Capítulo 126: Um ataque inesperado
Saí da propriedade dos Vulkaris com o coração pesado. Apesar do alívio por saber que Cass e mamãe estavam bem, minha mente não conseguia ignorar a ameaça crescente da horda tentando derrubar os mausoléus. Respirei fundo, prevendo a batalha intensa que viria.
Fechei os olhos por um instante, me concentrando em Alana.
“Onde você está? Estou indo te encontrar.”
A resposta veio de imediato, sua voz clara, mas carregada de urgência.
“Estou ao sul do Palácio Imperial, papai. A horda está se deslocando lentamente para lá.”
“Entendido. Estou a caminho.”
Visualizei mentalmente a rota e parti. O caminho estava relativamente deserto, salvo por alguns errantes dispersos. Eles não eram uma ameaça real, e meus golpes eram precisos o suficiente para eliminá-los rapidamente. Mas algo me incomodava.
Uma sensação estranha percorreu minha espinha. Senti que estava sendo observado.
Parei por um instante e ergui o olhar, buscando qualquer sinal de movimento acima de mim. Nada. Nenhum pássaro espião, nenhum vulto suspeito entre os telhados ou nos becos escuros. E, no entanto, a sensação persistia, cada vez mais intensa.
Era a sensação de que um predador havia me escolhido como presa.
Minhas esferas protetoras surgiram em reflexo, girando suavemente ao meu redor. Inspirei fundo, acalmando a mente, e acelerei. Se algo estivesse à espreita, preferia enfrentar logo a ameaça do que prolongar essa tensão sufocante.
Corri por duas quadras, e a presença ficou mais opressora. Resolvi testar meu perseguidor. Fingi me cansar, diminuindo o ritmo, relaxando os ombros. Esperava que fosse o suficiente para provocar um ataque imediato.
E veio.
Uma sombra se lançou contra mim, veloz como um raio. Se eu não estivesse esperando, teria sido atingido em cheio.
Consegui desviar no último segundo, mas minha esfera protetora foi atingida por uma garra afiada, estalando em um clarão azulado. O impacto ressoou em meu peito.
Pisquei, tentando identificar meu atacante. Então, a reconheci.
A elfa.
As palavras de Hass ecoaram em minha mente: “A elfa maluca do Haroldo é muito perigosa.”
Mas ela não parecia mais uma pessoa. Era uma criatura, um espectro de fúria e selvageria. Suas roupas rasgadas pendiam do corpo magro e forte, mas não era sua forma esbelta que chamava atenção. Era a carnificina que a cobria.
Sangue e entranhas escorriam de seus braços e pernas, grudando em sua pele pálida. Suas mãos haviam se transformado em garras longas e negras, mais afiadas do que qualquer lâmina que eu já vira. Mas o pior era sua boca. Aberta de maneira antinatural, os dentes eram como estiletes, reluzindo à luz mortiça da cidade devastada.
Ela não era mais a escrava submissa que vi no escritório de Rosa.
Minha reserva de mana estava baixa. Precisava ser estratégico. As palavras de Pandora surgiram na minha mente.
“Lute como um guerreiro. Defenda como um mago.”
Saquei minha espada e comecei a circular a elfa. Ela acompanhou meus movimentos, os olhos semicerrados, a boca se abrindo um pouco mais, emitindo um chiado animalesco.
Minha mana se acelerou, ampliando meus sentidos e reflexos. O ar ficou denso, carregado de tensão.
Então, ela explodiu em minha direção.
Consegui erguer a espada a tempo, mas o impacto foi devastador. Seu golpe era puro instinto, sem técnica ou estratégia. Mas a força…
A lâmina tremeu em minhas mãos. Meu punho formigou. Não estava esperando por aquilo.
— Droga… — murmurei, recuando um passo. — Forte demais.
Olhei para minha arma. Denteada com a impressão das garras. A lâmina de aço não suportaria muitos golpes como aquele.
Mas havia algo em seu estilo de luta. Ela não atacava com malícia ou estratégia. Era uma fera, uma besta selvagem agindo por puro instinto.
E isso poderia ser sua fraqueza.
