Capítulo 32 - Arte Despedaçada
O museu se curvava sob o peso de uma atmosfera sufocante. Cobertas por relíquias de um passado quase esquecido, as paredes devolviam um brilho opaco à luz que mal escapava dos lustres antigos.
Lewis se afastava, e os passos ressoavam como um lembrete de que Mandy estava sozinha naquele salão vasto e inóspito.
Ela observava os objetos expostos, capturando cada detalhe com atenção minuciosa. As vitrines empoeiradas guardavam itens que não deveriam estar ali, pedaços de histórias que ninguém parecia querer recordar. No entanto, algo no ar a fez parar. Uma mudança sutil.
Trazido pelo vento, que serpenteava por uma fresta em algum lugar distante, um som roçava o limite da audição, como uma mensagem carregada pela própria arquitetura do prédio.
Mandy sentiu o frio subir pela espinha, enquanto seus ombros se retesavam. Era mais do que uma simples corrente de ar. Tudo ao redor a fazia sentir que o ambiente estava atento, aguardando algo que ela ainda não podia ver.
Um ranger, baixo, mas distinto, ressoou à distância. Instintivamente, seu corpo entrou em estado de alerta. Ela virou a cabeça em direção à entrada do museu, fitando a penumbra na tentativa de capturar qualquer movimento.
“Essa sensação…”
O que se via no portal do museu era uma figura que surgira impassível.
Não havia hesitação alguma. Mandy não viu apenas alguém entrando, mas algo maior. Uma presença que não precisava de palavras ou gestos para se impor.
Os olhos daquele ser encontraram os dela, e o mundo diminuiu até que só restasse o espaço entre ambos. Seu olhar era intensamente desconcertante, um domínio tão absoluto que beirava o desumano.
No entanto, Mandy não desviou o olhar. Retirou a katana da bainha, emitindo um som metálico cortante. Ela agarrou o punho com ambas as mãos, posicionando o dedo no tsuka e mantendo o ângulo exato para interceptar a investida. Reflexo mais do que decisão consciente.
A garota ergueu o queixo e enfrentou o confronto visual.
O predador havia encontrado sua presa, mas ela não se rendia.
「 Foco 」
A resposta de Mandy foi simplesmente brilhante.
Seu corpo inclinou-se levemente para a frente, apoiado sobre os pés, enquanto os joelhos dobrados lhe davam estabilidade.
O movimento da lança foi veloz e letal, característico de alguém que conhecia o peso da arma e a ferocidade necessária para usá-la.
Mandy acompanhou a trajetória do ataque em sua totalidade, calibrando a distância entre o fio da lâmina e o ponto de impacto iminente. Ela ajustou o ângulo da katana para canalizar o máximo de força no bloqueio, utilizando o movimento do quadril.
Quando o metal da lança encontrou a resistência afiada da katana, o impacto foi brutal.
A colisão ecoou como um trovão metálico, acompanhado de faíscas que se espalharam em um arco caótico em torno das duas combatentes. Uma vibração percorreu os braços de Mandy, subindo até os ombros como uma descarga elétrica.
Sua posição permaneceu firme, absorvendo a força do golpe ao tensionar os músculos, à medida que ela forçava a lâmina para cima para desviar o ataque.
Mavie reagiu imediatamente, girando a lança para mudar o ponto de pressão e tentar desequilibrar a oponente.
Por sua vez, Mandy respondeu arriscando um corte lateral, que desviou o impulso da arma e criou uma abertura.
Antes que ambas recuassem alguns passos, a katana roçou novamente contra o metal da lança, dando origem a outro clarão de faíscas.
Mavie deslizou para trás, arrastando os pés pelo chão áspero. Com um misto de respeito e malícia, seus olhos se estreitaram. O sorriso que surgiu em seus lábios não era de diversão, mas de reconhecimento do desafio que se apresentava.
Mandy ajustou a postura, ainda distribuindo o peso igualmente, tendo o fio da katana apontado para o centro de gravidade de Mavie.
A respiração ritmada mantinha sua mente focada. Um suor frio corria pelo seu rosto, escorrendo em silêncio até o queixo.
— Você é rápida, né? Mas será que é tão?
Mandy dependia não só de sua agilidade, bem como de uma compreensão minuciosa dos princípios subjacentes aos movimentos, graças à destreza que aprendeu nos treinamentos de esgrima.
Por outro lado, Foco permitia que ela se adaptasse ao ritmo do combate, e cada ação e reação se desenrolava como uma combinação de movimentos elaborada e letal.
