Índice de Capítulo

    — Três corpos foram achados agora há pouco no estacionamento de um galpão abandonado, nos arredores de South Capitol. Segundo moradores, tudo indica que foi acerto de contas entre os Sons of Honor e os New Jurors. A polícia de D.C. ainda não soltou nenhuma nota oficial… e, bom, pelo histórico, talvez nem vá.

    A voz do locutor transmitia a tradicional frieza jornalística e, enquanto ouvia, Darcy não conseguia deixar de pensar noutros tempos. Ele tinha cerca de treze anos e ela quase dez. Depois de roubarem chocolate numa loja, estavam fugindo de um segurança. Foi ele quem a empurrou para o outro lado do muro sem se preocupar com o risco de ser repreendido. Depois, apareceu com um olho roxo, mas estava visivelmente contente. Aquilo ficou gravado numa daquelas memórias às quais se recordava sem dar por isso.

    Franklin era um reflexo distorcido dela, ou talvez ela fosse o reflexo dele. O que importava era que os dois saíram do mesmo buraco e da mesma terra estéril, a qual alimentava mais caixões do que sonhos. A diferença estava no fato de que Darcy teve a coragem de sair, mas ele ficou. Continuar naquele cenário era um convite para ser engolido.

    As ruas da MLK Avenue se desenhavam pela janela. Tudo passava diante dos olhos de Darcy em um turbilhão de imagens sem sentido. O que via era a barbearia velha com a porta de ferro, o sinal piscando no meio da rua, os postes com cartazes de pessoas desaparecidas e os retratos sem nome e uma recompensa de um grupo R.R.L.

    Não havia nenhuma guerra entre gangues conforme retratado nos jornais; o problema era mais profundo e enraizado. O sistema cavou trincheiras para enterrar aqueles que nasceram culpados sem que ninguém pudesse enxergar. Isso era um assunto sobre o qual ninguém falava abertamente. Os Sons of Honor e os New Jurors não eram a causa desses problemas, mas o resultado produzido por um país que empurrou bairros inteiros para a marginalidade sem assumir a responsabilidade.

    — Fontes locais disseram que os Blood Sentinels foram vistos circulando o centro esportivo abandonado ali em Congress Heights. A disputa tá esquentando. Os Sentinels estariam tentando tomar o controle da área dos New Jurors, já que eles dominam as rotas que ligam Maryland a D.C. e não devem soltar fácil.

    Darcy respirou fundo, mas não se sentiu aliviada. O traço comum entre todos esses grupos era o fato de todos se considerarem vigilantes de uma nova ordem, prometendo redenção por meio de armas de fogo. Eram almas perdidas que encontraram uma espécie de fé na violência. Franklin deveria ter voltado atrás, mas veio ter com ele e isso doeu de uma forma que Darcy nem conseguia explicar.

    A ponte sobre o rio que passou bem podia ser uma cicatriz. A água que corria por baixo estava suja até ao âmago. Os pilares, cobertos de grafites, tinham a mensagem: “Ninguém aqui é santo”.

    Virou na Malcolm X Avenue, e um grupo de adolescentes encostados num Corolla batido observaram Darcy passar.

    — Informações de dentro do Departamento de Justiça apontam que ao menos quatro grupos paramilitares estão ativos aqui em D.C., todos com grana vindo de empresas ligadas à ultradireita. Um desses grupos estaria por trás da remoção forçada de famílias negras e latinas em Congress Heights. Foram mais de 1.200 despejos nos últimos dois anos. O ativista Marcus B. Nelson diz que tudo isso é vendido como revitalização urbana, mas a rua sabe que tem mais por trás.

    Os bairros foram transformados em zonas cinzentas através da paramilitarização urbana, com a presença de veículos blindados e de facções contratadas legalmente para o efeito. Os recursos retirados deixaram as crianças à sua sorte nas ruas e semearam a guerra com novos uniformes e selos governamentais. Depois da situação ter explodido, culparam as mesmas pessoas que tinham abandonado a seu próprio destino. Ela não culpava Franklin por isso, no entanto, também não iria perdoá-lo. Ele tinha feito escolhas, e se  estava envolvido com qualquer grupo, não era por acaso.

