Capítulo 83: Os javalis se enfrentam
Reuni meu grupo no centro da arena e percorri os rostos dos magos, avaliando a determinação em seus olhares. Eles já haviam mostrado progresso, mas agora era a hora de aplicar tudo o que aprenderam. Respirei fundo antes de falar, minha voz firme cortando o silêncio.
— Vamos nos dividir em dois grupos. Um será responsável por fortalecer e defender nossos guerreiros, garantindo que eles permaneçam em combate pelo maior tempo possível. O outro focará em ataques diretos, desestabilizando os magos adversários para impedir que protejam seus próprios combatentes. Nosso objetivo é forçar os defensores deles a se preocuparem mais com a própria sobrevivência do que com a defesa do time.
Fiz uma pausa para que assimilassem as informações antes de continuar.
— Antony e Gérard, vocês ficarão encarregados dos ataques diretos. Quero pressão constante sobre os magos deles. Forcem erros, quebrem a concentração deles. Yorg e James, vocês vão reforçar nossos guerreiros e garantir que fiquem de pé o máximo possível. Não se preocupem em atacar, a prioridade de vocês é suporte.
Depois, voltei minha atenção para os combatentes. Eles estavam atentos, esperando suas ordens.
— Temos uma vantagem numérica considerável, dois para um. Isso significa que não precisamos assumir riscos desnecessários. Vamos jogar seguro. Joaquim e Dante, foquem no André. Não deem espaço para ele respirar. Celina e Melina, lidem com Alissande. Ela é rápida, mas vocês a conhecem bem. Trabalhem juntas para cercá-la. Joana e Valéria, vocês enfrentam Aiden. Ele é um problema se ganhar impulso, então impeçam que ele se mova livremente.
Fechei os punhos e inspirei lentamente antes de concluir:
— Eu serei o elemento surpresa. Vou me movimentar pelo campo e atacar onde for necessário, seja derrubando os magos inimigos ou ajudando contra os guerreiros. Se precisarem de reforço, me avisem.
Antes de iniciar, chamei Gérard e Claire para o lado e abaixei a voz ao falar com eles.
— Não usem nenhuma alteração mágica. Vamos manter nossos segredos.
Claire hesitou por um instante, mas assentiu discretamente. Gérard fez o mesmo. Do outro lado, vi André franzir levemente a testa, claramente desconfiado da minha conversa privada com Claire, que fazia parte do time dele. Mas não importava. Nossos segredos eram mais valiosos do que qualquer desconfiança naquele momento.
Voltei para junto do meu grupo e encarei cada um deles nos olhos, transmitindo a confiança que queria que sentissem. Então, assenti para André, que me devolveu o gesto.
A batalha estava prestes a começar.
Assim que o sinal foi dado, a luta começou com uma explosão de movimento. Vi Dante e Joaquim avançando contra André, enquanto Joana se juntava a eles, o bastão girando com firmeza. Celina e Melina cercaram Alissande, ágeis como predadoras prestes a atacar. Valéria, por sua vez, focava em Aiden, tentando prever seus pequenos teleportes.
Do nosso lado, Gérard ergueu as mãos e conjurou uma rajada de fogo, forçando Claire a erguer uma barreira mágica para proteger sua equipe. Antony disparou projéteis de ar comprimido contra Victor e Elara, tentando forçá-los a se afastar. Yorg e James, posicionados estrategicamente na retaguarda, começaram a reforçar nossos guerreiros com magias de proteção e fortalecimento.
André não se deu ao luxo de esperar. Com um giro rápido, desviou do ataque inicial de Dante e aparou o soco de Joaquim com sua espada. O impacto fez a areia sob seus pés se espalhar.
— Está ficando forte, Joaquim — disse ele, recuando rapidamente.
Joaquim sorriu, avançando com outro golpe. — E você continua um maldito muro de pedra.
Dante aproveitou a distração e tentou um corte diagonal. O aço brilhou no ar, mas André bloqueou e, com um movimento explosivo, empurrou os dois para trás.
Do outro lado, Aiden desapareceu por um instante e reapareceu atrás de Valéria. Vi sua lâmina brilhar ao tentar um golpe traiçoeiro, mas Valéria já esperava por isso. Girou a espada num arco largo, forçando Aiden a se abaixar no último segundo para evitar ser cortado.
— Quase me pegou — ele disse, sumindo outra vez.
Até aquele momento, eu apenas observava, analisando os movimentos. Precisava encontrar a brecha certa para agir. Então, vi minha oportunidade: Claire e Sabrina estavam concentradas demais protegendo os outros. Se conseguíssemos desestabilizar as magias de suporte deles, a balança viraria para o nosso lado.
Avancei. Claire me notou tarde demais, mas Sabrina girou a cabeça em minha direção, os olhos brilhando num tom sobrenatural.
— Você não vai passar por mim tão fácil — disse ela.
Senti o peso familiar de uma magia mental tentando me puxar para um torpor. Meu corpo ficou mais pesado, minha visão nublou por um instante. Mordi o lábio com força, forçando minha mana a circular e dissipar o efeito antes que se instalasse por completo.