Com uma estocada ousada, Mavie iniciou o ataque. A lança em sua mão era mais do que uma extensão de seu corpo. Tornava-se um instrumento de domínio, projetando-se com força medida para perfurar o espaço entre ela e Mandy.
A garota, no entanto, não recuou. Ela puxou a katana com um nukitsuke, provocando um corte nítido no ar. O metal interceptou o ataque num instante que reverberou como um trovão abafado.
O impacto reverberou pelos braços de Mandy, que não hesitou. Deslocando o peso do corpo para o pé esquerdo, girou o quadril e empurrou a lâmina para desviar do golpe.
A lança escorregou para o lado, obrigando Mavie a girar o cabo e realizar um corte horizontal, em seguida à primeira estocada, uma manobra que mirava as costelas de Mandy.
A agente deu um passo para trás, inclinando o tronco e reduzindo sua silhueta. Com um golpe ascendente, levantou a lâmina para bloquear o arco da lança. As armas se chocaram novamente. Ouviu-se um som metálico e faíscas brilharam na escuridão da sala.
Recuando um passo apenas para ajustar sua postura, Mavie avaliava calmamente todos os movimentos, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.
Sob os pés de Mandy, o chão rangia conforme ela tentava encontrar outra abertura.
Adiantou-se com um corte diagonal, visando o ombro descoberto de Mavie. Sua adversária, porém, era rápida.
Rápida como uma pantera, ela usou a haste para bloquear a investida. Ambas sacudiram-se com o contato e a mulher aproveitou o momento para mudar a direção da arma.
O cabo da lança caiu pesadamente sobre Mandy, em direção à sua cabeça. Reflexivamente, levantou a lâmina. Seus braços tremiam com o esforço de segurar a força do ataque. A batida seca do choque ecoou, pressionando suas pernas até quase fazê-las ceder.
Mesmo assim, não queria cair. Mandy deu um passo lateral para escapar do alcance da arma. Posicionou a katana em hasso-no-kamae, alinhando-a ao lado do rosto. Aproximou-se para uma investida súbita, num passo direto que mirava o centro da alemã.
A mesma, no entanto, estava preparada. Manuseou a arma defensivamente, mudando o curso do ataque e redirecionando a katana para o lado. Com a outra extremidade desta, infligiu um golpe no estômago de Mandy. Com um suspiro forçado, o ar saiu de seus pulmões, e ela foi empurrada para trás.
Mandy sabia que Mavie era superior. Isso ficou evidente desde o início. A eficiência dos movimentos e a maneira como controlava a lança eram prova de anos de treinamento que superavam qualquer noção comum de combate.
A garota não podia cometer erros.
Sentia o peso do cansaço nos braços e a respiração mais difícil. Apesar disso, havia algo nos olhos dela: uma vontade obstinada de não desistir, mesmo quando a derrota aparentava ser inevitável.
“Continue respirando. Não perca o foco.”
Mavie avançou de novo, e o ar se abriu diante da lança. A ponta metálica riscou o espaço com um som áspero, buscando o peito de Mandy. Ela se deslocou à direita em um movimento rápido, o uniforme mal escapando do alcance mortal da lâmina.
“Continue… respirando.”
A ofensiva seguinte veio sem pausa, conduzida pelo peso do ataque à força impositiva. A lança desenhou uma linha cruel na direção de Mandy, que baixou o corpo instintivamente, flexionando os joelhos de uma só vez.
A arma passou acima de sua cabeça, mas não parou por ali. A ponta afiada encontrou uma urna etrusca em um pedestal próximo, e o estrondo seco de cerâmica ao se partir reverberou pelo salão.
Fragmentos da urna se espalharam pelo chão. A relíquia jazia em pedaços, como estilhaços de memória. Mandy voltou-se para a esquerda, examinando rapidamente o ambiente em busca de algo que pudesse usar.
O museu era um emaranhado de história, e ela percebeu que poderia tirar proveito disso. As vitrines, os pedestais, o teto alto e as colunas — cada elemento do museu era uma ferramenta em potencial. Bastava pensar além do confronto direto.
— Trabalha para algum Mephisto? — provocou Mandy. — Isso é uma pia…
As palavras mal haviam terminado de sair quando Mavie avançou novamente, ameaçando cortá-la em dois em um arco descendente. A katana já estava erguida, e o metal tremia sob a força do desvio do golpe. O choque das armas ressoou, fazendo o ar vibrar entre elas.