    O rádio engasgou, mas voltou com uma reportagem gravada:

    — Os Blood Sentinels têm expandido influência em áreas urbanas com ausência do Estado, fazendo com que Congress Heights e Barry Farms se tornassem zonas vermelhas nos relatórios da inteligência civil. Enquanto isso, a facção mistura discurso revolucionário com práticas ultraviolentas, recrutando jovens entre 13 e 19 anos. Como sempre, o governo federal nega qualquer omissão.

    O país inteiro estava obcecado com a estética da violência e com a aparência corporativa de um apocalipse. Era um fluxo constante de tragédias recompensado pelo algoritmo como se fosse um espetáculo sem fim. 

    O rádio chiou, depois limpou:

    — Novos documentos vazados mostram que membros do Congresso receberam doações de grupos associados ao império empresarial bávaro, um conglomerado alemão que, segundo analistas, se infiltrou em setores-chave da política do nosso país. O senador Rowley rejeitou as acusações como teorias da conspiração da esquerda racializada, e assim o jogo segue.

    Darcy revirou os olhos, desligou o rádio e respirou fundo. 

    Chegando à Congress Heights, a rua estreitou e os postes de iluminação inclinados projetaram sombras distorcidas sobre os carros abandonados, alguns dos quais serviam de esconderijo e outros tinham sido simplesmente esquecidos. O asfalto fendido engolia raízes de árvores que cresciam tortuosas.

    Ela passou de carro por um grupo de adolescentes encostados num muro coberto de grafites. Um deles olhou para cima quando viu o SUV; o seu rosto estava parcialmente escondido por um boné escuro enfeitado com um emblema vermelho, costurado à mão, representando um punho fechado dentro de um triângulo. Ele não sorriu. Manteve-se apenas observador com o olhar direto para Darcy, alguém que não pertencia àquele lugar.

    A mesma diminuiu a velocidade. 

    As casas eram apertadas e coladas umas às outras, cercadas por cercas de ferro enferrujadas em mau estado de conservação. Darcy manobrou o carro devagar antes de parar à sombra projetada por dois carros cobertos com lonas rasgadas. O motor ainda ronronava baixinho na altura em que viu os dois homens descerem a calçada.

    O primeiro era um homem negro com cerca de quarenta anos, de pele escura, rosto enrugado e barba despenteada, salpicada de cicatrizes. Tinha braços largos e um pescoço forte, mas os seus olhos pequenos e fundos sugeriam que estava acostumado a mentir descaradamente. A sua blusa cinzenta estava manchada e colada ao corpo suado. Tinha marcas de tinta velha no tecido e um cigarro apagado pendurado na boca, como se fizesse parte dele. 

    O outro homem branco era mais novo, provavelmente com cerca de 23 ou 25 anos. Era magro e alto, com um andar leve e nervoso. Os seus olhos salientes pareciam inquietos e desconfiados. Tinha dreadlocks curtos, uma camisa branca e calças largas. A sua mão esquerda balançava livremente, mas a direita nunca saía do bolso do calça.

    Aproximaram-se sem dizer uma palavra. O mais velho parou ao lado do condutor, levantou a mão e bateu duas vezes na janela com os nós dos dedos. Darcy avaliou rapidamente a situação. Os dois não apresentavam nenhum símbolo aparente de gangue, no entanto, o mais novo tinha uma corrente no pescoço com um pingente em forma de mira. Embora não fosse um sinal direto, também não era uma coincidência.

    Ela baixou o vidro.

    — Tá perdida, princesa? — disse o mais velho com uma voz rouca.

    — Estou procurando Franklin. Disseram que ele ainda passa por aqui.

    O mais novo bufou uma risada breve.

    — Olha aí, Jamal, ela quer ver o Franklin. Que tipo de negócio cê tem com ele?

    — Só quero falar com ele. 

    Jamal apoiou os dois antebraços na porta.

    — Acha que pode vir desse jeito, toda ajeitadinha, sentar nessa navezinha aí e perguntar por nome assim fácil?

    — Não vim arrumar confusão. Se ele não quiser ouvir, eu viro o carro e sumo.