— Vai ter que tentar melhor que isso — retruquei, arremessando um projétil de mana contra ela.
Sabrina desviou com um salto, mas Gérard, atento à brecha, lançou um jato de eletricidade em sua direção. Claire conjurou uma cúpula mágica no último instante, impedindo que Sabrina fosse atingida.
Enquanto isso, Joana fazia seu bastão zunir no ar contra Alissande. A guerreira de cabelos escuros bloqueava os ataques com destreza, respondendo com cortes rápidos. Celina e Melina tentavam cercá-la, mas Alissande era veloz.
Dante, por outro lado, estava novamente frente a frente com André. O som das lâminas ecoava conforme os dois trocavam golpes, a areia sob seus pés sendo revirada a cada movimento.
— Está se segurando, André? — provocou Dante, deslizando para o lado e desferindo um ataque.
André sorriu. — Só estou me aquecendo.
Foi então que senti um deslocamento no ar. Aiden reapareceu perto de Gérard, pronto para acertá-lo pelas costas.
— Droga — murmurei, avançando num impulso.
Interceptei o golpe no último instante, sentindo o impacto vibrar pelo meu braço. Aiden arregalou os olhos, surpreso.
— Achou que eu ia deixar você brincar livremente? — falei, empurrando-o para trás.
Ele riu, girando sua lâmina. — Então vamos ver quem cai primeiro.
O combate estava longe de terminar.
Aiden sorriu antes de desaparecer novamente. Mal tive tempo de reagir antes de sentir uma mudança na corrente de ar ao meu lado. Girei a espada por instinto e, no último instante, minha lâmina encontrou a dele. O choque metálico vibrou em meus ossos. Ele havia se teleportado a poucos centímetros de mim, tentando me pegar desprevenido.
— Rápido — elogiei, empurrando-o para trás.
— Mas não o suficiente — ele retrucou, desaparecendo outra vez.
Eu sabia que ele não poderia abusar daquela habilidade. Cada teleporte exigia tempo para ser usado novamente. Restava-me prever onde ele surgiria a seguir.
Meu foco foi interrompido por um clarão. Gérard havia lançado uma esfera de fogo diretamente contra Victor, que, sem tempo para conjurar um escudo próprio, teve que contar com Claire para bloqueá-lo. A cúpula de proteção dela aguentava bem os impactos, mas estava clara a tensão em sua expressão.
— Não vai aguentar isso para sempre — provocou Gérard, conjurando um novo ataque.
Ao mesmo tempo, Antony disparava lâminas de vento contra Elara, forçando-a a manter distância. Enquanto isso, Sabrina se recuperava da magia elétrica e me encarava novamente, os olhos brilhando com seu poder mental.
— Você pode resistir uma vez, Lior — disse ela, sua voz adquirindo um tom hipnótico. — Mas e duas?
Dessa vez, ela usou mais força. Minha visão ficou turva, o chão pareceu oscilar. O mundo ao meu redor se tornou um borrão. O corpo pesou, e minha mente lutou para se agarrar à realidade.
Sabrina sorriu. — Durma.
Um estalo de energia percorreu minha pele, e a névoa se dissipou num segundo. Recuperei o controle e avancei sem hesitar. Ela tentou recuar, surpresa com minha resistência, mas já era tarde. Meus dedos brilharam com pura mana antes de tocar seu ombro, e um choque de energia atravessou seu corpo, desestabilizando sua concentração.
— Acho que não — murmurei.
Ela cambaleou, perdendo momentaneamente o equilíbrio. Claire percebeu o perigo e ergueu um escudo de energia para protegê-la, me forçando a recuar.
Enquanto isso, a luta entre os guerreiros atingia um novo nível de intensidade.
Dante deslizava como um dançarino ao redor de André, as lâminas se chocando em um ritmo acelerado. Cada golpe de André era forte e preciso, mas Dante era rápido e técnico, desviando no último segundo, buscando pontos fracos.
Joaquim trocava golpes violentos com ele, usando suas manoplas para bloquear e contra-atacar. André era habilidoso, mas contra dois lutadores agressivos como aqueles, ele começava a sentir a pressão.
Alissande, por sua vez, estava cercada por Celina e Melina. Joana, aproveitando uma brecha, girou seu bastão e atingiu o flanco da oponente com um impacto seco. Alissande rosnou, recuando um passo, mas Celina já estava lá para pressioná-la ainda mais.
— Você não pode vencer três de nós — disse Joana, girando o bastão.
— Veremos — respondeu Alissande, respirando fundo antes de avançar de novo.
Aiden reapareceu ao lado de Claire, segurando seu ombro. Em um piscar de olhos, os dois desapareceram juntos e ressurgiram a poucos metros de distância. Ele a estava protegendo.
— Yorg, James! — chamei.
Os dois assentiram, e James imediatamente ergueu as mãos, lançando um escudo sobre Dante e Joaquim para reforçá-los contra André. Yorg, por outro lado, começou a enfraquecer as defesas inimigas, lançando pequenas rajadas de mana disruptiva contra os escudos mágicos de Claire.