Meus olhos varreram o cenário, procurando algo que pudesse usar. Uma casa abandonada, uma proteção momentânea. Imediatamente tracei um plano que poderia funcionar.
Ela chiou novamente, preparando-se para outra investida.
Esperei. Ela disparou para frente, e no último instante, desviei, correndo na direção da casa. Queria ver sua reação.
Saltei pela janela, rolando ao cair no chão de madeira podre. Girei nos calcanhares e esperei.
Ela não hesitou. Atravessou a janela atrás de mim, num turbilhão de fúria.
Minha espada se moveu no instante em que ela cruzou o limiar, buscando um golpe decisivo, mas não acreditava que o golpe seria eficaz, queria apenas determinar seu comportamento.
Ela bloqueou com as garras.
A lâmina partiu ao meio.
Droga.
Não havia tempo para lamentações. Era hora de implementar minha armadilha. Disparei pela porta, enquanto minha mente trabalhava freneticamente, conjurando runas em altíssima velocidade. Precisava da configuração perfeita.
Toquei o batente da porta ao passar, depositando uma runa oculta na madeira. Um detalhe sutil, mas crucial.
A elfa veio atrás, ágil como uma fera faminta.
Quando passou pela porta, a runa brilhou e explodiu.
A madeira estalou e, em um segundo, toda a estrutura da casa veio abaixo. A explosão me atingiu de raspão, jogando-me contra o chão com brutalidade. Rolei, sentindo a cabeça bater contra algo duro. O mundo girou por alguns instantes.
Silêncio.
Levou alguns segundos para que minha mente clareasse. Meus braços e pernas estavam ralados, um filete de sangue escorria de minha testa.
Mas a casa… estava em ruínas.
Não havia movimento nos escombros.
Ofegante, ergui o tronco e caminhei cautelosamente até os destroços. A adrenalina ainda pulsava em minhas veias, minha respiração entrecortada.
Metade da espada ainda estava em minha mão.
Com a lâmina quebrada, comecei a revirar os escombros.
Precisava ter certeza de que a elfa estava morta.
Ou, pelo menos, incapacitada.
Não havia corpo, nem vivo, nem morto… apenas um rastro de sangue serpenteando pelo chão e se perdendo na penumbra de um beco estreito. Fiquei parado por um momento, atento, tentando sentir sua presença. Nada.
Ela não estava me observando. Havia fugido para se esconder, como um animal ferido. Mas animais feridos eram sempre os mais perigosos. Lembrei de um ditado que meu pai costumava repetir: “A fera encurralada morde mais forte.”
A indecisão me travou por um instante. Deveria ir atrás dela e acabar com aquilo antes que voltasse a me atacar? Ou seguir em frente e me concentrar no que realmente importava?
Soltei um suspiro, balançando a cabeça. Não podia perder tempo com isso agora. A horda estava em movimento, e eu precisava encontrá-la e entender seus planos. Além disso, havia Alana. Precisava interrogá-la.
Estalei a língua contra o céu da boca, frustrado. A elfa estava gravemente ferida, talvez morta, mas ainda assim, deixava um peso no fundo da minha mente. Só esperava que não voltasse para me atormentar.
Sacudi os ombros, afastando a preocupação, e me pus em marcha.
A cidade passava por mim em um borrão de ruas desertas e prédios silenciosos. Em certos becos, os errantes vagavam sem rumo, mas estavam dispersos o bastante para que eu não precisasse me preocupar. Mantive o ritmo acelerado, os sentidos atentos, os músculos prontos para reagir ao menor sinal de perigo.
Quando achei que já havia cruzado uma boa parte da cidade, enviei outra mensagem mental para Alana:
“Onde você está agora?”
A resposta veio quase instantânea, sua voz ecoando em minha mente.
“Ainda no mesmo lugar, papai. É uma torre alta, estou lá em cima.”
Dessa vez, junto com as palavras, veio uma imagem. Por um breve instante, enxerguei pelos olhos dela, um ângulo elevado, a cidade se estendendo abaixo, os telhados irregulares e, ao fundo, o brilho sinistro do Palácio Imperial.
Um calafrio percorreu minha espinha.
“Já já chego aí,” respondi. “Tenho algumas perguntas para você.”
Apertei o passo, focando apenas no caminho adiante.
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