    Ficaram calados por um momento. A tensão era tênue, mas real. O mais novo olhava para o banco de trás. O mais velho verificava os espelhos retrovisores de relance.

    — Ele não tá por aqui hoje, não. Mas… talvez eu saiba onde ele foi. Ele tem passado um tempo lá pras bandas da 7th, perto daquele ferro-velho abandonado. A gente pode te levar até lá… só que não dá pra ir com o carro. O lugar é apertado. Tem que ir a pé. Não é, Wade?

    — A gente guia. — completou. 

    A intuição de Darcy soou como um alarme. De qualquer modo, manteve uma expressão serena no rosto.

    — Tudo bem, me mostrem.

    Saiu do carro e trancou-o num clique que não fez barulho. Os dois abriram espaço. Darcy percebeu que Wade estava ocupado com algo no bolso.

    Seguiram em frente, entre buracos, pedaços de colchões rasgados, pneus descartados e garrafas partidas, que estavam espalhados por todo o lado. O cheiro de lixo velho se misturava com o de óleo queimado e o de comida reaquecida vinda de algum lugar. Um gato cinzento saiu disparado de uma caixa de lixo virada e atravessou a rua à sua frente.

    Eles avançaram por uma entrada marcada por um portão de metal torto, que rangia com o vento. As barras estavam parcialmente arrancadas com marcas de ter sido passado um carro por cima delas para forçar a entrada. O grande terreno baldio e desorganizado estava repleto de pilhas de peças de carros, capôs apoiados em cavaletes e pneus amontoados uns contra os outros, formando paredes improvisadas. Um contêiner azul enferrujado estava encostado a uma parede coberta de grafite, com tinta fresca escorrendo das letras.

    O chão era de terra batida coberta por manchas de óleo e sacos de plástico presos nos cantos. Uma van branca sem rodas estava encostada a uma cerca cercada por vidros estilhaçados. Darcy parou por um segundo que bastou para sentir o cheiro de ferro molhado da desolação. 

    Aquilo era um ninho.

    — Franklin entrou aqui ontem à noite. — disse Jamal. — Tava com dois caras. A gente ficou de voltar hoje pra trocar umas ideia com ele.

    Darcy não se pronunciou, mas continuou a caminhar, examinando os arredores precavidamente. Ela conhecia o peso de ser mulher num ambiente dominado pelo silêncio e olhares insistentes.

    Prosseguiram até que o caminho de cimento deu lugar à lama seca de cascalho. O ar estava abafado pelo calor que emanava dos telhados de zinco deformados bem como impregnado pelo cheiro de óleo velho, ferrugem e urina estragada. À esquerda podia ver-se uma pilha de motores deteriorados por cima dos restos de um carro cortado aos pedaços. Um pouco mais à frente observou-se uma bicicleta infantil azul desbotada emaranhada numa armadilha de arame farpado. Tinha toda a aparência de ter sido esquecida num mundo que não tem lugar para erros.

    Darcy continuou o seu caminho com passos largos, mas sentia olhares nas suas costas.

    — Olha só como essa bunda balança nesse blazer socialzinho. — disse Jamal com um risinho safado lambuzado de malícia. — Aposto que nunca nem sujou esse terninho na vida. Ô vida boa.

    O silêncio da vice-líder foi a sua resposta. O cheiro repugnante de borracha queimada chegou-lhe às narinas.

    Wade riu por trás.

    — Deve tá acostumada com pau mole. — Aproximou-se mais. — Vai ver que é disso que gosta.

    Sentiu um toque sólido nas costas e parou imediatamente. Ao olhar de relance para o canto do olho, distinguiu o brilho metálico da glock 17 na mão de Wade. Jamal manteve a distância, segurando uma faca de lâmina curva, suja de ferrugem e um isqueiro de maçarico balançando do bolso de sua calça.

    — Você não trouxe amiguinhos, né? Nenhum segurança ou helicóptero dos federais?

    Darcy não tinha nada que servisse ali. O blazer escondia um corpo bem treinado, que era tudo o que tinha. Embora não tivesse uma pistola na cintura nem uma faca na bota, o seu olhar era inconfundível. 