Ela percebeu e cerrou os dentes, mantendo sua defesa, mas cada vez mais sobrecarregada.
— Estamos virando isso! — gritou Valéria, pressionando Aiden.
Ele tentou teleportar de novo, mas não conseguiu. O tempo de recarga ainda não havia passado. Valéria aproveitou e desferiu um corte contra ele, forçando-o a bloquear às pressas.
André rugiu e empurrou Joaquim e Dante para longe. Ele ainda era o pilar da equipe inimiga.
Se caísse, a luta estaria terminada.
Eu sabia o que precisava fazer.
Avancei.
A batalha alcançava seu clímax. O som de lâminas se chocando, feitiços explodindo e gritos de esforço preenchia a arena. O suor escorria pelo meu rosto, mas eu não podia me dar ao luxo de descansar.
André era a peça central da equipe inimiga. Se ele caísse, a moral deles desabaria. Mas derrotá-lo não seria simples. Ele ainda estava firme, sua lâmina movendo-se com precisão letal, mesmo enfrentando Dante e Joaquim ao mesmo tempo.
Aiden, por outro lado, já estava em apuros. Valéria e Celina o haviam encurralado, impedindo qualquer tentativa de fuga. Ele tentou forçar uma abertura, mas Melina surgiu ao seu lado, golpeando com a ponta da lança. Aiden desviou no último instante, mas não foi rápido o suficiente. A lâmina da lança cortou superficialmente sua lateral. Ele grunhiu, cambaleando, o suor misturado ao sangue.
— Acabou — disse Valéria.
Aiden apertou os dentes, mas sabia que era verdade. Ele ergueu as mãos, sinalizando rendição.
Primeira baixa do time adversário.
Mas a vitória estava longe de ser garantida.
Um instante de distração me custou caro. Senti uma pressão esmagadora invadir minha mente, uma sensação de paralisia. Sabrina. Ela ainda estava de pé, e sua magia mental agora me segurava com toda a força que lhe restava.
— Não dessa vez, Lior — ela sussurrou, sua voz ecoando dentro da minha cabeça.
Minhas mãos tremiam. Meus pensamentos se embaralhavam. Meus músculos se recusavam a obedecer.
Foi então que Gérard interveio.
Uma lança de gelo atravessou o ar e explodiu perto de Sabrina. Ela gritou, quebrando a concentração por um segundo, mas o suficiente para que eu me libertasse. Sem perder tempo, canalizei minha energia e disparei um pulso de mana que a atingiu em cheio.
Ela caiu de joelhos, exausta. Tinha gasto tudo naquela tentativa de me conter. Sabrina estava fora de combate.
Segunda baixa deles.
Mas perderíamos alguém logo em seguida.
Do outro lado, Joana e Celina pressionavam Alissande, que já demonstrava sinais de cansaço. Mas então, num movimento inesperado, Alissande girou o corpo e aplicou um chute giratório em Celina, que foi lançada ao chão. Sem perder o ritmo, desferiu um golpe forte contra Joana, acertando seu bastão e a desarmando.
Joana tentou recuar, mas um soco violento de Alissande a atingiu no estômago, cortando seu ar. Joana caiu de joelhos, incapaz de continuar.
Primeira baixa do nosso lado.
Eu amaldiçoei.
A batalha estava cada vez mais equilibrada.
Claire ainda se segurava, protegendo Victor e Elara, mas Yorg e James mantinham a pressão, desgastando suas defesas.
Dante e Joaquim, por outro lado, estavam em apuros. André já havia lido seus padrões de ataque. Com um golpe brutal, ele bloqueou a espada de Dante e girou o corpo, acertando Joaquim com força suficiente para lançá-lo para trás. O impacto foi forte. Joaquim caiu desacordado.
Segunda baixa nossa.
— Isso está demorando demais — resmunguei.
Era hora de acabar com aquilo.
— Gérard! Antony! Agora!
Gérard disparou uma tempestade de fogo e vento contra Claire. Ela tentou erguer uma barreira, mas o impacto foi devastador. O escudo cedeu, e Claire foi lançada para trás, incapaz de continuar.
Terceira baixa deles.
Victor tentou reagir, lançando projéteis mágicos contra Gérard, mas Yorg interrompeu com um feitiço disruptivo, fazendo a magia dele falhar. Antes que pudesse conjurar outro feitiço, Antony o atingiu com uma rajada de vento. Victor tombou, derrotado.
Quarta baixa deles.
Restavam apenas André e Alissande.
Nós ainda tínhamos Dante, Valéria, Melina e eu.
— Rendam-se — disse Dante, erguendo a espada.
André respirava pesadamente, os olhos avaliando a situação. Ele sabia que não tinha chances reais.
Ele bufou e guardou a espada. — Está bem. Isso foi uma boa luta.
Alissande suspirou e abaixou a lâmina.
A batalha havia terminado.
Vencemos.
Mas essa era apenas uma pequena amostra do que nos esperava no torneio real.
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