar, e eu sabia que este teste seria mais do que uma simples prática. Era uma chance de provar o valor do trabalho em equipe e mostrar que podíamos ser mais do que peças isoladas em um tabuleiro.
     

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