    Deu uma analisada rápida no ambiente. Esquerda, um tambor azul com um ferro de solda jogado por cima; no chão, uma chave de roda gorda, enferrujada, encostada sob o para-choque de um caminhão enterrado até os eixos no mato. 

    Considerou o tempo que demoraria a alcançar o tambor e a força necessária para puxar a chave de roda e acertar no joelho ou no queixo de Wade. Também teve em conta como a chave de roda poderia ser utilizada em seu benefício caso executasse o movimento certo. Ainda assim, tudo isso não passava de uma ideia. A prioridade era manter os olhos neles enquanto ainda podia, uma vez que a menor hesitação e a glock mudaria tudo. 

    — E se a gente levasse ela ali atrás daquele caminhão, hein, Wade? Só pra trocar uma ideia… mais íntima. — Jamal fez um gesto com a cabeça. — Se ela quiser gritar, o cachorro cobre o som.

    Wade apertou levemente a pistola contra as costas dela.

    Estava ciente de que teria apenas um segundo e que, se perdesse aquele momento, tudo acabaria. Não necessariamente morta, mas destruída por dentro de uma forma irreparável.

    Viu Wade virar o rosto e rir das palavras de Jamal. 

    “Agora.”

    Ela girou o corpo, bateu em seu ombro no braço dele, empurrando a pistola pro alto. Ao mesmo tempo, seu joelho subiu rápido e acertou direto no saco. 

    Wade dobrou o corpo na hora.

    Darcy não perdeu tempo. Sua mão mergulhou pro chão e agarrou a chave de roda enferrujada. Rodou o braço com toda a velocidade e bateu o ferro na lateral de seu rosto com um som de osso rachando.

    Ele caiu de lado com um fio de sangue no canto da boca. A arma escorregou dos seus dedos tortos e caiu no chão.

    Esta chutou a glock para longe.

    — Caralho!

    Jamal viu o sangue fluir da bochecha de Wade e o ódio incandescente nos olhos de Darcy. O mais novo estava estendido no chão entre gemidos, com as mãos sobre o rosto desfigurado.

    Os olhos de Darcy escaneavam tudo outra vez.

    “Se ele vier, posso puxar o tambor, criar um obstáculo e usar o ferro de solda se der tempo. Mas acho que ele vai pensar duas vezes, está com medo.”

    Deixou cair a chave para mostrar que já não precisava dela. Enquanto isso, Wade tentava rastejar; o seu rosto estava roxo. Murmurou um nome que deveria ser o da sua mãe ou talvez o de Deus.

    — Essa porra não vai ficar assim, cê vai ver!

    Darcy pôs-se a correr. O tambor azul tombou quando ela passou, raspando as costas, puxando ele com o ombro. O impacto levantou lama e poeira fina. A distração durou pouco, mas o suficiente para obrigar Jamal a se movimentar.

    Aproximou-se rapidamente, sem paciência, manuseando a lâmina e com a ponta curva à procura de carne exposta. Era uma karambit artesanal de corte reverso, ideal para lacerar músculos e tendões, no entanto, o modo como a empunhava sugeria que não sabia utilizá-la. Darcy bloqueou o golpe com o antebraço quando o osso rádio atingiu o seu pulso, sentindo o impacto até aos dedos. 

    O segundo ataque foi direto às suas costelas flutuantes. Darcy levantou a perna, prendeu a coxa à volta do braço dele, torceu o tronco e bateu o seu rosto contra a lateral de um caminhão. O ferro enferrujado da carroçaria rangeu ao embaterem, o que produziu um ruído estridente de osso contra metal. Se os ossos das têmporas amorteceram o golpe, a mesma coisa não se passou com relação choque cerebral. Este cambaleou e os seus olhos perderam o foco por um momento. A lâmina escorregou dos seus dedos e caiu.

    Apesar disso, ele não caiu. Dentro dele ainda ardia algo. Darcy chutou-lhe o joelho com toda a força ao ligamento, desestabilizando a articulação. Com os gritos roucos e curtos, à beira da asfixia, Jamal caiu de lado. 