Mandy torceu o pulso, guiando a lâmina da adversária para fora do caminho. O peso da lança a empurrou para trás, mas ela manteve o equilíbrio e retrocedeu com passos consistentes.
O som das botas no chão era abafado pelas batidas do próprio coração.
Mavie não hesitou. Ela usou a lança para efetuar um movimento lateral, buscando a cintura dela.
Mandy se lançou para trás, curvando seu corpo. Em um salto ágil, se abrigou atrás de um pedestal maior, onde um busto de mármore impunha sua presença solene.
— Vai se esconder agora?
A garota não respondeu. Ela mantinha os olhos voltados para o entorno, onde avaliava cada detalhe. Com a mão direita, segurava a katana com força, e a esquerda deslizava pelo pedestal, por entre o mármore frio, quase como se ele pudesse transmitir alguma solução.
Então, viu algo. Um lustre ornamentado pendia do teto, sustentado por correntes robustas, porém acessíveis. O plano se formou em sua mente, e, sem hesitar, Mandy saiu de trás da coluna e avançou em linha reta.
Mavie respondeu com a mesma rapidez, realizando um ataque direto. Mandy deslizou para o lado, escapando ligeiramente, e, em seguida, balançou a katana no ar.
A reação foi imediata. O metal se partiu com um som seco, e o lustre começou a balançar, ameaçando cair.
Mavie olhou para cima, um instante de relutância que era tudo o que Mandy precisava. Ela passou à frente, cortando o espaço entre elas verticalmente. A alemã ergueu a lança para bloquear o ataque, e as armas se encontraram novamente, brilhando sob a força do impacto.
O lustre desabou, e os estilhaços de cristal caíram ao redor das duas. A agente soube usar o momento para empurrá-la para trás, ganhando espaço mais uma vez.
— Desistir nunca foi sua opção, né? — Mavie falou, o tom quase divertido, embora os olhos permanecessem duros. — Mas consigo ver que você ainda está tremendo.
Mandy respirava rápido, o suor escorrendo pelo rosto. Ela sabia que a vantagem era temporária, mas, no jogo de estratégia, cada segundo ganho era uma pequena vitória.
— Tremo porque está frio — rebateu, tentando disfarçar a exaustão com um sorriso desdenhoso. — Ou talvez seja a excitação de enfrentar um dinossauro da SS fora de um documentário.
Mavie estreitou os olhos, mas seus lábios se curvaram em um meio sorriso. A lança permaneceu apontada para frente, firme, como uma extensão de seu braço. Ela inclinou a cabeça levemente, avaliando-a.
— Você tem a língua afiada para uma menina tão nova. — A ponta da lança descreveu um leve movimento circular. — Talvez o Mephisto tenha exagerado quando disse que sua equipe era uma ameaça séria.
Mandy deu um passo para trás, a katana erguida, os dedos firmes no cabo.
— Ele mencionou também como vou mandar você e ele direto para o buraco?
Mavie flexionou os joelhos e avançou em tsuki, uma estocada com o quadril projetando o peso para a frente, buscando o flanco direito da oponente.
A jovem respondeu com um gedan-barai, descendo a lâmina para desviar o ataques para baixo, antes de girar sobre o próprio eixo e tentar um men, golpe descendente que buscava a cabeça da oponente.
A lança subiu em um bloqueio bem-sucedido. O som do aço contra o ferro reverberou pelo salão. Após a defesa, Mavie empurrou a katana para longe e desferiu um golpe horizontal, um yokomen, buscando a lateral do corpo dela.
Mandy recuou rapidamente com okuri-ashi, deslizando os pés em perfeita sincronia. Seus olhos estavam atentos, não apenas à oponente, mas também ao que acontecia ao redor. Um pedestal baixo à esquerda chamou sua atenção. Recuou mais um passo, posicionando-se de modo a usá-lo como obstáculo.
— Então… qual é a história? — perguntou, ofegante. — Sentiu saudades da América?
Mavie parou, rodando a sua arma nas mãos.
— Ele era um rato, um traidor. Alguém que precisava ser eliminado. Diferente de você, que só parece uma criança brincando com armas de adultos.
— Ah, então você é a faxineira do Reich. Entendi. Deve ser um trabalho ingrato com um patrão morto.
O comentário provocou uma leve tensão no seu rosto. Ela avançou com a lança em hasso-no-kamae, girando o eixo da arma em um movimento vertical para enganar a guarda de Mandy antes de desferir um thrust direto contra seu tórax.
A jovem virou o tronco para o lado e usou o kesa-giri, uma técnica de corte diagonal descendente para afastar a lança.
A lâmina de sua katana tocou o eixo da arma. Mavie recuou o ataque, ajustando a ponta da lança para um corte lateral pelo qual Mandy foi forçada a debruçar o corpo, apoiando o joelho esquerdo no mármore.
Sem perder o ritmo, aproveitou a proximidade com uma vitrine tombada. Usando o pedestal como ponto de apoio, ela empurrou o peso do corpo para trás, ganhando impulso e lançando um golpe horizontal em direção às pernas de Mavie.
A alemã saltou, mas Mandy já se preparava para o próximo movimento.
— Eu esperava mais de alguém com uma espada. Achava que americanos eram todos brutamontes sem técnica — provocou Mavie, os passos fluidos enquanto ajustava sua guarda.
— Eu não sou exatamente a garota da propaganda do American Way!
Mavie lançou um golpe de varredura com a lança, e Mandy usou o cabo de sua espada para aparar o impacto.
A mulher forçou um avanço com uma série de ataques rápidos, alternando golpes curtos e cortes circulares, forçando-a a recuar até que suas costas encostaram em uma parede adornada por um mapa antigo. Mandy percebeu uma oportunidade ao olhar rapidamente.
Ela usou o suporte da moldura, pressionou a base do pé contra a parede e impulsionou o corpo lateralmente, escapando da posição de desvantagem. Mavie avançou, mas foi surpreendida quando Mandy golpeou o suporte de uma armadura exposta. A peça caiu no chão entre elas, criando uma barreira momentânea.
— Ingênuo. Você acha que truques infantis vão mudar alguma coisa?
— Não, mas eles dão tempo pra ele.
— Hã? Ele quem?
Nesse exato momento, um estrondo ensurdecedor sacudiu o museu, muito mais forte que os anteriores. As paredes tremeram e as vitrines vibraram, ameaçando se estilhaçar.
Um cheiro forte de enxofre invadiu o ar, queimando as narinas. As luzes piscaram erraticamente, lançando sombras dançantes pelas paredes antes de se apagarem por um instante, mergulhando o salão em uma escuridão quase total, apenas para retornarem em seguida, revelando uma cena de tirar o fôlego.
Onde antes não havia nada, agora se erguia a figura imponente de um rapaz. Chamas intensas lambiam o chão sob seus pés, como se o próprio inferno o tivesse cuspido para fora.
Atrás dele, um rastro de plasma incandescente, não apenas fumaça e fogo, permanecia suspenso no ar, como uma assinatura de sua entrada explosiva.
O calor emanado era tão forte que alterava a temperatura e a densidade do ar, resultando em uma miragem trêmula. Com o aumento da temperatura, as moléculas do vento se agitavam mais, e isso era perceptível na pele.
Não perdendo uma só fração de segundo, canalizou a energia negativa que fluía através do seu corpo para a perna direita. Os seus músculos contraíram-se descomunalmente, acumulando energia cinética.
Num grito gutural que ecoou por todo o museu no plexo solar de Mavie, um ponto vulnerável.
Este foi brutal. A nazista foi projetada para trás como se tivesse sido atingida por um projétil de artilharia. O seu corpo descreveu uma parábola no ar, sobrevoando uma fileira de pedestais que exibiam delicadas cerâmicas orientais.
As peças, algumas datadas de séculos atrás, vibraram com a passagem dela, algumas caindo e estilhaçando-se no chão numa cacofonia de sons agudos. Mavie acabou por se chocar contra uma grande tapeçaria flamenga do século XVII, que retratava uma cena da Batalha de Nicópolis.
A tapeçaria amorteceu parcialmente o impacto, mas não o suficiente para evitar que a estrutura de madeira por trás desta se partisse com um estalo seco. A nazista deslizou pelo tapete, deixando uma mancha de poeira e sangue, antes de cair à mercê dos fragmentos de madeira e dos fios desfiados da antiga obra de arte.
— Foi mal pelo atraso! — desculpou-se. — Encontrei cadáveres em outro lugar. Pensei em queimá-los, mas acho que demoraria. Como você está?
Mandy, apesar dos sinais óbvios de cansaço no seu rosto, respondeu com uma resolução resiliente:
— Eu tô bem.
Lewis acenou com a cabeça, reconhecendo a força nos olhos dela.