    Darcy olhou à sua volta e viu uma pilha de sucata composta por pneus velhos e fios expostos. Entre eles sobressaía uma barra de ferro soldada a um anel de aço. Ainda que fosse pesada e desequilibrada, era útil. Segurou-a com as duas mãos enquanto sentia a vibração do metal enferrujado e gorduroso, então voltou para perto deste. Jamal tossiu uma grande quantidade de sangue espesso. O seu rosto estava inchado do lado esquerdo e a testa estava aberta de uma extremidade à outra. Tentou apoiar-se no cotovelo para se levantar. O seu olho direito tremia devido à pressão aumentada no interior do crânio. 

    Darcy ficou diante dele para criar a imagem final.

    — Eu era criança quando vi um corpo da minha gente no chão. Alguém tomou um tiro no meio da tarde, e ninguém fez nada, e por isso virou carne no meio do asfalto. Eu vi o olho aberto por dias, enquanto o rosto dele inchava de mosca. Aquilo me ensinou que quem sobrevive é quem termina a luta.

    Ergueu a barra de ferro.

    — A arrogância desaparece rápido quando o rosto vira massa de carne.

    O primeiro golpe foi como bater com um martelo num melão recheado de ossos. O crânio estilhaçou-se em múltiplas fraturas. Sangue, tecido cerebral e fragmentos de cabelo salpicaram em espiral.

    Darcy golpeou de novo.

    Ao acertar na mandíbula, o maxilar partiu-se em dois. Um dente canino voou pelo ar antes de se perder no capim alto. O rosto de Jamal já não era simétrico, tudo o que conseguia fazer era piscar o olho esquerdo num reflexo do qual o cérebro sequer conseguia ter controle. Ele não sentia dor, estava apenas ali por inércia neural.

    Outro golpe.

    O ferro esmagou o lado da cabeça, afundando parte da têmpora. O seu corpo arqueou e, de seguida, ficou flácido como um peso morto no momento em que todos os músculos perderam a tensão e o sistema nervoso desligou-se. Uma mancha de urina começou gradualmente a se espalhar pelas calças e a se misturar ao cheiro de ferro enferrujado e de argila.

    Quando finalmente parou, os seus braços estavam cobertos de sangue que lhe chegava aos cotovelos. As gotas de sangue viscosas escorriam do ferro, manchado de vermelho e cinzento pelos miolos. Largou o objeto, virou-se e caminhou em direção a Wade, que continuava estendido no chão aos soluços. Ela nem sequer olhou bem para ele; apenas pegou na arma ao seu lado e verificou o carregador para confirmar que tinha 11 balas.

    Parou e olhou para o que restava de Jamal uma última vez. Limpou o antebraço na manga outrora branca. O tecido absorveu parte do sangue, mas o resto escorreu até ao pulso. A sua respiração estava estável, mas a sua cabeça estava vazia de raiva ou medo; em vez disso, funcionava num eixo moral dissolvido no qual as questões éticas eram apenas estáticas de fundo.

    Wade tentava controlar o terror em meio ao choro e à dificuldade em respirar. Ela abaixou-se, segurou o queixo dele entre os dedos sujos de sangue e o forçou a encará-la. Os olhos de Wade pulavam, tentando evitar contato visual. 

    — Onde está Franklin?

    Encostou o cano da pistola no seu maxilar o suficiente para deixar claro que os minutos seguintes não seriam deixados à vontade do homem. Puxou sua cabeça pelos cabelos sujos, molhados de suor e terra.

    — Eu não tenho tempo.

    Com a mão esquerda, puxou a pele do rosto dele em direção ao nariz e, com a ponta do polegar, empurrou forte entre o olho direito e a cavidade orbital.

    — Ahhhh!! — berrou como um porco em desespero. O globo ocular resistiu momentos antes de sair parcialmente. Darcy manteve a pressão até os vasos sanguíneos se romperem em jorros vermelhos e, depois, retirou a mão. O homem contorceu-se e bateu com as costas no chão. — Porra, porra, porra!

    Ela deu espaço para que respirasse. Wade se debateu tanto que bateu a cabeça numa roda de carro encostada. Deu mais alguns segundos, esperando que o terror do homem fermentasse no corpo. 

    — Tá… E-eu digo!

    — Ótimo.

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