— Conseguiu aguentar, você é forte pra caramba! — elogiou, sorrindo. — Isso é estar em chamas!
Em meio à devastação ao redor deles, os lábios dela se curvaram levemente em um sorriso com o trocadilho.
De repente, como um raio cortando o céu noturno, uma nova figura surgiu na entrada. Wolfgang. Não houve aviso, nenhum ruído de passos, apenas a sua presença abrupta e imponente. Sua entrada foi tão súbita que pegou todos de surpresa, desviando os olhares imediatamente para ele.
O olhar de Wolfgang cortava o ar afiado como uma lâmina. Já não restava qualquer vestígio de paciência em sua postura, apenas o desprezo incandescente e glacial de alguém que via a falha como uma ofensa pessoal. Seus olhos, vítreos e ampliados pelo ódio, encaravam Mavie como se ela fosse menos que humana, um erro ambulante.
Ele avançou dois passos secos e duros, como se o chão não tivesse o direito de ranger sob suas botas, e continuou caminhando, deixando um rastro de terra e poeira atrás de si.
— Du hattest eine Aufgabe. Nur eine. Und nicht mal das konntest du richtig machen. 1
Mavie estava encostada na parede, segurando a têmpora que ainda sangrava devagar com uma das mãos. O sangue escorria até a linha do maxilar, onde se misturava ao suor que encharcava o colarinho. Os olhos dela alternavam entre a dor e a tentativa de manter alguma dignidade.
— Sie ist nicht wie die anderen… 2 — murmurou, num fio de voz que não sabia se era desculpa ou confissão.
Wolfgang soltou uma risada breve, seca, mais parecida com um estalo de descontentamento.
— Ach, bitte. Spare dir das! 3
A distância entre eles evaporou em um segundo. Ele a agarrou pelos ombros com força suficiente para fazê-la perder o equilíbrio e prendeu os olhos nos dela.
— Du versagst, und dann suchst du Ausreden wie ein Kind! Vielleicht hätte ich besser eine von den Ratten aus dem Keller geschickt. Wenigstens hätten sie gebissen!4
A mão dele subiu e desceu rápido demais para que Mavie pudesse reagir. O tapa acertou seu rosto em cheio. O som do impacto estalou no ar abafado, alto como um chicote na carne. Seu pescoço torceu-se no ângulo máximo, e seu corpo inteiro fraquejou. Os joelhos não aguentaram o choque. Uma linha vermelha irregular marcou sua bochecha.
Ela cambaleou para trás, os olhos arregalados, sem ousar tocar o rosto latejante. Ainda não era o fim, porém. Antes que Mavie recuperasse o equilíbrio, Wolfgang a agarrou pelos ombros e enterrou os dedos na carne firmemente o suficiente para deixar marcas arroxeadas. Ao se inclinar, seu hálito quente roçava o rosto dela.
— Mach dich nützlich… oder verschwinde. Beim nächsten Mal bist du dran. 5
Os olhos de Mavie, opacos pela dor, evitaram o olhar dele de relance. Um erro fatal. Wolfgang a sacudiu como se quisesse arrancá-la do próprio corpo, e seus pés quase se ergueram do chão. Tropeçou e se segurou na parede para não cair.
Então, os olhos do soldado se voltaram para Mandy e Lewis, que observavam a cena, estáticos.
— Vamos retomar. — Wolfgang ergueu um sorriso torto, cruel, enquanto ajustava as luvas de couro. — Agora sem erros. Essa será a segunda chance para pôr um fim nisso.
A alemã, mesmo vacilante, ergueu o queixo e lançou um olhar ferido, mas desafiador, para ele.
Wolfgang inclinou-se para perto, os lábios roçando sua orelha ao murmurar:
— Und versau es nicht nochmal, oder ich schneide dir die Kehle durch.6
Mavie engoliu em seco.
A luta recomeçaria, e, dessa vez, não haveria espaço para falhas.
- Você tinha uma missão. Só uma. E nem isso conseguiu cumprir.[↩]
- Ela não é como as outras…[↩]
- Ah, por favor. Poupe-me disso![↩]
- Você falha, e depois procura desculpas como uma criança. Talvez eu devesse ter mandado um dos ratos do porão. Pelo menos eles mordem.[↩]
- Seja útil… ou suma. Da próxima vez, é você quem paga.[↩]
- E não estrague tudo de novo ou eu mesmo corto a sua garganta.[↩]
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.